"O fim anunciado da maioria das competições parece não ter trazido a paz e tranquilidade que antecipávamos por esta altura.
Geralmente, depois de (quase) tudo estar definido, o ambiente tende a acalmar, ainda que com algum ruído e controvérsia à mistura. As pessoas descomprimem, libertam a pressão e deixam que a emoção dê lugar à razão. É sempre assim, ano após ano, época após época.
Esse sentimento estende-se a quem está lá dentro, a dar o máximo que sabe e pode e a quem está cá fora, a viver tudo aquilo com paixão e intensidade.
Mas informações recentes dão conta que, afinal, as coisas não estão tão calmas como se desejava.
Aparentemente ainda há alguns focos de incêndio a proliferar por aí, que criam sinais de alerta em relação a situações e/ou condutas que não era suposto vermos em alta competição (sobretudo quando estamos quase todos de férias).
A novidade é quem nem todas são exclusivas do mundo do futebol.
No que diz respeito ao desporto-rei, fomos surpreendidos por notícias que confirmaram que uma pessoa com cargo alto na estrutura do futebol profissional tinha sido constituída arguida pelo Ministério Público, por suspeitas da prática de crimes que, aos olhos da nossa perceção, são de enorme gravidade.
A verdade é que foram necessárias mais de 72 horas para que o arguido nesse processo (nunca esquecer o seu direito à presunção de inocência) pedisse a demissão da função que ocupava, o que só aconteceu após a convocação de uma reunião de emergência para discutir o problema. Para o exterior ficou a ideia de que a decisão foi forçada ou induzida por terceiros, o que a confirmar-se, levanta a velha questão:
- Será que uma pessoa que se vê envolvida numa situação tão difícil, com dimensão e notoriedade evidentes, não devia ter sido a primeira a dizer que abandonava a função de imediato, de forma a preparar a sua defesa e evitar danos maiores à imagem da instituição onde colaborava? Será que ética e deontologicamente não seria essa a atitude certa a tomar? A que todos esperavam? Sinceramente acho que sim.
Ninguém está livre de ver o seu bom-nome arrastado para processos de dimensão dantesca (às vezes basta denúncia anónima infundada), mas garanto-vos que se fosse titular de cargo importante e entendesse que a saída seria a única forma de resolver o problema criado, pediria suspensão imediata do cargo.
Naturalmente que nestas coisas cada um sabe de si. Quanto à justiça de tudo isto, exige a prudência que se aguarde pelo apuramento da verdade, sem pelo meio "assassinar" a reputação e honra de quem quer que seja.
A outros níveis - no basquetebol, hóquei e futsal, por exemplo - temos visto que a maioria dos jogos decisivos têm sido rodeados de polémica, com uns a fazerem acusações e outros a responderem (quase) no mesmo tom.
Em Portugal parece que é impossível perder com elegância ou ganhar com classe.
É uma pena, de facto.
Há sempre qualquer coisa que o mau perdedor tem para justificar a derrota, mas que curiosamente nunca está relacionado com a assunção de erros próprios ou falhas pessoais.
A culpa é sempre do árbitro, da provocação feita pelos adversários, da coação exercida sobre estes ou do condicionamento praticados sobre aqueles.
É quase impossível assistir a manifestações de grandeza em momentos emocionalmente desafiantes.
O discurso gasto, velhinho e, diga-se de passagem, entediante, repete-se época após época, sem que ninguém consiga convencer esta gente a ter mais savoir faire, ainda que as suas razões de queixa até sejam válidas.
E isso devia ser mais comum, porque todos os que hoje reclamam justiça - todos sem exceção - já saborearam, em silêncio, vitórias imerecidas ou caídas do céu. Já ganharam sem dever, já beneficiaram de erros, já pressionaram e condicionaram também.
É preciso que evitemos cair nesse tipo de hipocrisias, sob pena de nos expormos ao ridículo aos olhos de tantos que sabem analisar desporto sem brejeirice, sem provincianismo nem deficit cognitivo.
A grandeza na hora da derrota é difícil de exercer, mas é uma questão de personalidade, educação e respeito. Ou se tem ou não se tem.
A superação treina-se.
Treinem."