quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Quem foi o Cézanne de Alvalade?

"Expostos os segredos da maçonaria e da Olivedesportos - grandes novidades... -, só resta descobrir o mistério impressionista da pintura da relva em Alvalade


NA Marinha Grande, o Benfica cumpriu a sua obrigação. Ganhou o jogo com uma exibição tão expressiva quanto o resultado e, beneficiando do empate no clássico, isolou-se no comando da Liga com dois pontos de avanço sobre o seu agora perseguidor, FC Porto.

Sem dúvida que é uma situação agradável para o Benfica e para os benfiquistas. Aquela expressão consagrada e popular, 'olho para o lado e não vejo ninguém', tem tido grande saída nestes primeiros dias da semana.

Calma aí, são apenas dois pontinhos. E dois pontinhos em janeiro não é a mesma coisa do que dois pontinhos em maio, como todos saberemos. E falta muito para maio. O bom senso e o decoro aconselham a pôr a fanfarronice de lado.

Foi por fanfarronice que o Benfica se espalhou ao comprido na última temporada.

Entretanto alguma coisa se há de ter aprendido.


VÍTOR PEREIRA tem razão. O clássico foi um jogo intenso mas não foi bem jogado. Terá tido até alguns momentos de casados e solteiros com charutadas, bolas à toa e outros instantes pouco ortodoxos. Mas houve emoção porque o resultado esteve incerto até ao final e de tão incerto deixou-se ficar como estava no princípio do jogo, empatado sem golos.

De um lado e de outro houve grossas críticas à arbitragem de Pedro Proença. Tendo em conta de que nem uma equipa nem a outra fizeram muito para ganhar o jogo, também me parece de mais pretender que fosse o árbitro a decidir o resultado a favor de uma das duas equipas.

Os erros de foram dois ou três. Um fora de jogo mal assinalado ao ataque do Sporting, em benefício do FC Porto, e um segundo cartão amarelo por mostrar a Polga, que resultou nem benefício do Sporting.

Nem sequer assistimos a um clássico quezilento, conflituoso. Os jogadores saíram abraçados, o que é sempre bonito de se ver. No regresso aos balneários não se registaram ocorrências nem danos. Hulk, mansinho lamentou ter estado «90 minutos a apanhar porrada», o que não é nada próprio de um super-herói com pergaminhos.

A verdade é que Hulk e também Sapunaru não repetiram em Alvalade o comportamento que tiveram no túnel da Luz. Sapunaru, ainda há poucos dias, reconheceu numa entrevista a um jornal romeno que esteve mal nessa ocasião e que a sua atitude não foi digna de um desportista.

Provavelmente, os dois jogadores perderam toda a apetência para o desacato no momento em que se viram a apreciar a decoração fotográfica do corredor de acesso ao balneário da equipa visitante.

Terão ficado intimidados? A UEFA acha que sim.

Imagine-se só que a UEFA depois de ter dado os parabéns ao Sporting pela beleza do papel de parede, veio agora dar o dito por não dito, exigindo que o Sporting retire as imagens porque «são claramente contrárias aos valores de respeito e tolerância».

Estes tipos da UEFA são uns grandes aldrabões.

Aldrabões, aldrabões, aldrabões.


O nosso país anda assim um bocado para o deprimido. Toda a gente sabe porquê, é por causa da austeridade. Os portugueses andam tristonhos e têm bastas razões para tal porque nada têm para celebrar.

Por tudo isto, causou grande comoção no país, que bem precisa de quem o alegre, a notícia de que Cristiano Ronaldo, o mais célebre de nós todos, o único português com estatuto hollyoodesco, um rapaz que tem tantas razões para andar muito bem-disposto, ande também ele tristonho e sem vontade de celebrar.

Não pode ser, Cristiano Ronaldo. Não pode andar por aí o português que é maioral na sua profissão a lamentar-se pelos cantos, a fazer beicinho como se o mundo inteiro estivesse contra ele.

O mundo não está contra si, Cristiano Ronaldo. São apenas coisas do futebol. Os adeptos do Real Madrid ainda não digeriram a última derrota com o Barcelona e elegeram-no a si, porque é o melhor jogador e porque falhou duas ocasiões, para embirrar um bocadinho.

E isto passa, como saberá muito bem. Portanto, quando voltar a marcar um golo faça-nos o favor de o celebrar condignamente. Lembre-se de nós, os que por cá estamos a vê-lo através da televisão, à espera dos seus golos que, patrioticamente, também são um bocadinho nossos. E isso dá alento à malta.

E não se zangue com os madrilistas. A questão é de somenos. No entanto, se persistir nessa sua birra ainda se arrisca a ter ouvir o Santiago Bernabéu em coro a chamar pelo Messi. E isso é que seria uma grande chatice. E chatices, já temos nós e muitas.


MAS quem terá sido o Cézanne de Alvalade? Aquela conceção efémera da Natureza, tão ao gosto da escola impressionista, não foi, o entanto, explicada pelos seus autores. Está mal.

É que nem uma palavra sobre a obra plástica, conforme se podia ler na segunda-feira neste jornal. «Relva pintada sem explicações», «leões não divulgam o motivo pelo qual decidiram ornamentar o tapete verde», « a directora de comunicação do Sporting escusou-se a revelar qual o motivo da pintura». Está-se literalmente nas tintas o Sporting para a curiosidade pública nesta matéria.

Numa semana em que milhões de ingénuos viram desvendados os dois segredos estruturais mais mal guardados da nossa sociedade - quem manda nisto tudo, política e futebol, imagine-se, é a Maçonaria e a Olivedesportos! -, ficou lamentavelmente por desvendar o terceiro segredo. O da tinta em Alvalade.

E houve também prejuízo para o FC Porto. O defesa-central Otamendi, por exemplo, de tão esverdeado que estava, convenceu-se a determinada altura do jogo de que era jogador do Sporting e doí vê-lo na área dos donos da casa a oferecer o corpo à bola, com galhardia, impedindo assim o golo mais do que certo de James.

E se o importante era impressionar positivamente os visitantes e o país inteiro com a efémera verdura impressionista do seu relvado, nem assim o Sporting conseguiu fazer valer a noite porque cedo a obra desbotou. E tal não devia acontecer. Ficou o quadro estragado porque transformar uma natureza-morta numa natureza-viva e verdejante que se volta a transformar numa natureza-morta é, de facto, muita areia, areia a mais para qualquer camioneta.

Ainda bem que o sistema de rega não disparou acidentalmente durante o jogo. Por estar ligada, certamente, a uma central de diluente, a rega em Alvalade poderia causar danos aos que estavam em campo. E se a ideia era diluir o FC Porto, também não houve oportunidade para testar a experiência.

Refira-se, em abono da verdade, que esta ideia de pintar a desfavorecida Natureza em prol das aparências não é nova. Na Roménia, no tempo de Ceasescu, fosse qual fosse a estação do ano, era costume pintar de verde tudo o que estivesse a descambar para o amarelado, campos, prados, relvados, e isto para impressionar positivamente os Estadistas estrangeiros que visitassem o país.

Impressionar, impressionismo, está visto.

Mas digam lá, a sério, quem foi o Cézanne de Alvalade?


O futebol pode ser visto de muitas maneiras diferentes. E há quem garanta, em Alvalade, que os árbitros até quando beneficiam o Sporting é com o único intuito de o prejudicar. Como? Isso mesmo.

Veja-se como Pedro Proença ao perdoar a expulsão a Polga no jogo com o FC Porto acabou por prejudicar o Sporting no jogo seguinte, o de ontem, com o Nacional a contar para a Taça.

Com Polga sem castigo em campo, foi o próprio Polga quem lançou os madeirenses para o segundo golo depois de uma falha infantil que os sócios do Sporting levaram o resto do jogo a recordar, como se ouvia sempre que o brasileiro tocava na bola.

Se Proença tivesse expulso Polga nada disto tinha acontecido.

Ontem, Paulo Baptista perdoou a Onyewu a expulsão quando o Nacional jogava já com dez e o Sporting conseguiu o empate no cair do pano. Assim sendo, Onyewu vai estar em campo no próximo jogo. Vamos lá ver o que vai acontecer ao americano."


Leonor Pinhão, in A Bola

Djaniny... destabilizar!!!

É oficial o jovem cabo-verdiano Djaniny vai ser jogador do Benfica na próxima época. Um jogador com talento, com alguma ingenuidade, mas com muito potencial. Espero que tenha a oportunidade na primeira equipa do Benfica... Sinceramente penso que não é jogador para equipa B, isso seria um passo atrás na evolução do jogador, se não ficar no plantel, creio que o empréstimo a outra equipa da 1ª divisão será o mais natural... Toda a destabilização tentada nas últimas semanas teve duas origens:
Criar 'casos' nos jogos do Benfica, tal como o famoso jogo do Estoril no Algarve por exemplo... o que por um lado até é um bom indicador, porque é sinal que o Benfica está à frente e os nossos adversários estão com medo; como o Benfica se adiantou aos adversários, houve uma última tentativa por parte dos nossos concorrentes em boicotar a contratação, oferecendo mais dinheiro aos comissionistas... que desta vez parece que ficaram a ver navios!!!

As acusações por parte dos Corruptos e dos respectivos Submissos, a esta contratação do Benfica, são absolutamente hipócritas e ridículas. O Djaniny foi somente o melhor jogador do Leiria no jogo contra o Benfica, não jogou minimamente condicionado, bem pelo contrário... A atitude do Benfica neste negócio foi exemplar... Foi negociado, foi contratado, e foi anunciado.

PS: Nelson Semedo (18 anos) e Manuel Liz (22 anos) também foram contratados pelo Benfica ao Sintrense. Nestes casos parece-me claramente duas contratações para a futura equipa B...

Coerências e incoerências

"No desporto em geral e no futebol em particular, há uma regra consuetudinária: na incoerência, sê o mais coerente possível.

O curioso (mais estranho) é que haja quem queira ser o contrário: na aparência da coerência, acabar por ser da mais infeliz incoerência.

Hoje critica-se o árbitro por uma penalidade mal assinalada. Amanhã, se a favor da equipa apoiada, o silêncio é ensurdecedor. Hoje fala-se asperamente de um fora-de-jogo errado. Amanhã, a mesmíssima jogada é julgada com bonomia e compreensão. Hoje, com a equipa a ganhar, quatro minutos de tempo extra são uma eternidade inusitada. Amanhã com a equipa a perder, os tais quatro minutos adicionais são uma escassez manipulada pelo árbitro. Hoje o jogador é o mais violento de todos. Amanhã, se estiver na equipa que se apoia, já é u tecnicista por excelência ou um diamante quase polido. Hoje a mão foi na bola. Amanhã é a bola que vai ser na mão. E vice-versa. Hoje é uma falta para vermelho. Amanhã a mesma infracção é amistosa e nem amarelo justifica. Hoje a arbitragem foi calabótica. Amanhã, com os mesmos erros, passa a humana e pedagógica. Hoje dizer que uma tal caixa de segurança no estádio de um adversário foi aprovada pela FPF e UEFA é irrelevante e não absolve o clube. Amanhã dizer-se que estas entidades aprovaram(?) o décor de uma passagem para os balneários é respeitável justificação de sentença com trânsito em julgado.

O que me custa ver é pessoas inteligentes a levarem-se a sério nesta incoerência de falsa e puritana coerência. Prefiro quem não se leva tanto a sério (e se divirta até) na coerência da incoerência...

..."


Bagão Félix, in A Bola

Ecos e silêncios

"Ganhámos e praticamos, neste Portugal cheio de temores e reverências, mais carregado de oportunistas do que de oportunidades, uma mania cobarde: quando alguma conversa, algumas ideias ou revelações nos desagradam e podem agitar as águas podres e paradas em que tantos sectores se deixaram mergulhar, em vez de partirmos para a discussão e para a investigação, preferimos simplesmente matar o mensageiro. Tem passado? Ataca-se por aí. Tem interesses? Faz-se disso o alvo. Foi agente no sector que agora questiona? Denuncia-se o seu caráter de “arrependido”. Está aparentemente isolado e longe dos centros do poder corrente? Torna-se mais fácil mastigá-lo, digeri-lo e esquecê-lo.

O resultado é quase sempre semelhante: aumenta-se a lista das vítimas e nem se passa à abordagem dos assuntos. Acontece na política, na economia, nas questões sociais. Mas, com o devido respeito pelos justos e interessados (conheço muitos, felizmente) e lamentando que se possa resvalar para uma generalização descabida, acontece muito mais no terreno do Desporto.

Vem tudo isto a propósito da contundente entrevista que António Oliveira deu no sábado passado, à RTPi, num programa conduzido por Hugo Gilberto e no qual tive a sorte de estar presente. Confesso que nunca, em mais de trinta anos de profissão, tinha visto alguém disponível para distribuir os nomes pelas histórias, alguém aberto a expor e a defender os seus raciocínios (sabendo ainda por cima que se expunha), alguém que não se perdesse em recados cifrados e em episódios enigmáticos. Quem ouviu António Oliveira falar da Olivedesportos – que fundou – como o FMI dos clubes portugueses de futebol, quem o viu reconhecer, em prejuízo do orgulho e dos méritos, que só tinha sido selecionador por causa da referida empresa, quem constatou a sua convicção de que presidentes da Federação e da Liga não passam de homens de mão de um poder muito mais real e concreto, não consegue ficar indiferente.

No mínimo, mesmo que desconfie do alcance ou da intensidade das suas declarações, só pode desejar que as mesmas se tornem objeto de posteriores clarificações. Também por isso é confrangedor – e muito significativo – que, na sequência dessa entrevista, tenham agido os voluntários do costume, mas que sobre ela se abatam meia dúzia de ecos aflitos e um mar de ensurdecedores silêncios, que deixam no ar um desagradável odor de compromissos, de dependências e de tráfico de influências que também mereciam ser exibidos à luz do dia. Tenho pena que se perca uma oportunidade como esta de pegar nas declarações viscerais de António Oliveira e perceber onde e como elas se cruzam com a intrincada verdade. Mas já percebi que ainda não é desta que lá vamos."