"Não há melhor lugar para assistir a um jogo de futebol do que o Allianz Arena. Uma nave espacial acabada de pousar à saída da Autobahn A9, a norte de Munique.
Este ano a Bundesliga voltou de férias com o actual campeão Bayern a receber o ex-campeão Hoffenheim e houve emoção e incerteza até ao fim, lá como cá, até deu para discutir o VAR, 4 golos, e os adeptos voltaram para casa satisfeitos.
Num país onde a selecção nacional mobiliza mais os fãs do que qualquer clube, esta temporada, na ressaca da saída precoce da Alemanha do Mundial na Rússia, a fome de bola acompanhada a bratwurst e regada a cerveja é ainda maior.
Venham daí os estádios lotados da Bundesliga!
Desde a "lição de Sérgio Conceição" com o fabuloso hat-trick a Oliver Kahn no Euro 2000, o futebol alemão deu uma reviravolta impressionante, com academias em todo o lado demonstrando ao resto do mundo como se forma em qualidade e quantidade.
Pode não ter o dinheiro da Premier League ou dos dois grandes da Espanha, mas a Bundesliga representa uma máquina mais enxuta e transparente, sustentável e autónoma, bem ciente das suas consideráveis forças e da congénita fragilidade de estar sediada num país pouco "sexy" com uma língua "de guerra" que mais afugenta do que atrai o ouvido posto no relato.
Este mês, em Frankfurt, foi realizada uma reunião de cúpula envolvendo todos os grandes stakeholders do futebol alemão. Não foi um encontro discreto, bem pleno contrário. ostensivamente o futebol alemão quis passar uma mensagem também para fora do seu próprio país. A reunião era para debater o desastre do Campeonato do Mundo, mas também para reflectir sobre a realpolitik da actual configuração da Europa do futebol.
Os clubes ingleses foram buscar scouts à Alemanha e, finalmente, começam a gastar dinheiro com sabedoria depois de anos de desperdício, enquanto que o Real Madrid, o Barcelona e o Atlético, permanecem no topo da cadeia alimentar das competições europeias. A Série A, que estava já claramente atrás da Bundesliga, teve o seu golpe de asa com a contratação de Cristiano Ronaldo pela Juventus, e a fabuloso Napoli da temporada passada avivou velhas paixões e fez com que muitos voltassem a acompanhar o Calcio com renovado interesse. Em França não bastava ao Paris Saint-Germain atrair estrelas como Neymar e Cavani, e agora até é treinado pelo alemão bem amado: Thomas Tuchel.
De facto, só o Bayern tem feito figura, consistentemente, nas competições europeias. Mas quando foi o seu último titulo europeu? Mas, claro está, o Bayern é um caso à parte, absolutamente atípico da restante Bundesliga. Eles podem dar-se ao luxo de gastar sempre mais do que seus rivais domésticos, e isso quando não se aproveitam como habitualmente da formação e recrutamento destes. O último caso: Leon Goretzka do Schalke 04.
Que o Bayern ganhou o Meisterschale nas últimas seis temporadas toda a gente sabe. Tornou-se fácil criticar a liga alemã nessa base. Não importa que o padrão competitivo permaneça mais elevado do que o de qualquer outra liga Europeia com uma imensa incerteza no resultado proveniente do grande equilíbrio entre as equipas. E depois temos as histórias dos inúmeros dérbis regionais e clássicos históricos em torno dos vários clubes. Mas podemos aceitar que a Bundesliga está implorar por um novo campeão. Pode bem ser esta temporada.
Acredito que este ano as diferenças sejam mais reduzidas e existe uma real possibilidade do Dortmund, Schalke, Leverkusen ou Leipzig acabarem o liga no lugar cimeiro. Talvez seja necessário que todos contribuam para que tal seja possível, e talvez este ano os restantes clubes da Bundesliga não partam para a competição com o já habitual handicap de 6 pontos relativo aos 2 jogos que vão disputar com o super campeão de Munique.
O Bayern, em vez de limpar balneário de algumas das suas "Divas", e aproveitar para refrescar esta geração, está em grande parte atado a um plantel multi-titulado cada vez mais difícil de motivar. O "tigre" Arturo Vidal partiu para o Barcelona enquanto que os trintões Robbery e Arjen Robben assinaram renovações de contrato. Robert Lewandowski, que queria uma mudança em Abril, agora sente-se de novo amado €€€ e a hipótese de sair parece menos "Real".
Pessoalmente concordo com as apostas que o Bayer Leverkusen fez, adquirindo o entusiasmante Paulinho e o ex-Frankfurt Lukas Hradecky para a baliza. Este inicia a época lesionado, mas talvez seja ainda melhor do que Bernd Leno (Arsenal). E ainda há os jovens há vários anos no plantel "a apurar", como: Leon Bailey; Julian Brandt; ou o brilhante Kai Havertz. Não me surpreenderá se a equipa de Heiko Herrlich terminar a época em 2º lugar a pisar os calcanhares ao Bayern.
O Borussia Dortmund precisava de uma mudança radical e esta chegou: um novo treinador, o inovador Lucien Favre. Também são boas notícias o retorno ao clube de Matthias Sammer como consultor externo, e uma série de novas contratações: Abdou Diallo, Axel Witsel, Thomas Delaney e Marius Wolf (todos com muita qualidade). O internacional norte-americano Christian Pulisic continua a ser um dos talentos mais atraentes do futebol europeu e Marwin Hitz pode muito bem superar o colega Roman Burki na baliza.
O Schalke terminou acima de seus rivais do Ruhr na última temporada e estão a jogar um futebol seguro e eficaz. O seu treinador Domenico Tedesco, jovem e anteriormente pouco conhecido, mereceu todos os aplausos, mostrando uma compreensão dos seus jogadores que escapou aos seus antecessores. Tendo arrecadado 45 milhões de euros do PSG com a transferência de Thilo Kehrer, o Schalke tentou melhorar o equilíbrio do plantel. Omar Mascarell, anteriormente em Frankfurt, emprestado pelo Real Madrid, pode bem ser a peça-chave do esquema montado pelo director desportivo, Christian Heidel.
O Leipzig, começou a ganhar em Dortmund mas saiu goleado. Mesmo assim é um projecto inegavelmente fascinante para quem acompanha a liga de fora. Ralf Rangnick, o homem no coração do conceito desportivo no clube, preenche o lugar de treinador enquanto aguardam a chegada de Julian Nagelsmann, do Hoffenheim, uma vez que o contrato deste só acaba no próximo verão. Este sentido de provisoriedade, um calendário interno com um início difícil, e as exigências da qualificação da Liga Europa, não auguram nada de bom para o clube da Red Bull, mas caso passem este cabo das tormentas... cuidado com eles!
Há desafios para todos os gostos.
Sinceramente não sei o que a Bundesliga necessita fazer para ser percepcionada de forma ainda mais atraente, mas de uma coisa tenho a certeza, como experiência de estádio, semana após semana, e por todo o país, é a liga mais fantástica da Europa. E digo-o eu por experiência própria.
Nunca será uma liga com os 10 jogos da jornada em 10 horários diferentes como acontece no futebol espanhol, de onde se sai de estádios à meia noite de Domingo... Tão pouco farão jogos nos EUA ou em qualquer outro lugar que não na Alemanha.
Da mesma forma que, por enquanto, não haverá um fim para a "regra 50 + 1" que impede as aquisições dos clubes por xeques ou oligarcas ricos que julgam que a glória se compra com ou punhado de notas. Jamais seria possível na Alemanha um histórico como o Belenenses jogar noutro estádio que não o seu, e muito menos num estádio com a simbologia do Estádio Nacional.
"Futebol como deve ser" este é o slogan internacional da Bundesliga. Tudo é cíclico e previsível menos os resultados.
Se os clubes conseguirem manter um pensamento colectivo como tem aconteceu até aqui, como aconteceu há quase 20 anos, o futuro do futebol alemão pode voltar a brilhar, mantendo-se organicamente... alemão!"
Sem comentários:
Enviar um comentário
A opinião de um glorioso indefectível é sempre muito bem vinda.
Junte a sua voz à nossa. Pelo Benfica! Sempre!