"Mourinho guardou bem o segredo do futuro em Inglaterra, mas, neste tempo de suspeitas, é de desconfiar que tenha revelado o segredo a Luís Filipe Vieira em boa hora.
LUDWIG VAN BEETHOVEN morreu sem terminar a sua 10.ª sinfonia. O mesmo voltou a acontecer na noite desta última terça-feira ao Real Madrid que morreu nas meias-finais daquela que seria a sua 10.ª Liga dos Campeões. É a velha maldição da décima sinfonia.
José Mourinho, o maestro, conduzirá certamente ao longo da sua carreira muitas outras orquestras que, mais ano menos ano, o levarão até à sua terceira Liga dos Campeões. Por isso nem perdeu tempo com minudências.
Assim que o jogo com o Borrusia de Dormund terminou, o treinador português apressou-se a informar os jornalistas espanhóis que lhe têm ódio de que, a partir da próxima temporada, vão ter de se dar ao trabalho de passar a odiar outro treinador de uma qualquer outra nacionalidade, porque ele, José Mourinho, conta estar bem longe daqueles ambientes infetos de Chamartín.
Mourinho é um mestre nestas coisas das palavras ditas a tempo e a horas. Não vai ganhar a 10.ª Liga dos Campeões do Real Madrid, o valioso troféu com que ambicionava esfregar o focinho de todos os seus detractores, portanto melhor foi avisá-los logo, ainda a quente, de que não perdessem tempo a discutir a sua continuidade em Madrid.
Anteontem, na dita conferência de imprensa que se sucedeu ao Real Madrid-Borussia de Dortmund, ninguém ouviu José Mourinho anunciar que o próximo passo da sua caminhada profissional seria o Chelsea. Mas não houve quem não depreendesse exactamente isso.
Mourinho irá regressar a Stamford Bridge e, ontem mesmo, a imprensa adiantava que Roman Abrahmovich iria disponibilizar uma verba de 118 milhões de euros para o português fazer deles o que muito bem entender no sentido de recolocar o Chelsea a lutar pelo título inglês.
O problema do Chelsea é interno. Fora de portas não há nada a apontar aos blues. São os campeões europeus em título e, este ano, são os grandes favoritos para o triunfo na Liga Europa, competição em que estão praticamente apurados para a final depois da vitória em Basileia.
Na temporada passada os de Londres foram campeões europeus com o italiano Roberto Di Matteo e na corrente temporada correm sérios riscos de vencer a tal Liga Europa sob o comando do espanhol Rafa Benítez. E o que é isso interessa? É Mourinho quem o dono e os adeptos do Chelsea querem ver sentado no banco para reatar a velha relação interrompida com alguma aspereza mútua, longe dos modos que se esperariam entre um magnata russo e um treinador português.
Redobrados motivos de interesse para nós portugueses terá, assim, o campeonato de Inglaterra a partir de 2013/2014. E quem quiser ver jogar o Chelsea de Mourinho terá de ser assinante da Benfica TV porque o Benfica já há muitos que adquirir em exclusividade os direitos de transmissão dos jogos da Premier League.
Perante os jornalistas espanhóis, a afícion do Madrid e a vasta comunidade internacional que lhe segue todos os passos, Mourinho guardou bem guardado o segredo do seu futuro em Inglaterra mas, neste tempo de suspeitas, é de desconfiar que Mourinho tenha revelado o segredo em boa hora a Luís Filipe Vieira.
E o presidente do Benfica, rápido e hábil negociante, não perdeu tempo. Avançou com a proposta da Benfica TV e fez o negócio que, à luz dos recentes acontecimentos, aparenta ser cada vez melhor.
No ramo do audiovisual estamos em grande, está visto.
Isto leva a supor que José Mourinho, tal como Jô Soares se revelou um grande benfiquista ao levar Deco e Casagrande ao ser show da TV Globo para se espraiarem em considerações pouco abonatórias do FC Porto, é também ele, o tal Mourinho, um grande benfiquista disposto a tudo para que o Benfica seja levado ao colo até ao título e levado em ombros no seu combate de morte com a Sport TV.
Disposto até a perder a 10.ª do Madrid para poder ir para o Chelsea ser feliz à vontade e aumentar exponencialmente o número de assinantes da Benfica TV.
E com 118 milhões de euros para poder ir às compras até é de prever que José Mourinho ainda venha a prestar mais uns bons serviços ao Benfica. O recente aumento da cláusula de rescisão de Matic para 50 milhões de euros é disso um sinal. Na Luz ninguém anda a dormir. Isto está tudo ligado.
O espírito das esposas de Viseu desceu sobre os nossos adversários opinion makers. Vai a coisa em inglês em homenagem ao regresso do Mourinho ao Chelsea e aos jogos da Premier League na Benfica TV...
Tal como as esposas de Viseu, os nossos adversários agora tiram matrículas. Tiram matrículas a tudo o que mexe. Depois, muito aborrecidos, atiram com as matrículas ao ar à espera de ouvir o barulho que fazem quando batem no chão. Que bom vê-los assim.
HOJE o Benfica jogo com o Fenerbahçe a segunda mão da meia-final da Liga Europa e, para estar na final, tem de dar a volta a um resultado de 0-1. Não há impossíveis em futebol.
Há 23 anos que o Benfica não vai a uma final europeia e um sucesso nesta noite frente aos turcos seria justamente celebrado pelos adeptos.
Celebrado por todos os adeptos, o que se justifica na plenitude. Celebrado pelos muitos mais velhos que viram o Benfica ganhar finais europeias, pelos simplesmente mais velhos que só viram o Benfica perder finais europeias e pelos mais novos que nunca viram o Benfica jogar uma final europeia.
É verdade que sim. Seria uma festa e mais um motivo de orgulho numa temporada de excelente nível que ainda não terminou e em que o Benfica ainda não ganhou nada, o que convém sempre recordar aos mais efusiantes.
O Fenerbahçe é um adversário muito combativo, como se viu em Istambul na semana passada, que vem a Lisboa desfalcado de alguns dos seus melhores jogadores mas altamente motivado para fazer a sua própria História no tapete da Luz.
O Benfica que comparecerá perante o Fenerbahçe é um mistério. Pode ser que apareça o Benfica avassalador da segunda parte do último jogo do Funchal. Mas também pode aparecer o Benfica tímido dos primeiros 35 minutos do jogo com o Sporting. Ou, pior ainda, o Benfica incapaz de trocar a bola entre si como o que apareceu durante quase todo o jogo de Istambul.
Isto porque, nesta altura do campeonato, aspirar à comparência de um Benfica quase perfeito, como foi, por exemplo, nos dois jogos com o Bayer Leverkusen, é abusar da sorte.
Pois abusemos sem dó nem piedade. Boa sorte para logo, benfiquistas.
Embora, com toda a franqueza, me dê mais que pensar o jogo com o grande Estoril-Praia para o campeonato na próxima segunda-feira do que o jogo com os turcos a contar para a aventura europeia.
Prioridades. Feitios.
Que ninguém se lesione. Isso é que é mesmo muito importante.
CERTAMENTE por cansaço de ver tirar tanta matrícula e embalado pela boa vitória no Funchal, resolveu o Benfica vir oficialmente a terreiro tirar a matrícula aos cinco penalties que terão ficado por marcar contra o FC Porto nesta Liga e, como se ão bastasse, para tirar a difícil, quase mirabolante, matrícula aos zero penalties assinalados esta época contra o FC Porto. Para quê? Para sermos iguais aos outros em pequenez."
Leonor Pinhão, in A Bola