""Água mole em pedra dura tanto bate até que fura".
Conhecem o ditado, não conhecem? É antigo mas mantém-se bastante actual.
De facto, há várias coisas que só acontecem quando insistimos muito. Quando falamos delas tantas, mas tantas vezes, que até causamos náuseas a quem nos ouve.
E tudo isso para quê? Para que nos damos ao trabalho? Porque é que algumas pessoas assumem o papel de pica-miolos, de pedras no sapato? De chatos, chatinhos e chatarrões?
A resposta é simples: para mudar o rumo dos acontecimentos. Para que algumas coisas deixam de ser como são. Para que coisas novas aconteçam.
Para que a inércia e erros de uns sejam vencidos pela determinação e acerto de outros.
Para vencer, pelo cansaço, um modus operandi que poucos querem ver estabelecido ou mantido.
A ideia de insistir no fim das coisas más visa, no fundo, despertar consciências e sensibilizar pessoas.
Claro que esta opção, a de marrar de frente contra a maré vigente, cria fortes ondas de choque, mas esses são danos colaterais que historicamente sempre fizeram parte. Nada evoluiu na vida sem atrito ou conflito.
Convenhamos. Há, por cá, demasiada gente a viver entre a neblina e o nevoeiro. Nalguns casos, percebe-se. Quem nunca viveu na luz, só gosta do escuro. Mas isso não significa que sejamos todos assim.
Esta "luta moral" existe em muitos lugares, em várias fases e em muitas frentes, mas se há fenómeno em que ela encaixa na perfeição é no futebol português.
Sem prejuízo da competência, seriedade e empenho de muito boa gente (e há, nas estruturas do nosso futebol, muita visão, qualidade e competência), há - nesse universo paralelo - uma teia bem montada de pessoas e ideais, de tachos e ganância, de lucros, compadrios e chico-espertice que estão de tal forma enraízados que, admito, será muito difícil conseguir que coisas francamente boas possam emergir e manter-se, a curto, médio prazo.
Nesse meio, o do futebol, há quem faça de tudo para sobreviver.
Há, sobretudo, quem precise que tudo se mantenha como está: mergulhado em ruído diário, em perturbação permanente, em suspeita constante.
A questão aqui é tentar perceber porquê. Que forças se movem nesse sentido? O que ganham com isso? A quem serve esse ambiente poluído, adverso, de desconfiança eterna?
A resposta não é nenhum caso de estudo: o que as move é a vontade cega de vencerem a todo o custo.
É a tentativa de se manterem no poder o maior tempo possível, de forma a usufruírem, directa e indirectamente, de tudo o que daí advém.
É a vontade de condicionar, manipular, influenciar e até coagir o desempenho de terceiros, de forma a obter, para si, todos os dividendos possíveis (desportivos, pessoais, financeiros, etc).
É a vontade desmedida de afastar a concorrência, sem olhar a meios, sem medir consequências.
É a ganância, pura e dura. É gula na sua expressão mais feia.
É a tentativa provinciana de distrair, de desviar atenções, de camuflar tiros nos pés.
É a ambição desmedida de querer fazer os melhores negócios, de ter os melhores contactos, de estar próximo (ou no topo) de tudo o que é estruturante, impactante, decisivo.
E, claro, é também o prazer miudinho e doentio de esmagar, arrasar e destruir o inimigo de sempre (leia-se adversário desportivo).
Motivos não faltam a quem, na estrutura de valores, falta quase tudo.
Segunda questão: como conseguem atingir esse objectivo? Como chegam lá? Como fazem para alimentar essa máquina bem oleada? Esta é fácil. Usam todo o seu poder, toda a sua dimensão, toda a sua ilimitada frente de ataque.
Recorrem ainda aos "contactos" da praxe, à sua vasta rede de influências, usando aquilo a que conhecemos como "pontas de lança". E quem são esses? São mequinhos, como aqueles do Subbuteo. Meros carrinhos de mão.
Confesso, é triste ver algumas dessas almas a se assumirem como porta-vozes públicas de causas alheias, quando - pelo seu percurso e reconhecida integridade - se esperava que fossem mais independentes e neutrais. Elas, que curiosamente, "exigem" das opiniões de outros a tal independência e neutralidade que são incapazes de dar.
O coração é tramado, não é?
Terceira pergunta: este "submundo" pode um dia acabar? Tudo isto tem solução? Há fim à vista para a chamada "malandrice de algibeira"?
Claro que sim!
As coisas mudarão quando a integridade de gente boa e honesta der lugar à sua determinação e coragem para enfrentar, sem receios e com toda a força, todos os lobbies que proliferam no futebol em Portugal.
Essa atitude, aliada à criação de uma legislação implacável e de regulamentos desportivos ainda mais rígidos, farão com que quem exerça a justiça possa fazê-lo com menos burocracias, mais celeridade e muito mais justiça.
A partir daí resta basta tornar todos os processos - todos os que sejam mais relevantes e determinantes - o mais transparente e claros possível.
Como se fossem água no azeite aos olhos do povo. Não há nada melhor para diluir suspeitas do que a demonstração pública de que nada está viciado.
Quer queiramos quer não, neste momento não há um único ser humano que acredite que as coisas estão bem no nosso futebol.
Isso aplica-se à competência e qualidade dos árbitros e da arbitragem, aos clubes e intenções dos seus maiores responsáveis, a vários órgãos de justiça civil e desportiva, à integridade de alguns jogadores e de vários dos seus "agentes", à inocência intelectual de alguns jornalistas, à tendência/alinhamento de vários media e à parcialidade de muitos comentadores desportivos.
Tudo é posto em causa. Tudo é motivo de crítica, rumor e censura. Tudo está metido no mesmo prato, não se distinguindo o trigo do joio.
Será normal este estado das coisas?
Será normal esta visão tão triste do nosso futebol? Estará o povo todo enganado? Seremos nós demasiado exigentes? É lirismo querer que tudo isto se esclareça, se defina e depois desapareça?
Meu rico futebol, onde andas tu..."
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