"Expostos os segredos da maçonaria e da Olivedesportos - grandes novidades... -, só resta descobrir o mistério impressionista da pintura da relva em Alvalade
NA Marinha Grande, o Benfica cumpriu a sua obrigação. Ganhou o jogo com uma exibição tão expressiva quanto o resultado e, beneficiando do empate no clássico, isolou-se no comando da Liga com dois pontos de avanço sobre o seu agora perseguidor, FC Porto.
Sem dúvida que é uma situação agradável para o Benfica e para os benfiquistas. Aquela expressão consagrada e popular, 'olho para o lado e não vejo ninguém', tem tido grande saída nestes primeiros dias da semana.
Calma aí, são apenas dois pontinhos. E dois pontinhos em janeiro não é a mesma coisa do que dois pontinhos em maio, como todos saberemos. E falta muito para maio. O bom senso e o decoro aconselham a pôr a fanfarronice de lado.
Foi por fanfarronice que o Benfica se espalhou ao comprido na última temporada.
Entretanto alguma coisa se há de ter aprendido.
VÍTOR PEREIRA tem razão. O clássico foi um jogo intenso mas não foi bem jogado. Terá tido até alguns momentos de casados e solteiros com charutadas, bolas à toa e outros instantes pouco ortodoxos. Mas houve emoção porque o resultado esteve incerto até ao final e de tão incerto deixou-se ficar como estava no princípio do jogo, empatado sem golos.
De um lado e de outro houve grossas críticas à arbitragem de Pedro Proença. Tendo em conta de que nem uma equipa nem a outra fizeram muito para ganhar o jogo, também me parece de mais pretender que fosse o árbitro a decidir o resultado a favor de uma das duas equipas.
Os erros de foram dois ou três. Um fora de jogo mal assinalado ao ataque do Sporting, em benefício do FC Porto, e um segundo cartão amarelo por mostrar a Polga, que resultou nem benefício do Sporting.
Nem sequer assistimos a um clássico quezilento, conflituoso. Os jogadores saíram abraçados, o que é sempre bonito de se ver. No regresso aos balneários não se registaram ocorrências nem danos. Hulk, mansinho lamentou ter estado «90 minutos a apanhar porrada», o que não é nada próprio de um super-herói com pergaminhos.
A verdade é que Hulk e também Sapunaru não repetiram em Alvalade o comportamento que tiveram no túnel da Luz. Sapunaru, ainda há poucos dias, reconheceu numa entrevista a um jornal romeno que esteve mal nessa ocasião e que a sua atitude não foi digna de um desportista.
Provavelmente, os dois jogadores perderam toda a apetência para o desacato no momento em que se viram a apreciar a decoração fotográfica do corredor de acesso ao balneário da equipa visitante.
Terão ficado intimidados? A UEFA acha que sim.
Imagine-se só que a UEFA depois de ter dado os parabéns ao Sporting pela beleza do papel de parede, veio agora dar o dito por não dito, exigindo que o Sporting retire as imagens porque «são claramente contrárias aos valores de respeito e tolerância».
Estes tipos da UEFA são uns grandes aldrabões.
Aldrabões, aldrabões, aldrabões.
O nosso país anda assim um bocado para o deprimido. Toda a gente sabe porquê, é por causa da austeridade. Os portugueses andam tristonhos e têm bastas razões para tal porque nada têm para celebrar.
Por tudo isto, causou grande comoção no país, que bem precisa de quem o alegre, a notícia de que Cristiano Ronaldo, o mais célebre de nós todos, o único português com estatuto hollyoodesco, um rapaz que tem tantas razões para andar muito bem-disposto, ande também ele tristonho e sem vontade de celebrar.
Não pode ser, Cristiano Ronaldo. Não pode andar por aí o português que é maioral na sua profissão a lamentar-se pelos cantos, a fazer beicinho como se o mundo inteiro estivesse contra ele.
O mundo não está contra si, Cristiano Ronaldo. São apenas coisas do futebol. Os adeptos do Real Madrid ainda não digeriram a última derrota com o Barcelona e elegeram-no a si, porque é o melhor jogador e porque falhou duas ocasiões, para embirrar um bocadinho.
E isto passa, como saberá muito bem. Portanto, quando voltar a marcar um golo faça-nos o favor de o celebrar condignamente. Lembre-se de nós, os que por cá estamos a vê-lo através da televisão, à espera dos seus golos que, patrioticamente, também são um bocadinho nossos. E isso dá alento à malta.
E não se zangue com os madrilistas. A questão é de somenos. No entanto, se persistir nessa sua birra ainda se arrisca a ter ouvir o Santiago Bernabéu em coro a chamar pelo Messi. E isso é que seria uma grande chatice. E chatices, já temos nós e muitas.
MAS quem terá sido o Cézanne de Alvalade? Aquela conceção efémera da Natureza, tão ao gosto da escola impressionista, não foi, o entanto, explicada pelos seus autores. Está mal.
É que nem uma palavra sobre a obra plástica, conforme se podia ler na segunda-feira neste jornal. «Relva pintada sem explicações», «leões não divulgam o motivo pelo qual decidiram ornamentar o tapete verde», « a directora de comunicação do Sporting escusou-se a revelar qual o motivo da pintura». Está-se literalmente nas tintas o Sporting para a curiosidade pública nesta matéria.
Numa semana em que milhões de ingénuos viram desvendados os dois segredos estruturais mais mal guardados da nossa sociedade - quem manda nisto tudo, política e futebol, imagine-se, é a Maçonaria e a Olivedesportos! -, ficou lamentavelmente por desvendar o terceiro segredo. O da tinta em Alvalade.
E houve também prejuízo para o FC Porto. O defesa-central Otamendi, por exemplo, de tão esverdeado que estava, convenceu-se a determinada altura do jogo de que era jogador do Sporting e doí vê-lo na área dos donos da casa a oferecer o corpo à bola, com galhardia, impedindo assim o golo mais do que certo de James.
E se o importante era impressionar positivamente os visitantes e o país inteiro com a efémera verdura impressionista do seu relvado, nem assim o Sporting conseguiu fazer valer a noite porque cedo a obra desbotou. E tal não devia acontecer. Ficou o quadro estragado porque transformar uma natureza-morta numa natureza-viva e verdejante que se volta a transformar numa natureza-morta é, de facto, muita areia, areia a mais para qualquer camioneta.
Ainda bem que o sistema de rega não disparou acidentalmente durante o jogo. Por estar ligada, certamente, a uma central de diluente, a rega em Alvalade poderia causar danos aos que estavam em campo. E se a ideia era diluir o FC Porto, também não houve oportunidade para testar a experiência.
Refira-se, em abono da verdade, que esta ideia de pintar a desfavorecida Natureza em prol das aparências não é nova. Na Roménia, no tempo de Ceasescu, fosse qual fosse a estação do ano, era costume pintar de verde tudo o que estivesse a descambar para o amarelado, campos, prados, relvados, e isto para impressionar positivamente os Estadistas estrangeiros que visitassem o país.
Impressionar, impressionismo, está visto.
Mas digam lá, a sério, quem foi o Cézanne de Alvalade?
O futebol pode ser visto de muitas maneiras diferentes. E há quem garanta, em Alvalade, que os árbitros até quando beneficiam o Sporting é com o único intuito de o prejudicar. Como? Isso mesmo.
Veja-se como Pedro Proença ao perdoar a expulsão a Polga no jogo com o FC Porto acabou por prejudicar o Sporting no jogo seguinte, o de ontem, com o Nacional a contar para a Taça.
Com Polga sem castigo em campo, foi o próprio Polga quem lançou os madeirenses para o segundo golo depois de uma falha infantil que os sócios do Sporting levaram o resto do jogo a recordar, como se ouvia sempre que o brasileiro tocava na bola.
Se Proença tivesse expulso Polga nada disto tinha acontecido.
Ontem, Paulo Baptista perdoou a Onyewu a expulsão quando o Nacional jogava já com dez e o Sporting conseguiu o empate no cair do pano. Assim sendo, Onyewu vai estar em campo no próximo jogo. Vamos lá ver o que vai acontecer ao americano."
Leonor Pinhão, in A Bola