Últimas indefectivações
quinta-feira, 6 de junho de 2019
Oh, vós, os ingénuos, não sabeis que a má exibição de Félix é apenas mais uma maquiavélica jogada do Benfiquistão?
"Rui Patrício
Mais do que honrar o seu compromisso para com os portugueses, Rui Patrício fez por evitar que milhares de titulares do cartão Continente saíssem do Estádio do Dragão com mais do que um desconto de 50% em melão.
Nélson Semedo
Ocupou o lugar mais cobiçado do futebol português, mas, por muito valioso que sejam estes jovens laterais portugueses, é muito difícil ultrapassar o Dacia Duster que dá pelo nome de Cédric.
Pepe
Foi dos que teve mais sorte. Lesionou-se a meia-hora do final.
Rúben Dias
Perdeu uma excelente oportunidade de espetar um calduço a dois colegas de equipa: João Félix, pela exibição menos conseguida, e Seferovic, pelas várias ocasiões em que escapou à marcação. Mais uma jogada maquiavélica do Benfiquistão para valorizar o passe do suíço e manter Félix em Portugal.
Raphael Guerreiro
Tiveram um disco de estreia memorável, mas estes Raphael Guerreiro não resistiram à pressão do segundo disco. Estranho como uma banda que em tempos encheu o NOS Alive parece hoje a caminho do Marés Vivas.
William Carvalho
Agressivo, voluntarioso e dos mais decididos a conduzir o jogo português. Chegou quase sempre primeiro à bola. Resta agora saber quem é o indivíduo que se fez passar por William Carvalho esta noite.
Rúben Neves
Não espanta que tenha sido um passe longo de Rúben Neves a criar as condições para a vitória desta noite. O centro campista, que foi um dos melhores em campo, percebeu que o que tinha de fazer: garantir que a bola tocasse no mínimo de colegas possível, por forma a libertar a equipa da marcação imposta por algumas das ideias de Fernando Santos para esta selecção. Só assim foi possível garantir a desmarcação de Bernardo Silva no lance do segundo golo e convencer-nos a todos de que está tudo bem. Bela mentira.
Bruno Fernandes
A sua presença em campo pareceu um episódio do “E se fosse consigo?”. Um indivíduo é violentado técnica e tacticamente pelo seu superior hierárquico e preso a uma secretária, de onde só sai para urinar ou lançar contra ataques como se fôssemos San Marino. Milhares de pessoas assistem de forma passiva enquanto Bruno Fernandes é vergado psicologicamente até se transformar em João Moutinho.
Bernardo Silva
Aung San Suu Kyi, Vaclav Havel, Mohandas Gandhi, Nelson Mandela, e agora Bernardo Silva. A história destes homens e mulheres nem sempre teve um final feliz, mas há algo que os une: apesar de permanecerem agrilhoados por ideologias totalitárias reinantes, souberam manter-se do lado certo da história, porfiando em sofrimento até que o tempo e uma mudança do sistema de jogo lhes desse razão. Saibamos sofrer com esses heróis, pois só assim poderemos um dia celebrar a sua libertação, que será também nossa.
João Félix
Eu só espero que aquele cérebro de adolescente frustrado com a má exibição de hoje esteja a ler todos os posts, tweets e piadas, e a pensar, pacientemente: “Deixa-os pousar”.
Cristiano Ronaldo
Todos os hat-tricks de Ronaldo são merecedores da nossa admiração, mas o de hoje foi particularmente saboroso, não tanto pelo apuramento para a final mas por nos ter poupado a um prolongamento.
Gonçalo Guedes
A energia contagiante de um daqueles assistentes de produção que põe os espectadores a aplaudir, mesmo que não lhes apeteça.
José Fonte
À hora em que lhe foi pedido que substituísse Pepe, José Fonte já costuma estar a dormir. A vida de um septuagenário não é fácil, mas o nosso veterano incorporou sem hesitações a massa homogénea conhecida como “e mais dez”, aguentando em campo o tempo necessário até que Ronaldo fizesse o resto.
João Moutinho
Entrou quase no final, mas ainda a tempo de celebrar com colegas e adeptos o final desta partida de futebol. Infelizmente no domingo há mais."
Na brancura tão bonita do papel
"Cheguei a ir sábado a Loulé e seguir para Castelo Branco no domingo, e havia um prazer que nos movia para lá de qualquer coisa que se pudesse explicar: era o jogo, eram os jogadores e treinadores que conhecíamos bem.
Quando fechei a porta de minha casa, em Águeda, o lugar eterno da minha infância, esse país de que falava Saint-Exupéry, e tomei a estrada de Albergaria-a-Velha, recordei-me dos tempos da velha A Bola em que percorríamos o país de cima a baixo atrás do futebol, primeira ou segunda divisão, tanto fazia, quilómetros e quilómetros e quilómetros, saindo de madrugada, regressando noite dentro para escrever na redacção (às vezes era mesmo num café qualquer, e depois, as laudas, por fax, de uma rádio local), do Porto ou de Lisboa, trazendo os rolos de fotografia que depois o Nuno Ferrari ou o João Manarte revelavam lá no sótão da Travessa da Queimada, ou o sempre querido Timóteo na Campanhã. Cheguei a ir sábado a Loulé e seguir para Castelo Branco no domingo, e havia um prazer que nos movia para lá de qualquer coisa que se pudesse explicar: era o jogo, eram os jogadores e treinadores que conhecíamos bem; era aquela sensação única de ver o nome impresso n’A Bola grande, broadsheet, que foi ficando pequenina, cada vez mais pequenina, infelizmente definitivamente pequenina; era a vida, afinal, a vida que tínhamos escolhido para lá da vida, maridos de viúvas vivos, dizia o Carlos Miranda, pais de filhos que nunca vimos crescer à velocidade dos meses, mas apenas à velocidade dos anos. Os quilómetros eram pagos e bem pagos, acrescente-se. Para aí a 25 tostões (diz lá tu, chefe Rita!), e o imposto era em selos e carimbos cá em baixo, no rés-do-chão, num cubículo onde havia o dinheiro solto para pagamentos inesperados e vales para os que iam, de repente, como enviados especiais para qualquer lugar do mundo onde a vida acontecesse e houvesse coisas para escrever sobre ela, sempre com aquele ensinamento do Alfredo Farinha, que para nós era uma lei, de tentar esclarecer e ser útil. Eu ainda sinto a febre. Levanto-me com a febre das estradas (que agora são autoestradas), dos aeroportos, com a excitação da urgência do fecho, mal o jogo acabe, com o prazer infantil de subir as escadas que conduzem às tribunas de imprensa, ouvir os gritos do povo nas bancadas, alegrias e tristezas (até insultos), com tudo aquilo que há para dizer e exprimir e transformar nas palavras que já não sei se alguém lê ou não, mas que saem dos qwerty do meu computador para todos aqueles que quiserem dispor delas ou ignorá-las. Não consigo ouvir um jornalista dizer com orgulho que há mais de nove anos não põe os pés num estádio, quando é no estádio que tudo se passa, que é aqui que podemos continuar a ser do futebol e do jornalismo, da crónica e da opinião, da reportagem ou da entrevista. Guio devagar, mas com pressa de chegar. Chegar mais uma vez ao assento cujo número me está destinado e no qual passo, de um momento para o outro, a ser a testemunha privilegiada que trabalha para os que aqui não podem estar. Hoje no Porto, amanhã em Guimarães, depois no Porto outra vez, sempre com Águeda pelo meio, nas horas mortas, porque esse é o sítio onde me sinto bem. Vejo o estádio de um lado do vidro e o Douro do outro. Lembro-me do Torga:
“Sem pressa de chegar ao seu destino
Ancorado e feliz no cais humano
É num antecipado desengano
Que ruma em direcção ao cais divino”.
Divino, sim, o cais do meu trabalho. Mas o meu barco resolveu há muito, muito tempo, desde esse tempo do qual sinto infinitas saudades, recusar-se ao destino de alguma vez vir a ter cais. Chego e parto. E as palavras ficam pelo caminho. Impressas e negras na brancura tão linda do papel."
Liverpool vs. Benfica B !!!
Klopp jogou um amistoso contra o Benfica "B", porque sua maneira de defender é semelhante ao do Tottenham. Olhe para o jogo do amistoso e a primeira jogada da final: pênalti e gol de Salah. Nada é por acaso, tudo é treinado.
— Curiosidades Premier League (@Curiosidades_PL) June 5, 2019
(Vídeo do @HS_10Ftbol)pic.twitter.com/v1w2ozmRiD
Elas andam aí
"Há notícias boas, há notícias muito boas... e depois há esta.
Os números não enganam: há cada vez mais mulheres a praticar desporto em Portugal. No caso do futebol, a evidência é ainda maior. O desporto-rei é o exemplo perfeito do que é crescimento rápido e estratégico, no feminino. Ano após ano, época após época, há cada vez mais praticantes. Há cada vez mais meninas a fazer aquilo que gostam, aquilo que querem, aquilo que verdadeiramente as preenche, deixando de lado o preconceito démodé (e desde sempre descabido) de que bola é apenas coisa de homem.
Esta emancipação, este salto cultural, é uma lição de vida para todos aqueles que ficaram presos no início do século passado. Uma lição para todos aqueles que ainda pensam que lugar de mulher é na cozinha e lugar de homem é na mesa.
Nada acontece por acaso e o mérito deste boom tem vários rostos, mas o principal é o de quem teve a coragem e a visão de apostar, sem medo e com estratégia, nesta variável.
Há uns anos, a Federação Portuguesa de Futebol desenhou um Plano Estratégico para efectivar o crescimento sustentado do futebol feminino em Portugal. A ideia era aumentar em quantidade, em competitividade e em qualidade, criando condições para que mais mulheres jogassem o jogo que todos gostamos. A aposta, feita de baixo para cima, fez impulsionar o número de competições. Há, hoje, cada vez mais jogos, cada vez mais palcos, cada vez mais praticantes.
Os resultados estão à vista: por esta altura, existem cerca de 5.000 atletas federadas em Portugal. De norte a sul do país, há meninas a jogar à bola em campeonatos distritais ou nacionais. Meninas de todas as idades e de várias localidades. Meninas que são agora mais felizes, mais libertas, mais iguais.
Não estranha, por isso, que a idade média no futebol feminino seja das mais baixas da Europa: não ultrapassará os 22 anos de idade. Se a compararmos com a de outros ligas, mais profissionais, experientes e desenvolvidas, perceberemos a diferença: essas rondam os 25/26 anos de idade.
Está tudo a começar. A começar bem.
Quantas mais mulheres a jogar, mais competitividade, mais interesse público, mais qualidade. Quanto mais mulheres no futebol, mais mediatismo, mais evolução cultural, mais igualdade de género. Mas se é verdade que o número de futebolistas tem aumentado substancialmente, não é menos verdade que tem acontecido (mais ou menos) o mesmo na arbitragem.
Estima-se que existam actualmente cerca de 200 meninas a arbitrar jogos de futebol em Portugal. São poucas, se comparadas com os 4000 árbitros no activo (para uma necessidade real de 10.000), mas mais, muitas mais do que as que existiam há meia dúzia de anos.
E se as competições regionais ainda só têm capacidade para organizar jogos de escalões de formação (quer no futebol, quer no futsal), a nível nacional existem duas categorias distintas: a CF2 (uma espécie de 2ª Divisão Nacional, com 30 árbitras) e a CF1 (uma espécie de 1ª Liga, com 21).
Dessas 52 árbitras pertencentes aos quadros da FPF, 7 têm já o estatuto de internacionais: 3 árbitras e 4 árbitras assistentes.
O crescimento aí, embora menos rico em número, tem sido avassalador em qualidade. O exemplo maior vem da AF Aveiro e chama-se Sandra Bastos.
A árbitra FIFA pertence à Elite da UEFA e encontra-se, neste momento, em França, onde se prepara para dirigir jogos do Campeonato do Mundo de Futebol Feminino. Será a primeira árbitra portuguesa a ser nomeada para a maior competição de selecções de futebol do mundo.
A Sandra, que chegou a ser jogadora federada, abraçou a arbitragem por pura paixão ao jogo. Cumpre agora o sonho de uma vida. O sonho para o qual trabalhou, dura e afincadamente, durante muitos, muitos anos.
Há muitas Sandras como a Sandra. Há também as Sílvias, as Vanessas, as Sophias, as Teresas, as Anas e as Olgas. Há muitas meninas, muitas mulheres, com talento enorme para jogar e para arbitrar. Meninas e mulheres que se dedicam, de corpo e alma, à actividade que mais amam.
São umas heroínas, na atitude, no carácter e na coragem, porque ainda vivem numa realidade descompensada. Numa realidade injusta e arcaica que, por exemplo, ainda paga, a eles, muito mais do que paga a elas. Sozinhas não conseguem tudo mas juntas conseguem o mais importante: mostrar ao mundo que, além do género, mais nada as separa dos homens.
O presente e o futuro são de igualdade, tolerância e respeito. São de oportunidade para todos os que a merecem pela sua competência e pelo seu mérito. Apenas e só por isso.
Quem não vive de acordo com estes princípios, está claramente no planeta errado. E lugar de ET não é aqui."
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