Últimas indefectivações

quinta-feira, 10 de outubro de 2024

Vitória na Bélgica...

Leuven 0 - 3 Benfica
21-25, 19-25, 21-25


Vitória na 1.ª mão da 1.º eliminatória da CEV Cup, naquele que terá sido o melhor jogo da actual época...

Fejsa...

Treinadores portugueses


"O regresso de Bruno Lage ao Benfica, discutido e questionado ao pormenor tal como tudo na nossa atualidade, é uma aposta já ganha pelo seu presidente, Rui Costa.
Resistindo ao populismo dos nomes, que, qual leilão, foram sendo lançados na praça, a escolha de Lage obedeceu a alguns princípios que se vêm confirmando decisivos. Escolher alguém que conhecesse bem o clube e o nosso campeonato era, desde logo, fundamental. O facto de não haver tempo a perder com transições e adaptações de quem aterra num novo meio e tem que perguntar tudo era outra óbvia condicionante com a época já em andamento. Finalmente, e condição essencial, escolher alguém com reconhecida competência, que o passado no clube e o seu trajeto seguinte comprovam.
Sou do tempo em que tudo o que vinha de fora era considerado melhor. Os treinadores eram só um dos muitos exemplos dessa época inibida. A nossa tradicional humildade foi durando sem progresso, até que, pelo menos no futebol, foi interrompida com estrondo e efeito imediato por José Mourinho no contexto europeu e também por Manuel José em terras africanas. Com o contributo de muitos outros colegas, entre os quais o professor Jesualdo Ferreira, a atualidade mostra um cenário bem diferente do que tivemos, com a capacidade dos treinadores portugueses amplamente reconhecida onde quer que exerçam esta função tão interessante quanto complexa.
Voltando a hoje e à nossa terra, poucas vezes uma pausa para as seleções terá sido tão inoportuna para o Benfica, ao contrário dos seus rivais que, claramente, suspiravam por ela. Não bastasse a paragem definida, no caso benfiquista ainda foi antecipada, obra de mais um nevoeiro inconveniente mas previsível, que alguém com responsabilidade tarda em evitar. Será desta?
A continuidade é como se imagina uma condição obrigatória para qualquer equipa chegar ao melhor rendimento, ainda mais quando se procura consolidar uma nova metodologia de treino e ideias recém-chegadas. A verdade é que os jogadores estão sempre mais recetivos depois do sucesso. A rentabilização plena de um jogo europeu ganho com raro brilho não acontecerá no imediato, mas esta grande jornada europeia fica. Num contexto competitivo atual que sabemos bem mais difícil do que no passado, a vitoria sobre o Atlético de Madrid como foi conseguida, faz sonhar mesmo os mais racionais e recordar outros tempos felizes.
Tal como os trabalhadores nas empresas ou os alunos nas escolas, os jogadores elevam o seu rendimento se forem bem ensinados e se o ambiente for saudável. É o que agora se verifica.

Honras da casa
Évora é uma cidade realmente linda e histórica, tendo como clube mais representativo o Lusitano, que já o era pelos anos 50, então na I Divisão portuguesa. No último domingo aconteceu ir ao campo Estrela, estádio do Lusitano, assistir ao jogo do clube no campeonato de Portugal, competição na qual percebi poder lutar pela promoção. Para além dos encantos de Évora, alguém me alertou para um médio ofensivo do clube, que me disseram de excelente qualidade técnica e que me despertou a curiosidade.
Foi uma tarde agradável, o tal médio correspondeu amplamente às expectativas que lá me levaram e o Lusitano ganhou e bem. Este quadro seria o bastante para uma bem passada tarde de domingo, mas acabou por ter algo mais que me surpreendeu pela diferença e me faz pensar voltar. Futebol à parte, as inscrições de fair play e boas-vindas, bem visíveis nos muros que circundam o recinto, não podiam ser mais honradas pelos adeptos locais. Claro que o assobio, a boca para o banco adversário e a impaciência com o árbitro, fazem parte, ou não estaríamos a falar de bola. A diferença fez-se então em dois momentos muito especiais e para mim surpreendentes.
No primeiro, já na segunda parte, o guarda-redes adversário, acabado de ser expulso por derrube, viu-se confortado de pé pelos aplausos dos adeptos da casa à sua saída. Após o final do jogo, no momento em que a equipa visitante se dirigia aos balneários, o público presente repetiu a simpatia anterior, aplaudindo fortemente o grupo forasteiro, como prova de respeito pelo esforço. Falta dizer que me asseguraram ser este um comportamento tradicional que não depende de ganhar ou perder. Excelente exemplo. Grande Lusitano!"

O futebol precisa de saudade


"A mercantilização através dos direitos televisivos está a dar cabo da pausa. Tal como os jogadores e treinadores, os adeptos também precisam de tempo. Como qualquer bom vinho, um bom jogo de futebol precisa de respirar antes de ser consumido

O futebol está a viver uma estranha e talvez inédita fase: mesmo aqueles que dele dependem começam a considerar que há limites para tudo. O movimento (ainda orgânico) de jogadores e treinadores a clamar contra o calendário excessivo promete crescer de forma acelerada à medida que aumentam as lesões graves em futebolistas de primeira água.
O trabalho que A BOLA publicou ontem, baseado em estudos académicos, não deixa dúvidas quanto à correlação entre o aumento de competições e as consequências do foro traumático, em particular nos joelhos, o maior pesadelo para qualquer atleta de alta competição. Porque apesar do desenvolvimento das técnicas de recuperação e dos cuidados que cada um tem a nível particular (contratação de nutricionistas ou de fisiologistas), há uma coisa que ainda não mudou: os futebolistas continuam a ser humanos. É insustentável que um jogador faça 60 a 70 jogos por temporada durante dois ou três anos seguidos sem que haja repercussões no corpo a curto prazo.
Chegámos, pois, a um momento em muitos assumem: «Há futebol a mais.» Um dos melhores testemunhos sobre o assunto foi aquele deixado a A BOLA por Peter Schmeichel, alertando para o perigo de o desporto-rei mundial ficar para os futuros consumidores como o basebol para os norte-americanos: todos os dias há transmissões, os monitores dos bares não passam outra coisa, mas não há uma relação profunda com o jogo. É aquilo que as empresas de estudos de audiências definem como papel de parede: o aparelho está sintonizado no canal, mas há ali um efeito zombie com baixo valor de mercado.
A razão de termos chegado até aqui é apenas uma: os grandes fundos de investimento chegaram em força nos últimos 10/15 anos ao negócio das transmissões televisivas e obrigam os organismos que tutelam o futebol a aumentar a oferta. Não há outra razão, que não a financeira, para a FIFA ter criado o Mundial de Clubes com o formato atual (é mesmo para avançar?). O mesmo motivo que esteve na base da proposta, entretanto adormecida, de passar a realizar os Campeonatos do Mundo de seleções de dois em dois anos em vez dos atuais quatro de intervalo.
Tudo isto tem proporcionado o fim de um sentimento fundamental para o sucesso deste desporto: a saudade. Se o jogador precisa de tempo para recuperar do esforço e o treinador para sistematizar processos, o adepto precisa de tempo para alimentar a euforia quando ganha e a frustração quando perde. Da maneira como isto está, só há espaço para a ressaca, nunca para a cura e renovação de expectativas.
Mas há sinais que deveriam servir de alerta: em primeiro lugar, a ausência de uma oferta consistente para a transmissão do Mundial de Clubes da FIFA; em segundo, a descida vertiginosa do valor dos direitos televisivos em França: de mil milhões de euros/ano em 2020 para €500 milhões em 2024; em terceiro, o regresso à transmissão de jogos da liga espanhola em sinal aberto na China para combater a quebra de audiências.
Sabendo que os jovens de hoje (e pagantes amanhã) têm uma taxa de retenção baixa sobre tudo o que veem, os decisores terão de ter em mente que cada jogo de futebol tem mesmo de ser especial. Como um bom vinho, um bom jogo de futebol precisa de respirar antes de ser consumido."

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Contas marteladas no TransferMarket!!!


"A Liga andou a publicitar, através da comunicação social, que o Sporting seria o plantel mais valioso da Primeira Liga. Aliás, no top-10 dos jogadores mais valiosos, apenas António Silva tinha lugar.
Entretanto, o observatório de futebol mundial CIES, hoje lançou o top-100 dos planteis mais valiosos do mundo e o SL Benfica aparece na posição 25, com uma plantel avaliado em 483M€. Já o do Sporting aparece logo abaixo valendo menos 10M€ que do rival da segunda circular.

A Liga Portugal continua a querer enganar toda a gente, tentando passar a narrativa de que o Sporting está e é melhor, neste momento, que o SL Benfica.
Mas só cai nessa lenga lenga quem quer..."

Uma vez OK, mas já lá vão três


"Tem-se tornado habitual. Um homem vem, brilha, perde o brilho e vai-se embora. Vem outro, torna a brilhar, desaprende e arranca. Não morre o “desta vez é que vai ser”, mas começa a ganhar vida o receio de que a cassete esteja estragada. A verdade, caro leitor, é que a equipa perde o rumo, o treinador fica desorientado, mas a culpa nunca parece ser de quem fica.
É graças a Bruno Lage que os benfiquistas podem sonhar com algo mais do que uns joguinhos de fim de semana, umas jolas e um ou outro sorriso em 2024/25. É desde o seu regresso que celebrar títulos voltou a ser assunto nos vários fóruns do Clube. E não foi preciso nenhuma revolução, terraplanagem ou sangria desatada. Em menos de um mês, com os mesmos jogadores e direção e com pouquíssimas unidades de treino, Lage meteu-nos a ganhar. Hoje por hoje, quem visita o Estádio da Luz já não encontra um lugar engolido por suspiros e por lenços brancos. Nem dá de caras com uma avalanche de adeptos dominados pela raiva acumulada de meses a fio sem um motivo para festejar. Reforço: não foi preciso mudar grande coisa para que tudo mudasse. Mas conheço o filme — e talvez seja por isso que não consigo aproveitar este momento de glória na sua plenitude.
Rui Costa, uma opção de continuidade face à década e meia anteriores, tornou-se presidente com uma aura quase divina. Oito em cada dez benfiquistas votantes viram na sua figura o homem que mais recursos tinha para conduzir o Maior ao sucesso. Mas, sejamos sinceros, Rui Costa sofre os males de não saber que ser presidente é mais do que ter uma cara bonita, vestir um fatinho de marca e conjugar uns verbos corretamente. A gestão desportiva do clube tem sido uma miséria. Os jogadores entram e saem, entram e saem, entram e saem. Os treinadores não duram mais de duas épocas. Os membros da direção têm saltado que nem pipocas - paira a ideia de que nem eles, entre eles, se entendem. Sim, é mais fácil dizer que o treinador é o culpado pela desorganização, pela má gestão e pela falta de produtividade, gastar uma nota preta na rescisão de contrato e mandá-lo embora. E uma vez, ok, um gajo até acredita. À segunda, mais ou menos. Em Bruno Lage, Jorge Jesus e Roger Schmidt, meus caros, já vão três.
A “chama imensa” nunca se apagou. Mas tem levado com vento forte a cada dois anos. É verdade que torna a reacender quando vem a esperança de que algo mudou, mas sofre depois novamente os danos de uma ventania - e assim tem sido a nossa vida, um loop vertiginoso. Bruno Lage, com ideias frescas, vem encarnando a figura do benfiquismo que pouco ou nada se via antes da sua chegada. E tem agora a oportunidade de provar que nunca foi o problema. Mas este momento deve também servir para olharmos para o presente com a vacina do passado.
Vivemos uma boa fase. De união, de força, de ânimo e de crença. Mas virá ainda uma fase má: de sofrimento, de custo e de muita dificuldade. Quando chegar o dia D, que não nos viremos para Bruno Lage — ou a culpa é sempre dos treinadores?"

O Autocarro bom, e o Autocarro mau!!!

RND - 45 minutos - S04E04

Terceiro Anel: Diário...

Fora de Jogo: 90+3 - S02E04 - Abel Xavier | “Nunca convivi com ninguém com a dimensão como a de Beckham”

Zero: Tema do Dia - Caso Lass Diarra: vem aí o sucessor da lei Bosman?

Observador: E o Campeão é... - O que esconde a valorização dos clubes portugueses?

Observador: Três Toques - Seleção francesa também dá toques na moda?

Zero: Negócio Mistério - S03E04 - Rami no Boavista

Internacionais


"São 17 os elementos do plantel profissional de futebol ao serviço de seleções. Este é o tema em destaque na BNews.

1. 17 convocados
Cerca de três quartos do plantel às ordens de Bruno Lage participa nos trabalhos de várias seleções. Tomás Araújo, inicialmente convocado pelos Sub-21 de Portugal, integra a Seleção A.

2. Paragem prolongada
Pauleta, capitã da equipa feminina de futebol do Benfica, sofreu uma lesão no ligamento cruzado anterior do joelho direito.

3. Triunfo europeu
O Benfica ganhou, por 25-26, na visita ao Kadetten Schaffhausen na 1.ª jornada da fase de grupos da EHF European League. Jota González revela as chaves do triunfo: "A coragem e a vontade de ganhar desta equipa foram decisivas para esta vitória. Também foi muito importante o apoio dos adeptos que nos vieram ver."

4. Embate internacional
Em voleibol, o Benfica defronta, hoje às 19h30, na Bélgica, o Volley Haasrode Leuven em jogo a contar para a 1.ª mão dos 32 avos de final da CEV Cup. Marcel Matz nota: "Vamos procurar uma vitória, sabendo as dificuldades de jogar com uma boa equipa, que joga rápido."

5. Excelente prestação
Vasco Vilaça ascendeu a 4.º na geral do Supertri após vencer a etapa de Toulouse.

6. Nova jornada adiada
Leia o comunicado dos 12 clubes participantes na Liga Betclic masculina de basquetebol.

7. Futebol de formação
31 jovens futebolistas do Benfica integram as mais recentes convocatórias de seleções nacionais.
E realizou-se uma ação dirigida aos Sub-13 do Benfica no âmbito da promoção do sucesso escolar.

8. Convocatória
São cinco as jogadoras do Benfica convocadas para a Seleção Nacional feminina de futsal.

9. Calendário conhecido
Eis o calendário dos jogos da equipa feminina de polo aquático do Benfica na Challenger Cup.

10. Mário Madeira termina a ligação ao Clube
A entrevista de despedida de Mário Madeira, coordenador da natação do Benfica, atual campeão nacional de clubes em masculinos e femininos.

11. Arranque de época no bilhar
O Benfica tem quatro equipas em competição ao longo da temporada.

12. Benfica 1 Minuto
A atividade benfiquista dos últimos dias em 1 minuto."

Choupana e a falta de visão do futebol português


"Subitamente, à medida que o nevoeiro baixava sobre as encostas da ilha da Madeira, levantava-se um coro de protestos.
Jogou-se 9 minutos do Nacional-Benfica, ao final da tarde de domingo, até o árbitro tomar a única decisão possível: adiar este jogo da 8.ª jornada.
Estava dado o mote para horas de TV com comentadores de clubes, feitos meteorologistas de ocasião, a defenderem até que o horário da manhã é menos propenso a neblina, entre outras convicções instantâneas não comprováveis pelos factos.
Não faltaram também adeptos a criticarem as condições da Choupana, como se o Nacional não tivesse um estádio com condições de I Liga.
Ora, na I Liga o Casa Pia vai para a terceira época a jogar num recinto emprestado, a 80 quilómetros de casa, por no seu não ter iluminação suficiente. O Farense joga em casa apenas quando não recebe os três grandes. O Rio Ave joga há cinco anos num estádio que só tem uma bancada, tendo cada transmissão televisiva um aspeto desolador sem adeptos – algo que na Liga Espanhola vale multa aos clubes. O Estoril tem uma bancada interditada vai para sete anos. O Santa Clara tem um relvado com escoamento deficiente, o que já levou a adiamentos. Na Vila das Aves joga-se em contraluz ao final da tarde, com má visibilidade da tribuna de imprensa, em Arouca a posição da câmara master, colocada num andaime, não está centrada, e em Famalicão e Moreira de Cónegos o plano de ataque das câmaras é baixíssimo, o que dificulta a visibilidade nas transmissões televisivas.
Mesmo considerando que o adiamento do jogo com o Benfica foi o 17.º na Choupana por questões climatéricas desde o início do século, o Nacional não é um caso à parte na Liga, nem sequer deve ser responsabilizado por situações como as de domingo.
O problema é, isso sim, de organização. Cabe à Liga atender a esta especificidade e adaptar o regulamento para prevenir futuros adiamentos.
Como? Bastaria criar um plano de contingência com uma norma simples: sempre que houvesse previsão de nevoeiro na Choupana, poder-se-ia mudar o jogo para o Estádio dos Barreiros, a 10 minutos de distância e praticamente ao nível do mar. Em alternativa, os estádios da Ribeira Brava ou de Machico poderiam ser soluções.
A orografia é uma condicionante enorme na Madeira, seja pela neblina ocasional que atinge um estádio construído a 600 metros de altitude, seja no Aeroporto Cristiano Ronaldo, afetado não raras vezes por ventos fortes.
Há que adaptar o regulamento à realidade e não o contrário. No fundo, é só ver um pouco mais à frente."

A natureza do adepto luso


"Assobios, insultos e ódio. Os jogadores não são máquinas, têm pais, mães, irmãos, mulheres e filhos na bancada, e sabem que depois do jogo o sofrimento será distribuído pela família.

Os assobios não são um exclusivo do Dragão. Na generalidade dos estádios da Liga, o público aplaude vitórias e censura derrotas ou exibições pobres. Não é a natureza humana a funcionar. É a natureza do adepto português, por muito que nos custe fazer essa leitura. Uma equipa favorita ser contrariada por outra menos favorita não é sinalizado como um fator que potencie o espetáculo, mas como uma desgraça, o presságio de fim do mundo.
No meio de todo este ruído, de apelos à unidade e à reeducação, quase nos esquecemos que o FC Porto-Man. United e o FC Porto-SC Braga ofereceram a quem gosta de futebol momentos de grande espetáculo e emoção, e que o Sporting-Casa Pia foi um autêntico bocejo, ainda assim nunca merecedor de assobios ou algo do género. Os assobios e insultos magoam os novos e os menos novos. Não há uma faixa etária mais ou menos imune a um tribunal num estádio.
Veja-se o caso de João Mário, que deixou o Benfica com destino ao Besiktas após compreender que nunca poderia vencer um estádio em chamas. A retórica dos treinadores, segundo a qual a pressão é bem-vinda mesmo que acompanhada de impropérios e de ódio, é uma mentira pegada, uma manobra psicológica destinada a retirar o peso negativo dos ombros dos futebolistas. Só que não retira, porque os jogadores não são máquinas. Têm pais, mães, irmãos, mulheres e filhos na bancada, e sabem que depois do jogo o sofrimento será distribuído pela família. É verdade, adeptos. Os jogadores (como você, caro leitor) têm família."

Iniesta, muito depois do adeus


"Um dos melhores deste século colocou agora um ponto final na carreira, aos 40 anos, mas já há seis que nos despedimos dele. Amor ao futebol fê-lo estender este adeus ao máximo e bem longe

Se daqui a uns anos me for esquecendo do que jogava Don Andrés Iniesta, espero que o algoritmo que adivinha os meus interesses me comece a mostrar aquelas imagens do pequeno 8 rodeado de adversários por todo o lado. Eles bem tentavam: aproximavam-se, cheiravam a bola e sentiam que estavam mesmo, mesmo quase a tirá-la. Puro engano, malabarismo até, do craque que dedicou uma vida a um clube - a mais que um clube, aliás. A bola era dele.
Sou de uma geração que não se pode queixar muito: não vi Pelé e para ver Maradona como deve ser tive de puxar as cassetes atrás, mas tive a sorte de acompanhar Messi e Cristiano Ronaldo do princípio até - espero - ao fim. Nunca vi ninguém jogar como aquele Barcelona de Guardiola e, se a memória não me falhar, guardarei um espaço muito especial para Iniesta e para a forma como nos divertia.
Custa sempre despedirmo-nos dos melhores, mas este é um luto que já estava feito. O médio colocou agora um ponto final na carreira, aos 40 anos, mas foi naquela conferência de imprensa muito chorosa em Barcelona, em 2018, que nos disse adeus. De acordo com a personalidade que também mostrava em campo, Andrés retirou-se dos holofotes europeus e passou os últimos seis anos no Japão e nos Emirados de forma humilde e recatada. No vídeo que partilhou na segunda-feira, nas redes sociais, a anunciar a retirada, é Luis Enrique quem descreve esta decisão melhor do que ninguém: Iniesta era como um miúdo a jogar à bola na rua até ficar de noite e a mãe o chamar constantemente para casa. Ele esticou o futebol ao máximo, queria sempre mais um bocadinho, mas nós já não o víamos no escuro.
O debate sobre a ida para campeonatos distantes (e desinteressantes) e sobre qual o melhor momento para sair vai continuar: Kroos abandonou no pico e ainda deixou saudades no Real Madrid; Messi e Cristiano serão eternos, mesmo que provavelmente não saibam desistir. Mas Iniesta fez o que sabe tão bem: aproximou-se do fim, deixou-nos a pensar que lhe iam tirar a bola e continuou com ela até quando quis.
Agora, na hora de a passar de vez, até os rivais de Madrid lhe fazem a devida vénia. Já aqui escrevi que aprecio muito as rivalidades, mas é nestas alturas que elas podem ser ainda mais bonitas. É verdade que aquele golo na final do Mundial 2010 o tornou o único jogador que era ovacionado pelas bancadas adversárias ao sair, mas esses ventos não vêm só de Espanha: quem gosta de futebol, aplaudirá sempre Andrés Iniesta. Obrigada por tudo."

Outubro com novidades


"Julgo que não houve nenhum interessado ou especialista em matérias direta ou indiretamente relacionadas com Direito do Desporto que não tenha, nestes dias, dedicado umas palavras ao Acórdão do Tribunal de Justiça da União Europeia proferido no dia 4 de outubro no Processo C‑650/22, que muitos apelidaram do novo caso Bosman.
Por isso, apesar de o assinalar aqui, dado o seu inegável interesse para a construção daquilo a que podemos chamar de Direito Europeu do Desporto, limitar-me-ei a dizer que esta decisão provavelmente implicará, num futuro breve, que a FIFA acolha nos seus regulamentos algumas das práticas por si já implementadas, de forma a adequá-los às exigências assinaladas pelo TJUE, mas não abalará de forma assim tão significativa o sistema de transferências atualmente em vigor. Veremos.
Em todo o caso, no mesmo dia, foram publicadas as conclusões do Advogado-Geral junto do TJUE no Processo C‑365/23. Este processo diz respeito a um litígio que opõe uma sociedade de direito letão constituída com a finalidade de assegurar o desenvolvimento dos desportistas na Letónia, a um jogador amador menor e aos seus progenitores, a respeito da cobrança da remuneração devida como contrapartida da prestação de serviços de apoio ao desenvolvimento desportivo e à carreira — no caso, o contrato celebrado entre a sociedade e o jogador e seus progenitores prevê a obrigação de pagar uma remuneração correspondente a 10% dos rendimentos que o jogador auferirá durante os 15 anos seguintes —, e à compatibilidade deste tipo de cláusulas com o Direito da União Europeia e, em concreto, com as diretivas relativas aos direitos do consumidor. Muito interessante e igualmente impactante."

Assobios e autogolos de bancada


"Há adeptos que precisam de aprender a jogar em equipa. Na última jornada, quando o FC Porto vencia pela margem mínima o sempre combativo SC Braga, a incerteza do resultado no final do jogo, e o receio de empatar de novo ao cair do pano, como acontecera frente ao Manchester United, motivou uma vaia com assobios à equipa. Ainda durante o jogo, Galeno reagiu à atitude impaciente dos adeptos pedindo que parassem com os protestos, e no final, quer o treinador, quer André Vilas-Boas, vieram a público defender os jogadores e pedir a cooperação dos adeptos.
Os assobios podem resultar apenas de alguma dificuldade em gerir expetativas, de alguma dificuldade em gerir as emoções. Daniel Goleman, o reconhecido psicólogo especialista em emoções, afirmou que para se mostrar maturidade emocional precisamos de desenvolver a capacidade de estender o intervalo entre o impulso e a ação. Estes assobios podem ser, por isso, apenas uma dificuldade de contenção, uma dificuldade em saber adiar o prazer, ou em saber como chegar ao prazer, no tempo certo. Como sabemos, isso pode prejudicar as relações. As relações humanas. E os resultados. E com isso a sustentabilidade. E o futuro da equipa e do clube.
Enquanto psicólogo desportivo, partilhei durante alguns anos a sala de reuniões do departamento de futebol juvenil do FC do Porto com André Vilas-Boas. Esperávamos para ser recebidos pelo Coordenador da Formação do FC Porto, o Professor Ilídio Vale, e nesse período, que às vezes era prolongado, preparávamos ou revíamos os assuntos que cada um, separadamente, pretendia abordar. No meu caso, as longas esperas eram recompensadas com a atenção plena do Prof. Ilídio e muitas, muitas perguntas. E isso era importante. Em vez de julgar, o meu interlocutor ouvia-me e fazia-me pensar, alertando-me para aspetos e dimensões que eu não tinha antecipado e tomando decisões mais informadas com as partilhas que obtinha.
Os adeptos também recebem os jogadores na sua sala. E podem escolher como os vão acolher. Podem escolher como vão comunicar e que tipo de relação vão estabelecer com aqueles seres humanos. Podem assumir que são treinadores. Podem assumir que são patrões ou colegas exigentes, apenas focados nos resultados, como aqueles que às vezes encontram nos seus locais de trabalho. Podem assumir que são clientes de um espetáculo, e que merecem uma entrega total dos profissionais contratados para aquelas duas horas de entretenimento. As bancadas são um extraordinário espaço de liberdade.
As evidências científicas mostram, porém, que os adeptos interferem na carga mental dos jogadores e que a natureza da interação afeta positiva ou negativamente, de forma significativa, a sua prestação. E os adeptos não interferem apenas no desempenho desportivo dos jogadores, como têm também potencial para impactar na sua saúde mental e na dos seus familiares.
A propósito da saúde mental, não resisto a partilhar uma reflexão da psicóloga Tatiana Ferreira que, referindo-se ao testemunho da judoca olímpica Bárbara Timo sobre o seu percurso como atleta, valorizou a "sua inspiradora história de resiliência e de compromisso e por trazer à discussão a importância de olharmos para a pessoa, reforçando a necessidade de investirmos, desde cedo, na literacia emocional e na normalização de se cuidar da saúde mental." No dia 10, esta quinta-feira, assinala-se o Dia Mundial da Saúde Mental. Cuidar da nossa saúde mental passa por saber olhar para si e para as suas necessidades, passa por desenvolver competências para ser capaz de enfrentar as dificuldades e os desafios do dia a dia, e tudo isto é mais fácil quando temos apoio. E quando somos capazes de pedir ajuda. Em casa, no trabalho, ou no estádio.
Os assobios de impaciência e as inscrições de protesto nos muros circundantes ao estádio podem nada ter a ver com o que se passa no relvado, podem ser apenas uma reação de descontentamento de alguns pela perda de protagonismo na vida e na gestão do clube. Se quiserem chegar longe, os adeptos portistas, deverão reconhecer que precisam de jogar em equipa apoiando os seus jogadores, e protegendo o seu bem-estar. O que é próprio da espécie humana é a cooperação. Quem não sabe esperar, quem não sabe apoiar, quem apela à divisão, quem pressiona ou intimida, pretende manipular emoções e sentimentos, e isso é marcar golos na própria baliza."

Zero: Afunda - S05E07 - Neemias Queta, ilações da pré-temporada e a Liga Betclic