"O Coordenador Smith estava furioso com o que se tinha passado. Caminhava apressadamente, olhando para o chão, enquanto abanava a cabeça, como a dizer “isto assim não”, e os braços estavam esticados, junto ao tronco, com os pulsos cerrados, parecia pronto para lutar com alguém. O que tinha deixado o Coordenador Smith “à beira de um ataque de nervos”, naquela reunião de Coordenação da Academia, que acabara de terminar?
O Detective Colombo tinha estado presente, como observador, e seguia o passo do Coordenador, que entra no seu gabinete e fecha a porta, enquanto o Detective Colombo se esgueirava, para não levar com ela.
“Viu o que se passou?” – disse e perguntou o Coordenador Smith, enquanto parecia que ia explodir. “Há momentos em que parece que vamos explodir, mas já viu alguém realmente a explodir por estar irritado?” – devolveu o Detective Colombo e, depois de fazer uma pequena pausa, perguntou – “Diga-me o que aconteceu Coordenador Smith?”.
Embora mais calmo, a vontade de libertar toda aquela pressão, levou-o a responder sem demora – “viu alguns dos treinadores, poucos é certo, mas alguns, que só veem o que está mal, parece que pensam que as dificuldades nunca vão terminar e acabam por ver as coisas piores do que elas são, como que só vissem a parte sem água, de um copo meio-cheio” – começou por dizer o Coordenador Smith.
“Mas eles só têm coisas negativas?” – tentava perceber o Detective Colombo. “Não, bem pelo contrário. Este pequeno grupo está tão concentrado na tarefa, que acabam por realizar muitas tarefas importantes sozinhos” – dizia o Coordenador Smith e, enquanto fez uma pausa, para beber um pouco de água e respirar fundo, o Detective Colombo disse – “comportam-se como Treinadores do seu quintal, ignorando a Quinta?”.
“Nem mais, Detective Colombo. Este é o segundo problema que lhe tinha falado (ver em https://abola.pt/Nnh/Noticias/Ver/801781 o primeiro) e gostava de compreender melhor a situação, porque estas pessoas trabalham muito, mas infelizmente sozinhas. Repare que o meu primeiro problema é ter pessoas que não contribuem para os objectivos, comprometendo-os, e este, o segundo, é o de algumas pessoas tanto quererem contribuir para o objectivo, que acabam por ficar aquém, pela forma como contribuem” – disse o Coordenador Smith e perguntou – “pode ajudar-me a enquadrar, a perceber o que se passa, o que pode estar por trás de tudo isto? Gostava de ir um pouco mais fundo do que a superficialidade, entender a situação para, depois, intervir o mais assertivamente possível.”
“Coordenador Smith” – começou por dizer o Detective Colombo – “recorda-se das primeiras experiências que teve ao trabalhar em equipa, na escola, no Clube em que jogou?”. “Perfeitamente, Detective Colombo” – respondeu o Coordenador Smith.
“Como foram essas experiências?” – perguntou o Detective Colombo. Depois de uma pequena pausa e com o Coordenador Smith muito mais calmo, os seus olhos começaram a brilhar, era evidente que estava a recordar situações da sua juventude e disse – “lembro-me de uma equipa que tinha bons jogadores, quando começámos a época, as expectativas de todos eram muito altas, quanto aos resultados. Contudo, a realidade foi muito diferente dessa expectativa. Ao longo da época e à medida que começámos a jogar com adversários mais fortes, os resultados deixaram de ser os que esperávamos e o clima da equipa passou a ser pesado”.
“Pesado, como assim?” – perguntou o Detective Colombo. Agora, os olhos do Coordenador Smith já não brilhavam, a sua cara parecia dizer que tinha vivido momentos turbulentos e disse – “as discussões, o desconforto e os conflitos passaram a tomar conta do ambiente da equipa, os resultados foram piorando e, confesso, comecei a jogar sozinho, para tentar ajudar a equipa a ganhar”.
“Como se costuma dizer, se queres algo bem feito, fá-lo tu?” – perguntou o Detective Colombo. “Nem mais, Detective” – disse o Coordenador Smith, fazendo uma pausa, que o Detective respeitou, como dando-lhe espaço para traduzir em palavras o que lhe ia na alma, e continuou – “estou a perceber, enquanto jovem, tinha a expectativa do trabalho de equipa ser importante, tentei trabalhar em equipa, mas quer os resultados, quer a relação entre as pessoas foram desastrosos e, como os resultados eram muito importantes, para mim, passei a jogar sozinho, como que a remar contra a maré.”
O Detective Colombo olhou nos olhos e acenou com a cabeça de cima para baixo, como a dizer, excelente trabalho e perguntou – “como é que se passou a relacionar com as equipas em que jogou e com os grupos de trabalho em que participou?”.
“Quando entrava numa outra equipa ou num dos grupos de estudo, recordava todas as discussões, todo aquele desconforto, desencanto, desilusão e no desespero que sentia por não conseguirmos trabalhar em equipa para os objectivos e que comecei a resistir ao trabalho de equipa” – começou por dizer o Coordenador Smith.
“Resistir ao trabalho de equipa” – repetiu o Detective Colombo enquanto franzia o olho esquerdo e perguntou – “o que quer dizer com isso?”.
“Comecei a exagerar nas diferenças com os outros, que não se concentravam na tarefa em mãos, pelo contrário, concentrava-me na tarefa e comprometia a relação com os outros, negava qualquer semelhança com eles e não só trabalhava e jogava independente, como insistia em fazê-lo isoladamente” – o Coordenador Smith fez uma pausa e continuou – “acabava por competir com os colegas de equipa e de grupo em vez de colaborar, sentia-me sobrecarregado por tentar fazer sozinho o que devia ser feito por todos”.
“Como quando se rema contra a maré. Desgastámo-nos muito e é muito difícil chegar onde queremos” – começou por dizer o Detective Colombo que, perante o acenar de cabeça do Coordenador Smith, a dizer que sim, continuou – “Coordenador Smith, mas agora não é assim. O que se passou para ter mudado?” – perguntou o Detective Colombo.
“Detective, a determinada altura, percebi a ironia de toda a situação. Repare, no início, tinha grandes expectativas em relação ao trabalho em equipa, mas ao tentar fazê-lo, sofri a desilusão ou melhor, perdi a ilusão no seu valor. Deixei de acreditar que era possível alavancar os resultados através da equipa. Por isso, “mergulhei a trabalhar sozinho, mas isso acabou por me sobrecarregar, deixar sozinho e por comprometer igualmente os resultados que desejava. Percebi que o problema não estava no trabalho em equipa, mas na falta de competências para colaborar complementar e criativamente, enquanto surgem as diferenças, durante o processo de concretização dos objectivos” – rematou para “golo” o Coordenador Smith.
“O que acontece, quando vê alguém a tentar fazer sozinho, o que compete a todos? Como formar os jogadores e homens na Academia? Como a trabalhar apenas para a equipa do seu escalão, do seu Quintal?” – perguntou o Detective Colombo.
O Coordenador Smith não respondeu de imediato, parecia ter descoberto algo importante. Sentou-se e, depois de uma pausa, disse – “compreendo Detective, fiquei irritado, na reunião, por ter visto alguns treinadores, poucos é certo, a tentarem fazer sozinhos o que compete a todos fazer. Isso recordou-me que fiz isso muitas vezes, mas não funcionou e que trabalhar em equipa passou a ser algo importante para mim, no caso concreto, para a Academia funcionar.”
“Acabou de descobrir mais um culpado de estar a “matar” a mudança” – disse o Detetive Colombo.
“Detective agradeço-lhe imenso o trabalho que fez. Percebi que há duas coisas que estão a levar as pessoas a resistirem à tarefa de formar jovens e desenvolver homens e que ambas estão interligadas, como se fossem duas faces da mesma moeda, problema, uma das faces é resistir a contribuir, como vimos na nossa última conversa e a outra face, como descobri hoje é resistir à colaboração, à cooperação, ao trabalho de equipa. Se a Equipa Técnica passar a contribuir e colaborar construtiva, complementar e criativamente mente com os seus recursos, então estaremos mais muito mais perto, de conseguirmos os resultados que desejamos e ficarmos satisfeitos com o que fizemos e conseguimos” – sintetizou o Coordenador Smith.
Terminada a conversa, o Coordenador Smith dirigiu-se ao gabinete do Presidente Angie, a quem contou tudo o que se tinha passado, durante a auditoria do Detective Colombo.
Já ao volante e a caminho de casa, enquanto reflectia sobre a conversa com o Coordenador Smith, o Presidente Angie tinha-se apercebido que há pessoas com tendência para manterem a boa relação a todo o custo, mesmo evitando contribuir para a tarefa em mãos, para quem tudo está sempre bem, pelo melhor, uma das faces da moeda e que há outras pessoas propensas para contribuírem para a tarefa, mesmo comprometendo a relação, a colaboração, para quem tudo está sempre mal, pelo pior, que representam a outra face da moeda, a “moeda” de resistir à tarefa. Para além disso, começava a ver os múltiplos benefícios de as pessoas abordarem as tarefas em mãos, quer contribuindo enquanto mantêm a boa relação, quer colaborando e mantendo a contribuição para a tarefa, em vez de lhes resistirem, não contribuindo com os seus recursos ou trabalhando sozinhas, até porque o esforço vence o talento, quando o talento não se esforça e porque o talento vence jogos, mas a colaboração e inteligência vencem campeonatos. Um semáforo fica vermelho, abranda e para e naquele momento parece ter resumido algo muito importante, para a evolução do Clube e das Equipas. Tira um bloco de notas e escreve: Contribuir e Colaborar Construtiva, Complementar e Criativiamente. O sinal mudou e com ele arrancou para uma nova cultura, dos 5 C’s."