"Nós, os da bancada, servimos para viver o Clube, para sofrer e rir, para nos irmanarmos apenas no momento do festejo do golo. Servimos para comprar o bilhete, aplaudir, gritar pela equipa, acompanhar o Clube e sermos o próprio Benfica.
Nós, os da bancada, raramente estamos de acordo. Discutimos entre nós, ofendemo-nos e defendemo-nos, tentando defender o que consideramos ser o melhor para o Benfica. Nós, os da bancada, por vezes até acenamos lenços brancos, os mesmos que, enquanto são acenados, enxugam lágrimas feitas de mágoa. Nós, os da bancada, não percebemos nada de futebol. Perdão, nós, os bancada, não percebemos nada de futebol sem paixão. Não sabemos como potenciar um jogador (agora chamam-lhe activo) e não sabemos como tornar dinâmico um conceito táctico que se traduz em números estáticos. Para nós, os da bancada, um 4x3x3 e um 4x2x3x1 ou um 4x4x2 são processos que sabemos ler, mas não sabemos implementar. Nós, os da bancada, ouvimos “basculação” e “transição ofensiva”, “pressão alta” ou “jogar entre linhas” como chavões que os entendidos dominam para nos mostrar que nós, os da bancada, nada dominamos da arte de bem interpretar o texto de um jogo. Nós, os da bancada, não sabemos como transformar o sofrível em bom, não sabemos como fazer melhor do que os profissionais do futebol, nem sabemos como os profissionais do futebol conseguem fazer tão bem aquilo que nos parece tão bem feito.
No entanto, nós, os da bancada, sabemos quando algo não está bem. E nós, os da bancada, que nada sabemos de futebol, sabemos que nem tudo está bem no equilíbrio do nosso plantel ao nível das alas defensivas. Nem sempre, mas ouvir a voz preocupada dos leigos das bancadas, por vezes, não faz mal."
Pedro F. Ferreira, in O Benfica