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segunda-feira, 18 de novembro de 2024
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Nada de novo... se os Cartéis Colombianos e Mexicanos já o fizeram, porque não os Brasileiros?!!!!
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Benfica: um problema para resolver, outro por antecipar
"Águias têm um problema na lateral direita para resolver já, na reabertura do mercado, e outro para tentar antecipar, relacionado com a influência do capitão
Atempadamente combinada com o Benfica, a dispensa de Bah da seleção dinamarquesa parece mais prevenção do que apreensão, mas remete para um problema que deveria ser resolvido na reabertura do mercado, dentro de mês e meio.
O antigo jogador do Slavia, que teve uma paragem de três meses na época passada, já falhou quatro jogos da presente campanha devido a lesão, e continua a merecer cuidados especiais por parte do departamento médico.
Não é de agora que o Benfica precisa de um lateral que possa colocar em causa a titularidade de Bah, mas ao invés de ter uma opção válida para discutir o lugar com o dinamarquês, o plantel tem uma alternativa que não oferece garantias sequer para colmatar as ausências do habitual dono do lugar. Kaboré, também dispensado da seleção (do Burkina Faso), foi utilizado em seis jogos do Benfica, mas apenas dois como titular, deixando sempre a ideia de que não está (pelo menos para já) preparado para a exigência das águias. A imaturidade competitiva também contribuirá para estas interrogações, mas fica difícil perspetivar que o jogador cedido pelo Manchester City possa, a curto prazo, passar de problema a solução.
Sem respostas imediatas na equipa B — apesar da qualidade de Diogo Spencer —, e com Aursnes imprescindível a meio-campo, o melhor que o Benfica pode fazer é atacar o mercado. Nesse cenário, talvez faça sentido para Bruno Lage — que entrou já depois das compras de verão — ter um lateral com um perfil diferente, porventura mais associativo e cerebral, do que atlético e veloz.
Tomás Araújo nunca seria solução a longo prazo para o lugar, até porque se apresenta, nesta altura, como o central de melhor rendimento na equipa. Espreita agora a estreia pela Seleção, onde António Silva vai recuperando a confiança perdida na última época. Caso o jovem de Penalva do Castelo consiga aproximar-se do registo de 2022/2023, então o lugar cativo de Otamendi pode estar seriamente em risco. O argentino vai acumulando erros a uma cadência cada vez maior, inclusive na sua seleção, e até já os adeptos do River Plate torcem o nariz a um regresso. Embora a entrega da braçadeira das águias tenha sido precoce, Nico tem uma influência inquestionável no balneário e isso pesa nas decisões, mas a SAD liderada por Rui Costa tem de antecipar problemas e perceber quando é que a presença do capitão se tornará um peso. De preferência em sintonia com o próprio Otamendi."
O Prenúncio Eleitoral
"As eleições serão em outubro de 2025. Dirão que ainda falta muito tempo, para se abordar esse assunto. Sobretudo, por a larga maioria dos sócios considerar, e bem, que trazer à liça essa disputa, agora, antes de se saber se o Benfica ganha a Liga, seria prejudicial e prematuro. Concordo.
Porém, nas tertúlias e conversas que presencio e partilho com os sócios essa prudência não chega, para calar as inúmeras vezes que as eleições já são tema de discussão. As vozes que se ouvem são cada vez mais. Uns, avaliando os resultados desportivos e económicos destes últimos três anos. Outros, perguntando sobre o projecto e o futuro.
Talvez fosse interessante começar a fazer uma lista dessas interrogações, dúvidas, avaliações positivas e negativas. Para aquilatar o sentimento e a opinião dos benfiquistas sobre esse momento crucial para o presente e futuro do Benfica. Essa partilha e troca de opiniões, sem ferir nem interferir com a actual disputa da Liga, talvez fosse um contributo útil.
De todas as questões que ouço e participo, há uma que gostava de aqui partilhar.
Os sócios e adeptos souberam que novos membros ocuparão lugares na Administração do Benfica a partir de janeiro de 2025. E esses novos membros não são pessoas quaisquer. São das mais qualificadas e competentes que existem em Portugal, nas suas áreas profissionais. Refiro-me a Eduardo Stock da Cunha (Santander, Novo Banco, Loyds Bank, Fidelidade Seguros) Manuel Lopes da Costa (NOVA, School of Business and Economics), Nuno Catarino (McKinsey, global management consulting).
Isto é, ao fim de três anos de mandato de Rui Costa & Direção, e nos dez meses que antecedem o próximo acto eleitoral, é feita esta escolha. Que atesta a necessidade de uma mudança, em relação aos maus resultados desportivos e económicos dos últimos três anos.
As duas perguntas que muitos sócios gostariam de ver respondidas por Rui Costa são as seguintes:
- Quais as mudanças que estes novos membros propõem para os próximos dez meses, que antecedem o acto eleitoral de outubro de 2025?
- Serão estes prestigiados membros a redefinirem o rumo e o projecto do Benfica, concretamente, o conteúdo do ‘Programa Eleitoral’ do candidato Rui Costa? Serão apoiantes de Rui Costa, ou de que outro candidato a Presidente do Benfica?"
Qual o papel da Associação Nacional de Treinadores de futebol?
"Esta semana a Associação Nacional de Treinadores de Futebol (ANTF) teve uma enorme oportunidade de demonstrar a sua mais-valia em dois casos distintos, mas acabou por fragilizar a sua posição.
ANTF vs João Pereira
O presidente da ANTF veio esta semana referir que vai apresentar uma queixa pelo facto de João Pereira não ter as habilitações necessárias para ser treinador no primeiro escalão. Esta tomada de posição é, no mínimo, estranha. Faz algum sentido ser a associação da classe dos treinadores, da qual faz parte João Pereira, aquela que vai apresentar queixa sobre um dos seus associados ou um dos da sua classe? Não faria mais sentido tentar proteger o jovem treinador e enquadrar a ausência de habilitações no contexto que se vive em Portugal?
Se me perguntarem para que é que serve uma associação de uma classe profissional, eu diria que existe para apoiar aqueles que representa. Ora, sabendo a ANTF que, em Portugal, os cursos de treinadores são escassos e com poucas vagas, por que motivo em vez de apresentar uma queixa contra um jovem treinador com o 3.º nível, não coloca em causa a forma como a cadência da formação tem vindo a ser feita? Por que motivo, em vez de referir que respeita os regulamentos, não os coloca em causa e luta por uma adaptação à realidade?
O caso João Pereira não é virgem. Já aconteceu o mesmo com Ruben Amorim, assim como com o treinador do Casa Pia que por sinal também se chama João Pereira. De uma forma pragmática perceberia que a ANTF apresentasse uma queixa contra os treinadores sem habilitações se estes não se inscrevessem e não demonstrassem intenção de frequentar os respetivos cursos. Aqui a questão é que os dois João Pereira pretendem fazer o quarto nível, mas não existem cursos disponíveis! O que os adeptos do futebol questionam é por que motivo os cursos não abrem quando existe tanta procura?
Outra questão prende-se com os anos que são necessários para atingir o último nível exigido. Em Portugal, o trajeto para se alcançarem as habilitações necessárias a poder desempenhar a função de treinador sem restrições tem a duração de 8/9 anos. Contudo, existem outros países em que o processo é bem mais simples, como a Escócia ou a Irlanda. Faz algum sentido que os nossos jovens treinadores para obterem as habilitações necessárias tenham de se inscrever noutros países? Sabendo nós que tirar um curso noutro país exige um investimento mais elevado, com esta forma de agir estamos a limitar as oportunidades apenas para aqueles que têm capacidade de investimento? Numa área em que somos claramente reconhecidos e em que exportamos talento, faz sentido limitar as oportunidades a jovens treinadores que querem demonstrar o seu valor?
O papel de uma associação de classe profissional é o de perceber o contexto, ser exigente, mas ter a noção da realidade. Neste caso, como noutros no passado, os treinadores por muito que queiram ter as habilitações necessárias não conseguem por falta de cursos disponíveis. Assim sendo, parece-me que a posição da ANTF deveria ser a de encontrar soluções, ter bom senso e defender os seus, ao invés de os atacar sob o pretexto de que está a respeitar os regulamentos, que claramente estão desatualizados!
O caso Daniel Sousa
Daniel Sousa foi contratado pelo SC Braga no início desta época, após uma tentativa de contratação falhada ao Arouca no início de abril. Após uma jornada foi despedido (sem um acordo mútuo) e no dia a seguir foi contratado um novo treinador (Carlos Carvalhal) que tomou conta dos destinos da equipa. Este é mais um exemplo da luta desigual entre treinadores e clubes. Para explicar isto relembro a transferência de Ruben Amorim para o Manchester United. O clube inglês quis contratar Ruben Amorim e este quis ir para Inglaterra. Contudo, para o processo se poder concretizar, o Manchester United teve de chegar a acordo com o Sporting e só depois Ruben pôde seguir o seu sonho.
Agora pensemos no inverso. Um clube, como o SC Braga, quis despedir o seu treinador. Chegou ao pé dele, disse-lhe que estava despedido e apresentou no dia a seguir outro treinador. Faz sentido que assim seja? Os treinadores só têm deveres e não têm direitos? Em Espanha, por exemplo, sempre que um clube pretende despedir um treinador tem de chegar a acordo com este e só depois pode apresentar o novo timoneiro da equipa. Estas são as questões em que a ANTF deveria intervir e lutar para alterar o modus operandi atual. Defender os treinadores é dar-lhes argumentos para se poderem proteger.
Voltando ao caso Daniel Sousa, soubemos esta semana (em novembro!) que, afinal, ainda não existe acordo entre o SC Braga e o ex-treinador. O SC Braga emitiu um comunicado de nove alíneas em que acusou o seu ex-técnico de ser imoral, e no último ponto refere que se Daniel Sousa for para a via legal deverá ganhar o processo. Ou seja, o treinador está a ser imoral, mas tem razão!
Daniel Sousa, para se defender, emitiu também um comunicado. Se for verdade tudo o que escreve estamos perante uma situação grave. Daniel Sousa refere que foi despedido a seguir ao jogo com o Estrela da Amadora e que lhe foi ordenado que retirasse imediatamente todos os seus pertences do seu gabinete no centro de estágio naquele preciso momento. Não só não lhe permitiram (como é normal) que voltasse no dia seguinte para se despedir dos que com ele trabalharam, como ainda lhe deram uns sacos pretos do lixo para pôr os seus pertences.
Acredito que o treinador se tenha sentido humilhado e por isso é que faz a alusão aos sacos pretos no seu comunicado. É nestes momentos que seria importante o papel da ANTF. Em primeiro lugar deveria averiguar os factos e em segundo defender de uma forma contundente um seu associado. A ANTF é tão rápida a fazer denúncias sobre treinadores que não têm o quarto nível, mas nestes casos não se faz ouvir e remete-se ao silêncio.
Por fim, se o que Daniel Sousa enunciou no seu comunicado for verdade, o comportamento do SC Braga e dos seus dirigentes é inadmissível. Cada um pode tomar as decisões que bem entender, mas tem de haver sempre respeito pelos profissionais e pelas pessoas com quem se têm relações profissionais. Não é com este tipo de comportamentos nem forma de estar que o futebol português vai evoluir.
A valorizar
A emissão do empréstimo obrigacionista que o FC Porto concluiu esta semana demonstra a confiança e credibilidade dos investidores nesta nova administração, na qual José Pedro Pereira da Costa é o CFO."
Para a corda no futebol não partir
"Sobrecarga de jogos e a necessidade de acompanhar o negócio
O tema continua atual; aliás, cada vez mais atual. Jogadores e treinadores queixam-se do excesso de jogos, que compromete a condição física dos atletas e de certa forma a integridade das várias competições em benefício de um negócio que vai transformando o futebol a grande velocidade, e, entendo, de forma irreversível.
O futebol deixou de ser só futebol. É um produto, dos mais apetecíveis do Mundo, que gera dinheiro em quantidade quase irrealista e deve, e vai, continuar a ser oferecido aos consumidores numa lógica de lucro. Quem faz parte desta máquina tem de aceitar esta realidade, até porque quem está sujeito ao nível de exigência máximo também recebe muito bem por isso. Esta é uma parte da questão. A outra é que quem se queixa tem razão.
O negócio está mal estruturado e não protege quem o sustenta, os jogadores. FIFA, UEFA e demais organismos responsáveis precisam de refletir, discutir e intervir rapidamente. Não sendo simples a planificação de uma ordem diferente, há soluções que claramente podem ajudar.
A reformulação dos quadros competitivos, reduzindo o número de equipas nos campeonatos principais de cada país (em Portugal talvez ajudasse a esbater as diferenças esta época ainda mais visíveis entre os três grandes e os outros), critérios de inscrição mais apertados, pausas obrigatórias mais longas e, sobretudo, plantéis maiores e mais equilibrados, acompanhados da sensibilização dos treinadores para uma rotatividade maior. Claro que não será simples, mas a discussão vai ter de acontecer para a corda não partir."
Análise ao Benfica: do autocarro bávaro ao atropelo histórico
"A última semana de futebol de clubes antes de mais uma paragem para Selecções revelou um Benfica de duas faces. Por um lado, um tropeção em Munique, que ficou longe de deixar a melhor imagem na Europa. Por outro, um jogo clássico na Luz frente ao FC Porto, no qual as “águias” se agigantaram como não o faziam há seis décadas.
1. Descaracterização total na Baviera
Bruno Lage colocou em prática um 433 que lhe garantiu várias vitórias de seguida, mal chegou ao Benfica. Posteriormente, o mesmo 433 viria a sofrer mudanças estratégicas consoante o adversário, mas sempre na base de alteração de dinâmicas ou jogadores. O que se viu em Munique foi uma descaracterização do trabalho feito até então. O Benfica não só entrou muito defensivo e muito baixo no terreno, como também abdicou de atacar. Lage alterou o sistema para um 532 que nem isso chegou a ser porque a equipa nunca o conseguiu interpretar. Pelo mapa abaixo, é vísivel a “confusão” revelada pelos posicionamentos médios dos jogadores encarnados. O Benfica terminou esse jogo com 0 (zero) remates enquadrados. Por sua vez, no jogo com o FCP, na Luz, O Benfica voltou ao seu sistema (433) e com isso o conforto chegou e todos os jogadores estiveram confortáveis para expor em campo tudo o que sabem. No clássico o Benfica anulou tacticamente a equipa de Vítor Bruno e mostrou sempre muita vontade em atacar e chegar ao golo.
[ Em baixo: o mapa de posicionamento das acções dos “encarnados” em Munique, um autocarro confuso e votado ao insucesso ]
2. Defender? Sim, mas bem
Mesmo recorrendo a uma equipa com cinco defesas e um meio campo com três elementos que tinham como missão bloquear a organização ofensiva do Bayern, o Benfica acabou por conceder muitos lances dentro da sua área. É verdade que o Bayern não teve muitas bolas de golo, mas quando se chega às 51 acções dentro da área adversária, o difícil será não mercar. Voltando ao jogo na Luz, o mindset foi diferente (também porque o poderio do adversário era outro). O Benfica quis sempre ganhar e aplicou uma pressão eficaz na saída de bola do FC Porto que fez com que a equipa azul e branca nunca conseguisse construir ou até esticar na frente em Samu. Defendeu muito mais à frente, procurou ter iniciativa do jogo e retirou dividendos disso marcando relativamente cedo nas duas partes.
[ Em baixo: o mapa das 51 acções com bola permitidas pelo Benfica em Munique, o quinto pior registo da Champions 24/25 ]
3. Tomás a “10”
Tomás Araújo tem sido provavelmente o jogador mais regular do Benfica desde o arranque da temporada. No clássico foi para muitos o melhor em campo. Defensivamente esteve bem, mas é o seu jogo de pés que entusiasma. Acabou o jogo com 10 passes progressivos executados. Entre passes verticais pelo chão e passes longos pelo ar, Tomás é um farol. Estas entregas podem parecer simples, mas poucos centrais as fazem com tanto sucesso (exemplo: é o factor que mais distingue, pela positiva, o jogo do rival Gonçalo Inácio). O jovem português quebra linhas de pressão adversárias ao encontrar o homem solto nas costas da pressão. Assistiu para o golo inaugural (num grande passe de trivela) e lança Bah para o golo dividido entre Pavlidis e Pérez. É claro que tem de melhorar alguns aspectos, nomeadamente o seu jogo aéreo, mas a qualidade com que constrói é muitas vezes essencial para o Benfica.
[ Em baixo: os 10 passes progressivos eficazes de Tomás Araújo no clássico, ninguém somou mais no jogo grande ]
4. Di Magia, dos jogos grandes!
Depois de estar ligado a várias finais de clubes e selecções, Di María voltou a aparecer num jogo grande. Desde cedo que se percebeu que Ángel compareceu no clássico com energia para abanar o jogo. Nem sempre decidiu bem, mas a verdade é que saiu com dois golos e muitos lances de perigo. Até mesmo na disponibilidade física esteve acima dos últimos jogos, fazendo vários piques onde tinha muito campo para correr. Além de tudo isto, Di Maria pincelou o jogo com vários pormenores dignos da carreira de um tecnicista, como sempre foi. Certamente que Francisco Moura se vai lembrar desta noite durante muito tempo porque não foi fácil lidar com o argentino: o lateral portista perdeu os quatro duelos que disputou com o MVP da partida.
Um Benfica de duas faces, o que se mostrou nos dois jogos “grandes” antes da paragem. Num jogo, Bruno Lage quis defender e procurar uma transição que lhe permitisse pontuar em Munique e no outro os encarnados quiseram dominar desde o inicio e rectificar a imagem deixada na semana europeia. Lage tem optado por adaptar a equipa ao adversário que tem pela frente. É um treinador que estuda muito os adversários e por isso, consegue colocar em prática uma vertente estratégica que Schmidt nunca teve, porém, é preciso cuidado porque quando a estratégia é demasiado complexa ou algo que a equipa nunca fez, acaba por resultar numa exibição pobre como a de Champions. Para o treinador do Benfica a tarefa é “simples”, já descobriu a fórmula que resulta agora é ir gerindo sem grandes invenções que deixem a equipa desconfortável."
«Quero ser treinador de futebol», disse-me José Mourinho
"No ano letivo de 1982/1983 e no ISEF/UTL (Instituto Superior de Educação Física da Universidade Técnica de Lisboa) lecionava eu a disciplina de Filosofia das Atividades Corporais, no primeiro ano da licenciatura. E começava por salientar a figura tutelar e veneranda de Sócrates (viveu em Atenas, no século V a.C.) que foi condenado à morte, acusado de corromper a mocidade e ser ímpio em relação aos deuses da cidade.
Sobre a vida de Sócrates fazia então algumas observações: Sócrates não era um teórico, fechado no seu gabinete, ufano do seu muito saber intelectual e distante de qualquer conhecimento prático. Bem pelo contrário: andava pelas ruas, interrogando as pessoas e alegando que o fazia porque nada sabia. Enfim, ele era subversivo, porque desnorteava a mocidade e perturbava a ordem do conhecer e do fazer instituídos. Deveria ser portanto condenado à morte.
Procurava, depois, traçar um paralelo entre a vida de Sócrates e a Filosofia das Atividades Corporais: o lugar da Filosofia é na praça pública e portanto em (digamos em linguagem atual) permanente interdisciplinaridade com a prática. E, porque na praça pública — também (assim o continuo a pensar) a sua vocação política. Mas o meu apelo insistente à prática, como conditio sine qua non de conhecimento, permitiu, um dia, ao Rui Vitória (um treinador de alta estirpe, tenho a certeza) dizer-me: «O professor até parece que praticou desporto.» Relembro, neste passo, o Rui Vitória, um gentleman… com todas as letras!...
Mas tive, nesse ano letivo já distante de 1982/1983, um aluno (como retratá-lo?), um tipo de rapaz, mais alto do que baixo, magro, elegante e arguto, sagaz, desassombrado, que nunca escondeu uma simpatia muito especial pelo «Professor Manuel Sérgio»: o José Mário dos Santos Mourinho Félix — hoje, o Doutor José Mourinho, licenciado e doutor honoris causa pela Universidade Técnica de Lisboa e, como profissão, treinador de futebol. Mas qual a razão da sua generosa simpatia? A razão primeira parece ser esta: finda uma das nossas aulas do primeiro ano do curso (há 42 anos, portanto) perguntei-lhe o que ele pretendia ser, concluída a licenciatura. Respondeu-me, com toda a simplicidade, sem artifício nem cálculo: «Quero ser treinador de futebol.»
Ouvi-o surpreendido, confesso. Naqueles anos, já distantes, o licenciado em Educação Física e Desporto, ou optava pelo magistério, na Escola, ou treinava uma das modalidades amadoras ou no futebol altamente competitivo não passava de preparador físico. Muito poucas eram as exceções a esta regra: o lugar de treinador era pertença exclusiva do antigo jogador profissional de futebol. Estou a ouvir o Acácio Rosa, sentado na sua cadeira, na Sala da Direção do Belenenses, sempre de raciocínios retilíneos, sem desvios nem diversões: «Para saber de bola, é preciso ter suado a camisola.» E olhava para mim a sorrir, empurrando-me, sem aduzir quaisquer argumentos, para o grupo barulhento dos teóricos : «Só conversa não é futebol, é parlatório.»
Uma evidente vocação
Filho de um jogador internacional de futebol, o José Mourinho, antigo guarda-redes do Vitória de Setúbal e do Belenenses (no Belenenses, ainda chegou a treinador da equipa principal); e, sobre o mais, filho de família de exemplar conduta moral (ocorre-me o Sr. Pedroto, referindo-se ao José Mourinho (pai): «Esse rapaz é um santo») — o José Mário dos Santos Mourinho Félix, que hoje o mundo todo conhece por José Mourinho tão-só, teve no seu pai o primeiro grande estímulo a que não abandonasse o futebol e que pudesse concretizar, um dia, o sonho que, jovem ainda, já lhe norteava a existência: ser treinador de futebol.
Não vou discutir, aqui, se a palavra vocação tem, ou não tem, valor científico. Mas quando vi o José Mourinho afirmar, com tamanha sinceridade e convicção, com apenas 19 anos de idade, «quero ser treinador de futebol» —arreigou-se em mim a crença de que aquele meu aluno (não de futebol — nunca ensinei futebol a ninguém) estava vocacionado, se tivesse o apoio necessário, a um futuro, como líder de uma equipa de futebol, a que poderia caber o designativo de, pelo menos, modelar.
Mais tarde, quando o vi adjunto do Manuel Fernandes e do Bobby Robson e do Louis van Gaal e, tendo em conta a sua argúcia (que não é vulgar, podem crer) e o seu manifesto espírito de bem servir, perdi as dúvidas, esqueci-me até da dúvida metódica e, com palavras efusivas, cheguei a dizer e a escrever que «vai nascer, mais tarde ou mais cedo, um grande treinador de futebol». E adiantava, com fervente entusiasmo: «O José Mourinho, adjunto do Bobby Robson e do Van Gaal?... Vai ser grande, grande como os maiores.»
Mas, como íamos dizendo, diante de um rapaz, de múltiplos talentos e com uma vontade imparável de, no futuro, assumir funções de treinador de futebol, exprimi-lhe assim um conselho amigo: «E nunca se esqueça que, para ser um bom treinador de futebol, não chega saber muito de futebol.» Aqui, o Mourinho atalhou: «Porquê, professor?». Eu continuei: “Porque no futebol, nomeadamente no de alta competição, há tudo o que é humano, o mau e o bom.» E, afetuosamente, terminei: «Como vê, não basta saber só de futebol.» Nasceu assim uma amizade que o tempo não apaga e que não deixa de penhorar-me pelo cunho de sinceridade que o José Mourinho lhe imprime.
Um excecional treinador
Em 1982, quando este encontro com o José Mourinho aconteceu, eu lia um autor, fundamental ao estudo da epistemologia: Gaston Bachelard. A epistemologia (e repito a definição de um douto epistemólogo, o brasileiro Hilton Japiassu) «é o estudo crítico dos princípios, das hipóteses e dos resultados das diversas ciências». Procurava então apresentar aos meus alunos esta ideia: a vossa futura profissão tem fundamentação científica autónoma. É uma ciência hermenêutico-humana (ou social e humana) com a dignidade e a seriedade de qualquer outra ciência. Mas uma ciência nasce sempre de um «corte epistemológico», em relação ao senso comum, à tradição, à inércia, à ordem-desordem de todas as ditaduras, incluindo aqui as ditaduras religiosas.
No entanto, um corte epistemológico não é fácil assumir: toda a sorte de invejosos, de ressentidos, de oportunistas de videirinhos, de subservientes criam, imediatamente, um ambiente de reserva, ou mesmo hostilidade, aos que começam a surgir com a justa auréola de inovadores, ou seja, com a capacidade de emitir luz própria. José Mourinho, campeão nacional em Portugal, em Inglaterra, em Itália, vencedor da Taça UEFA, da Liga dos Campeões e da Liga Conferência, o melhor treinador do mundo (IFFHS — 2005) e que foi um precursor já sabe até onde chega o ressentimento e a inveja. Já sabe até onde podem chegar os que preferem a verdade dos princípios o oportunismo das glórias fáceis.
Aludindo à justiça do que venho escrevendo neste artigo, oiço a interrogação de alguns leitores: «Mas o Mourinho foi mesmo um precursor?» O Prof. Luís Lourenço, o mais fiável de todos os inúmeros biógrafos de Mourinho, com uma tese de doutoramento (de que fui o feliz orientador) sobre a liderança de José Mourinho, que é um modelo de saber e sabedoria, escreve a propósito: «De facto, Mourinho é diferente. No seu trabalho, nada está separado, descontextualizado ou isolado. Tudo tem a ver com tudo (…). Um exemplo? Um jogador de uma equipa sua não deixa de o ser só porque não está a treinar ou a jogar. Quando está no período de descanso, ou dia de folga, em casa, ou em qualquer evento social, ele continua a ser jogador da equipa, representando, de alguma forma, o resto do grupo e até a organização a que pertence.»
E, páginas adiante: «Para Mourinho, na sua relação com os atletas, não interessa o atleta físico, cartesiano, mas sim o atleta homem.» (Luís Lourenço, Mourinho — a descoberta guiada, Prime Books, 2010, p. 47). Por isso, o treinador não deve só saber treinar o jogador de futebol, deve também saber educar o homem que é jogador de futebol. É que não há jogos — há pessoas que jogam. Porque norteou o seu trabalho à luz do paradigma da complexidade e publicamente o disse (cfr. op. cit. pp. 31 ss.), porque dialoga com os jogadores antes de decidir (op. cit. p. 109), porque os respeita e se respeita — José Mourinho foi, sem quaisquer dúvidas, um percursor, um anunciador de um futebol novo.
Mas poderão objetar-me: e a técnica e a tática e a preparação física?... Trata-se de matéria que qualquer treinador domina. De difícil resolução são os problemas humanos. Os dos outros e… os próprios!"
O melhor está no fim😂😂😂😂
A experiência de um brasileiro no Benfica vs Porto na luz.
— Diogo Oliveira (@souooliveirawd) November 16, 2024
O melhor está no fim😂😂😂😂 pic.twitter.com/wDHDN56qj5
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