Últimas indefectivações

quarta-feira, 3 de abril de 2019

Em busca da 37.ª final

"Um dos objectivos do Benfica para a época vai estar em jogo esta noite, a partir das 20h45. A Taça de Portugal é, desde sempre, a segunda prova mais importante do calendário nacional e por isso foi naturalmente um dos ‘alvos’ definidos para 2018/19.
A qualificação para o jogo do Jamor é, portanto, o passo seguinte. Estamos perfeitamente conscientes das dificuldades que nos esperam no dérbi de Alvalade, num contexto muito especial e perante um adversário de grande valia e que saberemos respeitar. O Sporting tem legítimas aspirações em chegar à final, ainda para mais jogando diante dos seus adeptos.
O Benfica já realizou 50 jogos oficiais esta temporada (pode estar prestes a garantir um novo máximo no futebol português), mas o compromisso fica aqui assumido: continuará a competir, até ao último dia da época, com o mesmo espírito que se tem visto: a olhar para cada jogo como se de uma final se tratasse! Seja no Campeonato, na Liga Europa ou na Taça de Portugal.
Queremos fazer jus à tradição que o Benfica tem na prova que hoje se disputa. É o Benfica quem tem mais Taças: 26. Foi o Benfica quem já esteve em mais finais: 36. Queremos a 37.ª!

PS: A generalidade dos analistas de arbitragem que podemos ler nos jornais desportivos considera que o Sp. Braga foi ontem largamente prejudicado na meia-final da Taça de Portugal. Até o insuspeito jornal ‘O Jogo’ é o próprio a reconhecer, através do seu ‘Tribunal’ particular, que ficaram dois penáltis por assinalar contra o FC Porto e que o Sp. Braga ainda teve um golo mal anulado. Alguém consegue ficar surpreendido ao ouvir as declarações de ontem do presidente do Sp. Braga?"

Benfica Podcast - Swiss Quartz

Quer queiramos quer não, neste momento não há um único ser humano que acredite que as coisas estão bem no nosso futebol, (...)

""Água mole em pedra dura tanto bate até que fura".
Conhecem o ditado, não conhecem? É antigo mas mantém-se bastante actual.
De facto, há várias coisas que só acontecem quando insistimos muito. Quando falamos delas tantas, mas tantas vezes, que até causamos náuseas a quem nos ouve.
E tudo isso para quê? Para que nos damos ao trabalho? Porque é que algumas pessoas assumem o papel de pica-miolos, de pedras no sapato? De chatos, chatinhos e chatarrões?
A resposta é simples: para mudar o rumo dos acontecimentos. Para que algumas coisas deixam de ser como são. Para que coisas novas aconteçam.
Para que a inércia e erros de uns sejam vencidos pela determinação e acerto de outros. Para vencer, pelo cansaço, um modus operandi que poucos querem ver estabelecido ou mantido.
A ideia de insistir no fim das coisas más visa, no fundo, despertar consciências e sensibilizar pessoas.
Claro que esta opção, a de marrar de frente contra a maré vigente, cria fortes ondas de choque, mas esses são danos colaterais que historicamente sempre fizeram parte. Nada evoluiu na vida sem atrito ou conflito.
Convenhamos. Há, por cá, demasiada gente a viver entre a neblina e o nevoeiro. Nalguns casos, percebe-se. Quem nunca viveu na luz, só gosta do escuro. Mas isso não significa que sejamos todos assim.
Esta "luta moral" existe em muitos lugares, em várias fases e em muitas frentes, mas se há fenómeno em que ela encaixa na perfeição é no futebol português.
Sem prejuízo da competência, seriedade e empenho de muito boa gente (e há, nas estruturas do nosso futebol, muita visão, qualidade e competência), há - nesse universo paralelo - uma teia bem montada de pessoas e ideais, de tachos e ganância, de lucros, compadrios e chico-espertice que estão de tal forma enraízados que, admito, será muito difícil conseguir que coisas francamente boas possam emergir e manter-se, a curto, médio prazo.
Nesse meio, o do futebol, há quem faça de tudo para sobreviver.
Há, sobretudo, quem precise que tudo se mantenha como está: mergulhado em ruído diário, em perturbação permanente, em suspeita constante.
A questão aqui é tentar perceber porquê. Que forças se movem nesse sentido? O que ganham com isso? A quem serve esse ambiente poluído, adverso, de desconfiança eterna?
A resposta não é nenhum caso de estudo: o que as move é a vontade cega de vencerem a todo o custo. 
É a tentativa de se manterem no poder o maior tempo possível, de forma a usufruírem, directa e indirectamente, de tudo o que daí advém.
É a vontade de condicionar, manipular, influenciar e até coagir o desempenho de terceiros, de forma a obter, para si, todos os dividendos possíveis (desportivos, pessoais, financeiros, etc).
É a vontade desmedida de afastar a concorrência, sem olhar a meios, sem medir consequências.
É a ganância, pura e dura. É gula na sua expressão mais feia. É a tentativa provinciana de distrair, de desviar atenções, de camuflar tiros nos pés.
É a ambição desmedida de querer fazer os melhores negócios, de ter os melhores contactos, de estar próximo (ou no topo) de tudo o que é estruturante, impactante, decisivo.
E, claro, é também o prazer miudinho e doentio de esmagar, arrasar e destruir o inimigo de sempre (leia-se adversário desportivo). 
Motivos não faltam a quem, na estrutura de valores, falta quase tudo.
Segunda questão: como conseguem atingir esse objectivo? Como chegam lá? Como fazem para alimentar essa máquina bem oleada? Esta é fácil. Usam todo o seu poder, toda a sua dimensão, toda a sua ilimitada frente de ataque.
Recorrem ainda aos "contactos" da praxe, à sua vasta rede de influências, usando aquilo a que conhecemos como "pontas de lança". E quem são esses? São mequinhos, como aqueles do Subbuteo. Meros carrinhos de mão. 
Confesso, é triste ver algumas dessas almas a se assumirem como porta-vozes públicas de causas alheias, quando - pelo seu percurso e reconhecida integridade - se esperava que fossem mais independentes e neutrais. Elas, que curiosamente, "exigem" das opiniões de outros a tal independência e neutralidade que são incapazes de dar.
O coração é tramado, não é?
Terceira pergunta: este "submundo" pode um dia acabar? Tudo isto tem solução? Há fim à vista para a chamada "malandrice de algibeira"?
Claro que sim!
As coisas mudarão quando a integridade de gente boa e honesta der lugar à sua determinação e coragem para enfrentar, sem receios e com toda a força, todos os lobbies que proliferam no futebol em Portugal.
Essa atitude, aliada à criação de uma legislação implacável e de regulamentos desportivos ainda mais rígidos, farão com que quem exerça a justiça possa fazê-lo com menos burocracias, mais celeridade e muito mais justiça.
A partir daí resta basta tornar todos os processos - todos os que sejam mais relevantes e determinantes - o mais transparente e claros possível.
Como se fossem água no azeite aos olhos do povo. Não há nada melhor para diluir suspeitas do que a demonstração pública de que nada está viciado.
Quer queiramos quer não, neste momento não há um único ser humano que acredite que as coisas estão bem no nosso futebol.
Isso aplica-se à competência e qualidade dos árbitros e da arbitragem, aos clubes e intenções dos seus maiores responsáveis, a vários órgãos de justiça civil e desportiva, à integridade de alguns jogadores e de vários dos seus "agentes", à inocência intelectual de alguns jornalistas, à tendência/alinhamento de vários media e à parcialidade de muitos comentadores desportivos.
Tudo é posto em causa. Tudo é motivo de crítica, rumor e censura. Tudo está metido no mesmo prato, não se distinguindo o trigo do joio. Será normal este estado das coisas?
Será normal esta visão tão triste do nosso futebol? Estará o povo todo enganado? Seremos nós demasiado exigentes? É lirismo querer que tudo isto se esclareça, se defina e depois desapareça?
Meu rico futebol, onde andas tu..."

Do riso e da loucura

"Em 1967 Guy Debord publicou “A Sociedade do Espectáculo“, uma análise mais económica, filosófia e histórica do que cultural. Uma obra em que o autor declara que “o espectáculo é a ideologia por excelência, porque expõe e manifesta na sua plenitude a essência de qualquer sistema ideológico: o empobrecimento, a submissão e a negação da vida real. O espectáculo é, materialmente, «a expressão da separação e do afastamento entre o homem e o homem».” (Debord, G., 1997, “A Sociedade do Espectáculo”, Rio de Janeiro, Contraponto). Nitidamente uma obra em que o espectáculo é dissecado numa óptica das relações de produção e não centrada no espectador. Numa das poucas vezes em que Debord se preocupa com o espectador afirma que “a alienação do espectador em proveito do objecto contemplado (que é o resultado da sua própria actividade inconsciente) exprime-se assim: quanto mais ele contempla, menos vive; quanto mais aceita reconhecer-se nas imagens dominantes da necessidade, menos ele compreende a sua própria existência e o seu próprio desejo.”
Mario Vargas Llosa publicou em 2012 “A Civilização do Espectáculo” mais preocupado com a cultura do nosso tempo. Uma cultura que, no sentido tradicional conferido ao vocábulo, talvez já tenha desaparecido (a confusão total provocada pelo capitalismo entre preço e valor, em que este último sai sempre prejudicado, conduz à degradação da cultura e do espírito que é a civilização do espectáculo). Llosa chega mesmo a afirmar que “a ideia de progresso é enganosa”…
São mais os pontos que separam estes dois livros do que aqueles que possuem em comum. Mas complementam-se. No entanto, enquanto no primeiro se pode constatar que o consumidor real se torna um consumidor de ilusões, no segundo afirma-se que “nos nossos dias, os grandes jogos de futebol servem acima de tudo, como os circos romanos, de pretexto e libertação do irracional, de regressão do indivíduo a sua condição de parte da tribo, de peça gregária na qual, amparado no anonimato da sua tribuna, o espectador dá rédea solta aos seus instintos agressivos de rejeição do outro, de conquista e aniquilação simbólicas (e às vezes até real) do adversário.” (Llosa, M. V., 2012, “A Civilização do Espectáculo”, Lisboa, Quetzal).
São duas obras preocupadas com o espectáculo mas não com o espectador. Debruçam-se sobre um mas não sobre outro.
Como espectadores rimo-nos da loucura de certas ideias. Rimo-nos quando uma directora executiva da Liga de Clubes nos apresenta as suas ideias sobre as vantagens da decisão no possível regresso da venda de álcool de baixo teor nos estádios de futebol. Rimo-nos quando o problema não está nos desportistas, nos competidores, nos atletas, mas em nós. Na nossa loucura, nós encorajamo-los quando aclamamos as suas vitórias. E nós continuamos atrás do golo! E continuamos atrás do recorde! Vamos atrás da exaltação! Rimo-nos quando uma directora executiva da Liga de Clubes afirma que “a nossa mentalidade é ainda a de ‘cerveja e tremoço’, portanto temos de dar seguimento.”
Rimo-nos e nem sequer damos conta da loucura da tentativa de perpetuação de uma cultura escondida nestas palavras. Reprodução… diria Bourdieu! Perdemos a possibilidade de análise, perdemos o espírito crítico e não damos conta, como nos diz Llosa nessa mesma obra, que “o vazio deixado pelo desaparecimento da crítica permite que, insensivelmente, a publicidade o tenha preenchido, convertendo-se esta nos nossos dias não só em parte constitutiva da vida cultural como no seu valor determinante.” E é precisamente aqui que reside a grande questão: o espectador existe porque a publicidade necessita dele. Não há espectáculo sem espectador, não há publicidade sem espectador. Este é o eixo fulcral de todo o mecanismo. E “a publicidade exerce um magistério decisivo nos gostos, na sensibilidade, na imaginação e nos costumes” (Llosa, id.).
O espectador tem de consumir não só o espectáculo mas também a publicidade. Quem a paga? Não é o Clube, desiludam-se, somos nós. Não é a TV, desiludam-se, somos nós. Porque quando compramos um perfume, não estamos só a pagar o cheirinho… estamos a pagar a embalagem, estamos a pagar o frasco, estamos a pagar o aspersor, estamos a pagar o rótulo, estamos a pagar os anúncios…
Temos a Liga NOS, a taça CTT, a Liga SportZone… mas já não temos o Pavilhão Atlântico, temos o Altice Arena… já não temos Pavilhão Rosa Mota, temos o Super Bock Arena… temos «a fome de vencer»… “portanto temos de dar seguimento.”
O próprio Comité Olímpico de Portugal recentemente assinou um protocolo com os Vinhos da Bairrada. Ah grandes apreciadores e consumidores dos Vinhos da Bairrada… que irão pagar o famoso néctar, a garrafa, a rolha, o rótulo e… toda a publicidade!
Desde 2006 que a publicidade para produtos relacionados com o tabaco foi banida na Fórmula 1 – antes era norma! Entre nós a Sagres é o parceiro mais antigo da Federação Portuguesa de Futebol – desde 1993: “portanto temos de dar seguimento.” Ou seja: não fumemos mas bebamos!
Quando temos antevisões de jogos e conferências de imprensa em que o que interessa não é o que os protagonistas dizem mas sim a enorme quantidade de logótipos que proliferam nas suas costas e que subliminarmente entram para o nosso cérebro, temos de dar seguimento a umas bjecas, a uns tremoços e a uns caracóis… temos de dar seguimento à loucura.
E recordamo-nos aqui que Demócrito, respondendo a Hipócrates (2009, “Do Riso e da Loucura”, Lisboa, Padrões Culturais), lhe disse: “Atribuis ao meu riso duas causas, as coisas boas e as coisas más, porém, na verdade, não me rio senão por uma razão, do homem insensato, desprovido de rectidão, pueril em todos os seus desígnios e que sofre, sem daí retirar benefício algum, com os infindáveis esforços que envida, e que é impelido por imoderados desejos a aventurar-se, até aos limites da terra e nos abismos imensos, na conquista de prata e ouro, não cessando jamais de os alcançar, sempre afadigado em granjear mais, a fim de não ficar na ruína.”

Benfiquismo (MCXXXIX)

Digressão Africana, 1950
Após a conquista da Taça Latina

Mais um escândalo...!!!

Tudo isto passou-se num jogo, onde os Corruptos começaram com uma vantagem de 3-0 após a vitória na 1.ª mão (também essa altamente inquinada pela arbitragem!), aos 15 minutos da 1.ª parte, já havia um golo mal anulado e um penalty por marcar...!!!

Ultrapassou-se todos os limites da roubalheira!!! Sim, até as roubalheiras têm limites, basta recordar alguns dos diálogos do Apito Dourado, para perceber que os árbitros corruptos, quando não conseguiam os resultados pretendidos, desculpavam-se com a incompetência da equipa que tinha 'comprado' o jogo e que eles tinham feito tudo... mas não podiam exagerar!!!
Pois bem, hoje, ninguém tem esse tipo de problemas!!!

Até a Liga Real do Rui Santinhos dá uma vantagem enorme ao Benfica...!!! Quando até um anti-benfiquista primário como o Santinhos admite a fraude que está a decorrer à frente dos olhos de toda a gente... é porque isto é mesmo o cumulo da inverdade desportiva!!!

Só uma curiosidade: o VAR deste jogo, Rui Oliveira, foi o árbitro do Corruptos - Feirense, o tal jogo onde o VAR Vasco Santos, disse que um golo bem anulado por fora-de-jogo aos Corruptos, tinha sido mal anulado, e o árbitro Rui Oliveira, contrariando o protocolo foi rever o lance à linha lateral, e acabou por validar o golo ilegal dos Corruptos... invertendo uma boa decisão do fiscal-de-linha!!! Hoje parece que não 'encontrou' a câmara certa!!! Ou se calhar andou mesmo a procurar a câmara com o ângulo mais 'torto'!!!



Gobern... esta coisa do politicamente correcto, irrita-me imensamente!!!

Cadomblé do Vata (instintos incontroláveis)

"Foi numa noite fria de Fevereiro de 2011 que se deu aquele que ainda hoje é conhecido como “O Grande Incidente do Dragão” em solo conjugal. Num canto da sala, eu assistia atento e em silêncio ao FC Porto – SL Benfica, enquanto a minha donzela tentava nervosamente abstrair-se do jogo vendo televisão. A dada altura, Javi Garcia teve a brilhante ideia de mandar aquilo que o Sr. João, treinador de escolinhas e infantis em Almancil nos anos 90, chamava por “balrroaço” para dentro da baliza de Helton.
O poder avassalador da conquista tomou posse da minha alma e atirou cá para fora um gutural grito de “goolooo”, enquanto me lançava em deslize de joelhos pelo pavimento cerâmico em frente à esposa. Tomando novamente consciência e propriedade do meu corpo, olhei para o sofá, onde com a cara mais desiludida da História, a minha mais-que-tudo parecia dizer “eram 40 e tal rapazes naquela turma e eu escolhi este”. A medo disparei um trémulo “doizero” e lá consegui sacar um sorriso da face por que me apaixonei uns anos antes. Da sentença não me livrei: Benfica em casa, não.
Volvidos 8 anos, circunstâncias da vida, tais como o aumento da prole, ditaram que o visionamento caseiro se tornasse frequente, mas sem incidentes de maior. À base de monótonas goleadas, Bruno Lage parecia querer amansar o demónio do golo que habita a minha pessoa, uma espécie de alter-ego que custou a vida a inúmeros pares de calças, estropiou incontáveis cordas vocais, enervou uma imensidão de multidões de adeptos rivais e abriu o sobrolho de um colega de festejo (não vou explicar como os meus dentes encontraram a sobrancelha dele, porque nenhum de nós sabe). Não me querendo aqui armar em esquisito picuinhas e ressalvando uma enorme paixão pelo tédio dos “muda aos 5 acaba aos 10”, temos que ser realistas e assumir que chega-se a um momento em que a única reacção que o chuá da bola na rede obtém, é um resignado “olha mais um, quantos já são?”.
Acontece que o demónio do golo é animal feroz e mesmo engordado à base de resultados avultadamente desequilibrados, continua ágil, atento e voraz, não sendo necessários mais do que 80 e picos minutos de absoluto sofrimento, culminados com um certeiro cabeceamento suíço, para que ele se solte em toda a sua magnitude de Etna a rebentar de lava pelas costuras e dê azo ao “Grande Incidente do Haris”. Não teria ainda Cláudio Ramos cedido completamente à perfeição técnica do remate saído do topo dos Alpes e já uma força imensa me transportava involuntariamente aos gritos pela sala fora, correndo e saltando para gáudio do meu pacato e Benfiquista sogro, que ultimamente vai assistindo aos jogos a meu lado, com um misto de interesse pela partida e curiosidade humorística pelas minhas reacções aos acontecimentos.
A Gloriosa sensação de alívio só foi quebrada pelo estridentemente feminino “olha, obrigado” vindo do quarto. Irrompendo pela sala adentro, com o mais fofo e desperto príncipe de 1 ano ao colo e semblante carregado, aquela que me atura não perdeu tempo em discursos redondos “se o conseguiste acordar, também o consegues adormecer”… e consegui… depois do jogo acabar, porque no fundo, o que ele queria mesmo era ver o Glorioso."

IRS

Tábua rasa

"Mudar de treinador é, a esse respeito, uma janela de oportunidade para mudar de vida, especialmente para os jogadores que se demoram na penumbra.

Qual é a primeira coisa que faz um novo professor quando entra na sala de aula e constata que o colega se esqueceu de apagar as anotações que deixou no quadro? Limpar tudo, numa espécie de terraplenagem para poder pôr mãos à obra, certo? Até porque vai trabalhar com outras ideias e outra metodologia, procurando impactar os alunos com base num processo de transmissão de conhecimento que parte de bases muito próprias. Pois bem, no desporto o cenário não é muito diferente. Mudar de treinador é, a esse respeito, uma janela de oportunidade para mudar de vida, especialmente para os jogadores que se demoram na penumbra.
Adel Taarabt é um daqueles alunos apagados no fundo da sala que decidiu ganhar coragem e sentar-se na fila da frente, desejoso de mostrar ao professor que sabe mais do que aparenta. Durante os anos lectivos anteriores foi chamado várias vezes ao gabinete do director e demorou a entrar nos eixos, mas aos poucos parece ter-se dado conta de que, se até à data não saiu da sombra, muito o deve aos erros que foi repetindo ao longo do caminho. E digo muito, sem carácter de exclusividade, porque para o sucesso ou insucesso de uma empreitada concorre sempre mais do que um protagonista.
Não há nada como olhar para um plantel sob o prisma da tábua rasa para reconverter energias. Se o treinador der prioridade à dimensão do rendimento, a intensidade do abalo provocado no status quo dependerá somente do empenho (e da qualidade) de cada um. Os “indiscutíveis” terão de acelerar para se manterem no topo, porque todos os outros redobrarão esforços para provarem hoje, à luz de um novo olhar, o que ontem não conseguiram. No pressuposto de que a igualdade de oportunidades estará (de novo?) em vigor.
O marroquino intermitente que o Benfica foi buscar em 2015 tem o dom de nos lembrar que não há casos irremediavelmente perdidos. Não por ter completado meia-dúzia de minutos pela equipa principal mais de três anos depois de ter chegado a Lisboa, mas por ter recuperado o direito de entrar nas contas. E se o médio criativo voltou a ser tido em consideração na Luz, deve-o a si mesmo, antes de mais, e a um treinador que não vive de estigmas nem de rótulos de um passado que não viveu na primeira pessoa.
Taarabt pôs o pé em ramo verde ao longo do seu trajecto? O próprio já admitiu que sim. Mas um jogador nunca é apenas um jogador. Será sempre o jogador e as suas circunstâncias - e o Benfica conhecia bem o perfil do talento que estava a contratar.
Quando foi chamado a saltar do banco no encontro com o Tondela, gerou reacções díspares entre os adeptos que reclamavam uma nova oportunidade para o marroquino e os que defendiam uma aposta mais continuada num menino da casa, como é o caso de Gedson. Mas para cada função há um instrumento adequado, mesmo que muitas vezes o que o treinador idealiza nunca chegue a ganhar vida.
A riqueza de um elenco bem construído é mesmo essa, a de proporcionar ferramentas talhadas para diferentes tarefas. Taarabt não está a roubar vez a ninguém, tal como Samaris nada roubou a Fejsa ou Rafa a Cervi – até porque se há treinador que tem aproveitado a amplitude do plantel, esse treinador é justamente Bruno Lage. A alta competição é o momento, é a assimilação da ideia de jogo e é, cada vez mais, a estratégia. Sem calendários pré-definidos e sem bolas de cristal para se prever quando é que a árvore vai dar frutos.
Podemos puxar para a conversa casos como o de Luka Jovic (errou, como já reconheceu, mas aprendeu depressa), como o de Adrián López (desacreditado no FC Porto e resgatado por Sérgio Conceição) ou, mais longínquos, como os de Ian Wright ou até Luca Toni, ainda que com nuances diversas. Exemplos não faltam, ou não fosse o desporto um viveiro de histórias de redenção sentadas na sala de espera."

Gil Vicente no teatro do futebol português

"Algo não bate certo para que a reintegração de um clube na Liga dure 13 longos anos.
O Gil Vicente foi despromovido administrativamente em 2006, na sequência da inscrição do avançado angolano Mateus (hoje no Boavista), tendo então recorrido aos tribunais civis.
Em Maio de 2016, o Tribunal Administrativo do Círculo de Lisboa anulou o acórdão do Conselho de Justiça da Federação Portuguesa de Futebol e abriu caminho ao regresso à I Liga do Gil, que reclamou a reintegração logo na época 2016/17.
No entanto, a 9 de maio de 2018, numa Cimeira de Presidentes da Liga, 12 clubes do designado G-15 bloquearam a reintegração dos barcelenses na época 2018/19, tendo ficado decidido que esta só ocorreria na época seguinte – 2019/2020.
Assim chegámos aqui: no final desta época, têm de descer três equipas à II Liga, em vez de duas. 
Tendo em conta todos estes antecedentes, não deixou de causar espanto ver o presidente do Marítimo, Carlos Pereira, no final da reunião do G-15, na passada quinta-feira, pedir nova reunião para esclarecimentos do presidente da Liga, Pedro Proença, «em benefício do futebol português».
Ora, 322 dias depois do que foi definido na Cimeira de Presidentes, era preciso esclarecer o quê? 
Visto de fora, a ideia que transpareceu é de que o G-15 pretendia salvar um dos seus na secretaria, atrasando de novo o regresso dos gilistas (que, em virtude deste caso, nesta época competem no Campeonato de Portugal sem que os seus jogos contem para o que quer que seja); ou, em alternativa, pretenderiam mais um alargamento de 18 para 20 clubes, tal como há anos foi possível alargar de 16 para 18.
Se há benefícios em os clubes assumirem as rédeas da gestão das competições profissionais, há também uma desvantagem crucial: sempre que o interesse maior da competição colidir com a pequena vantagem da uma porção significativa de clubes, os pratos da balança tendem a pender para esta última.
A visão estratégica tem pouca margem para vencer quando confrontada com as tácticas de sobrevivência.
As movimentações dos últimos dias mostram quão difícil será pôr em prática no futuro um modelo competitivo mais atractivo em termos desportivos, financeiros e até mediáticos. Ninguém abre mão do seu centímetro de palco, ninguém aceita perder o seu quinhão de protagonismo. É assim no futebol como em qualquer outra actividade. É próprio da natureza humana.
Neste caso em particular, entrou bem em cena a Federação Portuguesa de Futebol, ao emitir um comunicado no início da reunião do G-15 da passada quinta-feira a exigir a reintegração do Gil Vicente. Por sua vez, Pedro Proença parece ter chegado atrasado ao ensaio, ao esclarecer só esta segunda-feira, no final da segunda reunião do G-15, que «a reintegração do Gil é um dado adquirido».
Resumindo: a situação desbloquear-se-á com uma compensação financeira para o terceiro clube que irá descer de divisão nesta época. Assim sendo, tanto melhor.
O aparente golpe de teatro não terá passado de uma mise-en-scène.
Gil Vicente agradece por poder entrar em cena. Subam-lhe, finalmente, o pano."

Lembra-me um sonho lindo, quase acabado

"[Esta crónica é para ser lida à velocidade de um locutor de rádio ou, se preferirem, da mesma forma como terminam os anúncios publicitários de medicamentos. Em caso de persistência dos sintomas consulte o seu médico ou farmacêutico]
O árbitro não pára de olhar para o relógio, ele deu quatro minutos de descontos e já estão cumpridos dois. É pontapé de baliza para Toldo, que bate curto para Maldini. É a final do Mundial, senhoras e senhores, e a Itália tem a posse de bola nos últimos instantes do jogo, que permanece empatado a uma bola, depois dos golos de Del Piero para a squadra azzurra, e de Batistuta para a Argentina. Marcelo Bielsa está hiperactivo na linha lateral, Dino Zoff permanece sossegado no banco de suplentes, tranquilo como quando defendia as redes da selecção que agora orienta.
A bola está em Nesta, que olha para o lado e vê Iuliano, e é lá que coloca a bola. Iuliano não tem opções imediatas de passe e decide bater longo, para a zona de Montella, que divide a bola com Pochettino. A bola sobra para Francesco Totti, que domina a bola como só ele sabe, que forma carinhosa e delicada de tratar o esférico. Totti olha para a baliza, tem os caminhos tapados, devolve a Montella que passa ainda mais para trás para Di Biagio, o homem improvável deste torneio, onde temos visto uma Itália que sabe atacar tão bem como defende. Di Biagio não está pressionado, tem tempo para decidir, vê Del Piero a desmarcar-se pela esquerda, tenta um passe rasgado para o autor do golo italiano mas aparece Zanetti, que grande corte, imperial Javier Zanetti. E a bola fica na posse da Argentina.
Olho para o relógio e acredito que possa ser o último ataque do jogo, os hinchas argentinos presentes em Wembley também pressentem o mesmo e é de forma ruidosa que tentam empurrar a selecção das pampas para a baliza de Toldo. Walter Samuel procura Simeone, que recebe a bola e levanta a cabeça e dá em Pablito Aimar, farol desta selecção na segunda parte da final do campeonato do mundo. Aimar contemporiza, dá dois toques na bola, está pressionado por Ambrosini mas com uma finta de corpo livra-se do italiano e o estádio vem abaixo, vai Pablito, vai Aimar, tem Diego Placente na esquerda e é para lá que vai a bola. Placente recebe, olha para área, vai cruzar, hesita, devolve a Aimar, pois claro, o 16 argentino recebe com o pé esquerdo, domina agora com o direito, está de cabeça levantada, pisa a bola Aimar, decide entrar na área com ela controlada, Aimar, o pequeno génio deste início de milénio, Aimar, sempre Aimar, deixa Cannavaro para trás, génio, génio, ta-ta-ta-ta…
Bip bip, bip bip. São sete horas em Portugal continental e na Madeira, menos uma nos Açores. Mais uma vez, o despertador impede-me de terminar o meu sonho, ficando novamente sem saber quem ganha a final entre a Itália de 2000 e a Argentina de 2002. Tenho que esperar pela próxima noite, pelo próximo sonho, pelo próximo duelo entre equipas que não atingiram a glória mas que, por um qualquer motivo mais ou menos óbvio, conquistaram um lugar no nosso coração e no nosso subconsciente. Não nos saem da cabeça, não conseguimos esquecê-las. Estamos continuamente a imaginar o que poderia ter acontecido se aquela bola não tivesse ido ao poste, se o defesa não tem escorregado, se, se, se. Sim, quem conquista a glória merece muitos capítulos de almanaques. Mas eu cresci a ouvir dizer que o Brasil de 82 é que era. E foi, de facto, uma equipa que deixou milhões e milhões a sonhar. Cada um de nós tem os seus perdedores preferidos. Lá porque não saíram a sorrir no final da história, não quer dizer que nós não possamos fazer com eles o que quisermos. Isso e ter sempre Victor Hugo Morales a entrar-nos sono dentro."