"Eusébio morreu num domingo, o dia por excelência, do futebol. Foi sepultado no Dia de Reis, ele que foi um rei do Benfica e no mundo do desporto.
Sou de uma geração que teve o privilégio de o ter visto jogar, de ouvir os relatos com o calor dos seus golos e de ler a BOLA no rescaldo de tantos momentos gloriosos.
Faz, assim, parte do meu reduto memorial indestrutível. Eusébio não foi apenas o fabuloso jogador que está entre os melhores de sempre no mundo, mas também o desportista leal, exemplar, simples, solidário, sem tiques de vedetismo, acima e para além da efemeridade de cada momento.
Inigualável não apenas nos seus incontáveis golos e soberbas exibições, mas no exemplo de trabalho, de dever, de sacrifício, de abnegação, de entrega, de autenticidade, de companheirismo, até de utopia e de sonho. E que sempre soube adicionar à universalidade do consenso que foi capaz de gerar.
Para ele não havia inimigos ou mesmo adversários. Tão-só oponentes naqueles 90 minutos de jogo. Um espírito que bem precisaria de ser reerguido no futebol.
Escrevo estas palavras e acabo de receber uma mensagem de um bom amigo sportinguista reveladora deste consenso: «Morreu o jogador que me estragou mais tardes de futebol, mas que me deu também momentos memoráveis! Era um jogador único!»
Num tempo em que a globalização ainda não o era, Eusébio foi uma projecção de portugalidade no mundo global. Ultrapassou o mapa de Portugal e derrubou todos os muros. Os de cá e os de lá fora. Um herói num tempo em que a genialidade e a heroicidade profissional não estavam estupidamente banalizadas e inflacionadas como hoje."
Bagão Félix, in A Bola