Últimas indefectivações

terça-feira, 10 de abril de 2018

Um homem valente morreu ao amanhecer...

"Chamava-se Raul Figueiredo. Esteve apenas três épocas no Benfica. Mas ganhou o Campeonato de Portugal pelo Olhanense, apontando um golo na final contra o FC Porto. Aos 38 anos, um cancro levou-o cedo demais.

Diz quem o viu. Eu não o vi, claro, o tempo não deixou. Sou de outras eras, décadas inteiras de diferença. Raul de Figueiredo: chamaram-lhe O Tamanqueiro.
Um cancro levou-o e nem sequer era o tempo dos cancros, como hoje.
'Era um extraordinário jogador! Leve, elástico, verdadeiro malabarista da bola. Dava gosto em campo. Quem há hoje que se lhe possa comparar?', dizia o seu obituário datado de 2 de Dezembro de 1941.
Foi aquilo que se chamava, na altura, operário conserveiro. Bela profissão para que se dedicava a enlatar sardinhas e cavalas.
Saltou de clube para clube: Vitória de Setúbal, Olhanense, outra vez Vitória, Benfica, Académico do Porto, Sporting de Braga, União de Coimbra...
17 vezes internacional.
Esteve nos Jogos Olímpicos de Amesterdão - essa célebre saga de 1928 quando Portugal chegou aos quartos-de-final para ser eliminado pelo Egipto.
Em Olhão vendeu peixe, foi motorista de carrinhas que levavam material para a lota, tomou conta de um táxi.
E ganhou o Campeonato de Portugal. Vitória na final sobre o FC Porto: 4-2. Jogava com Malcate e Fausto Peres, com Gralho, Cassiano, Montenegro e Júlio Costa. Marcou o segundo golo dos algarvios nesse jogo: de penalty. Seria o 2-2. Em seguida, a cavalgada olhanense no Campo Grande.
Um nome entre nomes
No Benfica viria a encontrar gente como Eugénio Salvador (famoso como actor), Jesus Crespo, Mário de Carvalho, Jorge Tavares, Evaristo Silva, Vítor Gonçalves, pai do companheiro Vasco da muralha de aço. E um treinador que o marcou: Ribeiro dos Reis.
Já falei aqui recentemente de Ribeiro dos Reis. Uma figura! Uma figura!, diria Otto Lara de Resende.
'Hoje, ao amanhecer, Raul Figueiredo, cansado de sofrer, exalou o último suspiro', continuava o obituário. Na Rua Tomás da Anunciação, ali a Campo d'Ourique.
Não se falava muito de futebol nos matutinos e vespertinos desse ano de 1941.
Uma vaca tresmalhada no Cais da Rocha do Conde d'Óbidos merecia mais espaço do que o funeral de um jogador de futebol, por muito querido que ele fosse do seu público. Até porque a aventura era contada com espalhafato: 'Distinguiram-se na lide um guarda-freio da Carris a um preto dum vapor que foram derrubados pela vaca tendo sofrido algumas escoriações pelo corpo'.
Essa do preto dum vapor tem que se diga, mas não é este o local certo...
Talvez tenham faltado a Tamanqueiro mais anos de Benfica para entrar naquele âmbito universal da popularidade sem fronteiras.
Depois teria um filho: o Figueiredo, do Belenenses.
Pouco desfrutou de ser pai. No dia da sua morte, o garoto tinha apenas 11 anos.
No dia 23 de Fevereiro de 1930 está no Porto: 'Capital do Norte, Fátima milagrosa do foot-ball português onde até hoje ainda não conhecemos a derrota. Uma fila interminável de automóveis serpenteava pela cidade a levar ao campo de jogos do Ameal a animação e o entusiasmo de vintena de milhares de portugueses'.
Mais uma vez Portugal não perderia na Fátima do futebol: bateu a França por 2-0.
Tamanqueiro tem no braço, orgulhoso, a braçadeira de capitão. Mereceu-a por inteiro. É um homem de princípios, um atleta exemplar, um jogador de indiscutível categoria.
Seria a última vez que vestia a camisola das cinco quinas azuis ao peito.
A alcunha de Tamanqueiro herdara-a do pai, sapateiro de profissão, especialista em meias-solas.
Atlético, trabalhador, jogador de ir-dar-e-levar, como dizia Carlos Pinhão, Raul Figueiredo foi um daqueles homens que os deuses preferem. Por isso, levam-nos cedo. Aos 38 anos, o cancro derrota-o sem piedade.
Há jogos que nem os mais valentes conseguem vencer.
Tamanqueiro era valente. Valente para lá dos elogios.
Continuará valente na planície da eterna saudades..."

Afonso de Melo, in O Benfica

Reconhecer e distinguir

"Prémios Benfiquistas do Ano: uma iniciativa pioneira do jornal O Benfica.

Foi na edição de 25 de Novembro de 1987 que o jornal O Benfica comunicou a instituição dos Prémios Benfiquistas do Ano. Desde então, passou a distinguir, anualmente, no jantar comemorativo do seu aniversário, o mérito e a dedicação ao Sport Lisboa e Benfica, a título individual e colectivo. Foi assim até 2002.
Durante esse período, foram atribuídos um total de 164 prémios em categorias como: Futebolista, Atleta de Alta Competição, Atleta Amador, Sócio, Técnico, Seccionista e Filial, entre outras. A tipologia dos prémios atribuídos foi variando ao longo das 15 edições, assim como a forma de escolher os vencedores. Se nuns foram eleitos pelo 'corpo redactorial do jornal', noutros foram escolhidos por 'um júri interno' e, noutros, através de votação dos sócios e dos leitores do periódico.
Em 2007, o Clube recuperou a iniciativa d'O Benfica e instituiu os Galardões Cosme Damião. O propósito manteve-se: premiar aqueles que, no ano anterior, mais se destacaram nas várias áreas do Clube. Os sócios elegeram os vencedores através do site oficial e a cerimónia de entrega dos galardões realizou-se a 28 de Fevereiro, durante a gala do 103.º aniversário do Clube, no Casino Estoril. Desde então, a entrega dos Galardões Cosme Damião passou a ser presença assídua na gala de aniversário do Benfica, contando já com 11 edições.
Apoiante indefectível do Benfica, Adelino Valentim (1913-1993) foi o primeiro a ser distinguido com o prémio Benfiquistas do Ano na categoria de Sócio. Recebeu-o das mãos do Dr. Miguel Magalhães, vice-presidente da Direcção, a 2 de Dezembro de 1987, 'na Adega da Ti Matilde, tradicional ponto de encontro das gentes benfiquistas'. A fotografia do momento teve lugar na capa da edição de 10 de Dezembro.
Mais conhecido como 'Homem da Bandeira', Adelino foi um 'autêntico chefe dos entusiasmos que ao longo de muitos anos «incendiariam» o nosso Estádio'. Foi-o até ao fim. Dias antes de falecer, acompanhado da sua bandeira gigante, fez, pela última vez, 'a sua habitual «peregrinação» à volta do rectângulo de jogo'.
O prémio de Sócio do Ano que lhe foi entregue em 1987 encontra-se patente na exposição Jornal O Benfica - 75 Anos de Missão, no Museu Benfica - Cosme Damião."

Mafalda Esturrenho, in O Benfica

Escrita desinteligente e economia

"Já andava há muito tempo a tentar terminar de ler um livro cuja autoria é de um tal de Pippo Russo. Esse livro debruça-se sobre a vida profissional do empresário Jorge Mendes e, por arrasto, sobre muitos factos da vida.
Acontece que inospitamente até dei de repente com menções à minha pessoa, sendo designado na segunda menção como personagem como se eu tivesse algum interesse para o caso e não passassem de factos da vida. E é exactamente de factos da vida que o livro deveria somente tratar, pois, aí, o mesmo está muito bem feito.
Na verdade, quem ler o livro nota que possui um excelente trabalho de recolha de factos, laborioso, independentemente de as fontes não serem minimamente objecto de análise crítica da sua fidedignidade, pois todos nós sabemos o quanto hoje proliferam as junk news, ou, o que é o mesmo, notícias de factos falsos!
Mas pior do que junk são os juízos de valor que o mencionado camarada retira dos factos que vai descrevendo e que tanto trabalho lhe deram. Aí é que foi feita uma autêntica 'borrar'!
Para compreendermos o mundo que nos rodeia, em primeiro lugar temos de ir estudar o que é um economia de mercado. Para isso, aconselho o mencionado senhor a ler Paul Samuelson, Economia I e II, Fundação Calouste Gulbenkian, 3.ª edição 1973.
Um sistema de economia de direcção central caracteriza-se por os factores de produção serem detidos pelo Estado, enquanto um sistema de economia de mercado caracteriza-se pelos factores de produção serem detidos por empresas privadas.
Entre um pólo e outro, vão muitas situações, Estados que têm mais factores de produção do que os privados, e Estados que têm menos factores de produção do que os privados. Exemplificando de uma forma muito simplista, até há pouco tempo a TAP pertencia ao Estado e entretanto passou para a mão dos privados. Com o actual Governo, a Carris passou para o património do Estado via poder local - município de Lisboa. Oscilação pendular!
Seja como for, a verdade é que nenhum destes sistemas é perfeito! Se fosse, a União Soviética nunca teria caído e por outro lado nunca teria existido a crise de 2008. Por isso, toda e qualquer luta que afinal foi e será a luta ao longo da história vai andar sempre a bater no mesmo e ora sobressai um modelo, ora sobressai outro, à maneira do corridinho!
Aqui chegados, é evidente que o Homem (H grande), é um Homus Economicus. Por isso o citado livro, quando critica através de juízos de valor o poder de Jorge Mendes, esquece-se de que a vida é isso mesmo. Economia! Ou o citado autor também não quis ganhar umas massas com o livro? Não consta que o mesmo tenha dado donativos às vítimas de Pedrogão Grande como fez Jorge Mendes!
Vamos ser claros e objectivos.
Por acaso, quando vamos de férias para um resort, à chegada somos tratados com um copo de champanhe, mordomias, e  quando é a hora de saída, quanto mais depressa sairmos, melhor, e copos de champanhe e mordomias nem vê-los! Vemos é um género de chutos no dito!
Por acaso, quando vamos a um restaurante, o objectivo é matar a nossa fome, ou é o proprietário ganhar algum com a nossa refeição?
Quando vamos a um teatro, os actores estão lá e desempenham um papel porque gostam muito de nós, ou porque precisam de ganhar dinheiro para viverem?
Por acaso, nos programas da televisão com maior audiências os célebres que lá trabalham estão lá para fazer-nos rir, ou para ganharem fortunas?
Querem mais exemplos? É só pensarem mais um bocadinho. Esta é a realidade da vida, e não há nada a fazer! Sempre foi assim. Ou quantos homicídios é que existem porque aquele ficou com o dinheiro do outro, ou não quer repartir a herança pelos familiares?
O futebol é uma actividade económica como outra qualquer, e são aos milhares os que ganham dinheiro com ele - basta ver as televisões e tudo o que gira à sua volta!
Destruir o que é uma enorme fonte de receita, só porque se é espanhol e não se tem essa fonte de receita, ganhando ainda dinheiro com isso, é que, se analisarmos bem, é também ele próprio um exercício de uma actividade económica, como outra qualquer.
Vejamos os números que o Anuário do Futebol Profissional Português da Liga Portuguesa de Futebol Profissional nos dá com referência à época de 2016/17, no que respeita ao seu impacto económico (...).
(€692 M, em receitas
€680 M, volume de negócios
€618 M, em gastos
€456 M, para o PIB
€21,9 M, em impostos
4,3 M, espectadores
2055, postos de trabalho
31% ocupação dos Estádios.)
Meus caros leitores. Ele são impostos, fontes de receita indirectas, criação de postos de trabalho directos e indirectos, criação directa no Produto Interno Bruto, fora os valores indirectos, enfim, uma quantidade de valores que merecem uma análise mais detalhada, a qual será objecto de trabalho no próximo Contas Feitas, Dúvidas Desfeitas. Mas querem acabar com a galinha dos ovos de ouro? Enxerguem-se!

Até para semana."

Pragal Colaço, in O Benfica

Bruno de Carvalho: dos 90% à implosão em apenas 50 dias

"Quatro dias absolutamente inacreditáveis no Sporting, que terá agora de dar resposta a si próprio. 

De 17 de Fevereiro de 2018 a 8 de Abril de 2018. Passaram-se 50 dias.
Passou-se apenas pouco mais de mês e meio desde que Bruno de Carvalho conseguiu quase 90 por cento dos votos na alteração dos estatutos (87,3%) e regulamento disciplinar (87,8%), saindo claramente vencedor do braço de ferro em que ameaçou deixar o cargo caso não conseguisse a percentagem que pretendia. No discurso triunfal, entre outras coisas, apelou ao boicote a todos os órgãos de comunicação social.
Não sei o que acontecerá numa nova Assembleia Geral, e até admito que levado às urnas, face ao vazio imediato na oposição, possa voltar a vencer. Essa é uma decisão da exclusiva responsabilidade dos sócios.
O que é visível é uma fractura no Sporting. Foi transparente antes, durante e depois do encontro frente ao Paços de Ferreira:
O apoio aos jogadores por parte do estádio.
A claque histórica a mudar aparentemente de lado em 90 minutos, depois de uma tarja que os colocava contra os atletas.
Os assobios, cartazes e lenços brancos para Bruno de Carvalho a partir das bancadas.
O festejo em grupo de titulares e suplentes no segundo golo, com o líder sentado no banco.
Mais assobios e lenços brancos no final, enquanto este se agarrava às costas e era amparado, e jogadores e equipa técnica se dirigiam à bancada para festejar com os adeptos.
A seguir, as declarações de Jorge Jesus, claramente o mais lúcido em todo o processo.
Depois, as do próprio presidente da Mesa da Assembleia Geral, a anunciar o fim do ciclo.
Passaram-se, lembro, 50 dias. A conquista da Taça da Liga é anterior à AG, tal como a primeira mão da meia-final da Taça de Portugal; e de lá para cá, desportivamente, o Sporting ficou com vida complicada no campeonato e na Liga Europa, mas ainda se mantém com possibilidades em ambas as competições.
De lá para cá, agora fora de campo, foram vários os posts no Facebook, alguns com vários destinatários exteriores e outros com receptores internos, mais propriamente na própria equipa. Um dos últimos foi publicado horas depois da derrota com o mesmo Atlético Madrid que esteve em duas finais recentes da Champions e é um dos grandes candidatos à conquista do troféu, e em que se envolvia directamente com as decisões dos jogadores em campo. Os remates de Gelson e Montero, os amarelos de Coentrão e Dost, e muito mais.
Surgia aí, pela primeira vez publicamente, a fractura, com a reacção corajosa dos futebolistas, desencadeada pela sucessão de intromissões no seu papel.
E se já aí parecia ter-se atingido um ponto sem retorno, Bruno Carvalho continuou a levar o confronto para lá do limite racional, primeiro com a suspensão dos jogadores, depois com o inacreditável comunicado três horas antes do pontapé de saída do Sporting-Paços de Ferreira, decisivo para a equipa na Liga.
Em 50 dias, Bruno de Carvalho implodiu com erros não forçados. De 90% passou a ter um estádio a assobiá-lo e a mostrar-lhe lenços brancos. É vítima de si próprio, de ser mais um adepto-presidente do que um presidente-adepto, e de não querer cumprir o papel mais institucional reservado a um líder. Ser irreverente até seria admissível e justificável, mas as suas acções ultrapassam todos os significados destes conceitos.
Ao que parece, o presidente irá enfrentar os sócios acreditando que estes lhe devem uma espécie de gratidão – disse-o na conferência após a partida –, ideia provavelmente assente no aparente – digo aparente porque não sou especialista em contabilidade, longe disso, sem qualquer tom perjorativo – saneamento financeiro do clube, pese o aumento dos gastos no futebol, e numa outra, em que o Sporting está mais perto de Benfica e FC Porto na luta pelos troféus, com uma Taça, uma Supertaça e uma Taça da Liga conquistadas em cinco anos.
Não acho que Bruno de Carvalho se sinta derrotado, e até tem o vazio na oposição em que apoiar nova candidatura. Acredito também que se o clube quer ter outro líder terá de criá-lo primeiro, ou arrisca-se a não sair da cratera criada por esta implosão do seu presidente.
Acho também que será tarde para Bruno. Não o vejo a querer mudar, e a perceber realmente o seu papel – e atenção que isto não deve ser lido com o perder a irreverência, mas sim defender os interesses com inteligência, classe e até estratégia – e, como tal, dificilmente deixará de ser inimigo de si próprio e, em certos momentos, do seu próprio clube.
É a altura de o Sporting dar resposta a si mesmo."

Mensagem clara

"Os sócios e adeptos do Sporting estão ao lado dos jogadores no conflito com Bruno de Carvalho

Às vezes, o optimismo em relação à natureza humana leva-nos a ignorar tudo o que sabemos sobre a personalidade de uma pessoa. Foi o que aconteceu no sábado, quando, ingenuamente, imaginámos que Bruno de Carvalho tinha recuado, colocando os interesses do clube acima de tudo, incluindo de si próprio. Como se tornou evidente ao longo do dia de ontem, não recuou: estava apenas a ganhar balanço. Pouco antes do jogo com o Paços de Ferreira, numa altura em que a equipa devia estar concentrada, o presidente do Sporting voltou a atacar, emitindo um comunicado em que insistia em criticar os jogadores, desta vez identificando os líderes da pretensa rebelião como aqueles que, "há anos, exigem sair do clube de todas as maneiras e feitios" e sublinhando que apenas não houve lugar a suspensões porque essa seria somente "mais uma desculpa para que não cumprissem as funções e as obrigações para que são pagos". Um ataque violento dirigido em particular ao carácter de alguns dos maiores símbolos do Sporting actual, e em geral ao profissionalismo de todo o plantel: tudo em nome daqueles que "são de facto o maior activo e património do clube, os seus sócios e adeptos". Pois bem, a resposta dos sócios e adeptos presentes em Alvalade - até o presidente há de considerá-los uma amostra significativa - a tais preocupações foi clara: estão ao lado dos jogadores. Um optimista em relação à natureza humana era capaz de ceder à tentação de imaginar que Bruno de Carvalho percebeu a mensagem, mas a intervenção na sala de Imprensa, no final do jogo, acaba com qualquer ilusão."

O estertor de Bruno Carvalho

"O presidente do Sporting auto-destruiu-se em público. E o que pretende Jaime Marta Soares? Iniciar um processo que conduza a eleições? É o que fará sentido. Não deve esquecer-se de que presidente era, e será até ao fim, o único fiel depositário da legitimidade dos votos. Isso não é transferível 

Começou a contagem decrescente para a saída de Bruno Carvalho da presidência do Sporting e foi ele próprio quem carregou no botão. É por exclusiva responsabilidade sua que até alguns dos mais indefectíveis apoiantes, pessoas que estiveram com ele no passado, se afastam, inclusive das fileiras dos órgãos sociais. Já não são apenas os sócios que Bruno Carvalho perseguiu e estigmatizou como “sportingados”. Ou antigos dirigentes a quem moveu processos e conseguiu expulsar da condição de sócio. Neste momento, a vaga de fundo cresce de todos os lados porque uma realidade se impõe de forma crua: o homem, ‘este’ homem, não tem condições para ser presidente do Sporting Clube de Portugal. Não estou a falar de condições culturais e de educação, que essas já estavam há muito ao alcance da análise de quem quisesse ver objectivamente e sem paixão. Estou a referir-me à loucura instalada.
Bruno de Carvalho estará, de certeza, a atravessar um mau momento – e só isso pode justificar as sucessivas garotadas que vai protagonizando: na perseguição aos jogadores, de quem agora diz ter imensas razões de queixa que ninguém conhece; na página pessoal no Facebook, que abre e fecha como um enamorado não correspondido depois de lancinantes e amargurados ‘posts’; nas conferências de imprensa, onde representa um papel patético e infantil; na relação com a comunicação social, que ora escorraça ora lhe serve de porto de abrigo para exorcizar os fantasmas. 
Em apenas três dias, Bruno Carvalho delapidou os sucessivos votos de confiança dos sportinguistas, o último dos quais ainda bem recente.
E o balanço destas pouco mais de 72 horas é fácil de fazer. Apenas porque um jogo não correu bem à equipa, e a alguns jogadores especialmente, o presidente, a quem faltam resultados depois de cinco anos no cargo, decidiu ferir o brio profissional de todo o grupo para alijar responsabilidades e saiu isolado. Procurou virar os adeptos contra a equipa. No seguimento, os futebolistas agiram com a estabilidade que falta ao presidente. A crise tornou Jorge Jesus a referência do momento para o sportinguismo. No jogo com o Paços de Ferreira, a heterogénea assembleia do Alvalade XXI reconheceu tudo isto e levou o líder do clube, em desespero, a fragilizar-se mais e mais aos olhos de todos.
Estando Bruno Carvalho a caminho de ser passado, convém entender o presente.
Por exemplo: o que pretende Jaime Marta Soares? Iniciar um processo que conduza a eleições? Será o que faz sentido.
Ou pretende, apenas, afastar Bruno Carvalho para influenciar uma solução a partir de dentro? Se esse for o objectivo, deve estar condenado ao fracasso.
O presidente era, e será até ao fim, o único fiel depositário da legitimidade dos votos. No dia em que sair, essa legitimidade fará parte do passado e não é transferível. O presidente da mesa da assembleia geral deve ter bem presente esta realidade na condução do processo que certamente se irá iniciar agora, com novos conclaves à luz dos estatutos do clube e nos quais Bruno Carvalho procurará sobreviver no cargo.
Os tempos serão, também, de desafio a todos os calculismos.
O clube necessita de soluções e estas devem fazer reflectir as pessoas com perfil e condições pessoais para protagonizarem projectos credíveis.
O essencial é perceber a razão pela qual Bruno Carvalho conquistou o clube: porque o Sporting estava a caminho da irrelevância desportiva. Começava a acomodar-se ao terceiro lugar em todas as vertentes e isso desesperava os adeptos. Bruno Carvalho surgiu como uma esperança e a verdade é que, porque o trabalho de reestruturação financeira pactada com os bancos estava (praticamente) fechado pela direcção anterior, encontrou condições financeiras únicas para ter êxito. Andou para trás e para a frente, mas fez algumas coisas boas. Sobretudo, embora sem conseguir conquistar mais do que três troféus até ao momento no futebol, voltou a colocar o Sporting, qualitativamente, ao nível dos seus dois rivais. Convém que, nesta nova transição em perspectiva, os adeptos possam confiar em que este caminho não se inverterá, antes será perseguido de forma ainda mais competente. E – já com urgência – que o actual plantel do futebol, em consequência desta crise, não sangre de forma tão brutal como inevitavelmente sangrará se Bruno Carvalho não sair rapidamente, acabando com este deplorável estertor em que se consome publicamente."

De Lula a Bruno de Carvalho: olhar e não querer ver

"Na medida em que admitir que eles falharam é admitir que nós falhámos, preferimos fechar os olhos à realidade e aderir acefalamente a quem está sempre disponível para pensar por nós.

Lula da Silva faz um discurso interminável em cima do telhado de um sindicato, insultando a comunicação social, enlameando a justiça, afirmando que a sua prisão irá provocar “orgasmos múltiplos” aos seus detractores, e chegando ao ponto de garantir que foram os tribunais brasileiros a apressar a morte da sua mulher. Em qualquer lugar do mundo, este seria o discurso de um demagogo e de um populista. Se acaso Donald Trump fosse preso, diria mais ou menos aquilo, só que de fato e gravata, em inglês e na Trump Tower. A demagogia, a manipulação, o ressentimento e o recurso às teorias da conspiração seriam iguaizinhas. E, no entanto, para a esquerda portuguesa, Lula da Silva, o homem do Mensalão, é um preso político e a pobre vítima – palavras de Catarina Martins, grande pilar do governo da República Portuguesa – de “um golpe da direita reaccionária, racista e fascista”. 
Bruno de Carvalho anda há anos a utilizar uma linguagem inqualificável, numa confusão permanente entre a pessoa e o presidente do Sporting, anunciando o nascimento de filhos nos ecrãs do Estádio de Alvalade, totalmente obcecado pelo seu ego e pela sua imagem, implacável com as críticas, ao ponto de ter organizado uma assembleia geral para poder calar mais facilmente as vozes incómodas, e na qual chegou ao ponto de listar que jornais os sportinguistas deveriam ler e que canais de televisão deveriam ver. Em qualquer lugar do mundo, esta seria a postura de um líder populista e autoritário. E, no entanto, Bruno de Carvalho teve 90% dos sócios a apoiar os seus desvarios totalitários até ao dia em que as frustrações se viraram contra o plantel do Sporting. Só nesse momento é que milhares de sportinguistas perceberam enfim que Bruno de Carvalho se estava a comportar como sempre se comportou – e que esse comportamento era inadmissível.
Todos nós acreditamos em pessoas, partidos, religiões, clubes, com os quais estabelecemos relações emocionais profundas. Não tem mal algum, com esta condição: jamais permitirmos que essa rede emocional – seja ela clubística, religiosa ou ideológica – se torne impermeável à realidade e suspenda o nosso próprio pensamento. É a isso que chamo “olhar e não querer ver”. Quando as nossas paixões se sobrepõem aos factos mais elementares ficamos rapidamente nas mãos dos demagogos, dos fanáticos e de todas aqueles que queremos tanto que estejam certos que nunca deixamos que estejam errados, mesmo quando somos confrontados com as estrondosas evidências das suas falhas. Na medida em que admitir que eles falharam é admitir que nós falhámos – porque avaliámos mal o seu carácter ou depositámos esperanças infundadas em alguém –, preferimos fechar os olhos à realidade e aderir acefalamente a quem está sempre disponível para pensar por nós.
Há pessoas dissimuladas que nos enganam. Eu isso percebo. Mas tenho dificuldade em aceitar que possamos ser enganados por aqueles que andam há anos a mostrar aquilo que são, e aquilo que estão dispostos a fazer, mesmo diante de nós. Foi o que aconteceu com Lula da Silva. Com Bruno de Carvalho. Com José Sócrates. Toda a gente sabia quem eram. Não apenas os mal-informados, os distraídos ou os palermas – toda a gente, milhões de seres inteligentes, insensíveis ao autoritarismo, à demagogia ou à corrupção. Orwell dizia que é preciso uma luta constante para ver aquilo que está à frente do nosso nariz. É impressionante a quantidade de gente que todos os dias continua a perder essa luta."

As faltas no futebol (I)

"No recente Juventus-Real Madrid (0-3) foram assinaladas 30 faltas (14+16), número que nos parece elevado para o histórico da Liga dos Campeões.
Já nas primeiras 28 jornadas da nossa Liga (252 jogos), os 22 árbitros portugueses – que até são acusados de apitarem com muita frequência, afectando o ritmo do jogo –, marcaram 8.271 faltas, média de 32,8 por desafio, pouco mais do que naquele duelo de alto nível europeu.
Estes dados servem de aperitivo às análises que iremos fazer sobre o que observámos em muitos anos a ver futebol (e bem menos a jogar, há que confessá-lo…), seja nas faltas que nunca são assinaladas, as que raramente o serão, as atitudes que não são falta mas dão direito a cartão amarelo, o benefício do infractor e também aquelas que os árbitros frequentemente marcam ao contrário – no nosso modesto entender, obviamente.
Começamos pelas situações de jogo perigoso, em que o julgamento se nos afigura não ser, muitas vezes, o mais correcto.
No caso de a disputa ser com os pés, a falta será do jogador que movimenta a perna de cima para baixo, vulgo "patada"; no caso de ambos o fazerem, haverá que considerar quem chegou primeiro ou o fez de forma mais violenta; se ambos jogaram a bola em movimentos de baixo para cima, não deve ser marcada falta e o jogo prosseguir.
Na disputa de pés e cabeça, constatamos que normalmente é penalizado o jogador que utiliza os pés; o que nem sempre estará correcto, porque a bola não deve (nem pode) ser disputada com a cabeça ao nível da cintura (ou abaixo dela), onde o jogo de pés tem prioridade absoluta; neste caso, o faltoso será o jogador que correu riscos desnecessários com a cabeça.
Nesta situação e arriscando o contraditório – pois também concordamos que foi um "hino ao futebol" – há que analisar friamente aquele pontapé de bicicleta do Cristiano Ronaldo no Juventus-Real Madrid. A bola foi rematada com o pé a 2,38 metros do solo, bem perto da cabeça do defesa Sciglio, que também saltou bem alto e estava na jogada, só se retraindo no último momento para evitar lesão grave. Era uma pena ter sido anulado um golão daqueles, mas se houvesse VAR…"

Heynckes, Brasil, Sporting e o CR7

"Voltar a ver o sucesso de Heynckes obriga a curvarmo-nos perante uma lenda, um enorme jogador que se tornou extraordinário treinador. Nem sempre teve sucesso, várias vezes se lhe discutiu o mérito enquanto técnico mas ganhou muito mais do que perdeu (duas Ligas dos Campeões incluídas) e a forma como encerra a carreira vai eternizá-lo. Voltou da reforma, aos 72 anos, para dar ao Bayern o hexa que com ele começou e ainda tem mais uma Champions para disputar até ao fim. Após a vitória que sancionou esse sexto título seguido, em Augsburgo, chamou para serem particularmente ovacionados Ribery e Robben, dois nomes que durante décadas serão pronunciados a par, símbolos para sempre deste regresso do Bayern aos melhores anos, ambos em fim de contrato. Não individualizar é uma boa regra para ser quebrada quando as carreiras o justificam, como as Ribéry e Robben. E de Juup Heynckes, pois claro.
Mergulhar no futebol brasileiro é regressar ao passado. O que mais se vê são equipas longas no campo, distância enorme entre sectores, marcações individuais a todo o terreno, num jogo partido sempre à espera que alguém com maior talento resolva o que o colectivo ignora. E eternizam-se as picardias entre jogadores e a pressão permanente sobre os árbitros, nos piores hábitos que os latinos exportaram para o futebol da América do Sul. Vale o talento individual, mesmo quando deficientemente enquadrado – Vinícius Júnior ainda tem de amadurecer para poder jogar num grande da Europa e Paulinho, miúdo do Vasco da Gama, é mesmo craque-, e sobretudo algumas honrosas e assinaláveis evoluções tácticas, como a que promovem Fábio Carile no Corinthians e Roger Machado no Palmeiras. Creio que só mesmo os técnicos brasileiros, querendo evoluir, podem mudar o futebol no Brasil. Ah, e as torcidas, as claques imensas mantêm o encanto quando nos limites da urbanidade e são tantas vezes mais espectaculares que o próprio jogo.
Regressar ao futebol português é voltar a um espaço onde a respiração se tornou difícil. Os dirigentes trocam acusações e insultos, comentadores perdem horas em volta de cenas tristes, os árbitros, muito pressionados, acumulam erros mesmo com a ajuda do VAR e nenhum fórum de discussão parece capaz de produzir algum efeito concreto. O que aconteceu esta semana no Sporting não tem paralelo e não se percebe bem como irá terminar. Certo é que não terminará bem. Jorge Jesus manteve um equilíbrio absolutamente elogiável no auge da convulsão, mesmo mantendo-se próximos dos jogadores, como lhe compete. Aliás, os treinadores, quase todos, têm tido sucessivas manifestações de bom senso – apesar das queixas pontuais, que são normais, têm sido claramente os mais responsáveis entre os que têm funções de liderança. E até os futebolistas se manifestaram do modo certo, através dos capitães dos vários clubes, contra este clima bafiento que os desvaloriza e coloca também na lista de suspeitos.
Ironicamente, é o mesmo futebol campeão de Europa de selecções, com Mundial à vista, e que produziu fenómenos como Mourinho e Ronaldo. Esta voltou a ser a semana deles. José Mourinho, apesar de estar longe dos principais objectivos da época – sem hipóteses quanto ao título inglês e prematuramente eliminado da Liga dos Campeões – foi de novo capaz de levantar do chão uma equipa no intervalo de um jogo, com tudo em desfavor e dois golos de desvantagem, invertendo o rumo de festa anunciada do futuro campeão Manchester City. A propósito, Guardiola teve uma semana negra que lhe pode marcar uma época que estava a ser de sonho, muito em função da opção estratégica desastrosa que levou para Liverpool, alterando o sistema que lhe tem dado tanto. Até os melhores falham e desta vez coube a Pep o disparate da invenção. Voltando a Mourinho, tem razão quando afirma que é melhor treinador do que hoje parece mas estou convencido que se retomasse alguns princípios tácticos que o fizeram grande no passado, aliados a esta capacidade de motivar que indiscutivelmente mantém, rapidamente voltaria a disputar qualquer trono. Já Cristiano Ronaldo não quer largar o trono, chegados os 33 anos. Messi dá luta – se dá! – com uma época fantástica mas as golos recentes do português encimados pela obra de arte de Turim, ícone para sempre na carreira do português genial, colocam de novo como possível o que ainda há um par de meses parecia inalcançável: a sexta Bola de Ouro. O Mundial pode bem ser o palco decisivo de um duelo para a eternidade."

O futebol é um desporto tão giro

"Domingo vai jogar-se um dos mais importantes jogos da época. Os dois primeiros classificados da liga, Benfica e FC Porto, irão defrontar-se. O vencedor do jogo ficará em excelente posição para se sagrar campeão.
A equipa de seis homens que vai ter a responsabilidade de arbitrar este jogo está, desde há algum tempo, escolhida. Um dos nossos árbitros internacionais mais experientes estará como árbitro principal. A acompanhá-lo estarão os seus habituais assistentes e um quarto árbitro que, provavelmente, também é internacional. Como videoárbitros, na Cidade do Futebol, estarão outros dois internacionais: um árbitro e um assistente.
Este é o momento em que o Conselho de Arbitragem vai ter de “meter a carne toda no assador”. Toda a “carne” que estiver disponível, claro... E depois, esperar que ninguém saia de lá muito queimado o que, no actual momento do futebol português, será missão quase impossível.
Impossível porque em todos os jogos de futebol há lances onde, qualquer que seja a decisão do árbitro, esta poderá ser questionável. Impossível porque quem quiser justificar um mau resultado irá sempre usar estes lances para lançar suspeições, acusar de premeditações ou sugerir pressões.
O penálti que deu a vitória ao Benfica em Setúbal é um exemplo. Luís Godinho assinalou falta de Luiz Felipe sobre Sálvio. Para os adeptos benfiquistas, foi falta claríssima. Para muitos dos adeptos das equipas adversárias ou não houve penálti e foi o árbitro que o inventou, ou foi uma falta tão a despropósito que o jogador do Vitória só pode ter feito falta de propósito.
O pénalti que abriu o marcador no jogo FC Porto – Aves. Para muitos adeptos foi óbvia a falta do defesa do Aves sobre Ricardo Pereira, pontapeando-lhe a perna. Para alguns outros, com curiosa e particular incidência nos adeptos de Benfica e Sporting, não existiu qualquer falta. A queda resultou de um choque entre dois jogadores do Porto e, portanto, foi mais um pénalti oferecido para ajudar a desbloquear um jogo.
Em Alvalade, no Sporting – Paços de Ferreira, o tema do momento era outro e, tendo o Sporting ganho o jogo, nem se discutiu o golo (bem) anulado a Bas Dost ou o pontapé de pénalti que terá ficado por assinalar a favor do Sporting já nos descontos.
Voltando ao clássico do próximo domingo, preparemo-nos para os tweets e posts que vamos ler até ao jogo e, principalmente, após o jogo. É o futebol que temos.
Enquanto escrevia este artigo, com a minha filha de cinco anos por perto, desabafei que não sabia como terminá-lo. A resposta veio rápido “escreve que o futebol é um desporto tão giro”. Simples, lógico e verdadeiro. É o futebol que deveríamos querer."

Só houve um Fernando Redondo e foi mesmo o maior de todos

"Sempre que passo por um youtube de Redondo fico a ver. Não guardo nos favoritos para mais tarde, e a não ser que o mundo esteja a acabar tenho mesmo que ver.
É verdade que ficaria entre a espada e a parede com outros, velhos companheiros do futebol da minha adolescência e início de idade adulta, mas entre tantos poucos serão tão redondos como o Fernando, passe o trocadilho fácil, que é tarde, e o discernimento já não é muito.
Trinco foi felizmente expressão que se foi perdendo, de tão feia que é, embora aqui e ali ainda se ouça, mas seria luva demasiado pequena, que só se encaixaria na ponta dos dedos. Escrevo hoje sobre ele pelas poucas vezes que o fiz no passado, por me ter sido roubado, como outros génios do seu tempo, demasiado cedo. Ontem ou hoje, parei à frente de um youtube e senti que ficava a dever-lhe este texto. Que já pouco o ajuda.
Sim, Redondo era um génio, mas muitos recordam-no como um médio-defensivo. Talvez o melhor da história, sem que nunca o tenha sido. É que faz parte daquele lote de jogadores capazes de controlar um latifúndio, a partir de várias zonas da cancha e sem uma pinga de suor, com uma elegância de predestinado.
Tenho saudades desse 5. Ou melhor, sinto falta desse 6, que para os europeus acresce um número em relação aos argentinos. Só que nesse mesmo latifúndio era 8 e 10, e quase sempre o melhor em campo.
Paulo Sousa, embora com menos técnica e um pouco mais de geometria, é daqueles outros inesquecíveis, e também ele acabou cedo de mais.
Sempre que me falam de Redondo vêm-me à memória o dia em que destruiu como dominó a defesa do ManUnited, em Old Trafford, com um toque de calcanhar, mas foi tão mais que isso.
A cabeça levantada, o jeito de levar a bola quase apenas com o mindinho do pé esquerdo, o toque que distingue, para muitos de nós, entre aqueles, os craques, e os simples aspirantes. A qualidade de passe, o sentido posicional e saída em drible e em velocidade. Uma espécie de príncipe altivo das Pampas, que podia jogar com rendas nos pulsos que só lhe acentuariam a capacidade de liderança em campo.
Pior para Passarella que quis que cortasse o cabelo para jogar o Mundial 1998, o mesmo Passarella que jogava de farta cabeleira no tempo de jogador. Redondo ficou em casa, a Argentina caiu nos quartos por culpa de Bergkamp.
É certo que há Busquets, e o seu jogo posicional e inteligência. Matic, a força física e o pé esquerdo explosivo. Tantos outros que o antecederam e vieram depois. Só não voltou a haver um novo Redondo, e o futebol todos os dias o lamenta."

Benfiquismo (DCCCIII)

Sou...

Benfica FM - pós-Setúbal

Jesus colocou Bruno em xeque (mate?)

"Bruno de Carvalho continua a ser o presidente do Sporting, mas o verdadeiro líder do clube tem outro nome: Jorge Jesus.

Bruno de Carvalho é um homem perturbado, que precisa de ajuda. E nem são as carências físicas, colocadas na pantalha depois do jogo com o Paços, que estão em causa. A desorientação do presidente do Sporting, que tem vindo, em crescendo, de há três meses a esta parte, a dispersar-se em ataques e guerras de alecrim e manjerona, contra tudo e contra todos, por tudo e por nada, é evidente e altamente prejudicial aos interesses leoninos. Bruno de Carvalho não tem mostrado condições para ocupar a presidência do Sporting.
Jorge Jesus não podia ter sido mais claro, no final do jogo com o Paços, quando disse que estava do lado dos jogadores. O presidente do Sporting tinha-se manifestado antes, num post com um timing péssimo para os interesses leoninos, novamente contra os futebolistas, de uma forma fracturante e irresponsável. E disse que o treinador estava com ele. Mas a realidade, brutal, mostrou-se outra. Jorge Jesus fez questão de dar a volta ao campo, no fim do jogo, ao lado dos jogadores, sem medo de dizer que verdadeiramente importante são eles. Uma afronta para o delírio presidencial, por certo.
No meio desta barafunda sem precedentes, Jorge Jesus emergiu como a figura central, a única capaz de fazer frente aos devaneios presidenciais e, ao mesmo tempo, garantir que a equipa estaria em campo a defender os pergaminhos do Sporting. Neste momento, Bruno de Carvalho é um problema para os leões e Jesus é o único garante de estabilidade, a única figura que defende o clube. Não sei se este é um momento de ajuste de contas, mas o Sporting, neste momento, tem um presidente, Bruno de Carvalho, e um verdadeiro líder, que segura as pontas e vai evitando males maiores, Jorge Jesus.
Bruno de Carvalho não manifestou ontem, na intempestiva incursão na sala de imprensa, qualquer intenção de se demitir. Nem tal seria muito expectável, já que o presidente do Sporting faz da liderança do clube de Alvalade o seu ganha pão e não tem qualquer horizonte profissional à espera. A partir deste racional é possível prever a reacção que Bruno de Carvalho oporá a uma saída de cena. Investiu muito (tudo?) no Sporting e não tem alternativas que lhe permitam fazer o que, num passado recente, Soares Franco ou José Eduardo Bettencourt fizeram. É por isso que tem a fasquia tão alta...

(...)
Ás
José Jardim
O Benfica derrotou o Castêlo da Maia na final da Taça de Portugal em voleibol, conquistando o 17.º troféu do seu historial. Trata-se de um tóxico importante para uma equipa que tem sido hegemónica, a nível nacional, nos últimos anos e que na corrente temporada enfrenta uma oposição fortíssima do Sporting.

Ás
Raúl Jiménez
Dois golos marcados no Estádio do Bonfim, que valeram três pontos ao Benfica, em noite de titularidade inesperada, por lesão de Jonas. O avançado mexicano passou a ser, na feliz expressão de Bagão Félix, «um suplente insubstituível», para tornar-se no salvador da pátria benfiquista que luta pelo penta.

Sobre a forma de dinamitar uma equipa de futebol
«O presidente chegou à conclusão de que a suspensão dos atletas não teria efeito de castigo»
Bruno de Carvalho, presidente do Sporting
No comunicado de ontem, publicado a quase três horas do kick-off do Sporting - P. Ferreira, Bruno de Carvalho fez diversos ataques aos jogadores, um dos quais particularmente surrealista. Diz que só não os suspendeu porque eles iriam gostar, já que teriam essa desculpa «para não cumprirem as suas funções e as obrigações para que são pagos». Absolutamente delirante!

Feito de Sporting
Quando Bruno de Carvalho, num infelicíssimo 'post' colocado quase três horas antes do Sporting - Paços de Ferreira, visou, «os grandes mentores de toda esta questão, de que fazem parte jogadores que, há anos, exigem sair do clube de todas as maneiras e feitios», os nomes de Rui Patrício e William Carvalho saltaram imediatamente para a berlinda. O médio estava lesionado e não teve hipótese de dar a cara, mas o guarda-redes, capitão na noite de ontem, foi à 'flash interview' e não teve papas na língua, defendendo o grupo com grande coragem.

No México falam em 'roubo' e exigem VAR
O Pumas, equipa da Universidade da Cidade do México, foi perder a Monterrey por 1-2 e as críticas à arbitragem foram mais do que muitas. No México, como em todos os países onde a videoarbitragem ainda não está em prática, os apelos ao VAR são inúmeros. Pode não ser perfeito mas ajuda a verdade desportiva."

José Manuel Delgado, in A Bola

A derrota de Bruno

"Contra tudo e contra todos. Ontem, em Alvalade, os jogadores do Sporting e Jorge Jesus ganharam contra tudo e contra um. Contra tudo: um bem organizado Paços; o cansaço físico e mental causado pelo jogo contra o Atl. Madrid e todas as incidências que se lhe seguiram; contra um: Bruno de Carvalho, que mais de duas horas antes do encontro voltou ao Facebook para, mais uma vez, atacar os jogadores (algum presidente que queira, de facto, ganhar um jogo escreve o que Bruno de Carvalho escreveu duas horas antes da equipa entrar em campo?=, inclusive alguns que são referência do clube.
A noite de ontem em Alvalade teve, por outro lado, um perdedor: Bruno de Carvalho. Não só pela atitude da equipa ou pelas palavras de Jorge Jesus no final - desmentindo o que o presidente escrevera horas antes e garantindo que esteve, sempre, ao lado dos jogadores -, mas acima de tudo pela reacção de milhares de sportinguistas (à excepção de uma claque, mas esses, já se sabe, têm agenda própria), que, apesar da desesperada última tentativa do seu presidente, mostraram estar ao lado da equipa e pediram a sua demissão. Bruno de Carvalho percebeu (ou não, com ele nunca se sabe...) que não é assim tão consensual. Há limites que nem ele, que se pensa dono e senhor do Sporting, pode ultrapassar. Ultrapassou-os, ficou claro para todos menos para o próprio, nas 72 horas que se seguiram à partida de Madrid. E colocou-se na posição mais frágil em cinco anos de presidência. Esta é guerra que BdC não ganhará. Ponto. Os jogadores e Jorge Jesus já a venceram.

PS - A presença de BdC na sala de imprensa no final do jogo foi mais um momento surreal. Atacar os adeptos por o terem ofendido (vai suspendê-los?), insultar os jornalistas e dizer que não tem qualquer culpa na crise é a prova de que o presidente do Sporting vive num universo paralelo. e que não tem, mesmo, noção de nada."

Ricardo Quaresma, in A Bola