"Segue-se o exercício típico desta altura do ano, quando todos os sonhos são legítimos e ainda se discutem mais jogadores que arbitragens, mais as abordagens táticas que as decisões disciplinares. A proposta é de um olhar sintético e essencialmente de expectativa sobre cada equipa e seus argumentos, seguindo ordem alfabética:
FC Arouca – O desafio é o de conseguir um futebol mais ousado e sedutor. Entre muitas contratações no exterior, avulta Oriol Busquets, acrescento de qualidade indiscutível e um bom exemplo de que mesmo os emblemas mais modestos já conseguem alargar os horizontes geográficos.
SL Benfica - Acertou em cheio quando avançou por David Neres e forçou para ter Enzo Fernández quanto antes. E elogie-se Roger Schmidt, que pretende – e tem apresentado - um jogo intenso, mas privilegia jogadores de qualidade técnica em detrimento de monstros físicos. A aposta em Grimaldo, Florentino e João Mário é a mais eloquente e acertada prova disso.
Boavista FC – Na linha habitual, até na tristeza de começar a época sem poder utilizar reforços, com o desafio suplementar para Petit de construir um jogar de raiz. Curiosidade para perceber o que vale Watai - do Japão tem chegado muita gente boa - e se Bozeník, o novo ponta de lança, cumpre finalmente o que prometeu no Zilina, o que não aconteceu no Feyenoord nem em Dusseldorf.
SC Braga - Banza e Lainez são os reforços de topo, mesmo se o central Niakité deixou já uma ótima primeira impressão. Falta saber se Artur Jorge mantém a construção elaborada que era marca de Carvalhal e se o novo 1.4.4.2 permite manter o rendimento de jogadores decisivos, como Al Musrati mas sobretudo Iuri Medeiros ou Ricardo Horta (se ficar), qualquer destes tanto melhor quanto mais perto da baliza contrária.
Casa Pia AC – Numa expressão que os italianos usam muito, é o objeto misterioso até agora. Tem na base a equipa que subiu, acrescentada de gente madura como Fernando Varela ou Rafael Martins, entre vários jogadores desconhecidos. Eteki, médio internacional camaronês com muitos anos a titular no Granada, é o nome principal e Léo Bolgado pode confirmar os bons sinais deixados no Leixões.
GD Chaves - O Chaves apresenta um plantel ainda carente de reforços. Vendeu o excelente central Alexsandro, mas manteve os talentosos João Teixeira e João Mendes (que há muito merecia a primeira liga). A principal contratação é o espanhol Hector Hernández, um bom avançado de área e particularmente forte no jogo de cabeça. Falta quem o municie a partir das alas.
GD Estoril Praia – Nelson Veríssimo tem a oportunidade de mostrar em que tipo de jogo verdadeiramente acredita, depois da gestão difícil a que foi obrigado no Benfica. Trouxe com ele da Luz Pedro Álvaro e Tiago Gouveia - que pode ter o ano da explosão - mas apresenta Léa-Siliki como o reforço mais sonante, sobretudo pela carreira sólida no Rennes. Alejandro Marqués (emprestado pela Juventus) pode ser uma bela surpresa no ataque.
FC Famalicão – Rui Pedro Silva segurou a equipa, mas o futebol não encantou. Iniciando a época, terá, também ele, o momento da verdade. O reforço mais forte vem de França, que Zaidou Youssuf, internacional sub-21 e há muito titular no Saint-Etiènne, parece homem para voos mais altos. Com Santi Colombatto (argentino de qualidade amadurecido no México) mais Assunção, Pelé, André Simões e Ivan Jaime, pode compor um meio-campo de elite. Expectativa também para ver Beck, lateral cedido pelo Liverpool e Alex Millán, o ponta de lança emprestado pelo Villarreal.
Gil Vicente FC – Não é fácil perder em simultâneo Pedrinho e Samuel Lino, mas manteve Navarro, trouxe de volta Pedro Tiba e junta mais um japonês, Arai, ao talentoso Fujimoto. Na defesa aposta na afirmação de Tomás Araújo e no ataque na evolução de Boselli. O desafio para Ivo Vieira é manter um rendimento ao nível do conseguido por Ricardo Soares. E não é coisa pouca.
CS Marítimo – Vasco Seabra melhorou muito o rendimento da equipa na época passada. A ambição pode ser maior, mas a base é quase a mesma. Expectativa pelo que podem fazer os avançados Jesus Ramírez, venezuelano que jogava no México, e sobretudo Pablo Moreno, miúdo espanhol emprestado pela Man City. Atenção também a Rafael Brito, o prometedor 6 que chega do Benfica B.
FC Paços de Ferreira – Depois do salto, em termos de pontos mas sobretudo de qualidade que representou a chegada de César Peixoto, o desafio é fazer melhor. Com um plantel ainda a ser retocado, percebe-se critério na escolha de homens como o médio escocês Holsgrove e Arthur Sales, um versátil avançado brasileiro descoberto na Bélgica. E há sempre Nico Gaitán, que se bem fisicamente faz a diferença e continua a valer o preço de um bilhete.
Portimonense SC – Paulo Sérgio pretenderá a regularidade que faltou à equipa na época passada. Perdeu alguns nomes importantes, como Nakajima e Lucas Fernandes, mas mantém qualidade individual apreciável, mesmo se num plantel construído com base no físico. Curiosidade para perceber se Klismahn se afirma como médio de liga principal.
FC Porto - O scouting portista merece o primeiro elogio, que Veron é mesmo um grande talento e André Franco uma das melhores (sobretudo na relação qualidade/preço) opções disponíveis em Portugal. Com David Carmo pronto para o onze, falta perceber quem vai pegar na batuta deixada por Vitinha. Globalmente o plantel é profundo, com soluções de versatilidade que vão de encontro ao lado estratégico que Sérgio Conceição muito valoriza.
Rio Ave FC – Até agora uma equipa de gastos contidos, parece esperar os últimos dias de mercado para edificar o plantel que a divisão maior reclama. Luís Freire começa com a maioria dos homens que o acompanharam na subida e aposta, bem, em Leonardo Ruiz, que pode ter finalmente a época de afirmação.
CD Santa Clara – Expectativa por Bobsin, médio de percurso firme nas seleções jovens do Brasil e no Grêmio, para perceber se ainda vai a tempo de chegar ao topo. Mário Silva, que tem o desafio de estabilizar um clube instável, conta com mais uma série de miúdos brasileiros que prometem - Paulo Eduardo, Rildo e Gabriel Silva – e espera decerto que Tagawa confirme o excelente impacto inicial.
Sporting CP - Voltou a mostrar que sabe o que quer no mercado, seja interno, com Morita e Rochinha (como antes Pote, Paulinho ou Edwards) ou em negócios de oportunidade para acrescentar talento de topo, com Trincão como há um ano com Sarabia. Com mais soluções criativas para lançar em redor de Paulinho, o desafio para Ruben Amorim é conseguir um jogar menos previsível, mais subversivo, sem deixar de ser eficaz. E falta resolver a questão Matheus Nunes.
Vitória SC (Guimarães) - Será mais forte – exceto nas finanças - se mantiver André Almeida, porque dificilmente encontrará parecido. Villanueva foi bem apanhado e André Silva surge como boa solução no ataque. Antoñin Cortés pode surpreender pela positiva e acredito, dependendo das oportunidades, na afirmação de miúdos da cantera, como Handel ou o ainda desconhecido mas muito prometedor Dani Silva.
FC Vizela – Que Álvaro Pacheco não perca a vontade de privilegiar o jogo ofensivo e consiga, principalmente para o ataque, os reforços que claramente ainda lhe faltam (Schettine e Cassiano já não estão). Nas laterais, há que esperar para ver se Isaac e Matheus Pereira acrescentam a qualidade que faltava. E ainda expectativa para perceber o que pode dar no imediato Diego Rosa, internacional jovem do Brasil, contratado ainda adolescente pelo Manchester City."