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quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

B(is) !!!


Benfica 2 - 1 Aves

O Carnaval teve forte concorrência

"Assim que houver um jogador do FC Porto expulso ou 'penalty' contra o FC Porto experimentarão os benfiquistas os deleites que, até agora, só têm sido 'desfrutados' pelo nosso adversário.

TERÇA-FEIRA de Carnaval teve forte concorrência esse ano. Ah, pobre terça-feira de Carnaval, tão desmaiada de viste logo pela manhã face às palavras de Pinto da Costa versando árbitros. Versando mas em prosa, note-se bem, nada de versos a rimar nem de aparatos declamatórios.
Se só aparecer lhe bastava, depois de um longo período de ausência - praticamente desde que qualificara de «estúpidos» e de «idiotas» todos aqueles que falam mal dos árbitros -, Pinto da Costa não só veio ele próprio, dando a mão à palmatória, falar mal de árbitros como também, e melhor ainda, se dispôs a comentar publicamente uma escuta telefónica do processo do Apito Dourado.
É a primeira vez na História que tal coisa acontece. Daí termos começado por dizer que este ano o Carnaval teve forte concorrência. Aliás, nem houve Carnaval. Circunstâncias de monta o impediram, concordarão.
Mal Pinto da Costa disse que o João 'pode ser' Ferreira satisfez», imobilizaram-se todos os corsos nas principais artérias das nossas vilas e cidades mais dedicadas ao entrudo. Não valia a pena gastar gasolina.
Para quê deitar dinheiro à rua a troco de divertimento quando o maior dos divertimentos pode acontecer grátis numa terça-feira de Carnaval?
Em 2013, Carnaval, digo-te de caras, foste muito fraquinho. Esmagou-te a concorrência. Tiveste-a forte, é certo. Em 2014 veremos como te vais portar.

CURIOSA, sem dúvida, a primeira referência do presidente do FC Porto às escutas do Apito Dourado. Evidentemente não se referiu a nenhuma das 1329 gravações em que era o protagonista. Ou o engenheiro-mor ou o chefe da caixa, como preferirem.
Na sua alocução, a tal que deu cabo do Carnaval, referiu-se o presidente do FC Porto a uma escuta ao major Valentim Loureiro em que o ex-presidente da Liga de Clubes apresentava a Luís Filipe Vieira uma lista de nomes de árbitros, a ver qual lhe agradava mais.
Inadvertidamente, Pinto da Costa prestou um serviço inestimável ao presidente do Benfica. Basicamente ilibou-o do grosso das suspeitas que não podem deixar de cair sobre todos os que foram escutados pela polícia no decorrer do processo do Apito não pode ser Dourado.
Disse o presidente do FC Porto em abono do presidente do Benfica que «de muitos nomes» propostos pelo major só o de João Ferreira mereceu um «pode ser» de Vieira. Também já ouvi a escuta e confirmo. É verdade. No entanto, ao ouvi-la - não é a mesma coisa do que ler a transcrição da conversa - fiquei com a ideia de que o «pode ser» a João Ferreira se prendeu mais com motivos militares do que com interesses desportivos. Ferreira é major do nosso Exército. O outro major, por definição, também era major e o presidente do Benfica não terá querido melindrar aquele ramo das Forças Armadas.
Voltemos à vida civil.
Pinto da Costa põe Luís Filipe Vieira salvo das más-línguas quando revela, chocado, que o presidente do Benfica «de muitos nomes» que lhe foram apresentados, enfim... não terá gostado de nenhum a não ser daquele, do tal major. Ainda bem, dizemos nós, os benfiquistas com relativo alívio.
Mal por mal, ainda bem que o presidente do nosso clube não reagiu a uma lista «de muitos nomes» de árbitros como se de gente da sua confiança se tratassem. Como se fossem, um a um, tão íntimos que até o presidente do Benfica, nas horas vagas, pudesse dispensar aconselhamentos matrimoniais aos pais dos próprios árbitros.
Para compreenderem que, ao contrário do presidente do Benfica, o presidente do FC Porto tinha um cacharolete de árbitros em grande estima e conta pessoal, remete-vos para o YouTube.
Para compreenderem o que levou, Pinto da Costa a esperar um mês até reagir à nomeação do major João Ferreira para arbitrar o Benfica-FC Porto, remeto-vos para o segmento seguinte desta crónica em que, a propósito dos regulamentos da Taça da Liga, será analisado com parcimónia o estranho caso do elixir da juventude que, de certa maneira, explica tudo.

AO contrário do que sucedeu com o Sporting do Braga B, o FC Porto não vai ser penalizado por ter utilizado três jogadores em dois jogos sem se ter cumprido o prazo de 72 horas que os regulamentos estipulam. Até aqui tudo normal, nada de carnavalesco. Ninguém acreditou que o Conselho de Disciplina da FPF pudesse alguma vez cometer a leviandade de penalizar o FC Porto com a eliminação de uma prova do calendário oficial.
«Todavia hay clases, no?», como dizem os espanhóis.
De acordo com a imprensa que se tem vindo a ocupar do assunto, foi graças a um «buraco na lei», um vazio, uma omissão do legislador, que o FC Porto viu rapidamente arquivada a queixa contra os seus interesses na Taça da Liga. Acontece frequentemente noutros casos bem mais importantes e que nada têm a ver com futebol. Refiro-me, obviamente, ao buraco na Lei.
No entanto, a melhor defesa da razão do FC Porto não foi nenhuma conveniente tecnalidade jurídica. A defesa que fez tábua rasa dos regulamentos das competições foi apresentada nas páginas do Jornal de Notícias por Armando Leitão, professor da Faculdade de Engenharia do Porto.
Diz-nos o professor Leitão que «o tempo mede-se, não se conta» e que «a partir do momento em que a precisão é a hora, 71 horas e 45 minutos são 72 horas». Como se não bastasse ainda adiantou: «72 horas é o intervalo entre 71 horas e 30 minutos fechado até 72 horas e 30 minutos aberto.»
Para os que perderam no raciocínio do professor Leitão e tendo sempre em mente os exemplos recentes, esclarece-se que nisto das horas e dos minutos «fechado» é para o Sporting de Braga B e «aberto» é para o FC Porto, naturalmente, e volta a ser «fechado» para o Vitória de Setúbal.
Para os que, independentemente das suas afeições clubistas, são renitentes à intuição automática destes conceitos modernos de tempo contado e medido, de espaço de tempo, esclarece-se que isto, no fundo, bem analisado, são muito boas notícias para toda a gente.
Imagine o leitor que faz anos no fim deste Inverno. Alegre-se! Na realidade, segundo a ciência, só faz anos a meio do próximo Verão.
Incrível, não é? Teve o FC Porto que correr um ligeiríssimo risco de vir a ser eliminado de uma prova oficial para, finalmente, se descobrir o elixir da juventude.
Estão também esclarecidos porque demorou Pinto da Costa um mês a reagir à nomeação da major-árbitro João Ferreira para o Benfica-FC Porto. É que, na verdade, não demorou nem um minuto. Foi na horinha, amigos. Se não acreditam, perguntem aos cientistas. Ou ao legislador.

NO domingo de Carnaval, o Benfica empatou fora com o Nacional. Logo a seguir, o FC Porto empatou com o Olhanense em casa, resultado que surpreendeu o país. Bastava ao FC Porto ganhar para se ver sozinho no topo da tabela deixando o Benfica a 2 pontos na condição subalterna de perseguidor.
Assim não aconteceu.
As já citadas e recitadas declarações de Pinto da Costa sobre árbitros, em concorrência fatal para o dia de Entrudo, foram notícia dois dias depois da jornada de domingo que deixou uma vez mais FC Porto e Benfica emparelhados no primeiro lugar.
Se o FC Porto tivesse ganho ao Olhanense estas declarações de Pinto da Costa não teriam qualquer utilidade ou sentido. Melhor lhe serviria ficar calado.
E se fosse ao contrário? Se o FC Porto tivesse ganho ao Olhanense depois do empate do Benfica na ilha da Madeira, será que Luís Filipe Vieira viria a público acusar Pedro Proença de ter cometido na Choupana «um atentado ao futebol e à verdade desportiva»? Espero bem que não. Falar de árbitros é só para gente estúpida e idiota.

O Benfica empatou com o nacional porque ofereceu dois golos ao adversário e jogou menos à bola do que tem sido costume. Os árbitros são o que são, às vezes enganam-se. Todos têm as suas características. Já ouvi benfiquistas muito indignados porque, nos minutos que antecederam o pontapé de saída do FC Porto-Olhanense, a cada expulsão de um jogador do Benfica o estádio do Dragão vinha abaixo com aplausos.
E se fosse ao contrário, não aconteceria coisa parecida na Luz? Assim que neste campeonato houver um jogador do FC Porto expulso (em 18 jornadas ainda não aconteceu) ou uma grande penalidade marcada contra o FC Porto (também ainda não aconteceu em 18 jornadas) exprimentarão os benfiquistas os deleites que, até agora, só têm sido desfrutados pelo nosso adversário.
Quanto a Pedro Proença... nada a dizer. Palavras, para quê?
Pedro Proença é como o azeite, acaba sempre por vir ao de cima.

PS - Foi assaltada a sede da FPF. Só levaram o computador do presidente. Fiquem tranquilos os ladrões. Como não foram autorizadas por um juiz as gravações das câmaras de video-vigilância da sede da FPF não vos vai acontecer nada."

Leonor Pinhão, in A Bola

Neo-realismo

"Este texto não pretende falar de Gaibéus, nem de Ladrões de Bicicletas. Muito menos ficar para a história como um tratado de pessimismo, ou de optimismo. Quer ser, antes de tudo, um retracto fiel da correlação de forças que o Futebol português actualmente traduz.
Desde Setembro que Benfica e FC Porto não perdem um único ponto no Campeonato Nacional (salvo, naturalmente, o empate entre ambos). Olhamos para a tabela classificativa, e vemos o nosso Clube a realizar uma das melhores campanhas das últimas décadas. Mas, não estamos no 1.º lugar. Este estranho paradoxo deve ser entendido à luz de duas diferentes dimensões.
A primeira é a superioridade absoluta que os dois 'grandes' demonstram, e a fragilidade que todos os outros raramente conseguem disfarçar. Os efeitos da crise fizeram sentir-se sobretudo a 'Classe Média' da nossa Liga, o que a transforma num passeio semanal para 'Águias' e 'Dragões'.
A segunda remete-nos para o crescimento competitivo que o Futebol 'encarnado' manifesta, face a um FC Porto que há meia dúzia de anos dominava a seu bel-prazer quase todas as competições nacionais em que participava. Na verdade, se Vieira conseguiu a recuperação financeira e estrutural do nosso Clube, Jesus é o rosto da recuperação desportiva que nos levou de um patamar subalterno - em quinze épocas, o Benfica alcançara apenas um título e quatro segundos lugares -, para um plano de total paralelismo face ao nosso grande rival.
É preciso também dizer que este não é um rival qualquer. É o mais forte que o Benfica enfrentou na sua história, ocupando o 7.º lugar no ranking da UEFA, conquistando três Taças europeias numa década, e perdendo uma única vez nos últimos 86 jogos de Campeonato. Vamos lutar até ao fim pelo título. Mas não podemos, nem embandeirar em arco com o que alcançamos, nem exigir um final feliz. Os 50% de hipóteses que temos nesta altura são já um upgrade face a um Benfica menor, com o qual durante alguns anos tivemos de conviver, e do qual jamais nos devemos esquecer."

Luís Fialho, in O Benfica