Últimas indefectivações

sexta-feira, 6 de abril de 2018

Seis finais

"O Campeonato Nacional entrou na fase decisiva. Temos pela frente seis verdadeiras finais. As derrotas de FC Porto e Sporting, na última jornada, são a prova provada de que Rui Vitória tinha razão quando disse que nunca se sabe qual é o jogo decisivo. Muitos consideram que o nosso treinador é mestre em lugares-comuns. O problema é que Rui Vitória é um homem experiente e muito sensato. A sua teoria tem toda a razão de ser. Quem subiu a pulso na carreira sabe que o caminho para o êxito é bem complexo. Como um dia escreveu Johann Goethe, 'não basta dar os passos que nos devem levar um dia ao objectivo, cada passo deve ser ele próprio um objectivo em si mesmo, ao mesmo tempo que nos leva para diante'.
Em Setúbal, neste sábado, jogaremos a primeira das seis últimas finais. Vamos defrontar um clube histórico do futebol português, com um palmarés sobejamente conhecido e que procura regressar à ribalta. Orientado por um treinador experiente, o V. Setúbal irá lutar pela conquista dos três pontos. Tal como aconteceu com o Belenenses frente ao FC Porto. A equipa técnica do SL Benfica e todo o plantel estão avisados acerca dos atributos da equipa sadina. Basta recordar os resultados da época do Tetra - empatámos, na Luz, com a equipa de José Couceiro e perdemos, no Estádio do Bonfim, por 1-0. Bem sei que os jogos não são iguais e as épocas também não. Bem sei que a nossa equipa está na melhor fase da temporada e a exibir um futebol de elevadíssima qualidade. A nossa equipa está focada no Penta, e os adeptos, idem.
Façamos de cada jogo uma verdadeira final, mas sempre com fair play."

Pedro Guerra, in O Benfica

Vem aí o torneio!

"Dito assim parece pouco, mas esta simples frase resume a palpitação de centenas de jovens corações por todo o país. De norte a sul, em casa e na escola, a expectativa do torneio intercalar 'Para ti Se não faltares!' promete muito mais que um passeio memorável a Ponte de Sor para rever os amigos do projecto, de outros torneios e actividades-prémio, de viva voz e fora do Facebook do dia a dia. É verdade para todos que o principal objectivo é ganhar, mas para isso não basta dar o máximo naquele dia único, e todos, também, sabem disso. É preciso trabalhar a sério e em equipa durante meses, saber a justa medida do contributo de cada um para conquistar o resultado de todos e confiar nos outros sabendo que o nosso sucesso depende deles. Mas a coisa vai muito mais além, extravasa o campo, a táctica e a técnica, entra pelos recreios de todos os dias e pelas salas de aula, pelos trabalhos de grupo, pelos estudos e pelos testes. Para conseguir vencer em tudo, mais do que ser assíduo e bem-comportado, que são dados adquiridos na maior parte dos casos, é preciso ter bons resultados escolares.
Para tanto, basta ir às aulas, ter atenção e activar a inteligência de cada um. Os nossos jovens sabem disso e celebram connosco os progressos do seu trabalho invariavelmente, dia após dia, numa escalada progressiva. Mesmo quando lhes dizem, nalguma altura menos boa das suas vidas escolares, que não servem para estudar, eles trabalham e acreditam connosco, consolidam as suas certezas com a celebração de pequenos sucessos ao longo desta difícil caminhada e invariavelmente progridem e revelam todo o seu potencial.
É assim que acontece em 87% dos casos num total que ultrapassa este anos os 3000 jovens. Por isso, parabéns pelo vosso trabalho e boa sorte para o torneio que aí vem!"

Jorge Miranda, in O Benfica

O foco que nos é essencial

"-O primeiro lugar implica maior responsabilidade?
'- Não.'
Benfica como principal candidato?
'- Não, não!'
Há uma luta a dois pelo título?
'- Não posso dizer isso.'
O jogo com o FC Porto é decisivo no desfecho do campeonato?
'- Não. Não podemos pensar neles ainda, não é? O nosso foco, agora, é apenas o jogo em Setúbal'.

Quatro perguntas, quatro tentativas dos jornalistas (no exercício da sua missão), com o único sentido de pôr à prova um dos capitães da equipa, tentando apanhá-lo desprevenido num momento fora de estágio, de forma a ver se a solidez intelectual do atleta se desmanchava diante de questionamentos inesperados.
Todas as respostas de Jardel começam com a mesma, inflexível e sintomática negativa e, evidentemente, não se resumindo a locuções monossilábicas, só prosseguiam com breves precisões que apenas iam confirmando uma postura sistemática. Ou seja, a avaliar pelas categóricas réplicas do capitão, compreendemos como e quanto o grupo de trabalho do nosso Futebol principal se encontra concentrado em torno do foco que nos é, a todos os Benfiquistas, verdadeiramente essencial: vencer a Liga NOS 2017/2018, conquistar o 37.º Campeonato e alcançar o Penta.
Treino a treino, jogo a jogo, com o seu discurso sempre coerente, Rui Vitória tem sabiamente mantido e consolidado de modo muito impressivo esta robustez mental dos jogadores: por cada jornada, ele abre, caso a caso, o respectivo dossier, que a seguir, encerra inexoravelmente, sem olhar para os lados. E foi assim que aqui chegámos, a seis jogos do fim.
Ao contrário dos outros, com as suas inacreditáveis narrativas, com as suas misérias e as suas vanglórias, as suas ilusões e despropósitos, as suas choradeiras e as suas ameaças, os seus roubos e profanações, as suas alianças contranatura e os seus pseudojulgamentos de pacotilha em que nunca houve nem juiz bem contraditório, ninguém nos perturbou, afinal. Ninguém interferiu no nosso ambiente tranquilo, seguro e vencedor, como, em desespero, eles desejariam que nos pudesse acontecer. E o que parece estar a acontecer (de novo, pela quinta época consecutiva) é que, afinal, é a fortaleza da nossa capacidade desportiva que lhes dá cabo do raciocínio...
Em todo o caso, continuemos a ser prudentes, sensatos e competentes: de acordo com o guião do nosso filme, mesmo agora, ainda nos falta quase tudo."

José Nuno Martins, in O Benfica

A desautorização pública de Jesus

"Sabia-se que a tarefa do Sporting, frente ao Atlético de Madrid, no Wanda Metropolitano, ia ser difícil e seria necessário, para que a eliminatória viesse para Alvalade com bom prognóstico, que a equipa de Jorge Jesus fizesse uma exibição ao nível do que conseguira, há ano e meio, no Santiago Bernabéu. Tal não aconteceu. Erros individuais e alguma debilidade colectiva perante a força e experiência dos colchoneros tornaram a tarefa leonina uma montanha se calhar demasiado alta para ser transposta. A esta circunstância, que decorreu das incidências do jogo e do valor do adversário, juntou-se uma outra, inaudita, inesperada e absolutamente demolidora para a coesão da cabina verde e branca. Bruno de Carvalho, que ficara em Lisboa, fez um post no Facebook arrasador para os jogadores, que não deixará pedra sobre pedra. Se, alguns erros dentro das quatro linhas, revelaram uma tendência de atracção pelo abismo, as palavras do presidente foram o passo em frente de quem estava foram o passo em frente de quem estava à beira do abismo. Segundo Bruno de Carvalho, «Coates e Mathieu a fazerem o que os avançados do Atlético não conseguiam»; «Fábio e Bas Dost 'não quiseram jogar' em Alvalade, com faltas para amarelo que nunca poderiam ter feito»; «Montero desperdiçou um golo feito com um remate para o céu quando só se pedia um simples encosto»; e «Gelson isolado frente a Oblak, em vez de 'fuzilar' para a esquerda, tenta colocar em jeito, mas sem força, para o lado direito perdendo um golo que já quase se gritava».
Duas perguntas surgem, inevitáveis:
A) O que pretende, realmente, Bruno de Carvalho?
B) Como fica Jesus perante tanta desautorização?"

José Manuel Delgado, in A Bola

Na rede

"Bruno de Carvalho voltou esta semana em força ao Facebook. Na madrugada de domingo de Páscoa, pouco depois do final do jogo de Braga, disse que não era hora de levantar a cabeça mais sim de todos, desde jogadores a dirigentes, a baixarem, olharem para o símbolo e reflectirem se são dignos de o envergar. Além disso, pediu desculpa pela derrota na Cidade dos Arcebispos.
Não se percebe bem a eficácia da mensagem, mas se foi a de pedir para que todos dessem mais no sentido de conseguirem alcançar um bom resultado em Madrid, frente ao Atlético, definitivamente, não resultou.
O presidente dos leões, por razões pessoais, não foi à capital espanhola. Terá acompanhado o jogo pela TV e, minutos depois do apito final de Sergei Karasev, fez mais um post na rede social, desta vez para apontar os erros cometidos por Coates, Mathieu, Fábio Coentrão, Bas Dost, Gelson e Montero. Pelo meio, elogios à exibição.
A generalidade da Comunicação Social, como é normal, pegou nas palavras de BdC. O presidente dos leões não gostou dalgumas das coisas que ouviu na CMTV, pegou no telefone e rebateu - genericamente, não encontrou qualquer mal naquilo que tinha escrito, pois os jogadores tinham consciência das males que tinham feito e Jesus também tinha dito o mesmo. É uma opinião. A sua.
O presidente de um clube tem todo o direito de criticar os jogadores, como é óbvio, mas talvez a mensagem tenha mais eficácia se o fizerem em privado, talvez até após os defender em público.
Os jogadores de futebol ganham muito dinheiro, têm imensa responsabilidade e têm de estar preparados para as criticas. Mas não estão habituados e no futebol, tal como na vida, o hábito faz o monge.
Bruno de Carvalho acha que a rede social é a melhor forma de comunicar com os adeptos. Mas as redes, às vezes, enredam-se e nem o produto da pesca se conseguem tirar. Têm de ser cortadas."

Hugo Forte, in A Bola

PS: Artigo vergonhoso de um suposto jornalista d'A Bola!
Incapaz de criticar veementemente o Babalu... afinal os jogadores são os 'culpados'!!!

O poder da comunicação

"No futebol, é bem mas difícil no vencedor do que modalidades jogadas, na maioria das vezes, com as mãos. É naturalmente muito mais difícil jogar com os pés. Os membros, superiores ou inferiores, cumprem ordens. Mas, como diz a sabedoria popular, é preciso ter cabeça. Que é o que nem sempre existe em situações de tensão ou adversidade. O jogo de futebol pode levar a que as probabilidades de sucesso do mais pequeno aumentem durante o próprio jogo. Diversos factores podem influenciar o aumento das possibilidades de sucesso do mais fraco. Esta incerteza, e a facilidade com que se pode jogar, torna o futebol a modalidade de maior sucesso. Mas também a que atrai mais conflitos. O impacto mediático do futebol tem aumentado em proporção com o crescimento da sociedade de comunicação, a imagem, em que vivemos.
Antes dos jogos das equipas de maior dimensão verifica-se uma pressão superior, com análises e comentários de elementos exteriores à estrutura, que podem inferiorizar o oponente. Mensagens sublimares, cirúrgicas, que desestabilizaram o adversário. Esta estratégia de comunicação externa é frequente em muitas equipas de grande dimensão. Internamente, a comunicação é claramente contrária. Valoriza-se o adversário o elevam-se os níveis de concentração, criando um quadro de dificuldade acrescida. As declarações dos responsáveis são quase sempre nesse sentido. O poder da comunicação influência a estabilidade psicológica com que se aborda o jogo. Cada vez é mais importante ter especialistas nas áreas da comunicação, externa e interna, e na vertente de apoio psicológico. Os jogos são ganhos, ou perdidos, por vezes, muito antes, muito antes de se terem início. Por isso o silêncio é de ouro em muitas situações. Responder em determinados momentos significa coloarmos-nos em inferioridade, e assim começar a perder o jogo, antes mesmo de ele se realizar."

José Couceiro, in A Bola

Nem sei o que dizer


"Pouco, muito pouco para o que foi prometido. As palavras começam a faltar. A noção de responsabilidade ganha cada vez mais força.

Desde o principio da época que nós, sportinguistas, acalentámos fundadas esperanças no êxito da equipa profissional de futebol, tanto mais que os reforços concretizados, sobretudo, os da reabertura do mercado de Janeiro, eram capazes de dotar o plantel da capacidade indispensável para lutar em todas as frentes envolvidas. Agora que a época futebolística entra na recta final, o balanço que se poderá fazer até ao momento é o de que as coisas não estão a correr de feição pese embora o facto de, em teoria, serem ainda possíveis êxitos quer na Liga Europa quer na Taça de Portugal. Todos temos consciência de que mais um adiamento da conquista do Campeonato Nacional constitui um fiasco difícil de ultrapassar, sendo legítimas as interrogações da massa associativa a propósito de um conjunto de afirmações produzidas pelos principais dirigentes da nação leonina, garantindo reiteradamente vitórias e conquistas. Se é verdade que devemos ser algo condescendentes para com tais estados de alma (manter a chama acesa assim o obriga) o que é certo é que as exibições e os resultados obtidos ao longo da época não foram de molde a criar no seio dos adeptos o optimismo expectável, ficando, em muitas circunstâncias, a sensação (para não dizer a certeza) de que a esta equipa faltava um verdadeiro estofo de campeã e que, em momentos clave, revelava colapsos psicológicos quer em termos colectivos. Por outro lado, quando factos e circunstâncias importantes faziam convergir as atenções para os nossos rivais, havia sempre alguém que arranjava maneira de ferir os interesses do próprio Sporting, descobrindo fantasmas e assombrações que mais ninguém descortinava com a consequente barreira de fogo contra tudo e contra todos. Desconhecendo os meandros do Clube, indicia-se, contudo, algum mal estar na cabina de Alvalade como agora ficou demonstrado no jogo contra o Atlético de Madrid através do cometimento de lapsos imperdoáveis por parte de jogadores com enorme experiência. A manter-se este statu quo, em vez de lutar pelos lugares cimeiros, ficaremos, com toda a probabilidade, confinados à Taça de Portugal e/ou à contingência de ter de defender o terceiro lugar da competição rainha, o qual, como é sabido não gera os milhões da Champions. Pouco, muito pouco para o que foi prometido. As palavras começam a faltar. A noção de responsabilidade ganha cada mais força."

Abrantes Mendes, in A Bola

PS: Então depois dos acontecimentos de ontem à noite e de hoje, o Abrantes Mendes, deve estar mesmo sem palavras!!!

Alvorada... do Valdemar

Rumo a Setúbal...

Estes não se deixam cair

"Oportunamente lançado por Cristiano Ronaldo, faço a minha deriva pelos trilhos aéreos do pontapé de bicicleta, movimento popularizado pelo carioca Leónidas nos anos trinta e quarenta, por sua vez inspirado em Petronilho de Brito.

A grandiosa acrobacia de Cristiano em Turim já foi apreciada em quase todos os ângulos. E digo “quase” porque, ainda assim, em nenhum deles me foi transmitida uma sensação aproximada da pequenez que Barzagli e De Sciglio devem ter sentido quando a fera rugiu e soltou as garras à sua frente no ataque à bola. Admito que deve ter sido parecido com aquilo que Essien presenciou na final de Moscovo de há dez anos, quando o monstro madeirense concretizou, de cabeça, o cruzamento de Wes Brown. E o “Air Jordan” no Olímpico de Roma, contra os ‘giallorossi’, a passe de Scholes, também não foi mau de todo.
John Charles e Aldo Serena devem estar entre os futebolistas que mais alto chegaram nos Alpes, mas tenho dúvidas que Cristiano não os tenha superado na fasquia. Por exemplo, Jorge Jesus, no parêntesis que abriu para comentar o golo que deixou o mundo boquiaberto, vincou um aspecto digno de realce: ter, aos 33 anos, a capacidade física para pular e rematar com aquela pujança e elasticidade é qualquer coisa de espantoso. E, por ser tão raro, os adeptos da Juventus aplaudiram, como haviam feito com Iniesta em mais um elogio do génio.
A essa componente física do lance, juntaria a inteligência, pelo facto de CR ter percebido, antes dos defesas italianos, o local para onde Carvajal ia dirigir a bola e de que forma é que ela ia pingar. Acaba por ser esta conjugação de vectores que distingue os génios dos outros: a velocidade da percepção, análise e decisão. Trocando por miúdos, Cristiano foi mais célere a ter a noção da trajectória do cruzamento, com rapidez de raciocínio a uma velocidade inimaginável para se desmarcar no sentido inverso ao da baliza de Buffon e ainda demonstrar a qualidade para a execução que era de dificuldade máxima. Os outros ficaram pelo caminho, como tem sido regra.
A bicicleta no Juventus Stadium, leve e simultaneamente estrondosa, está garantidamente no álbum das imagens mais deslumbrantes do percurso de Cristiano e de toda a história da Liga dos Campeões. Ele até já tinha tido oportunidade de assinar um golo deste género em anos anteriores. Vi com os meus olhos no Estádio do Bessa, em 2006, num Portugal v Azerbaijão, os árbitros negarem-lhe um golo de bicicleta, após um amortecimento fantástico do ombro de Deco. Erradamente, entenderam que a bola rematada por Cristiano, que bateu na trave antes de cair no solo, não tinha ultrapassado a linha de golo.
Entre os melhores golos da carreira de Cristiano, recordo-me instantaneamente do petardo à Eusébio, em 2009, no Dragão, ainda pelo Manchester United. Creio que Fernando, médio-defensivo do Porto, não acreditava que o homem ia chutar de tão longe e não o pressionou a tempo. Mas chutou…
Foi um golo arrebatador, que estremeceu a Invicta. Mesmo assim, o apontamento genial de CR7 no JS, com uma definição totalmente diferente, não lhe fica atrás na espectacularidade e ficará eternizado como um dos melhores pontapés de bicicleta que alguma vez contemplámos. Foi bastante parecido com um de Van Basten contra o Den Bosch, na última época do ponta de lança no Ajax, em 1986/87, antes de Berlusconi o ter ido buscar. Na altura, Wouters efetuou o cruzamento.
Já pelo Milan, Van Basten repetiu a dose em San Siro com um golpe formidável na Champions, contra os suecos do IFK. Eranio deu a bola e o “Cisne de Utrecht” pontapeou a bola picada para a baliza do louco Ravelli.
Klaus Fischer e um antigo ídolo do Bernabéu, Hugo Sánchez (com quem Cristiano até já esteve num programa televisivo), eram alguns dos melhores especialistas dos anos oitenta na arte da impulsão, de permanecer no ar e chutar de costas para a baliza. Tem o seu quê de intuição, mas também de muita prática para a aplicação do remate. Perguntem a Rivaldo, autor de um dos hat-tricks mais memoráveis da história, em Camp Nou, contra o Valencia. Pobre Cañizares! Aquele último golo de 'chilena', com o relógio a queimar, com a presença na Champions em discussão, foi das coisas mais épicas que aconteceram num campo de futebol. De fora da grande área, após a levantada de peito quando Frank de Boer lhe deu a bola, “Rivo” esmagou a ‘porteria’ do guarda-redes valencianista. Se não viram, deem bom uso ao youtube.
Quase vinte anos depois de Rivaldo, Cristiano montou a sua bicicleta especial. Foi nas terras do Giro, em solo italiano, onde Rummenigge e Djorkaeff deram fama à ‘rovesciata’, ainda que mais em forma do pontapé de moinho celebrizado em Portugal por Artur Jorge. Cristiano recuperou o chuto de Leónidas, o tal que era considerado como o detentor da coroa do Brasil antes do aparecimento de Pelé. E convenhamos que o Rei também tratou do assunto na sua “Fuga para a Vitória”. Dê por onde der, estes génios nunca se deixam cair."

Futebol mais versátil

"1 - Os clubes de topo estão a adoptar uma flexibilidade táctica cada vez maior. Ao contrário de outros tempos, em que havia uma maior rigidez no posicionamento das equipas, os treinadores estão cada vez mais apostados, sempre que necessário, em mudar os sistemas durante os jogos, com vista a tirarem partido de uma vantagem competitiva. Isso obriga a procurar (e ensinar) jogadores que, de forma inteligente, consigam desempenhar mais do que uma função dentro de campo durante 90 minutos.
Nas equipas de Pep Guardiola há jogadores que num jogo chegam a alinhar em três posições diferentes. Para cada uma das missões, o jogador já sabe de antemão aquilo que terá de fazer e está preparado para executar esse desafio com a máxima eficiência, dando resposta a um trabalho de preparação que é feito nos treinos. Por exemplo, no Bayern, o técnico espanhol chegou a utilizar Phillip Lahm em posições distintas, como lateral-direito e esquerdo, trinco e médio-interior direito. Sempre com alto rendimento.
A título de exemplo, isto permite que, durante uma partida, uma equipa possa começar numa estrutura de 4x3x3 e mudar para 4x4x2 sem que tenha de fazer qualquer substituição. Pode mesmo posicionar-se de uma forma no momento ofensivo e apresentar outro sistema em processo defensivo. O futebol actual pede mais versatilidade e inteligência no jogo colectivo (e individual) como forma de surpreender as estratégias adversárias e encontrar espaços para poder chegar com perigo à baliza. E esta é uma abordagem que parece ter vindo para ficar.
Olhando para as principais equipas portuguesas, conseguimos verificar que Benfica, FC Porto, Sporting e Braga não prescindem dos seus 'canivetes suíços', jogadores capazes de alinhar em mais do que uma posição, como Zivkovic, Jonas, Marega, Herrera, Bruno Fernandes, Battaglia, Ricardo Esgaio e Marcelo Goiano, entre outros. São peças como estas que permitem aos treinadores criarem mutações num mesmo jogo, conseguindo manter (ou melhorar) a mesma bitola exibicional. É assim também que se encontram respostas para desbloquear uma partida que esteja a ser mais difícil.
Esta evolução que se está a verificar no futebol cria um desafio futuro aos treinadores da formação no sentido de desenvolverem os jovens futebolistas para a nova situação. Os atletas terão de ganhar experiência em várias posições, de modo a saberem lidar (ao nível técnico e anímico) com a mudança sempre que esta for necessária, aprendendo mais sobre o jogo e encontrando novas formas de actuar dentro das quatro linhas. Alguns clubes europeus começam a ter isso em consideração nos seus escalões de formação.
Esta forma de pensar aprofunda ainda mais o trabalho invisível dos treinadores, com o laboratório montado nos treinos de forma a potenciar tudo aquilo que os jogadores podem oferecer à equipa em determinados contextos e circunstâncias. Essa capacidade de 'ensinar' a estimular a polivalência e conhecimento dos elementos de um grupo de trabalho, criando um plantel mais profundo de alternativas, pode valer ouro no final de uma temporada.

2 - Sorte madrasta para Danilo Pereira. Acabado de regressar de problema muscular, o médio do FC Porto viu o infortúnio bater-lhe à porta com uma lesão ainda mais grave que o irá afastar dos últimos jogos da época e do Mundial. Uma má notícia para os dragões e para o seleccionador Fernando Santos, que certamente contava levar o jogador à Rússia. Resta agora esperar que Danilo recupere bem e que em breve possa voltar a jogar na plenitude das suas capacidades.

O Craque
O póquer de Edinho
Não é todos os dias que vemos um jogador apontar quatro golos numa partida, e o fenómeno é ainda mais raro se tiverem sido marcados em apenas 45 minutos. Edinho cometeu essa proeza na vitória do V. Setúbal na Vila das Aves por 4-1. O ponta-de-lança português tem ganho maior tempo de utilização nos últimos três meses, tendo apontado oito tentos neste período. E mostra mesmo confiança em conseguir convencer o seleccionador a levá-lo ao Mundial da Rússia. Não será fácil, dada a concorrência existente, mas se continuar de pé quente, quem sabe...

A Jogada
Momento genial
Num jogo de alto nível europeu e em casa da poderosa Juventus, Cristiano Ronaldo serviu aos adeptos do futebol mais um momento para perdurar na memória. Uma obra-prima do português, que já vinha tentando ensaiar um golo de bicicleta em jogos anteriores, mas que conseguiu naquele momento uma execução perfeita do ponto de vista técnico e físico. Colocou o pé numa altura onde os adversários não chegam com a cabeça e fez um golo fenomenal. Está numa forma tremenda e continua letal na competição onde é o maior de todos os goleadores: a Liga dos Campeões.

A Dúvida
Mundial sem árbitros portugueses
Entre os 36 árbitros e 63 assistentes que vão participar no Mundial'2018 não se encontra um único juiz português. Este é um tema que merece alguma reflexão sobre o actual estado da arbitragem nacional. Perceber se esta é uma situação pontual porque o actual quadro de árbitros (muitos deles com poucos anos de primeira categoria) ainda não tem a experiência internacional necessária ou se a questão está na menor qualidade do actual grupo de juízes. A falta de árbitros nacionais em grandes competições será transitória ou esta ausência poderá prolongar-se em provas futuras?"

Intervenção do Governo no futebol

"1 - Deve o Governo intervir no desenvolvimento do futebol?
Entra o Estado em campo, ou fica a assistir na bancada? A questão voltou à baila, recentemente espelhada em declarações públicas do secretário de Estado do Desporto, afirmando que o Estado intervém diariamente, relacionando-se quer com a FPF, quer com a Liga. É defensável o natural distanciamento do futebol profissional, uma vez que podemos falar de relações profissionais entre sociedades comerciais, que desenvolvem um negócio, o do desporto como entretenimento e indústria de lazer, sendo que se organizarão como entenderem, dentro de balizas legais estipuladas para o ‘comércio desportivo’. Se os cidadãos não gostarem, não vão, não veem (não compram bilhetes, não assistem ao espectáculo que lhes vendem). Já em relação à organização federativa, o regime jurídico português para as federações desportivas obrigará a cuidados redobrados. O orçamento estatal, suportado com receitas públicas e com participação directa dos contribuintes, gasta milhões de euros no financiamento de modalidades desportivas (entre elas o futebol) que têm de ser submetidas a supervisão dos Governos. Há contratos criados e assinados que concedem dinheiros públicos para se desenvolverem modalidades; como e para onde se quer encaminhar esse desenvolvimento?

2 - Fará sentido uma Entidade Reguladora para o Futebol?
Não é positiva a experiência com a maioria das entidades reguladoras: Comunicação Social, Saúde, Concorrência, Aviação Civil, Águas e Resíduos, entre outras. O que não quer dizer que não se possa aprender com os erros… A lei em vigor que define as "entidades administrativas independentes com funções de regulação da actividade (…) dos sectores privado, público e cooperativo" (n.º 67/2013, alterada pela Lei n.º 12/2017), diz que têm atribuições em matéria de defesa de serviços de interesse geral, de protecção dos direitos dos consumidores e de promoção da concorrência. Interessará ao futebol?

Somos todos Ronaldo

"Para mim, Cristiano é a verdadeira biblioteca de livros de auto-ajuda. Vale por mil palestras de empreendedorismo e motivação. Há quem viva da teoria do "bate punho" e há os que a praticam.

O golo de pontapé de bicicleta de Cristiano Ronaldo no triunfo (3-0) do Real Madrid sobre a Juventus, nos quartos de final da Liga dos Campeões, tornou-se em poucos minutos, até graficamente, um ícone do futebol mundial. É um momento histórico. Afinal, Portugal tem meios aéreos que ninguém supunha. O golo foi de tal modo extraordinário que já há quem chame a Cristiano Ronaldo o Centeno da UEFA.
Confesso que ainda esperei pelo final do jogo e pelas análises "antidoping" porque estamos habituados a que sempre que alguém consegue um grande feito de bicicleta é porque estava dopado. 
Como não tenho memória curta, não considero que este tenha sido o maior momento na carreira de Ronaldo, não nos podemos esquecer do que ele fez durante o último Europeu de Futebol. Aquela atitude, do nosso capitão, de atirar o microfone da CMTV para o lago foi uma obra-prima. Na altura, pensei: mesmo que CR não ganhe este ano a Bola de Ouro (ganhou), o Pulitzer do jornalismo já não lhe escapa.
Para mim, Cristiano é a verdadeira biblioteca de livros de auto-ajuda. Vale por mil palestras de empreendedorismo e motivação. Há quem viva da teoria do "bate punho" e há os que a praticam.
É muito estranha a relação de alguns portugueses com o Cristiano. Convivem mal com o sucesso do rapaz. Muitas vezes, pergunto-me: será que gostam mais do Messi porque julgam que ele é do Entroncamento? Há uma má vontade para com Ronaldo de alguns portugueses. Lembro-me de que quando CR andava com a Irina, nos programas de bola chegaram ao ponto de dizer que a miúda não era nada de especial. Só faltou dizer que era um bocado gorda e tinha mau hálito.
Uma das frases que mais vezes oiço é: "Eu não gosto do Ronaldo porque ele é um bocado bimbo" - e normalmente isto é dito por um indivíduo com calças de corsário, camisola de alças, óculos escuros no topo da cabeça e com "headphones" dourados nos ouvidos a ouvir D.A.M.A.
Tenho enorme orgulho no Cristiano, gostava de lhe dar um abraço, mas imagina que o despenteava?! Estava tramado, nunca mais teria dinheiro que chegasse para lhe pagar um penteado novo.
Já me questionei, independentemente do facto de ser português e, mais importante, sportinguista, qual é o melhor jogador do mundo. Cristiano ou Messi? A minha resposta é simples. A ter de viver num mundo em que só um deles exista, claramente optava por ter estado vivo para ver jogar Ronaldo. Por tudo o que significa e que vai muito além do futebol e da possibilidade de ver fotos das namoradas. Por mim, está resolvido o problema do dinheiro para as artes, vai tudo para o Cristiano."


PS: A 'tirada' sobre o microfone da CMTV, 'obrigou-se' a publicar esta coluna!

O Liverpool enche-nos o coração

"Há coisas das quais não se deve prescindir sem morrer primeiro. A emoção de uma porta a abrir, por exemplo. O frenesim de uma paixão. O entusiasmo de um copo cheio.
São coisas que faz sentido levar até ao fim.
Mas acima de tudo a fé. Há poucas palavras na língua portuguesa que nos encham tanto a alma quanto a fé. Fé no sentido de esperança. De crer. De acreditar.
Belief, como dizem os ingleses.
A fé vicia-nos o coração, enche-nos de ilusão, faz-nos acreditar. E não há nada melhor do que acreditar: numa pessoa, numa palavra, num fim. Acreditar que vai acontecer.
Nesse sentido, o que fez o Liverpool na quarta-feira foi um balsamo para o espírito. Um sopro de valentia. Fez-nos acreditar que a Liga dos Campeões continua a valer a pena.
A Champions, vale a pena lembrar, tornou-se propriedade de três ou quatro clubes: cada vez mais acentua a diferença entre os ricos e os pobres, tornando os milionários um bocadinho mais milionários a cada ano que passa. Por isso, verdadeiramente, é vista por muita gente, mas vivida por uma elite cada vez mais curta.
No fundo estamos todos a bater palmas ao espectáculo que são equipas como o Real Madrid, o Barcelona, o Bayern, o Manchester City, eventualmente o PSG um dia destes.
Batemos-lhes palmas, abrimos a boca de espanto, admirámos as maravilhas que nos proporcionam, sabendo que aplaudir é tudo o que podemos fazer: porque cada vez mais a superioridade destes grandes clubes se acentua e retira emoção à própria competição.
No fundo a Liga dos Campeões só começa verdadeiramente nas meias-finais: quando os menos favoritos já foram afastados e os favorecidos se digladiam entre eles.
Até porque é isso que a UEFA deseja verdadeiramente: grandes espectáculos, com os melhores jogadores. Mais espectadores, mais audiência, mais valor para a marca.
E a essência do futebol, onde fica? Provavelmente nos intervalos entre a publicidade.
Por isso, lá está, o que fez o Liverpool foi um sopro de valentia. Uma prova de coragem. Uma demonstração de que vale a pena acreditar que a Liga dos Campeões pode continuar a surpreender-nos, de que podemos continuar a vivê-las mais do que apenas vê-la.
É certo que Real Madrid, Barcelona e Bayern não deram hipóteses, mas enquanto houver um Liverpool, como uma Juventus ou um At. Madrid nas épocas anteriores, vai valer a pena continuar a acreditar no futebol. Como sempre fizemos, aliás.
A forma como a equipa de Jurgen Klopp atropelou o sensacional Manchester City, que terminou sem nenhum remate enquadrado com a baliza, recorde-se, foi um raio de esperança para a democracia no futebol: os menos favoritos podem continuar a sonhar.
A Liga dos Campeões, ainda que só um bocadinho, ainda é de todos: uma competição liberal, progressista e igualitária. Um espaço democrático como sempre foi, insiste-se.
Não concorda que vale a pena ter fé?"

Benfiquismo (DCCXCIX)

Bucareste

Aquecimento... Vamos a eles...

Quinta... com Seara & Cervan