"Como já vem sendo regra, a Selecção começou mal o apuramento para uma fase final. É mesmo o pior começo, superando os anacrónicos 4-4 contra cipriotas.
Nunca um apuramento se apresentou, à partida, tão acessível. O sorteio bafejou-nos com um grupo de 5 (e não 6) equipas, das quais são apuradas as duas primeiras directamente e - imagine-se! - a terceira ainda tem um play-off, num Europeu que, pela primeira vez, vai contar com um número exorbitante e injustificado de 24 selecções. No nosso grupo estão as as acessíveis Dinamarca e Sérvia e as generosas Albânia e Arménia...
Sem Ronaldo, Portugal é uma equipa vulgar. Aliás, foi Ronaldo que nos pôs no Brasil numa exibição soberba em Estocolmo. A Selecção, para utilizar uma imagem popular, «não é peixe, nem é carne». Talvez «ovos mexidos, mas sem sal». Presa por egos, tatuagens, penteados e conversas. Os velhos já jogam com o estatuto de aposentação antecipada, os novos são lançados aos soluços sem uma linha estratégica pensada. Alguns dos debutantes são-no em função de factores que fogem ao racional do puro futebol. Ser seleccionado passou a ser uma vulgaridade. Há jogadores que se tornam internacionais porque mudam de um clube secundário para um grande (veja-se Licá e Josué, no ano passado) ou porque vão para a estranja (como o duo ex-setubalente Vezo e Horta).
O discurso já não mobilizador. Antes, é cansativo, repetitivo, sem chama.
No fim da indigna derrota diante de uns medíocres albaneses, lembrei-me da substituída equipa médica que acumulou as culpas do desastre por terras de Santa Cruz. Afinal, a culpa no domingo não foi do médico. De quem terá sido agora?"
Bagão Félix, in A Bola