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terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Pesado

Mons-Hainaut 92 - 63 Benfica
22-21, 21-7, 18-18, 31-17

Foi um derrota pesada, numa viagem logisticamente complicada (devido à greve na Portela...), e que acabou por demonstrar as limitações de um plantel, ainda por cima afectado por lesões... além de pequenos 'toques' em alguns jogadores, que estão a jogar limitados...
Creio que o 1.º período, acabou por demonstrar que o Benfica a 100% poderia discutir o resultado, mas com as substituições os Belgas cavaram uma diferença significativa.
Os 29.1% nos lançamentos, acaba por definir o jogo...

Estamos eliminados, ainda temos 2 jogos na Luz, com os Finlandeses podemos vencer, com os Franceses vai ser muito complicado... Creio que será importante não forçar os jogadores que estão ligeiramente tocados, temos que perceber que o grande objectivo da época, é a renovação do título.

Chegaram a chamar-lhe «Campo dos Bravos»

"O Seixal é, hoje, também uma casa do Benfica. Mas, por duas vezes, aí foi jogar como visitante para o Campeonato - duas vitórias. E, na segunda, havia na baliza seixalense um rapaz chamado José Henrique que sofreu dois golos de Eusébio.

Gosto do Seixal: é uma terra bonita cheia de Tejo. Gosto do velho Seixal Futebol Clube e do estádio do Bravo onde vi tantos jogos e no qual joguei tantas vezes. É pena que o Seixal tenha deixado de surgir nos fins-de-semana da gente, desaparecido nas divisões que não merecem mais do que páginas confusas nos fundos dos jornais desportivos.
O Seixal passou, de há uns anos a esta parte, a ser outra das casas do Benfica. Ou melhor, a casa do Benfica fora da Luz. O estádio do Bravo foi comprado à autarquia e servirá, no futuro, segundo tudo indica, para a disputa dos jogos do Benfica B.
E era aqui que eu queria chegar.
Às vezes em que o Benfica visitou o estádio do Bravo, como forasteiro, que não foram tantas quanto isso, bem pelo contrário, apenas duas.
Uma vez escrevi nestas páginas um artigo sobre um famoso 10-0 aplicado ao Seixal no estádio da Luz.
Pois, desta vez atravessamos o rio.
O Seixal Futebol Clube só esteve na I Divisão em duas épocas, por sinal consecutivas - 1963/64 e 1964/65.
É sobre elas que vamos falar.
Na sua primeira aventura na divisão principal coube aos seixalenses receberem o Benfica. Campeão Nacional e finalista vencido da Taça dos Campeões (1-2 com o Milan), logo à terceira jornada, no dia 4 de Novembro de 1963. Avance-se de imediato para o resultado, que este texto não exige suspense à moda de Hitchcock: 3-2 para o Benfica. Assim mesmo, apertadinho, de aflitos, num jogo disputado palmo a palmo como não se previa, ainda por cima porque antes dos 20 minutos já os 'encarnados' tinham arrancado um avanço confortável de 2-0, golos de Serafim e Yaúca, praticando um futebol escorreito e límpido como os olhos de Elizabeth Taylor. Simões, Yaúca, José Augusto e Santana lances de entendimento perfeito e tudo parecia tão definitivamente encaminhado que a goleada já pairava na mente dos espectadores encantados.
Ah! Mas havia bravos no estádio do Bravo. Do outro lado da barricada, a revolta. Serra Coelho tornou-se imenso, Carvalho comandava o grupo, Caldeira tocou a reunir com um pontapé tremendo que levou a bola à barra da baliza de Costa Pereira. Ai daqueles que se julgam vencedores antes do final das suas batalhas! O golo de Necas alimentou a valentia dos adversários do Benfica. Todos acreditavam no impossível e ele estava aí, à beira de acontecer. Aos 42 minutos, Carvalho faz o empate, e há quem não queira acreditar no que os seus olhos vêem. Será este Seixal, pela primeira vez chegado das cavernas das divisões secundárias, capaz de vencer o poderosíssimo Benfica do qual toda a Europa tem medo? Há no entanto menos euforia seixalense entanto menos euforia seixalense no segundo tempo. Todo aquele esforço de reagir à adversidade teve um preço elevado. Os jogadores demonstram menos frescura, submetem-se mais facilmente ao jogo de passes rasteiros do Benfica, trocando a bola de pé para pé. É tempo para os encarnados terem paciência. A classe superior dos seus jogadores acabará por fazer a diferença, desde que não se deixem desorganizar como o fizeram na primeira parte. E assim traçam o destino deste jogo inédito até então: é Yaúca que, ao minuto 72, garante a vitória. Do jogo da segunda volta já falámos aqui, em tempos que lá vão - terminou 10-0.

E José Henrique ainda fez o que pôde
Na época seguinte, o estádio do Bravo recebeu o Benfica à 12.ª jornada, no dia 3 de Janeiro de 1965. A vitória foi mais fácil, 4-0, mas a exibição não mereceu grandes elogios da imprensa da época, criticando o excesso de individualismo de muitos dos jogadores. Enfim, com um resultado assim seria para o lado em que dormiriam melhor, ainda por cima porque José Augusto abriu a contagem logo aos 20 segundos e mais depressa do que isso seria quase impossível. Aceitou-se, aí, como verdade insofismável que o triunfo 'encarnado' era um caso arrumado. E foi, ao contrário do que sucedera na sua última visita, e apesar de não ter voltado a fazer o 'gosto ao pé' até ao intervalo, o Benfica não passou por aflições. É bem verdade que houve valentia seixalense, mas longe de ser suficiente para criar incómodos no opositor. José Henrique, na baliza, foi fazendo o que pôde, e sabe-se que podia muito, viria a prová-lo durante anos a fio nas balizas do seu adversário desse dia. Aniceto e Jeremias procuravam dinamizar os companheiros, mas a classe de Eusébio, Torres, Coluna e Simões era tão tão tão clara, tão tão tão nítida, que o resultado se foi avolumando sem discussão - Eusébio marcaria dois golos (55m de penalty e 68m) e José Torres um (80m). O Benfica dava mais uma passada para um novo título de campeão nacional, o Seixal despencava irremediavelmente para a II Divisão e nunca mais voltaria a pôr os pés na primeira. Quanto ao resultado da segunda volta, na Luz, foi de luxo: 11-3. Merece, só pelo volume, uma crónica. Não tardará.
Saudades desse estádio do Bravo, nesse tempo ainda pelado, agora uma das novas casas do Benfica. Malhas que o tempo tece..."

Afonso de Melo, in O Benfica