Últimas indefectivações

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Dois dentes e um saco de pedras

"Um árbitro que se refere a si próprio num majestático plural viu-se, pelos vistos, a contas com um rufia que lhe saltou inopinadamente ao caminho num centro comercial de Lisboa. O meliante tratou de o afredir à cabeçada, como era hábito antigo nas rixas do Cais do Sodré. Pressuroso, na altura em que se viu obrigado (e bem) a identificar-se perante as autoridades policiais, o maganão assumi-se como adepto do Benfica. Está, a partir de agora, (e bem repito) a contas com a justiça portuguesa, exceptuando as lides tauromáquicas, não é à marrada que se dirimem os conflitos, por mais acessos que eles sejam.

O facto de o dito agressor se ter, ao que consta, identificado como adepto do Benfica, não agura nada de bom numa fase da vida em que as meretíssimas iluminárias estão de mãos livres após terem conduzido ao arquivamento de todas as falcatruas do processo «Apito Dourado».

Um coro de vozes indignado ergueu-se (e bem, volto a dizer) na condenação do gesto brutal que valeu ao plural árbitro um estrago significativo nos incisivos. Nada, nem a incompetência, que por acaso o cujo exibe semanalmente um pouco por todo o País, justifica o gesto bárbaro, estúpido e indesculpável. Mas desta vez não se ergueu uma voz entaramelada e sifilítica a perorar sobre palhaços que podem andar por ái a dizer que são agredidos. Estranho... Ou talvez o Madaleno estivesse distraído a jantar marisco com algum senhor de cócoras com a dentição completa...

Néscio, o cabeceador de centros comerciais tem agora à perna a farda e a toga. Faltou-lhe arte e imaginação. Se em vez da cabeça tivesse usado um saco de pedras; se sem vez de um centro comercial tivesse usado um manhoso viaduto dos arredores de Contumil; se em vez de apontar à boca do plural árbitro lhe tivesse visado o pára-brisas do carro, estaria neste momento na paz celestial dos anjos. Nunca ninguém o identificaria, muito menos o conduziria a uma esquadra, não corria o risco de dissabores judiciais e ainda haveria gente capaz de jurar que era adepto do Salgueiros..."


Afonso de Melo, in O Benfica

Fazer o que ainda não foi feito

"É simplista, redutora e fácil aquela análise que quando fomos campeões, com Jesus, também empatamos em casa no primeiro jogo contra o Marítimo e depois embalamos para o título. O empate Barcelos, apesar de ter uma dose de infelicidade, é diferente e mais preocupante.

Contra o Marítimo, há dois anos, jogamos um futebol fantástico, ofensivo e só fomos parados por uma 'encomenda' arbitral que nos prejudicou durante 90 minutos. Em Barcelos, os erros foram nossos, por nossa culpa e devemos reflectir e emendar a mão sob pena de se repetirem com frequência.

Jorge Jesus tem uma equipa com potencial, a espaços já joga muito bem, mas é preciso conseguir uma consistência exibicional que só poderá ser alcançada com o equilíbrio posicional dentro de campo que não tivemos em Barcelos.

Jesus percebeu isso na Holanda a entrada de Rúben Amorim e Matic (podia ter entrado mais cedo) visou isso mesmo. Na Holanda o resultado foi bom porque o adversário também o é.

Ganhar ao Feirense e eliminar o Twente afastam muitas das nuvens que pairam na Luz, mas fazê-lo de forma categórica seria o tónico que precisamos. Como reza a música, 'vamos fazer o que ainda não foi feito'.

Falcao já voou, o que até não é grande novidade. Novidade é o destino, Atlético de Madrid, um clube para onde os portistas garantiam nunca mais ir ninguém desde o folhetim Paulo Assunção. Agora fica a concorrência à espera de saber se há mais voos que tornem o FC Porto menos forte. Ruben Micael também saiu, mas deste ninguém sentirá grande falta pelos lados do Dragão.

Desta geração de Sub-20 não sairá um Figo, um Rui Costa, um João Pinto, um Jorge Costa, entre tantos outros, mas como equipa transcende-se. Gosto dos dois centrais e estou rendido ao guarda-redes. Numa final, mesmo não sendo favoritos tudo pode acontecer. O percurso já foi muito bom e pode vir a ser fantástico."

Sílvio Cervan, in A Bola

Certezas e desejos

"Depois do jogo na Holanda, é possível enumerar algumas certezas relativamente ao presente e ao futuro próximo do Benfica. Primeira: a alegada incompatibilidade, num mesmo onze, de Pablo Aimar e Alex Witsel é um disparate inventado por teóricos, que a criatividade inquieta do argentino e a disponibilidade múltipla do belga (para já, a mais útil e eficaz das aquisições dos encarnados) desmentem a cada lance. Segunda: a troca do milionário Roberto pelo discreto Artur é uma bênção para os que sofrem quando a bola se aproxima da baliza do Benfica e pode ser uma “maldição” para as ambições de Eduardo. Terceira: por mais detratores que colecione, por maior que seja o desespero pelos seus longos períodos de inatividade em campo, Oscar Cardozo há-de deixar muitas saudades no dia em que partir. Quarta: quem esperar de Nico Gaitán uma produção constante de lances vertiginosos e virtuosos, talvez ganhe em fazê-lo sentado, uma vez que o jovem argentino revela-se em fogachos e momentos, não em continuidade, parecendo além disso precisar de um banho de motivação. Quinta: é fundamental aproveitar até ao limite o estado de graça de Nolito que, com mais instinto do que saber e com mais alma e fúria do que frieza, lá vai deixando a sua marca em jogos consecutivos.
Dito isto, não é possível deixar de acrescentar que, com outra ambição, o Benfica teria chegado à vitória nesta primeira partida com o Twente, apesar da meia dúzia de intervenções decisivas de Artur. De um modo diferente do que aconteceu em Barcelos, mas com o mesmo desfecho (até no resultado), sentiram-se ocasiões de adormecimento que são incompatíveis com as anunciadas ambições da equipa. Para já, ainda vale o benefício da dúvida, devido por estarmos no princípio da época. Mas as próximas partidas vão definir se este Benfica 2011/2012 se aproxima mais do seu antecessor imediato ou do seu antepassado da primeira época de Jorge Jesus no clube.
Deseja-se que, no jogo em que vai ser anfitrião e que pode (deve!) abrir a porta aos milhões da Champions, se cumpra a tradição com Co Adriaanse – que continua igual a si próprio com “mind games” primários e “bocas” fora de contexto –, que nunca ganhou uma partida ao Benfica. Já que se convoca a tradição, seria igualmente ótimo que ela se aplicasse ao Portugal-França de mais logo, na meia-final do Mundial de Sub-20. É que, ao contrário dos seniores, onde os gauleses são a nossa besta negra, nesta categoria nunca venceram os portugueses. Além disso, apresentam-se como favoritos. E também isso é um hábito que favorece os nossos, que preferem jogar sem a pressão do favoritismo. Ainda por cima, a uma etapa apenas do sonho final. Haja físico, que o talento está lá."