Últimas indefectivações

sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Cartão Branco

"Cresci a ouvir pela rádio relatos vividos dos campos onde o Benfica renovava vitórias com vozes corridas a suster a respiração voando de jogador em jogador como se fossem eles próprios a bola em movimento. Aquele falar contínuo que se propagava à distância transportava os ouvintes para um registo de visualização imaginada e de expectativa permanente que provocava explosões de alegria ou desagrado espalhando o ambiente do estádio pelos bairros e aldeias e transformando o país num imenso estádio. Habituei-me, habituámo-nos todos, a palavras como 'offside', 'penálti', 'livre' e 'goolo', muito 'goolo' que ainda perdura na melhor tradição radialista. Mas também à palavra 'falta', 'cartão', amarelo ou vermelho, sem mais cores e muito menos branco.
Só muito mais tarde se generalizou entre o povo um outro estrangeirismo, cada vez mais falado: 'fair play'. É sinal dos tempos e da sua evolução, mas o fair play esteve sempre lá porque está na base da competição desportiva, seguindo um ideal generalizado entre os desportistas de que o importante é que 'eu vença' e não tanto que 'o outro perca'. Claro que no jogo haverá sempre vencedores e vencidos, empates excluídos, mas a arte e a alegria com que vemos os jogadores entregarem-se em campo resultam de uma vivência lúdica e sadia que tem o condão de produzir bem-estar a partir de níveis inimagináveis de esforço. Por isso, de cada vez que um atleta celebra a vitória, pensa no troféu e em todas as adversidades que ultrapassou, mas pensa também que foi capaz de o fazer, superando as suas debilidades nos momentos mais difíceis. E isso, em conjunto, é o prémio e o sabor doce da vitória. Os atletas regem-se por valores! Isso é intrínseco ao desporto, a melhoria contínua e a superação individual são o seu foco porque sabem que é dai que vem o poder do confronto e a capacidade de vencer. Essa capacidade de vencer que caracteriza os campeões e que os leva a ir além de si próprios, entregando resultado para lá dos limites. Apenas a mediana pode viver no desporto sem valores e poderá até vencer algumas vezes, mas nunca repetirá por mais de um século os festejos da vitória, galvanizando multidões e tornando-se sinónimo de vencer.
É por estas razões que valorizamos tanto a ética no desporto e que participamos em projectos como a Bandeira da Ética desportiva ou o Cartão Branco. Este último, a par com o Prémio Atitude, é já uma instituição nos projectos da Fundação Benfica, e sabemos bem como são valorizados pelo público e pelos atletas.
Da formação à prática desportiva, dos relvados para a bancada, os valores do desporto serão sempre a cada vez mais celebrados a par com as vitórias. Já é assim, e chegará certamente o tempo em que, no campo, o cartão branco será mostrado aos atletas que se destaquem pela atitude, pelo fair play e até pelo altruísmo como por vezes acontece, acompanhando as palmas do público nas bancadas e trazendo a atitude para a primeira linha do reconhecimento, a par com o sucesso e sublinhado a insubstituível vitória!"

Jorge Miranda, in O Benfica

A alta recriação e o senso comum

"Nesta edição do jornal refere-se a surpreendente decisão tomada no início da semana por um magistrado a quem fora atribuída a titularidade um inquérito que decorre na justiça, em torno de intervenções alegadamente ilícitas de alguns indivíduos, os quais parece terem violado segredos dela, embora, ainda pela aparência, sem que estejam muito precisamente definidas, sejam elas as que forem, quaisquer significativas vantagens para os próprios e, ou, para terceiros, sejam eles quem forem.
Se o tiverem feito, terão de ser castigados. Mas, mesmo que eu não disponha de conhecimentos exactos sobre tal matéria, é do senso comum e do saber universal que - como a comunicação social amplamente demonstra todos os dias - eles não foram os primeiros a fazê-lo. Assim como é do conhecimento geral que a justiça à portuguesa e os seus actores costumam ser muito expeditos nas suas decisões, relativamente a umas coisas, e bastante mais contidos, lentos e reservados, no que diz respeito a outras: ali tudo decorre sempre conforme as 'oportunas' escolhas que decidem fazer.
Em todo o caso, também não é menos do senso universal, designadamente para aqueles de nós, comuns mortais, que conseguimos perscrutar na densa floresta da linguagem dos legisladores e dos judiciais que, no âmbito de um inquérito, para classificar como arguido um indivíduo ou uma pessoa colectiva, existem regras precisas e inflexíveis que, não por acaso, estão muito bem estabelecidas na lei.
Por exemplo, não basta que um inquiridor, por sua alta recriação ou porque lhe dá jeito na elaboração do cenário que imaginou para apresentar a um seu superior hierárquico, considere que um cidadão, ou uma empresa, terão feito isto ou aquilo e, a seguir, suponha que tal tenha produzido estes ou aqueloutros efeitos. Não. Redondamente, não é isso que, segundo julgo, está prescrito na lei publicada.
O inquiridor tem de se dar ao trabalho de reunir dados objectivos de acontecimentos inequívocos, circunstâncias manifestas e, acima de tudo, que tudo, mas mesmo tudo, que conste na sua exposição final, seja inequivocamente provado e comprovado, por documentos escritos ou ligações comprovadamente efectuadas pelos putativos infractores e, também, que os efeitos produzidos por tais avocadas ilicitudes sejam claros e efectivos e de tal modo, que tenham gerado benefício axiomático, taxativo, categórico, declarado e tão indubitável, como inegável, iniludível e irrefutável, para os arrolados terceiros.
É verdade é que a mera lógica construída por um magistrado, as suas suposições só por si, não chegam para produzir arguidos, dizem-me. E, no fundo, é isto que consta do duro comunicado que o Benfica publicou no final da tarde da passada segunda-feira. Mas, já agora, muito menos, também é inequivocamente do senso comum que um arguido alguma vez, antes de julgamento, possa antecipadamente ser tido como condenado, como logo se apressou a berrar o incontido coro dos inimigos do Benfica."

José Nuno Martins, in O Benfica

Sabe quem é? Bêbados não o fuzilaram - Tamagnini Barbosa

"Escapou à barbárie da Noite da Camioneta Fantasma, lutou contra Salazar; Não viu o que sonhou: a Taça Latina

1. Vivia-se, então, a hecatombe da tuberculose - e Álvaro Gaspar (estrela maior do Benfica) morreu com ela. A pneumónica ceifou mais de 70 mil vidas - e uma delas foi José Alvalade. No Porto jogou-se futebol contra o tifo - e Sidónio Pais, que assumira o poder em golpe contra a Guerra, andara, por lá, a consolar vítimas. E ele, futuro presidente do Benfica, era um dos seus mais importantes ministros.

2. A 11 de Novembro de 1918 deu-se o Armistício. Se a Guerra apanhara o país doente, deixara-o ainda mais em carestia e balbúrdia. Faltava tudo: carne, peixe, arroz, feijão, leite, carvão, fósforos. Sidónio impediu greves, prendeu sindicalistas - e, por isso, merceeiro que era filho de um antigo vereador do PRP, tentou abatê-lo a tiro, a arma encravou-se. E ele, o futuro presidente do Benfica, num afã continuou tratar das Finanças do país.

3. No Porto acendeu-se contestação ao seu governo. «Vou lá apagar-lhe o fogo» - exclamou Sidónio. Ele, o futuro presidente do Benfica, procurou demovê-lo, mas Sidónio retorquiu-lhe: «Não se preocupe, as balas disparadas contra mim, bem sabe que se encravam». Nessa noite de 14 de Dezembro de 1918, não: o tiro de José Júlio da Costa não falhou (e apanhado pela Guarda, justificou-se: que o matara por não suportar vê-lo rasgar os ideias de 5 de Outubro e «alinhar ao lado dos monárquicos e do clero»).

4. O Congresso elegeu PR Canto e Castro. Convidou Nunes da Ponte (que jogara ténis com Nicolau de Almeida, fundador do FC Porto) para Primeiro-ministro, não o aceitou - aceitou-o ele, o futuro presidente do Benfica. Evitou a restauração da monarquia na Revolta de Monsanto (de que saiu preso Francisco Stromp) mas 35 dias após a posse, manobras de bastidores tiram-lhe a Presidência do Conselho.

5. Chegou-se a 1921 - e a 19 de Outubro, a coberto da «revolução radical», disparou em barbárie do Arsenal a Camioneta Fantasma - com «lista de gente para apanhar e matar»: sidonistas e granjistas (e ele, o futuro presidente do Benfica, era um deles).

6. Dois marinheiros e o guarda 1975 tomaram o comboio no Cais do Sodré. Estavam bêbados, saíram em Oeiras - arrombaram a Casa da Torre, onde ele, o futuro presidente do Benfica, vivia. De carabinas em riste, insensíveis ao choro e à súplica da mulher e dos filhos, levaram-no «para a matança».

7. Súbita vontade de mais vinho, fez com que na paragem de Santo Amaro saltassem da carruagem, com ele, o futuro presidente do Benfica, a rojo - e de arma apontada ordenaram-lhe que os seguisse até à Taberna da Maria Clara. À porta, o guarda 1875 deu com um conhecido que tinha papelaria na Rua da Prata e contou-lhe que após «um copinho» iam «tirar tripas ao traidor, fuzilá.lo». O papeleiro garantiu-lhe que era «bom republicano o homem que tinham» - e, sagaz, pôs ao guarda 1875 duas notas na mão. De olhos no dinheiro e guia no sentido, sentaram-se os três à mesa do canto, iscas e vinho mandaram vir, da missão se desinteressaram - não fora isso e ele nunca teria sido presidente do Benfica.

8. Devido ao envolvimento na revolta contra a Ditadura em Fevereiro de 1927 deportaram-no para São Tomé. Além de coronel, era engenheiro e advogado. Nascera em Macau, onde o pai fora governador - e, em 1911, ala do Partido Republicano pensara nele para candidato a Presidente da República. Amnistia de Salazar (em 1932) repô-lo no exército - e, estando na Terceira como comandante militar, coube-lhe ceder a base das Lajes para o ataque final aos nazis (Por lá se estreitara a sua relação com Vicente de Melo).

9. Era administrador da Carris, quando, em Janeiro de 1947, por demissão de Manuel da Conceição Afonso, passou da presidência da AG para a presidência do Benfica - e levou Vicente de Melo para seu tesoureiro. (Meteu-se com Norton de Matos e Mendes Cabeçadas em acção para destituir Salazar num punch militar - mas a Abrilada de 47 acabou gorada).

10. Foi buscar Ted Smith - e, com ele a treinador, o Benfica evitou o penta do Sporting e arrancou par a conquista da Taça Latina. Não, já não viu esse seu sonho a tornar-se realidade, o destino, cruel, não deixou: a 15 de Dezembro de 1948 morreu de súbito, morreu no cargo (é o único presidente do Benfica a quem tal aconteceu)."

António Simões, in A Bola

Rei na barriga

"Exige Rui Vitória respeito e tem todo o direito de o fazer; mas já não pode pedir que se ache extraordinário o que era apenas exigível

Tem Rui Vitória num ponto razão absolutamente indiscutível: o seu Benfica cumpriu com todo o mérito o (essencial) objectivo de se qualificar para a fase de grupos da Liga dos Campeões. Quanto ao resto, as razões de Rui Vitória já serão muito mais discutíveis. A começar pelo que disse o treinador do Benfica após o jogo da Grécia, ainda por cima irritado, como se não fosse exigível ao Benfica ultrapassar este (muito inferior) adversário grego.
Como ganhou, Rui Vitória falou como se já estivesse tudo previsto e planeado há muito tempo apra ser assim. Falou com o rei na barriga, como se o Benfica tivesse feito duas grandes exibições nete play-off. Pode Rui Vitória afirmar-se totalmente convencido com o trabalho que vem realizando no Benfica e ninguém lhe pode levar a mal por isso.
Pode Rui Vitória (e tem obviamente todo o direito de o fazer) exigir respeito por esse trabalho, exigir que não se ponha em causa esse trabalho, e tem ainda o direito de considerar que esse trabalho está, na opinião dele, a ser muito bem feito, e de afirmar que já há muito tempo que estava a ser planeado e desenvolvido para chegar aqui.
Pode Rui Vitória falar como se ninguém o pudesse criticar, a ele e à equipa. Pode até escorregar na incoerência de, num dia, não querer saber ou falar de finanças, por, como ele disse, não ser essa a sua área, e, no outro, apresar-se lembrar aos críticos que se preparavam, no entender de Rui Vitória, para «subtrair» os 43 milhões de prémio de chegada à Liga dos Campeões, que devem agora somá-los, alegadamente ao mérito do treinador e dos jogadores na conquista deste objectivo, como se tivesse sido um feito extraordinário. Mas não foi.
Extraordinário teria sido o sucesso do PAOK. Isso sim, teria sido extraordinário. Tão extraordinário como escandaloso para o Benfica.
Tem Rui Vitória o direito de reclamar para si todos os méritos e mais algum na chegada do Benfica à fase de grupos da Champions. O que já não tem é o direito de nos obrigar a gostar do futebol que o Benfica joga, e muito menos de nos obrigar a reconhecer que o Benfica joga sempre como grande equipa e faz tudo o que deve fazer de acordo com a capacidade que têm os seus jogadores.
Como ganhou, Rui Vitória lá se lembrou de falar nos 43 milhões que desvalorizou na véspera e foi até mais longe, ao sublinhar a valorização da equipa e dos jogadores em mais de 200 milhões. Não se duvidando dessa avaliação do treinador do Benfica, é no mínimo estranho que Rui Vitória não tenha tido a humildade de passar aos adeptos a mensagem de confiança em não verem repetida desta vez a miserável participação da equipa na fase de grupos da Liga dos Campeões da última época.

Volto ainda ao derby do último fim de semana para lembrar os contínuos sinais de talento dados pelo jovem João Félix, uma espécie de mistura entre João Vieira Pinto e Rui Costa, realmente um jogador que parece sair um bocadinho fora da caixa do que vai mostrando ser o futebol do treinador Rui Vitória, mais mecanizado do que pensado, mais estruturado do que imprevisível, mais seguro do que ousado, mais linear do que inteligente, precisamente ao contrário do que vai revelando como jogador o jovem João Félix, alguém que dá a ideia de gostar de olhar para o jogo e questioná-lo, que procura permanentemente a melhor ideia, alguém que prefere correr riscos a resignar-se apenas à organização que o treinador impõe à equipa.
Em Portugal (e quase só em Portugal, na verdade...) parece haver sempre muito receio de apostar num jogador tão jovem como é João Félix, mas honra seja feita a Rui Vitória que, motivado ou não por algumas circunstâncias, parece realmente ter menos receio de o fazer, e talvez venha mesmo, com o andar da carruagem, a dar a João Félix ainda mais espaço na equipa do que tem dado até agora.
A propósito de João Félix, vale ainda a pena lembrar que no espaço de menos de uma semana, foi a segunda vez que conseguiu fazer tanto em tão pouco tempo em campo. Aconteceu frente aos gregos do PAOK, na Luz, quando, em apenas 11 minutos, isolou Ferreyra para um golo desperdiçado, e quase conseguiu, num remate com o pé esquerdo, fazer o 2-1, no último suspiro da águia, levando a bola a passar bem juntinho ao poste esquerdo do guarda-redes grego, e voltou a acontecer sábado, com o Sporting, quando, desta vez em 19 minutos, fez o magnífico golo do empate e ainda se viu derrubado por Jefferson, em falta para penalty não assinalado, num lance que passou em claro não apenas ao árbitro e videoárbitro como à maioria dos analistas.
João Félix entrou na área, saltou para tocar na bola de cabeça e quando ainda estava no ar sofreu claro empurrão de Jefferson, que não quis jogar a bola, nem olhar sequer para ela, apenas se preocupou em tocar no jovem jogador do Benfica, conseguindo desequilibrá-lo.
O tipo de lance sobre o qual, pelos vistos, poucos se comprometem quando se trata de um jogo desta natureza, envolvendo dois grandes, nem mesmo antigos árbitros hoje comentadores, o que me faz, confesso, muita confusão, quando passamos a vida a ouvir discussões, absolutamente inúteis sobre alegadas grandes penalidades supostamente provocadas porque a bola tocou ligeiramente no braço de um jogador ou raspou ao de leve noutro... e depois vejo desvalorizar-se uma clara falta para penalty como a que foi cometida pelo lateral-esquerdo dos leões no jogo da Luz.
A jogada que envolveu Jefferson e João Félix não oferece qualquer dúvida. Seria falta em qualquer zona do campo, porque Jefferson não quis jogar a bola e empurrou claramente um adversário que estava, ainda por cima, em suspensão, e portanto, tendo sido na grande área do Sporting, deveria ter levado o árbitro João Godinho a assinalar a respectiva grande penalidade.
Na avaliação desse lance, João Godinho não fez afinal mais do que confirmar o fraco trabalho de arbitragem realizado na luz, mostrando estar ainda muito longe do nível que se exige ao árbitro de um jogo com a dimensão e o impacto de um Benfica - Sporting, já agora, um jogo que o Benfica podia ter ganho mas que o Sporting mereceu não perder.

PS: Luka Modric ganhou ontem o prémio de Jogador do Ano da UEFA, numa festa toda ela descaradamente dedicada... ao Real Madrid! Se o prémio é da UEFA e premeia a época europeia dos jogadores, então Cristiano Ronaldo deveria ter sido, claramente, o vencedor; se incluiu também a carreira no Mundial, então é realmente muito estranho que não tenha tido no pódio qualquer campeão do mundo. Modric é um grandíssimo jogador e não tem culpa nenhuma disto!"

João Bonzinho, in A Bola

PS: O Bonzinho também podia ter escrito, que Rui Vitória tem todo o direito de se mostrar agastado, pela forma como o Benfica (jogadores, treinador, direcção e adeptos) são tratados pela maior parte da comunicação social desportiva portuguesa, como se fosse uma equipa estrangeira...!!! Mesmo quando estão a defender as 'cores' de Portugal...
Talvez se tivesse 'chegado' a esta 'conclusão', percebesse que existe uma diferença entre ter a 'barriga cheia' e ter a satisfação da vitória, contra um adversário digno, que por estes dias ganhou muitos adeptos portugueses... que se viram ontem de repente com muita azia...!!! E não estou a falar de simples adeptos, dos rivais internos, estou a falar de gente que deontologicamente deveria ser imparcial...

É só puxar o filme um pouco atrás...

"Quando, a 28 de Abril deste ano, o Benfica perdeu em casa com o Tondela (2-3) na 32.ª jornada da I Liga, parecia escrito nas estrelas que, ao fim de oito presenças consecutivas na fase de grupos da Champions, os encarnados teriam de resignar-se com a Liga Europa. O empate, em Alvalade, na ronda 33 acentuou essa ideia, já me bastaria ao Sporting, a seguir, passar no Funchal para poder lutar pelos milhões da Liga milionária. Entretanto, a casa verde e branca implodiu, a equipa de Jesus caiu com estrondo nos Barreiros, e o Benfica viu abrir-se o caminho que poderia levá-lo à terra prometida, num ano especial, com os prémios da UEFA a passarem para o dobro e a terem impacto extraordinário no orçamento de qualquer equipa portuguesa.
Ultrapassados Fenerbahçe e PAOK, o Benfica garantiu, além de uma montra de luxo, uma vantagem, grosso modo, de 100 milhões de euros sobre o Sporting - o que as águias arrecadam e o que os leões deixam de contabilizar - que pode alterar a correlação de forças no futebol português. Não tivesse Bruno de Carvalho crashado e fosse o Sporting a ficar com o pote de ouro, e provavelmente estaríamos perante uma conjuntura interna completamente diferente. Assim, Benfica e FC Porto têm meios para acentuar a diferença para o resto do pelotão, colocando-se em melhor posição para enfrentar qualquer futura evolução, mais elitista, da principal prova de clubes da UEFA.

PS - Como é cada um que, a cada desafio, constrói o seu destino, o Benfica soube sofrer, reinventar-se e cumprir o desígnio europeu que faz parte da sua matriz genética."

José Manuel Delgado, in A Bola

Gerir equipas

"Cada vez mais se fala de gestão desportiva, dos melhores modelos para potenciar as instituições desportivas, do crescimento das equipas, da rentabilização dos seus elementos. Contudo, por muitas vias alternativas que se possam desenhar, o mais importante será sempre o atleta/jogador. O centro da actividade é humano. A gestão financeira tem importância, o modelo económico merece toda a atenção, mas a gestão dos recursos humanos é o factor decisivo para o sucesso. As pessoas têm sentimentos, a actividade não pode ser gerida sem ter em consideração isso mesmo. A comunicação é diferente para cada um dos membros da equipa. Estamos, no desporto de alto rendimento, digamos que também no campo do trabalho intensivo, no sentido da componente física necessária ao sucesso. Não desvalorizando o componente económica-financeira, a gestão dos recursos é influenciável pelo comportamento individual.
Tudo isto ganha maior destaque, em virtude do desporto ter vindo a conquistar cada vez mais espaço na sociedade. O impacto, e mediatismo, da actividade desportiva encaminha muitos recursos para o seu meio. Sejam recursos financeiros ou humanos. Não há como limitar a importância que o desporto tem nas sociedades actuais, quer se trate de recreação ou de alto rendimento.
As especificidades na gestão desportiva não obrigam a que os gestores sejam ou tenham sido, atletas. Melhor que o tenham sido, mas não é decisivo. Agora, impõem que se tenha sensibilidade no relacionamento com todos os elementos da estrutura, e que a constituição da equipa de gestão tenha isso em consideração. Estamos no campo do humano. E este é o maior segredo da actividade. Quem se esquecer deste grande e fundamental aspecto está mais longe do sucesso. pode atingi-lo, de forma pontual, mas não se manterá no topo!"

José Couceiro, in A Bola

Deuses

"1. Os deuses do futebol estiveram ao lado do FC Porto no sorteio da fase de grupos da Liga dos Campeões e não estiveram muito afastados do Benfica. Mas como o futebol é praticado por homens e nem uma nem outra equipa têm deuses, tem de ser dentro do campo a comprovação do estatuto.
2. Cristiano Ronaldo é um dos deuses do futebol moderno mas ontem foi batido no prémio de melhor da UEFA pelo melhor jogador terráqueo do momento: Luka Modric. Às vezes os deuses caem do Olimpo sem que se perceba muito bem como nem porquê.
3. Os três deuses do futebol português - Benfica, FC Porto e Sporting -, até ao momento, ainda não encantaram, em termos nacionais, os seus fiéis. O SC Braga bate à porta dos céus e se calhar tem uma oportunidade de ouro para entrar.
4. O Sporting está em período eleitoral depois de um autodenominado deus do dirigismo se ter barricado na presidência e ter sido empurrado do altar pelos seguidores da religião leonina. Os leões, agora, não precisam de deuses. Precisam de homens conscientes da tarefa que têm pela frente. Que é tudo menos fácil.
5. No futebol, os leões têm a pretensão de contratar um avançado que faça companhia ao deus do golo, Bas Dost. Mas no fundo só com muita fé muita qualidade com pouco dinheiro.
6. Na terra dos deuses, a Grécia, o Benfica precisou apenas de soldados conhecedores da sua missão para alcançar a fortuna.
7. Fernando Pimenta é um deus do desporto nacional e em Montemor-o-Velho escreveu mais um capítulo de uma carreira que vai acabar coberta a ouro. Pena é o povo ser pouco dado a outra coisa que não seja o futebol e tenha pouco reconhecimento para quem não finta o destino com a bola nos pés."

Hugo Forte, in A Bola

Vamos lá falar do sorteio

"Regressar a Gelsenkirchen, sonhar em Munique, encontrar o senhor Liga Europa. Vamos analisar o sorteio de Sporting, Porto e Benfica nas respectivas participações europeias.
O Sporting soube hoje que vai ao Emirates defrontar o Arsenal na fase de grupos da Liga Europa. O Vorskla não é o nome mais ameaçador, mas o mesmo não se pode dizer do Qarabag, emblema do Azerbaijão que se tem estabelecido com insistência nos certames internacionais e que pode entrar na luta pelos dois primeiros lugares deste grupo. Basta lembrar os obstáculos que colocaram a Roma, Atlético de Madrid e Chelsea na edição anterior da Champions. Por esse motivo, os adversários já não são surpreendidos e não baixam a guarda. Se o fizerem, é o pior erro que podem cometer.
O melhor pensador de jogo da equipa, Richard, foi para o Astana. Sem o esquerdino, veremos como Slavchev prepara o último passe, por exemplo para o canhoto haitiano, Guerrier, um extremo com um toque de irreverência. A deslocação a Baku será longa, mas viajar para Astana, como termo de comparação, seria uma distância ainda mais desgastante. Ah, só para confirmar: em Baku joga-se em relvado natural.
O Arsenal é, agora, liderado pelo senhor Liga Europa: Unai Emery. Ganhou três edições seguidas da competição e é um estratega obcecado pelo estudo dos adversários, aspecto que faz com que não apresente sistemas rígidos. Pretende afinar a mecânica da pressão alta neste pós-Wenger e o andamento do trinco uruguaio Lucas Torreira dá-lhe bons argumentos na recuperação. Será Ramsey colocado em campo para fazer de Rakitic, jogando atrás do ponta de lança, como nos tempos em que o basco treinava o Sevilla? Irá Leno roubar a titularidade a Cech na baliza? Aubameyang já está disponível para as provas europeias e acredita-se que fazer boa carreira na Liga Europa é o objectivo mais sensato que os Gunners irão estabelecer.
Na época passada, ficaram 37 pontos atrás do campeão, o Man.City. Também por isso creio que pensar no Arsenal para ganhar a Premier League é, para já, utópico. E isso vai facilitar a prioridade pela LE no decurso da campanha. Os Gunners são a melhor equipa do grupo, embora possam perder alguns pontos. Mesmo assim, ao Sporting compete fazer boa figura contra o Qarabag. Os dois confrontos com o emblema do Azerbaijão serão cruciais para a chegada aos 16-avos.
Sérgio Conceição encontra um grupo em moldes semelhantes aos da época passada. Qualquer destas quatro equipas pode ficar perfeitamente em primeiro lugar, mas se acabarem em último também não seria uma surpresa, pois é um grupo bem nivelado. O Porto regressa a Gelsenkirchen e isso é sempre motivo de inspiração para os dragões. O Schalke, único adversário dos portistas que não foi campeão no respectivo país (foi vice, atrás do Bayern!), perdeu Max Meyer, Goretzka e Tilo Kehrer, gente importante no meio-campo e defesa. No entanto, Domenico Tedesco, um dos melhores treinadores da nova vaga na Alemanha, mantém o sistema de três centrais e agrupa na zona ofensiva craques como Konoplyanka, Harit ou Uth, adquirido ao Hoffenheim, qualquer um deles pronto para suportar o bravo Burgstaller. Rudy (distribuidor) e Mascarell (recuperador) chegaram para compor a zona média.
Viajar a Istambul tem sempre que se lhe diga. O Galatasaray tem, provavelmente, o meio-campo mais seguro da Turquia, sabendo que Fernando, Badou N’Diaye e Belhanda asseguram essa consistência. As subidas de Mariano no lado direito e a proteção de Muslera na baliza merecem realce. O Lokomotiv triunfo na Rússia, mas o começo não tem sido famoso na presente edição. Krychowiak e Smolov são reforços de categoria inatacável para os ferroviários, que mantiveram todos os melhores jogadores, desde Manuel Fernandes aos gémeos Miranchuk, passando pelo atacante Farfán e pelo melhor estabilizador, Denisov. Nas laterais, Rybus avança bem.
Rui Vitória cumpriu o objectivo de atingir a fase de grupos, depois de carimbar as eliminatórias em Istambul e Salónica. É um sonho pensar no primeiro lugar num grupo com o Bayern. Pode acontecer, mas é pouco provável. Niko Kovac está determinado em fazer boa figura em todas as provas e a chegada à Champions não é para brincar. Thiago, Robben, Ribéry e Lewandowski mantiveram-se todos na Säbener Strasse. E Neuer já joga.
O AEK não é um tubarão, mas é uma piranha que também pode morder. Foram campeões helénicos, 24 anos depois do seu anterior título, na altura de Dusan Bajevic, que treinava Alexandris, Tsartas, Savevski e até Stelios Manolas, defesa-central, tio de Kostas, actual jogador da Roma. Os aurinegros, dirigidos por Ouzounidis, perderam Johansson, centrocampista sueco, mas Petros Mantalos está melhor depois da lesão grave no joelho. Lazaros saiu para o ‘Oly’, mas Klonaridis vai tentar afirmar-se na frente de uma equipa que também tem dois bons representantes lusos: Hélder Lopes (lateral-esquerdo) e André Simões, médio-centro.
Falta falar do Ajax, emblema grande do Velho Continente. Tentam retomar a excelente campanha que fizeram em 2016/17 na LE, em que foram finalistas vencidos na vigência de Petr Bosz, contra o Man.Utd. Com Erik ten Hag, têm, agora, um eixo defensivo ligeiramente mais sólido com Daley Blind alinhado com De Ligt, central que se afirma cada vez mais. Frenkie De Jong e Van de Beek são dos mais talentosos que existe na Holanda para a zona média, que ainda conta com o marroquino Ziyech, um canhoto com uma precisão notável no passe. Justin Kluivert e Younes são dois extremos fantásticos que acabaram por sair, mas isso permite que David Neres, craque formado em Cotia, na academia do São Paulo, se assuma sem oscilações. A eles junta-se não só Labyad (óptima época em Utrecht), mas também Dusan Tadic, uma contratação muito importante vinda do Southampton. O seu regresso à Holanda (ex-Groningen e Twente) vai dar muito mais garantias ao Ajax para reconquistar o campeonato. O Ajax joga bem e, apesar de não serem candidatos ao topo do grupo, vão ser um adversário bem exigente para o Benfica numa possível luta pelo segundo lugar, sobretudo nas 3.ª e 4.ª jornadas."

A sorte europeia

"1 - FC Porto e Benfica já conhecem os adversários que vão defrontar na próxima edição da Liga dos Campeões. Sorteios distintos para dragões e águias, nos quais fica a sensação que, se as equipas portuguesas se apresentarem ao seu melhor nível, poderão ter francas possibilidades de poderem passar aos oitavos de final da competição.
Antes de irmos sorteio de ontem, é importante referir primeiro que o Benfica conseguiu cumprir um dos seus grandes objectivos delineados para esta temporada. Depois de superar os turcos do Fenerbahçe, aquele empate caseiro por 1-1 com o PAOK colocou mais pressão na visita à Grécia, mas os encarnados conseguiram dar a volta a um adversário que ainda assustou, mas que mostrou não ter argumentos. O Benfica foi melhor e mereceu o apuramento para a fase de grupos da Liga dos Campeões, onde além da participação desportiva receberá um prémio financeiro precioso para o equilíbrio das suas contas.
No grupo das águias, o todo poderoso Bayern (teremos um regresso de Renato Sanches ao Estádio da Luz?) será o principal favorito. Mas a equipa portuguesa terá uma palavra a dizer na discussão por uma vaga nos oitavos de final. O Ajax, vice-campeão holandês, e o AEK, campeão grego (um regresso à Grécia depois de eliminar o PAOK) são adversários ao seu alcance. E o Benfica estará apostado em fazer muito melhor do que fez na edição anterior, em que acabou a fase de grupos com 0 pontos.
Já o FC Porto acaba por ter em sorte um grupo muito equilibrado, sem nenhum tubarão do futebol europeu, é certo, mas com equipas que vão exigir a máxima força para levar de vencidas. E há ainda a curiosidade de surgir um grupo muito semelhante ao que lhe calhou no ano passado, com uma equipa turca (o Galatasaray em vez do Besiktas) e outra alemã (o Schalke 04 em lugar do Leipzig). São oponentes que obrigarão a deslocações difíceis e que são muito fortes a jogar no seu reduto. Já o Lokomotiv Moscovo foi a formação mais acessível do pote 1 que poderia calhar, mas trata-se do campeão russo, tem jogadores de qualidade (entre os quais os portugueses Éder e Manuel Fernandes) e as viagens à Rússia, pela distância e o clima, podem ser sempre complicadas.
Podemos admitir que o FC Porto seja favorito a um dos 2 primeiros lugares do grupo. Mas o ano passado serve de aviso. O Besiktas venceu o grupo e eliminou Mónaco e Leipzig. Quer isto dizer que qualquer equipa tem possibilidades de passar, pelo que todos os pontos serão preciosos. E dava muito jeito que tanto dragões e águias, assim como o Sporting na Liga Europa, pudessem ter boas prestações europeias para iniciarmos um processo de recuperação de Portugal no ranking da UEFA.

2 – Está prestes a encerrar o mercado de transferências em Portugal e as equipas poderão, finalmente, trabalhar com mais tranquilidade. Com os últimos acertos nos plantéis concluídos e resolvidas as situações dos jogadores excedentários, treinadores e jogadores já poderão estar 100% focados naquilo que mais interessa: o rendimento das suas equipas.
Mais uma vez, os clubes esperaram pelos últimos dias do mercado para tentarem fazer as últimas investidas na procura dos desejados reforços. Cada vez mais parece fazer sentido que o período de transferências possa encerrar antes do início das competições. Seria a situação ideal para clubes, jogadores e treinadores poderem desempenhar o seu trabalho com muito mais qualidade.

O Craque – Um passo para evoluir
Depois de ter dado nas vistas ao serviço do Rio Ave, onde apontou 11 golos na época passada, João Novais é uma das apostas do Braga para a nova temporada. O médio português tem sido uma das opções mais utilizadas pelo treinador Abel Ferreira e tem a oportunidade de mostrar o seu enorme potencial. Exímio marcador de bolas paradas, um dos melhores da liga portuguesa, e dono de uma leitura de jogo acima da média, parece estar a adaptar-se bem a uma equipa de maior exigência competitiva. Será uma época importante para a sua evolução.

A Jogada – Portugueses em maioria
A próxima edição da Liga dos Campeões contará com a participação de 5 treinadores portugueses (Sérgio Conceição, Rui Vitória, José Mourinho, Leonardo Jardim e Paulo Fonseca). Nenhuma outra nação terá tantos técnicos na prova como Portugal (nem mesmo Espanha, Inglaterra, Alemanha ou Itália, países que contam com 4 equipas na Champions) e isso reforça ainda mais o estatuto do treinador nacional no futebol europeu. Um reconhecimento da competência, qualidade e potencial que o país campeão europeu de futebol tem também na formação de treinadores.

A Dúvida – Perda de força negocial
Neste mercado de verão ficaram visíveis as dificuldades que os clubes portugueses tiveram na aquisição de reforços. Os principais alvos nem sempre foram conseguidos e até mesmo as alternativas encontradas falharam em alguns casos. A maior capacidade financeira de clubes de ligas mais fortes obriga a uma mudança de paradigma. Há que ser mais rápido na detecção e ágil na negociação. Nunca como antes o planeamento assume um papel crucial. Além disso, a nossa liga tem de criar condições para continuar a ser atraente. Será possível dar a volta a este cenário?"

O que é ser treinador

"Ser treinador implica melhorar competências, modificar atitudes e comportamentos. Pressupõe informação e formação contínua, ensinar o esperado e a gerir o inesperado contido no dia-a-dia. Requer tomar como referência fundamental a actividade bem concreta para a qual pretendemos preparar aqueles a quem nos dirigimos, enquadrada por objectivos a atingir e a tarefa respectiva.
Ao treinador, cumpre ser frontal e honesto, rigoroso e ser um exemplo, de coerência e preocupação constante com os jogadores, no respeito pelas divergências, mas sem preconceitos pelas convergências.
Compete-lhe; Explicar, se necessário Executar, Corrigir e Repetir.
O Treinador não deve ter necessidade de ser falado para significar, mas deve deixar a equipa e as pessoas que a compõem melhor do que estavam quando começaram a trabalhar com ele.
Treinador, líder e gestor, são uma e a mesma coisa? Debate muito em voga. Em nossa opinião, a liderança e a gestão (o líder e o gestor) devem ser complementares. Nem uma, nem outra, devem ser dominantes sob pena de algo nas equipas deixar de funcionar como deve.
Requer uma gestão de sentimentos e emoções, das nossas e dos outros, quer no plano individual, como do grupo. Solicita que sejamos capazes de nos auto - conhecer, centrarmo-nos no que somos (pontos fortes e fracos), assumirmos as nossas responsabilidades e demonstrarmos empenho e sentido de urgência.
Num tempo em que tanto se substitui a memória pela esperança, há que procurar sentimentos ideias, dados e valores, formas e símbolos, que provavelmente, ainda não tenham sido experimentadas, designadamente no futebol de alta competição.
Há necessidade imperiosa de entroncar, de contextualizar, de globalizar as nossas informações e os nossos saberes, de procurar enfim um conhecimento complexo.Relacionar a explicação e a compreensão, tendo em conta que não é fácil, é objectivar a subjectividade do futebol."

Benfiquismo (CMXXXVI)

Ajax doutros tempos...!!!

Champions 2018/19

Nada de novo no Sorteio da Liga dos Campeões. Como nunca tenho a expectativa do Benfica ser bafejado por uma 'sorte' épica e evitar os todos 'tubarões' (como acontece recorrentemente com outros...), Bayern, Ajax e AEK acaba por ser um bom grupo, onde teoricamente o Benfica vai lutar com os Holandeses pelo 2.º lugar, sendo o Bayern claramente favorito... e o AEK (equipa do nível do PAOK) em teoria, o adversário mais acessível...
Três ex-campeões Europeus no mesmo grupo é sempre agradável, para quem gosta de apreciar a História do futebol Europeu... em 4 estádios com bom 'ambiente'. Em Munique e Amesterdão vamos ter 'enchente' Gloriosa, certamente...
Na Luz, se tudo correr bem, e o Benfica lutar pela qualificação até ao fim... podemos ter 3 casas cheias!!! O último grande jogo Europeu na Luz, com ambiente de grande noite Europeia, foi mesmo o último Benfica-Bayern... portanto, será um flashback... contra uma equipa, que o Benfica nunca venceu!!!!
Mas 'pior' que o sorteio das equipas, foi o calendário!!! O Benfica acabou (mais uma vez) por ter 'azar' na calendarização das partidas!!!
É sempre bom começar a vencer neste tipo de competições, jogar em casa com o Bayern não é a melhor 'opção'... E na 2.ª jornada, na véspera do Benfica-Corruptos para a Liga, vamos a Atenas (enquanto os Corruptos, jogam em casa com o Galarasaray), provavelmente com uma enorme pressão para fazer pontos... E tendo o Ajax como o 'grande rival' pela qualificação neste grupo, o Ajax-Bayern na última jornada, numa altura onde o Bayern muito provavelmente já estará qualificado, também não é um bom prenúncio!!!
Dito isto, a jornada-dupla (3.ª e 4.ª jornada) com o Ajax, será muito provavelmente decisiva...!!! E ainda por cima jogamos primeiro em Amesterdão e só depois em Lisboa... A única variável positiva deste sorteio, acabou por ser mesmo, o facto de nesta jornada dupla, jogarmos a 3.ª em Amesterdão, à terça e a 4.ª na Luz, à quarta, o que nos dá na prática, mais 2 dias de intervalo, o que 'ajuda', até porque temos o Benfica - Paços de Ferreira para a Taça da Liga, no meio destes dois jogos!!!
Um mau arranque, será fatal...

Taça da Liga - Benfica - Rio Ave, 15/9 - Sábado
1.ª jornada LC - Benfica - Bayern, 19/09 - Quarta-feira - 20h
Liga - 5.ª jornada - Benfica - Aves, 23/9 ou 24/9 - Domingo ou Segunda-feira
Liga - 6.ª jornada - Chaves - Benfica, 27/9 ou 28/9 - Quinta-feira ou Sexta-feira
2.ª jornada LC - AEK - Benfica, 2/10 - Terça-feira - 20h
Liga - 7.ª jornada - Benfica - Corruptos, 7/10 - Domingo
(...)
Taça de Portugal - 1/32 avos de Final, 18/10 ou 19/10 - Quinta-feira ou Sexta-feira
3.ª jornada LC - Ajax - Benfica, 23/10 - Terça-feira - 20h
Liga - 8.ª jornada - Belenenses - Benfica, 28/10 - Domingo
Taça da Liga - Benfica - Paços de Ferreira, 31/10 - Quarta-feira
Liga - 9.ª jornada - Benfica - Moreirense, 3/11 ou 4/11 - Sábado ou Domingo
4.ª jornada LC - Benfica - Ajax, 7/11 - Quarta-feira - 20h
Liga - 10.ª jornada - Tondela - Benfica, 11/11 - Domingo
(...)
Taça de Portugal - 1/16 avos de Final, 22/11 ou 23/11 - Quinta-feira ou Sexta-feira
5.ª jornada LC - Bayern - Benfica, 27/11 - Terça-feira - 20h
Liga - 11.ª jornada - Benfica - Feirense, 2/12 - Domingo
Liga - 12.ª jornada - Setúbal - Benfica, 8/12 - Sábado
6.ª jornada LC - Benfica - AEK, 12/12 - Quarta-feira - 20h
Liga - 13.ª jornada - Marítimo - Benfica, 16/12 - Domingo
Taça de Portugal - 1/8 avos de Final, 19/12 - Quarta-feira
Liga - 14.ª jornada - Benfica - Braga, 23/12 - Domingo



Grupo A
Atlético de Madrid
Borússia Dortmund
Mónaco
Brugge

Os 'cabeça-de-série' vão passar. O Mónaco está muito mais fraco este ano...

Grupo B
Barcelona
Tottenham
PSV
Inter

Também não prevejo surpresas. O Inter continua a demonstrar muitos problemas. Tem talentos individuais, mas continua a não conseguir 'montar' um bom colectivo...

Grupo C
Paris Saint-Germain
Nápoles
Liverpool
Estrela Vermelha

Dos três 'grandes' nomes deste grupo, parece-me que o Nápoles este ano está mais fraco... Liverpool e PSG são favoritos... O regresso do Estrela Vermelha a este nível é sempre uma boa notícia...

Grupo D
Lokomotiv Moscovo
Corruptos
Schalke 04
Galatasaray

Absurdo, grupo ao nível da Liga Europa... Mais uma vez os Corruptos com toda a 'leiteira' do mundo! Tudo é possível...

Grupo E
Bayern Munique
Benfica
Ajax
AEK

Grupo F
Manchester City
Shakhtar
Lyon
Hoffenheim

Talvez o grupo com 'melhor' futebol...!!! O City é claramente favorito, as outras 3 equipas estão muito niveladas...

Grupo G
Real Madrid
Roma
CSKA Moscovo
Viktoria Plzen

Grande fosse entre os dois favoritos - Real e Roma - e os outros...

Grupo H
Juventus
Manchester United
Valência
Young Boys

O Mourinho às vezes consegue milagres, mas se não houver uma melhoria significativa no Man United, Juventus e Valência vão passar 'fácil'!!!

quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Sabe quem é? A jogar de pulso partido - Jacinto Marques

"Ganhou a Taça Latina e o marcheal Carmona não lhe deu o troféu; O Benfica foi buscá-lo, recusou receber as luvas

1. Foi em Barrocas, a dois passos da Cova da Piedade, que nasceu, por finais de 1921. «Se calhava aparecer em casa com biqueiras de sapotos esfoladas, lá apanhava o meu tabefe, mas nem isso me tirava o prazer de andar pelas ruas sempre a jogar à bola».

2. Antes ainda dos 15 anos, começou a trabalhar numa fábrica de cortiça - e foi jogar para o Liberdade FC da Mutela. Saltou, depois para o Sporting Piedense. Era, então, médio-centro - mas de remate tão forte e certeiro que marcava golos, muito golos. Dirigente do Carcavelinhos desafiou-o para um teste na Tapadinha. Aprovou, para que a transferência se fizesse o Piedense recebeu 300 escudos - e a ele deram-lhe 100 escudos pela assinatura (um par de chuteiras custava 70 escudos).

3. Pouco tempo passou nas reservas do Carcavelinhos - e o que se seguiu foram dois anos a falar-se de si, sem conta, em «exibições extraordinárias».

4. Tinha tio famoso: Silva Marques, que pelo Belenenses ganhara o Campeonato de Portugal por três vezes. Pôs na cabeça levá-lo para lá - e estando a cumprir tropa em Belém, recebeu no Carcavelinhos, carta que lhe aguçou o mistério: convidava-o a visitar a Fábrica Napolitana, assinava-a Guilherme Antunes que nada lhe dizia.

5. Curioso, deslocou-se à fábrica à procura do tal sr. Antunes - que lhe lançou, brusco, a questão: «Queres ir para o Benfica?!» Embatucou, ciciou: «Mas... mas...» Antunes replicou: «Queres ou não quer?» - e ele soltou a insinuar espanto: «Querer, queria...»

6. No dia seguinte, Guilherme Antunes levou-o ao teste no Campo Grande - e, horas depois, emissário do Benfica correu a negociá-lo com o Carcavelinhos. Acertou-se darem-se 10 contos pela sua carta (numa altura em que uma bicicleta das menos caras custava conto e meio) - e espanto foi ouvirem o que dele ouviram: «Eu, de luvas, para mim, não quero nada - só queria esta felicidade de vestir a camisola do Benfica». (A ele pensara-se dar-lhe 5000 escudos - que hoje seriam menos de 3000 euros). Dois anos após, conquistou o seu primeiro título de campeão (foi na época de 1944-1945 - com Janos Biri a utilizá-lo ainda pouco e a médio direito).

7. Não tardou, tornou-se indiscutível na linha média com Moreira e Francisco Ferreira - e em jogo que o Benfica ganhou ao Charlton fez exibição que os ingleses consideraram monstruosa: «Com eles desvairados em busca do golo, saltei com o ponta esquerda, chocámos um no outro. Senti algo a descer-me pelas costas, pus a mão dentro, apanhei coisa dura, quando a bola já fugira de nós, entreguei-lha. Desdentado, disse-me, a sorrir: Thank you, sir! - e tinha sido a dentadura dele que me entrara pela camisola...»

8. Na finalíssima da Taça Latina de 1950 contra o Bordéus (no Jamor) fez meia hora com um pulso partido - recusando-se a sair de campo (mesmo quando a dor o podia vergar mais do que a canseira). Ao minuto 134, Julinho marcou o golo da vitória - e não, não foi ele que recebeu a taça, apesar de capitão de equipa ter sido. A razão, revelou-a Rogério, o Pipi: «Com a invasão e o entusiasmo à solta, ficou tudo louco. Empurrado, fui indo, escadaria acima, entre a multidão em histeria, mas o resto da malta não chegou lá - e quando dei por mim, estava na tribuna diante do Marechal Carmona - e, entre a confusão o PR atirou-me o troféu para as mãos...»

9. Com Ted Smith passara a defesa direito (multiplicando-se-lhe o fulgor). Assim esteve ainda nas conquistas da Taça de Portugal de 1951 e 1952 - e voltando Ribeiro dos Reis a treinador lesão atirou-o para suplente de Artur Santos. Otto Glória chegou - e ouvindo que melhor seria dispensá-lo, recusou: «Quero ver ele em acção». Viu e logo anunciou: «O cara fica. Sei que tem 32 anos, mas vai ser meu defesa direito». (Assim marcou o primeiro golo no Estádio da Luz - não marcou na baliza do FC Porto, marcou-o na sua).

10. Ganhou o Campeonato de 1954-1955 (a Taça também). Ainda foi à selecção que Virgílio lhe fechara anos a fio - e o seu adeus deu-se, enfim, em meados de 1957, com mais um Campeonato (e uma Taça também). Dedicou-se, então, à fábrica de cortiças que abrira com o dinheiro que o Benfica lhe foi pagando - sem deixar de exclamar, comovido, à partida: «Ao sr. Otto eu estou eternamente grato - pois numa altura em que já me tinha condenado, ainda me deu a hipótese de viver tantas mais tardes de glória»."

António Simões, in A Bola

Sem 'espinhas'

"Jogo muito bem preparado por Rui Vitória e interpretado na integra pelos jogadores

A surpresa Seferovic
1. Perante um cenário de grande dificuldade, num contexto quase bélico, tal a fúria do ambiente, Rui Vitória procurou num golpe de asa trazer um dado novo ao jogo com a surpresa Seferovic. A diferença entre o valor das duas equipas ficou por demais patente na Luz, mas o carácter bélico com que os gregos encarariam a partida fazia perceber que os aspectos volitivos teriam grande importância no desenvolvimento de partida.

Árbitro imune
2. Apesar do início pejado de alma protagonizado pelos gregos, percebia-se que, geridas convenientemente as emoções, os jogadores do Benfica tinham condições boas para explanar o seu melhor e fazer mossa no orgulho caseiro. O amarelo madrugador aplicado a Léo Matos fazia sentir que o Benfica tinha árbitro imune ao escaldante ambiente envolvente.

Susto
3. Um golo numa bola parada - jogada muito bem elaborada - assustou os encarnados, mas Jardel e depois Salvio (numa borrada do GR, fruto de má gestão anfitriã do tudo ou nada) repuseram as diferenças no relvado e uma enorme jogada de ataques rápidos dos forasteiros acentuou ainda mais a superioridade do Benfica.

Garrote
4. Se acabava bem a primeira parte, o que dizer da segunda com um golo de penálti perfeitamente evitável? O Benfica controlava completamente o jogo e vincava a sua superior qualidade perante gregos obstinados, mas previsíveis e inconsequentes. A entrada de Alfa Semedo conferia mais músculo à equipa e garrotava as pretensões ofensivas caseiras, estabilizando o jogo encarnado.

Melhor futebol
5. Vitória contundente e sem espinhas do Benfica que mostrou argumentos sólidos e forte robustez mental e psicológica para suportar as adversidades de contexto e fazer valer o seu melhor futebol. Jogo muito bem preparado por Rui Vitória e interpretado na integra pelos jogadores, exímios a aproveitar os grosseiros erros cometidos pelos adversários, quais kamikazes. Missão cumprida e o baú dos milhões escancarado pela arte encarnada."

Daúto Faquirá, in A Bola

Na hora H!

"Surgiu em Salónica o que faltou na Luz... E ainda o dérbi, nalguns comentários.

Futebol também é isto... O Benfica poderia ter decidido o crucial play-off em Lisboa, vencendo por diferença de 3 ou 4, e veio a fazê-lo em Salónica, conseguindo reagir ao tremendo susto no 1.º quarto de hora. A estrelinha grega na Luz virou lusitana num estádio onde, nas pré-eliminatórias, recorde-se aos esquecidos, sucumbiram Basileia e Spartak de Moscovo. Estrelinha surgiu ontem quando a estupenda cabeçada de Jardel foi mesmo na hora H para pregar murro no estômago de PAOK galvanizadíssimo. E, pouco depois, duplo brinde do guarda-redes deu penálti para o 1-2. Magnífica foi a jogada para 1-3: vistoso arranque de Grimaldo e Cervi, cruzamento raso para a entrada de Pizzi, em jeito, colocando a bola pertinho do poste.
Os meus destaques:
- Jardel imperial, no golo e a defender.
- Grimaldo e Cervi, raçudos e hábeis no jeito que mais ao jeito lhes vai: contra-ataque.
- Odysseas agarrando a baliza.
- Importância de Salvio lá estar...
- Seferovic... Pois é! Sempre descri da sua contratação há um ano. Ontem, batendo-se a sério, arrastando defesas - vide golo de Pizzi -, fez o que Vitória lhe pediu. Recordo: também na 2.ª mão em Istambul, noutro apelo a mais físico e mais profundidade, Ferreyra de fora, Castillo titular. Só que lesiona-se aos 20 minutos e ainda não pôde voltar...

Dérbi. Porque logo à 3.ª jornada, provocou críticas de que o sorteio deveria ser trabalhado, amaciando adversários para os clubes com competições europeias. Discordo. Rio Ave e SC Braga não tiveram duro calendário e, num ápice, adeus Liga Europa - chocantemente batidos por equipas de terceira categoria. E não foi por beneficiar de desgaste portista que o V. Guimarães venceu no Dragão! Pensem, muito a sério, é nos motivos de o nosso futebol de clubes ir descendo no ranking - confrangedores/sucessivos fracassos de quase todos -, ao ponto de o vice-campeão já estar sujeito a 2 eliminatórias para entrar na Champions.
Quanto ao dérbi, alguns comentários:
1 - Empate com sabor sportinguista a triunfo teve forte base na lucidez estratégia de José Peseiro. Desde logo: apostando em mudar Acuña do seu habitual flanco para médio central ao lado de Battaglia, ali ergueu duríssima muralha argentina. Eles foram fulcro do êxito defensivo - forte bloco imediatamente à frente de eficaz dupla Coates - André Pinto, este aproveitando muito quente oportunidade -, a par de Salin, o tal, não contratado agora, que estaria farto de ficar na sombra do incontestável Rui Patrício e até ia ser dispensado... Também muito bem Nani (um senhor, tacticamente) e... Montero - inteligente e ágil na busca de espaços, com bom controlo de bola, bem acima do que Bas Dost, creio, poderia fazer neste Sporting com escassa capacidade de contra-ataque, até porque Bruno Fernandes, quiça demasiado à frente para tentar travar início de construção benfiquista, não foi o habitual maestro de ligação entre médios e avançados.
2 -Benfica atacou imenso (Odysseas quase espectador). Só que, ora por ineficácia, ora pelas defesas de Salin, esteve a pouquíssimos minutos de ser derrotado! Muito interessante pormaior num duelo de méritos. O do Benfica: nos últimos jogos, vinha diminuindo sistemáticos cruzamentos por alto para a grande-área (rebuçados aos defesas, pois, com excepção de Jardel e Rúben, quando lá vão nos cantos ou em faltas próximo da grande-área - às vezes, também de Salvio, ausente no dérbi -, nenhum benfiquista ganha uma bola em cabeçada!); o Benfica passara a preferir cruzamentos rasteiros e para trás, visando entrada dos médios. Mérito do Sporting: Peseiro decerto detectou isso e a tal muralha argentina, Battaglia-Acuña, esteve muitíssimo atenta, antecipando-se nos espaços para Pizzi e Gedson rematarem.
João Félix, 18 aninhos, talento às carradas. Quanto a mim, colocá-lo a ponta de lança, em vez de Ferreyra - como li e ouvi - seria queimá-lo. É 2.º ponta de lança, ou, como jogava nos juniores e nos B, partindo da esquerda para surgir na grande-área. Lembro: para o seu golaço de cabeça, entrou nas costas de Seferovic, estando os defesas centrais absolutamente concentrados no suíço... Sem presença de puro ponta de lança, muito dificilmente haveria aquele golaço. Dito isto, passo a frisar: nem Cervi, nem Rafa, nem Zivkovic marcariam como João Félix marcou; nenhum deles possui o poder de impulsão e a técnica de cabeceamento que o menino exibiu. E isso, limitando capacidade aérea, e atlética, na grande área a um Ferreyra ainda tão frouxo, tem sido problemão benfiquista..."

Santos Neves, in A Bola

A vitória de Rui Vitória

"A distância entre o sucesso e o insucesso mede-se muitas vezes pela sorte e pelo mérito. Na última jornada da Liga 2017/2018 o Sporting tinha tudo na mão para segurar o segundo lugar e a consequente participação em duas pré-eliminatórias de acesso à fase de grupos da Liga dos Campeões, mas a derrota na Madeira frente ao Marítimo (1-2) e o triunfo encarnado em casa frente ao Moreirense (1-0, golo de Jonas) alterou a ordem das coisas. Tivessem as águias terminado em terceiro e provavelmente não teriam passado por um verão tão calmo, pois à imagem de insucesso ficou colada a Rui Vitória - perda do penta e pior participação de sempre na Liga dos Campeões. A sorte teve aqui um papel relevante.
Mas a tranquilidade e o tempo que os encarnados tiveram para preparar a nova época não foram sinónimo de uma equipa em alta no final de Agosto, a nível de soluções para cada posição. Basta analisar o onze que começou o encontro decisivo de ontem em Salónica: só um dos nove reforços foi titular (o guarda-redes, Vlachodimos); o meio-campo teve um jovem da formação (Gedson) e no ataque esteve a quarta opção para o lugar de ponta de lança (Seferovic), após a permanência de Jonas e as aquisições de Castillo e Facundo Ferreyra.
O mérito da passagem à fase de grupos da Champions e a consequente entrada de €43 milhões nos cofres da Luz é, pois, de Rui Vitória: numa equipa na qual os pontas de lança não estão a fazer praticamente a diferença, seja por ausência (Jonas e Castillo, lesionados) ou por inacção (Ferreyra), o técnico encontrou soluções alternativas. Como diz o povo: caçou com gato.
Surgirá agora oportunidade para o Benfica se redimir da mancha que foi a Champions de 2017/2018. A boa notícia é esta: só pode ser melhor. Porque pior é impossível."

Fernando Urbano, in A Bola

O belo esplendor da inteligência

"Tão incontestável, que se torna difícil explicar o jogo da Luz. Não adianta o regresso à parte. Importa o todo e, aí, o Benfica foi implacável no mérito de conseguir superar a dupla barreira que o separava não apenas dos milhões, que certamente muito jeito farão às finanças benfiquistas, mas no prestígio internacional que a História do clube contempla e exige.
Nem tudo é mau no futebol português, FC Porto e Benfica na fase de grupos da Champions iluminaram o momento presente dos clubes nacionais. Veremos o que o futuro reserva, mas, para já, é justo que se enalteça o esforço, a competência, a qualidade, o esforço do futebol do Benfica.
Haverá, eventualmente, uma factura a pagar no futuro, mas é admissível. Neste caso concreto, o objectivo imediato colocava-se como uma prioridade e foi amplamente conseguido. Portanto, este é tempo de elogio e não de inquietação pela dúvida. A vitória do Benfica, em Salónica, talvez com a sorte que não teve na Luz, talvez com a experiência internacional que o seu adversário não tem, talvez com a subtileza de uma inovação e de uma aposta técnica que Rui Vitória, por vezes, não arrisca, teve tanto de esplendorosa como de inteligente.
A análise fria ao jogo pode levar-nos a razões objectivas, como a dos erros mais ou menos clamorosos de um adversário que se matou com o seu próprio veneno. Porém, numa realidade competitiva em que o que está em causa é a qualificação essencial, o resultado gordo surgirá, sempre, como um factor de complemento. A verdade é que, indiscutivelmente, o Benfica foi melhor e provou merecer estar entre os melhores. Assim continue."

Vítor Serpa, in A Bola

Alvorada... do Guerra

Benfica: maior foco, milhões em caixa e alguns sinais para a maratona

"Encarnados qualificaram-se com mérito para a fase de grupos da Liga dos Campeões.

Primeiro objectivo cumprido.
O Benfica chega à Liga dos Campeões por uma estrada com nível de dificuldade respeitável, tendo em conta historicamente a exigência que é jogar na Turquia e na Grécia.
Chega à prova milionária com a consciência de que foi superior a Fenerbahçe e PAOK – já o era em teoria –, e de forma mais evidente nos últimos dois jogos, olhando para a qualidade do jogo jogado e porque houve parte do plano com os turcos e gregos – no primeiro caso em termos exibicionais, no segundo no resultado – que não foi cumprido na Luz.
A equipa de Rui Vitória fez por qualificar-se e qualificou-se.
Era o mínimo exigido para o arranque da época, a primeira final que teria de ser ganha. Com isso, recebe o valor comparável ao de uma excelente venda no mercado de transferências, cerca de 43 milhões, e tem a perspectiva de continuar a acumular. Para que o encher dos cofres seja uma realidade já não bastará ser competente, necessitará também de alguma felicidade num sorteio que poderá ser madrasto.
A qualificação é o resultado de um maior foco no início de temporada, algo que não se verificou na anterior. Maior foco não só em campo, mas também fora dele, com a composição de um plantel bem mais equilibrado e com bem mais soluções, sem aparentes precipitações de fim de mercado.
É verdade que o ataque parece muito condicionado com a lesão de Jonas (somada à de Castillo) e o pouco ainda mostrado por Ferreyra – que não é um problema apenas individual, envolvendo também o colectivo e a filosofia de jogo da equipa –, mas apenas a estrutura encarnada terá todos os argumentos para saber se um sector ainda fragilizado ou perto de se recompor.
Rui Vitória, ao contrário de anos anteriores, também parece ter estabilizado no 4x3x3 e um onze-base. Vlachodimos tem dado garantias na baliza e poderá ainda crescer mais, em presença e influência. A defesa mantém-se da época passada, tem mais soluções no meio e poderá ter também dentro de semanas do lado direito, com a recuperação do lesionado Corchia. Gedson é, neste momento, o elemento mais fiável no meio-campo, juntando-se à amplitude defensiva de Fejsa e à criatividade de Pizzi, e há Zivkovic, Krovinovic e Gabriel à espreita. A dupla Grimaldo-Cervi promete dinâmica reincidente – tendo tido o seu maior expoente precisamente em Salónica naquele terceiro golo. Salvio continua a ter números que o tornam diferente dos demais.
O ataque, voltando atrás, será a única ponta solta, se Jonas não voltar a ser Jonas tão cedo, ou Ferreyra não o fizer esquecer.
Não há dúvida de que o foco colocou os encarnados num bom patamar no início da época, embora tenha devido a si próprio aqui e ali um ou outro resultado ou exibição. É um bom sinal no início da... maratona."

Milhões e o futuro

"O Benfica conquistou o acesso à Liga dos Campeões com uma vitória tão justa quanto inequívoca em Salónica. Encaixados os 43 milhões e garantida a presença na prova desportiva mais importante da Europa, o clube da Luz pode respirar de alívio pois conseguiu um dos objectivos da época. É um facto estruturante para o emblema em termos financeiros mas também desportivos, pois não só a pressão sobre Rui Vitória diminui substancialmente, como o plantel está hoje mais descansado e feliz por ter chegado ali.
Deixada para trás das costas esta aventura europeia, que chegou a assustar, mais por incompetência em Lisboa do que por real perigo causado pelo PAOK, o Benfica tem de concentrar-se no mercado até ao final do dia de amanhã. Depois na liga nacional, onde tem o plantel mais rico e para a qual Luís Filipe Vieira aponta todas as baterias, garantidos que estão estes 43 milhões de euros.
Ferreyra é hoje um jogador colocado em causa pelos adeptos do Benfica e, pelos vistos, também pelo treinador. Forte investimento em salários e prémios de assinatura, esperava-se mais do goleador argentino. É cedo, demasiado cedo, para lhe traçar o destino. Veja-se o recuperado Seferovic. O futebol são momentos. E Ferreyra tem ainda muito tempo para ter o seu. A época é longa."

Vitória para Vitória

"O pilar de todos os objectivos da época no Benfica está construído. A entrada na fase de grupos da Liga dos Campeões é estruturante. O custo com massa salarial fica quase coberto com a verba obtida no jogo de ontem. A vitória foi categórica. O Benfica acertou na baliza e assim a equipa mais poderosa esmagou a mais fraca. Percebe-se a reacção de Rui Vitória no pós-jogo, pela imensa pressão a que estava sujeito. Uns ficam eufóricos quando ultrapassam as fasquias de pressão com bons resultados, outros preferem ajustar contas com o passado e mandar recados para o futuro. Rui Vitória optou pelo ajuste de contas. Adeptos e comentadores talvez preferissem um discurso mais distendido. Mas o treinador do Benfica tem um grupo de jogadores ambiciosos para gerir e está a dois dias do fecho do mercado. Para jogadores e dirigentes do Benfica, nesta conjuntura, o discurso agressivo de Rui Vitória foi certeiramente eficaz.
O outro representante de Portugal na corrida aos milhões da UEFA está a passar uma fase atípica. Os jogadores verificaram que nesta segunda época Sérgio Conceição já não é rei e senhor das decisões técnicas? Facto é que a equipa está mais fraca enquanto equipa. Os movimentos de pressão não estão uniformes. O meio-campo suspira por um prumo como Danilo. Brahimi continua com momentos de génio, mas está a entrar numa zona de conforto pessoal que o leva a defender ainda pior. Se os craques perdem o respeito ao técnico, no cumprimento das missões de sacrifício, as vitórias fogem com enorme facilidade.
Ainda no plano dos líderes técnicos, falemos de José Mourinho: um dos maiores treinadores de sempre está a deixar a sua estrela empalidecer num dos maiores clubes do Mundo. O Manchester United deixou-se adormecer nas épocas finais do longo reinado de Alex Ferguson. Nem Mourinho está a conseguir devolver a eficácia ao clube, nem a agremiação está a contribuir para a boa imagem do técnico. Se não houver uma rápida inversão da tendência, Mourinho vai sair com mais uns milhões na conta bancária, mas com sérios danos no prestígio. E recordar vitórias passadas não é a melhor maneira de lidar com um problema presente.
Arrepiante o áudio de um indivíduo da lista de Varandas, que estava apontado a um relevante cargo na estrutura do Sporting. Pessoas que falam e pensam assim podem chegar a dirigentes de instituições com a grandeza do Sporting? Interroguei-me. Mas logo recordei um vice-presidente recente, Pereira Cristóvão, para estabelecer que o pesadelo não começou com Bruno de Carvalho. E, pelo exemplo junto, pode não acabar a 8 de Setembro."

Futebol como deve ser

"Não há melhor lugar para assistir a um jogo de futebol do que o Allianz Arena. Uma nave espacial acabada de pousar à saída da Autobahn A9, a norte de Munique.
Este ano a Bundesliga voltou de férias com o actual campeão Bayern a receber o ex-campeão Hoffenheim e houve emoção e incerteza até ao fim, lá como cá, até deu para discutir o VAR, 4 golos, e os adeptos voltaram para casa satisfeitos.
Num país onde a selecção nacional mobiliza mais os fãs do que qualquer clube, esta temporada, na ressaca da saída precoce da Alemanha do Mundial na Rússia, a fome de bola acompanhada a bratwurst e regada a cerveja é ainda maior.
Venham daí os estádios lotados da Bundesliga!
Desde a "lição de Sérgio Conceição" com o fabuloso hat-trick a Oliver Kahn no Euro 2000, o futebol alemão deu uma reviravolta impressionante, com academias em todo o lado demonstrando ao resto do mundo como se forma em qualidade e quantidade.
Pode não ter o dinheiro da Premier League ou dos dois grandes da Espanha, mas a Bundesliga representa uma máquina mais enxuta e transparente, sustentável e autónoma, bem ciente das suas consideráveis forças e da congénita fragilidade de estar sediada num país pouco "sexy" com uma língua "de guerra" que mais afugenta do que atrai o ouvido posto no relato.
Este mês, em Frankfurt, foi realizada uma reunião de cúpula envolvendo todos os grandes stakeholders do futebol alemão. Não foi um encontro discreto, bem pleno contrário. ostensivamente o futebol alemão quis passar uma mensagem também para fora do seu próprio país. A reunião era para debater o desastre do Campeonato do Mundo, mas também para reflectir sobre a realpolitik da actual configuração da Europa do futebol.
Os clubes ingleses foram buscar scouts à Alemanha e, finalmente, começam a gastar dinheiro com sabedoria depois de anos de desperdício, enquanto que o Real Madrid, o Barcelona e o Atlético, permanecem no topo da cadeia alimentar das competições europeias. A Série A, que estava já claramente atrás da Bundesliga, teve o seu golpe de asa com a contratação de Cristiano Ronaldo pela Juventus, e a fabuloso Napoli da temporada passada avivou velhas paixões e fez com que muitos voltassem a acompanhar o Calcio com renovado interesse. Em França não bastava ao Paris Saint-Germain atrair estrelas como Neymar e Cavani, e agora até é treinado pelo alemão bem amado: Thomas Tuchel.
De facto, só o Bayern tem feito figura, consistentemente, nas competições europeias. Mas quando foi o seu último titulo europeu? Mas, claro está, o Bayern é um caso à parte, absolutamente atípico da restante Bundesliga. Eles podem dar-se ao luxo de gastar sempre mais do que seus rivais domésticos, e isso quando não se aproveitam como habitualmente da formação e recrutamento destes. O último caso: Leon Goretzka do Schalke 04.
Que o Bayern ganhou o Meisterschale nas últimas seis temporadas toda a gente sabe. Tornou-se fácil criticar a liga alemã nessa base. Não importa que o padrão competitivo permaneça mais elevado do que o de qualquer outra liga Europeia com uma imensa incerteza no resultado proveniente do grande equilíbrio entre as equipas. E depois temos as histórias dos inúmeros dérbis regionais e clássicos históricos em torno dos vários clubes. Mas podemos aceitar que a Bundesliga está implorar por um novo campeão. Pode bem ser esta temporada.
Acredito que este ano as diferenças sejam mais reduzidas e existe uma real possibilidade do Dortmund, Schalke, Leverkusen ou Leipzig acabarem o liga no lugar cimeiro. Talvez seja necessário que todos contribuam para que tal seja possível, e talvez este ano os restantes clubes da Bundesliga não partam para a competição com o já habitual handicap de 6 pontos relativo aos 2 jogos que vão disputar com o super campeão de Munique.
O Bayern, em vez de limpar balneário de algumas das suas "Divas", e aproveitar para refrescar esta geração, está em grande parte atado a um plantel multi-titulado cada vez mais difícil de motivar. O "tigre" Arturo Vidal partiu para o Barcelona enquanto que os trintões Robbery e Arjen Robben assinaram renovações de contrato. Robert Lewandowski, que queria uma mudança em Abril, agora sente-se de novo amado €€€ e a hipótese de sair parece menos "Real".
Pessoalmente concordo com as apostas que o Bayer Leverkusen fez, adquirindo o entusiasmante Paulinho e o ex-Frankfurt Lukas Hradecky para a baliza. Este inicia a época lesionado, mas talvez seja ainda melhor do que Bernd Leno (Arsenal). E ainda há os jovens há vários anos no plantel "a apurar", como: Leon Bailey; Julian Brandt; ou o brilhante Kai Havertz. Não me surpreenderá se a equipa de Heiko Herrlich terminar a época em 2º lugar a pisar os calcanhares ao Bayern.
O Borussia Dortmund precisava de uma mudança radical e esta chegou: um novo treinador, o inovador Lucien Favre. Também são boas notícias o retorno ao clube de Matthias Sammer como consultor externo, e uma série de novas contratações: Abdou Diallo, Axel Witsel, Thomas Delaney e Marius Wolf (todos com muita qualidade). O internacional norte-americano Christian Pulisic continua a ser um dos talentos mais atraentes do futebol europeu e Marwin Hitz pode muito bem superar o colega Roman Burki na baliza.
O Schalke terminou acima de seus rivais do Ruhr na última temporada e estão a jogar um futebol seguro e eficaz. O seu treinador Domenico Tedesco, jovem e anteriormente pouco conhecido, mereceu todos os aplausos, mostrando uma compreensão dos seus jogadores que escapou aos seus antecessores. Tendo arrecadado 45 milhões de euros do PSG com a transferência de Thilo Kehrer, o Schalke tentou melhorar o equilíbrio do plantel. Omar Mascarell, anteriormente em Frankfurt, emprestado pelo Real Madrid, pode bem ser a peça-chave do esquema montado pelo director desportivo, Christian Heidel.
O Leipzig, começou a ganhar em Dortmund mas saiu goleado. Mesmo assim é um projecto inegavelmente fascinante para quem acompanha a liga de fora. Ralf Rangnick, o homem no coração do conceito desportivo no clube, preenche o lugar de treinador enquanto aguardam a chegada de Julian Nagelsmann, do Hoffenheim, uma vez que o contrato deste só acaba no próximo verão. Este sentido de provisoriedade, um calendário interno com um início difícil, e as exigências da qualificação da Liga Europa, não auguram nada de bom para o clube da Red Bull, mas caso passem este cabo das tormentas... cuidado com eles!
Há desafios para todos os gostos.
Sinceramente não sei o que a Bundesliga necessita fazer para ser percepcionada de forma ainda mais atraente, mas de uma coisa tenho a certeza, como experiência de estádio, semana após semana, e por todo o país, é a liga mais fantástica da Europa. E digo-o eu por experiência própria.
Nunca será uma liga com os 10 jogos da jornada em 10 horários diferentes como acontece no futebol espanhol, de onde se sai de estádios à meia noite de Domingo... Tão pouco farão jogos nos EUA ou em qualquer outro lugar que não na Alemanha.
Da mesma forma que, por enquanto, não haverá um fim para a "regra 50 + 1" que impede as aquisições dos clubes por xeques ou oligarcas ricos que julgam que a glória se compra com ou punhado de notas. Jamais seria possível na Alemanha um histórico como o Belenenses jogar noutro estádio que não o seu, e muito menos num estádio com a simbologia do Estádio Nacional.
"Futebol como deve ser" este é o slogan internacional da Bundesliga. Tudo é cíclico e previsível menos os resultados.
Se os clubes conseguirem manter um pensamento colectivo como tem aconteceu até aqui, como aconteceu há quase 20 anos, o futuro do futebol alemão pode voltar a brilhar, mantendo-se organicamente... alemão!"