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sábado, 3 de maio de 2025
O Manchester United, Amorim e o previsível final da história
"Um dia o grande Man. United irá voltar e não é de todo descabido pensar que os primeiros passos desse regresso já estejam a ser dados. Será Ruben Amorim a mostrar-nos o futuro?
O futebol é tão imprevisível como Harry Maguire a pela direita que nem extremo à moda antiga, a convencer num ápice o marcador a ir caçar gambuzinos, ainda que o rapaz se arrependa e ainda volte para uma última tentativa de desarme. Sim, esse mesmo Harry, corpo de mogno em forma de armário e pés de lenhador após uns quantos shots e umas fish n' chips no pub da vila, a insistir e a cruzar para a cabeça de Ugarte, na primeira de duas assistências do Manel uruguaio, a que encaixa com um Casemiro a voar para um rejuvenescimento há muito dado como perdido. Talvez até pelo próprio, aburguesado depois do que andou a ganhar pela comissão de serviço no Bernabéu.
É igualmente imprevisível quando se espera uma noite de sofrimento, de fuga às próprias sombras, e se acaba num passeio ao luar, tão romântico que, de repente, dá ideia de poder mudar tudo. De virar uma época do avesso, de pôr uma classificação inteira de pernas para o ar e pendurá-la no balneário. Não se percebe que raio fizeram aos Leones de Bilbau, de tão impossível era que estivessem saciados antes da final onde tinham de estar sim ou sim, porém ferozes foram os diabos, mais demoníacos do que diabólicos, contabilizando almas em ábaco, como se estas fossem responsáveis por todos os males do mundo e havia que recuperar esse tempo perdido desde o início dos tempos.
Era, amigos, o Athletic de Valverde, em que tudo faz sentido até, num ápice, deixar de o fazer. Não o Barça de Flick ou o Real de don Carletto, que virou vilão com charuto em Madrid, mas ainda assim valentes e organizados bascos que honram a tradição do bom e organizado futebol.
Claro que todos sabemos que Old Trafford está longe de ser imune à falta de lógica, tal como o não foi a Catedral de San Mamés, ainda mais com tantos a faltarem e a quererem faltar ao respeito ao gigante adormecido, onde já não voam chuteiras nem há Spice Boys a sair do balneário com pensos na testa, mesmo que nunca tenham deixado de curvar a bola como sempre fizeram. Amorim sabe isso melhor do que ninguém, já o sentiu como poucos, resistiu como talvez só mesmo Ferguson, que ainda tem um ano e picos de sobra para a troca e a visão daquela tarja ameaçadora, mesmo diluída pelo irritante clima britânico: três anos de desculpas e ainda continua uma porcaria! Shite!
O futebol é, contudo, previsível ao ponto de sabermos que há sempre golo num penálti marcado por Bruno Fernandes, tal como havia um arco-íris a nascer da última pegada que ficou da finta de Garrincha, da diagonal de Robben ou do drible da vaca de Romário. Tão esperado como o eterno vencedor nas apostas de Fergie e Ronaldo ou aquele vulto a não falhar um drible em velocidade down the wing. Ryan Giggs, Ryan Giggs!
Os golos a granel de Van Nistelrooij, Van Persie e van todos mas é para onde o raio vos parta se não se lembram do Rooney, que até de bicicleta... e o colarinho levantado em cima do peito feito de Eric após mais um pontapé na traineira perseguida por gaivotas atrás de sardinhas. Oh, ah, Cantona!
De Bruno já nos habituámos a que a água dos fiordes gelados lhe corra pelas veias transformadas em rápidos que aceleram para baliza dos adversários. Mais do que a Hojlund ou a Lindelof, herdeiros, esses sim, talvez de vikings que invadiram e saquearam a Northumbria, ainda que algo se tenha perdido na genética e não pareçam fazer mal a uma mosca. Em Bruno, sim, há um gelo que se transforma mais uma vez em classe perante o guarda-redes e o aproxima ainda mais daquele guerreiro que sempre conhecemos, capaz de liderar até um animal ferido e até aí sem esperança contra o resto do planeta. Espero-o em todos os jogos e confesso que já tinha saudades. Talvez apenas os analistas e comentadores não as tivessem para haver sempre algo por onde pegar. Ainda que se não houver inventam.
A primeira época de Ruben no Manchester United nunca dará para que se escrevam grandes obras clássicos, epopeias. Nada que ainda aconteça, inclusive voltar a San Mamés e festejar em êxtase, apagará tudo o que não se previa e aconteceu. Que foi acontecendo, semana após semana, jogo após jogo, com o português cada vez mais exposto, a dizer coisas que ninguém esperava ouvir. Como a do pior Manchester United da história.
Ninguém pode dizer que estava preparado para um 14.º ou 15.º lugar, para a facilidade com que os golos são sofridos ou a escassez de qualidade quando se tem a bola para atacar. Para as 15 derrotas, muitas delas numa casa que se deveria apresentar como uma fortaleza. Porque simplesmente a liga é de um outro nível e castiga se calhar tanto como a Champions, a revolução parece mais estagnada do que viva, ainda com muita pedra para partir, antes que se lancem novas fundações e se construa uma nova casa. Mas estará mesmo?
A Liga dos Campeões, via Liga Europa, não deixa de ser um caminho, um alternativo, que valerá tanto ou mais do que o outro. Significará prata, a conquista de um troféu, não o mais importante e mais desejado, mas ainda assim um troféu — o mesmo que José Mourinho venceu e que continua a ser o mais valioso no pós-Ferguson, com Ten Hag ainda assim a arrecadar os restantes dois, a Taça de Inglaterra e a Taça da Liga, em épocas sucessivas —, e um salto virtual gigantesco de dez posições na tabela do melhor campeonato do mundo. Através, sim, de uma realidade paralela.
Tal como na altura de Mou, o Manchester United, na pele de dirigentes e adeptos, sabe que não é suficiente. Ruben Amorim também. Ainda Bruno Fernandes, que sempre disse publicamente querer fazer parte de uma equipa competitiva, que lute pelos lugares cimeiros do campeonato, sentirá o mesmo. Tem de senti-lo. Um competidor com ele não conseguirá escapar a tamanho sentimento.
É acredito, mais agora do que chegou a prometer em 2016/17, o início de novo ciclo. Um certamente mais feliz. O clube deve a si próprio esse regresso ao passado em termos de títulos. A Ruben resta continuar a partir pedra e se o futebol tem algo de previsível é que o grande United um dia vai voltar. Será desta?"
Que não se apague o jornalismo
"O famigerado Apagão de 28 de abril deu origem a um dia de elevadíssima procura de notícias em 'sites' credíveis e profissionais. Um sinal de esperança entre várias ameaças
Mesmo com todas as horas de intermitência, primeiro, e inatividade, mais tarde, A BOLA obteve na segunda-feira excelentes resultados na afluência ao site. O dia do Apagão constituiu-se, aliás, como um dos dois melhores do mês em número de utilizadores que nos procuraram para saber o que queriam saber e a falta de eletricidade não deixou durante tanto tempo. Deduzo, por maioria de razão, que o mesmo se tenha passado com os outros órgãos de Comunicação Social, generalistas ou desportivos, até porque estes também acompanharam a par e passo, dentro do possível, os desenvolvimentos daquelas horas distópicas.
Num período marcado pela maior crise de sempre do jornalismo — económico-financeira, sobretudo, mas não só — este é um sinal de esperança. É a certeza de que muitas pessoas ainda sabem onde procurar informação rigorosa e escrutinada. Confiam no trabalho de mediação e percebem que — ainda que com erros cometidos, por enquanto somos quase todos humanos — podemos ajudar na separação entre o trigo das notícias verdadeiras e o joio das falsas.
Os perigos da desinformação, porém, estiveram bem à vista na maldita segunda-feira. Minutos depois do incidente os criminosos espalharam a informação de que a causa teria sido uma explosão em França; depois passou a ser uma explosão no País Basco; não sei se chegaram a falar de outra, sei lá, na Picheleira ou no Bolhão. Um pouco mais tarde, um ou vários chicos-espertos elaboraram uma história bem estruturada que defendia a teoria de um ciberataque russo, com o Kremlin a negar, Ursula Von der Leyen a comentar e informações sobre embarcações russas avistadas em águas da NATO.
Quando ainda havia umas réstias de comunicação, esta teoria pegou e de que maneira. Cada português terá recebido esse texto — ardilosamente atribuído à CNN — umas três ou quatro vezes, no mínimo. E muita gente acreditou que era verdadeiro, mesmo que a própria CNN se tenha apressado a esclarecer. Sabemos, contudo, que um boato, uma vez lançado, fica difícil de mitigar.
É também para isso que há jornalismo. Que, vá lá perceber-se!, tem de ser feito por jornalistas. E esses estão cada vez menos protegidos e cercados de ameaças, desde as empresas em dificuldades aos consumidores que pirateiam, passando naturalmente pelas fake news.
Tal como com a energia elétrica, só conseguiremos ter noção da falta que o jornalismo faz se um dia ele se apagar."
Hoje é Dia do Trabalhador. E os futebolistas?
"A realidade é mais complexa do que olhar para os futebolistas profissionais como estrelas milionárias. Alguns são-no...
No dia 1 de maio celebra-se o Dia do Trabalhador, uma data que homenageia todos os que, com esforço e dedicação, contribuem para o progresso da sociedade. Mas será que os futebolistas profissionais se enquadram nesta celebração? Apesar de muitas vezes serem vistos apenas como estrelas milionárias, a realidade é bem mais complexa.
De acordo com dados da Liga Portuguesa de Futebol Profissional, o salário médio na I Liga é de 14.500 euros mensais. No entanto, se excluirmos os três grandes clubes (Benfica, FC Porto e Sporting), essa média desce para 6.500 euros. Na II Liga, os vencimentos são ainda mais modestos, rondando os mil euros por mês. Estes números demonstram que, para a maioria dos jogadores, a realidade está longe dos salários milionários frequentemente divulgados.
Além das questões salariais, os futebolistas enfrentam uma carga competitiva intensa. O presidente do Sindicato de Jogadores Profissionais de Futebol, Joaquim Evangelista, alerta para o «crescimento galopante da sobrecarga competitiva», referindo que alguns jogadores chegam a disputar até 80 jogos por época, com períodos mínimos de recuperação entre partidas. Este contexto não só aumenta o risco de lesões, como também tem impacto na saúde mental dos atletas.
O futebol profissional em Portugal é uma indústria significativa, gerando receitas superiores a mil milhões de euros na época 2023/24 e contribuindo com mais de 200 milhões de euros em impostos para o Estado. Ainda assim, muitos atletas enfrentam instabilidade laboral, com contratos de curta duração e falta de garantias para o futuro.
Neste Dia do Trabalhador, é fundamental reconhecer que os futebolistas são, mais do que tudo o resto, trabalhadores. Merecem condições laborais dignas, proteção social adequada e reconhecimento pelo contributo que dão ao desporto e à sociedade. A valorização do futebolista enquanto profissional é um passo fundamental para a justiça e equidade no mundo do desporto."
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