"Rúben Dias, o cabeceador que passa a vida cruzar bolas, é a metáfora perfeita para a balbúrdia instalada no Benfica
FC Porto e Benfica continuam a luta pelo título nacional de 2019/2020, um contra o outro e ambos contra os seus próprios demónios. Aos azuis-e-brancos sobrava, até ao último sábado, a confiança de quem tinha ganho oito pontos ao rival, somando por vitórias as várias etapas da recuperação; esse estado de graça, que tinha sobrevivido a um futebol de escasso fulgor, com alguns sustos de permeio, acabou frente ao Rio Ave, a três centímetros da meta. Daqui para a frente, e ainda há muito para jogar, os dragões vão ter de encontrar forças para um longo e exigente sprint final.
Já com o Benfica a situação é ainda mais grave, e poucos terão sido os adeptos encarnados que não deram por perdido o campeonato depois do empate em Setúbal. Valeu ao clube da Luz o passo em falso dos dragões, que tropeçaram num off side de três centímetros e deitaram dois pontos borda fora. Mas, para onde se eclipsou o bom futebol do Benfica, a alegria de trocar a bola, os jogadores que não se escondiam, as movimentações fluídas que mantinham a coesão e estiveram na base do sucesso inacreditável de 2018/2019? Dizer que este Benfica é uma sombra do outro, ainda é de menos. E há coisas incompreensíveis, como, por exemplo, em circunstâncias de pressing final, ser Rúben Dias, o melhor cabeceador da equipa, a executar os cruzamentos (os despejos de zona quase frontal, na maior parte das ocasiões), em vez de se colocar onde podia, realmente, fazer a diferença. Se isto não é desnorte, o que será desnorte? E tantas dúvidas, onde já havia conclusões sólidas; tantas incertezas, que baralham toda a gente, a começar pelos jogadores; e tanto caminho feito a andar para trás, tão para trás que parecemos estar a assistir ao regresso dos piores dias de Rui Vitória...
Quem vai ser campeão? pela amostra junta, FC Porto e Benfica, um deles vai conquistar o título que o outro perdeu. A dúvida é se, dentro dos conjuntos de Sérgio Conceição e Bruno Lage, há energia, vontade e lucidez para encarar cada uma das finais que se perfilam até ao fim desta época.
Quanto aos três centímetros de fora de jogo do Dragão. Bem o VAR, bem o árbitro, que aplicaram a regra mais estúpida da história do futebol, essencialmente pela falibilidade da aferição do momento preciso em que o passe é feito. É urgente que o IFAB entre em campo!
Ás
Carlos Carvalhal
Sem precisar de pôr-se em bicos de pés, mas com a competência de quem sabe o que faz, Carvalhal regressou ao futebol português para conduzir com sobriedade e segurança o Rio Ave, que acaba de estabelecer um novo recorde na Liga, de nove jogos sem perder. Uma lufada de ar fresco, contra mentalidades tacanhas.
Duque
Bruno Lage
Para o treinador do Benfica, 2020 está a ser o reverso da moeda de 2019, numa simetria assustadora, qual montanha russa de sucesso e insucesso. Para voltar a apanhar o fio à meada, Lage precisa de regressar ao básico que o fez campeão, e escolher com critério quem leva para a selva que vão ser os próximos jogos.
Duque
Ronaldinho
Ver um dos melhores futebolistas da história passar pelos apertos em que o antigo craque do Barça e do Escrete está metido no Paraguai, é duro e prova que para orientar bem a vida ser génio da bola não basta. Com ele está o irmão, Assis, antigo médio do Sporting, que parece mais parte do problema do que da solução...
Finanças do SLB goleiam futebol encarnado...
«Resultados líquido do 1.º semestre de 19/20 ascende a 104,2 milhões de euros (...) Sexto ano consecutivo com lucro neste período»
Relatório e Contas, Benfica SAD
O Benfica tem demonstrado uma maior aptidão para gerir com sucesso a política financeira do que para assegurar uma gestão desportiva, de acordo com os meios disponíveis. Ou seja, falta na planificação do futebol quem trabalhe com a competência que Domingos Soares Oliveira coloca na definição do rumo financeiro. Por alguma razão as contas são melhores e a equipa pior...
Estreia a ganhar
Num jogo que a partir da segunda expulsão na equipa do Desportivo das Aves, aos 20 minutos, passou a ter destino inapelavelmente traçado, Rúben Amorim estreou-se, de leão ao peito, com uma vitória. E tomou contacto com a nova realidade de Alvalade, longe dos tempos em que era um vulcão temível. Num clube que precisa de estabilidade como de pão para a boca, serão os resultados a definir, num futuro próximo, a temperatura da contestação. Rúben Amorim sabia bem ao que ia quando assinou contrato e em Guimarães, na próxima jornada, vai ter ma prova de fogo de calibre superior, na luta por um lugar no pódio.
Desporto tenta fintar efeito do coronavírus
Jogos à porta fechada em Itália, onde o Governo quer suspender toda a actividade desportiva, competições das mais diversas modalidades adiadas sine die, e o espectro de uma crise que ainda vai piorar, antes de melhorar. Por cá, manda a prudência que esperemos o melhor e nos preparemos para o pior cenário..."
José Manuel Delgado, in A Bola
PS: O Delgado podia ter escolhido várias exemplos de 'erros' no jogo do Benfica, mas os cruzamentos do Rúben não são assim tão 'estranhos'!!!
Na fase de construção do Benfica, em postura ofensiva, a bola normalmente 'roda' por vários jogadores, e normalmente os nossos adversários dão prioridade em quem deve ser mais pressionado: Taarabt, Weigl (ou Samaris), Ferro e por último o Rúben... pois é de todos, aquele que menos tenta o passe longo, ou mesmo a mudança de flanco, sendo claramente o jogador de 'trás' mais limitado tecnicamente... o Ferro tem uma qualidade de passe muito superior, com os dois pés! Sendo assim, é normal o Rúben muitas vezes ficar 'livre', sem oposição à sua frente... e nesses momentos, avança com a bola, quase sempre descaído pelo 'meia-direita'...
E por acaso, já marcámos vários golos, nesses cruzamentos em 'diagonal', que quando o adversário se prepara para a bola ser colocada na 'linha', no extremo ou no lateral, 'abre' alguns espaços no centro...