"Pobre Pedro: ei-lo em todo o seu esplendor podre. A vaidade consome-o até ao tutano. Talvez haja alguém logo abaixo de Deus, mas não consegue vislumbrar quem senão ele. Tristemente exibe as suas fraquezas a céu aberto. Dita, ordena, castiga. Ele: com P. Com P de pobre; com P de podre. Lambido, reluzente, gesticulante. Um teatro de marionetas. Não tentem desviar o olhar. Não é possível. O pobre é rei da palhaçada por vontade divina de um deus anão. Deixaram-no tomar conta do palco, deram-lhe o papel principal de uma vida vidinha, rasteira e submissa, e ele tomou para si as dores do Universo. Que ninguém ouse embaciar o seu brilho bodegoso, azeiteiro, untuoso. Vêmo-lo sorrir de teclado alvo e percebemos que nada nele faz sentido num Mundo que não comece e não acabe na sua imensa presunção. Não o chamem pelo nome: não há nome de homem que lhe caiba, pobre dele, podre ele, Pedro ele.
Os seus abraços estreitos, corrompidos, alegram os que se comprazem com a batota. Escolheu há muito os seus parceiros e definiu publicamente os seus ódios. Em seguida repete-os até que todos nós nos sintamos subserviência. Ainda há quem se admire? Quem se surpreenda? Ainda há quem o respeite? Quem o considere? Perguntem-lhe. Talvez saiba responder com frases nas quais não caibam as mentiras do costume. Eu duvido. Vejo-o como ele é: tristemente triste.
Pobre Pedro Podre. Não percebeu ainda que está a ser lentamente mastigado e que em breve será cuspido para a sarjeta dos inúteis. Até lá vai fazendo o seu serviço. Sem brilho, mas com brilhantina..."
Afonso de Melo, in O Benfica