"A confirmar-se será um dos grandes movimentos do defeso a mudança de Darwin para Anfield, o valor falado impressiona num Liverpool com fama de acertar muito e errar pouco. Este post tratará de analisar como o uruguaio poderá jogar num dos melhores ataques do mundo.
Contexto
O Liverpool já não é só aquela equipa que pressiona muito alto e aproveita o momento em que recupera a bola para criar perigo. Na verdade, juntamente com o Manchester City, apresentaram o ataque posicional mais forte e consistente da Europa, no campeonato onde as equipas frequentemente apresentam excelentes blocos baixos e densos.
A interrogação sobre Darwin começa logo na posição. Jogará numa das alas, preferencialmente a esquerda – já que a direita pertence a Salah – ou no meio?
Comecemos pelo bom – e relativamente óbvio. Em jogos equilibrados em que o Liverpool recupere a bola em zonas ligeiramente mais baixas e o lateral suba no terreno, a mais-valia parece evidente. Afinal, fazer a desmarcação no espaço deixado livre pelo lateral, receber a bola de dentro para fora (seja à largura ou em zonas mais interiores) é o cartão de visita com o bonus da disponibilidade para defender. A sua capacidade física – velocidade e explosão – será argumento poderoso , até porque a capacidade de decisão entre reter a bola e esperar que a equipa suba ou atacar a baliza é boa (faltará, por vezes, a execução técnica mas já lá iremos). Esta situação não deve ser negligenciada: o Liverpool aproveita muito bem as subidas alheias e tem planos de jogo assentes neste momento nomeadamente nos jogos contra o City. Não obstante e contra a maioria dos adversários que se fecham em 30 metros?
Tradicionalmente o Klopp joga com uma linha de 3. No trio mais usado nos últimos anos Mané joga à esquerda, Salah à direita e Firmino no meio. O brasileiro é um falso 9 que é totalmente diferente de ser um avançado que recua esporadicamente para ser apoio frontal. Quando Firmino baixa alguém, um dos colegas da frente de ataque ou até um dos médios, tem como função arrastar os adversários mais próximos para o avançado ficar de frente para a baliza adversária e a partir daí definir. Tecnicamente é forte em espaços curtos e associa-se com facilidade a um-dois toques com colegas, aproveitando aí a superioridade numérica que o seu deslocamento provoca.
Não é fácil imaginar Darwin com esta missão e, sendo mais as dúvidas que certezas quanto à sua contratação, diria que dificilmente será isto que o treinador tem pensado para ele.
No actual modelo o lado esquerdo do ataque parece o lugar possível. Mané e Luiz Diaz são fortes no 1×1, decidme bem em espaços curtos, têm capacidade técnica para fazer o que imaginam. Sempre de fora para dentro. Diaz mais em drible (não esquecer que Klopp disse seu propósito, cito de memória, “ainda não está bem por dentro do esquema das coisas, mas está a jogar bem), Mané em associação, quer com os outros 2 colegas de ataque, quer com o lateral. O facto de ambos estarem confortáveis naquilo a que os ingleses chamam half space (a melhor tradução é meia esquerda, uma linha imaginária espaço entre a grande e pequena área) mas também quando necessário conseguirem ser a referência à largura no seu corredor e partir para dentro com a bola no pé, vendo as desmarcações dos colegas, torna-os bastante completos – não será por acaso o interesse do Bayern em Mané, os “extremos” de Julian Nagelsmann andam muito por dentro.
Contra blocos baixos e muito bem organizados como se apresentam muitas vezes as equipas inglesas, é necessário decidir rápido e quem aparece entre linhas tem de ter a capacidade técnica para jogar a poucos toques e medir o risco entre tentar o passe ruptura/sair em drible ou guardar a bola. Neste momento, não creio que Darwin esteja ao nível dos citados. Não tem o 1×1 e 1×2 que os extremos de origem possuem, não é refinado tecnicamente o suficiente para acertar mais vezes que falhar e com isso dar continuidade ao jogo Red e terá de se adaptar a longos períodos em ataque posicional, em que por vezes lhe calha em sorte ter 8 jogadores atrás da linha da bola de um lado e a linha lateral do outro. Além disto, as suas desmarcações terão de ser coordenadas com os movimentos da equipa e teria de passar por um período de adaptação (num jogo tão fluido como o do Liverpool ou City todos passam pelo mesmo). Talvez a decisão (e não a execução) seja mesmo o aspecto em que o uruguaio possa sobressair.
Se dissessem ao leitor que o City estaria interessado no jogador, provavelmente torceria o nariz porque associa a equipa de Guardiola a posses de bola longas, jogadores de enorme qualidade técnica e uma sincronização de movimentos entre todos. O meu ponto é precisamente esse: neste aspecto o Liverpool está cada vez mais próximo do rival, embora a distribuição possa ser diferente, levando os jogadores a explorar espaços e maneiras de perfurar a defesa contrária, Klopp montou uma grande equipa quando tem bola e hoje desmonta pacientemente os adversários, precisando de características que normalmente não associamos aos seus primeiros anos em Anfield.
Então qual o papel de Darwin?
Não sei e duvido que alguém fora da equipa técnica, independentemente de achar que o uruguaio vá ter sucesso, ou não, saiba. Ninguém investe 80 milhões de euros para não ter retorno imediato. Acredito que Klopp tem uma ideia e o modelo de jogo do Liverpool evolua de forma a acomodar as características do jogador.
Outro aspecto que neste momento coloca algumas reticências é a capacidade técnica. Não esquecer que Pepjin Lijnders o nº2 de Klopp é especialista na matéria e vários jogadores melhoraram após a sua chegada (Fabinho talvez seja o exemplo mais evidente).
Talvez Darwin, pelo menos num primeiro momento, vá mais para finalizar do que para participar no jogo da equipa. A facilidade e qualidade com que Arnold cruza de qualquer lugar à direita (já lá iremos) para a área pode potenciar a criação de situações para o uruguaio. Com efeito o Liverpool está feito para chegar muito bem à área com cruzamentos e não tem propriamente um homem de referência na área.
O plano alternativo
Foi ganhando protagonismo ao longo da época e é uma variação (utilizado na final da Champions, por exemplo) do model em que Darwin poderá encaixar melhor, a saber: Arnold em espaços interiores à altura dos médios mas descaído para a direita) e Salah a dar largura no corredor. Quando precisa de marcar o Klopp recorre a esta solução porque havendo rupturas o egipcio tem boas condições para conduzir de fora para dentro e o lateral tem uma capacidade invulgar para descobrir os colegas, seja em passe de ruptura, seja em cruzamento. Neste cenário, e valha a verdade também nos outros, a equipa chega junta à frente e consegue colocar vários homens na área (curiosamente a final contra o Real dsemente um pouco este ponto).
Neste contexto, Darwin poderá ser um avançado mais normativo, servindo “apenas” de apoio frontal e criando dúvida nos centrais, facilitando e libertando Salah e restante equipa para as combinações no corredor direito. Um adversário a menos faz toda a a diferença. E, é claro, ser uma excelente referência na área para concluir o que outros directamente criaram.
Concluindo, tal como está o jogador e respectivo contexto, vejo poucas hipótoses de Darwin se afirmar imediatamente em Anfield. A possibilidade de uma mudança mais estrutural na dinâmica ofensiva afigura-se provável. Não obstante, as minhas reservas também é verdade que o mesmo jogador já demonstrou enorme capacidade de trabalho e tem tudo para ser melhor no futuro. Com paciência e e perseverança de todos existe potencial para se afirmar como jogador bastante útil mas não acredito no seu impacto imediato que provavelmente os adeptos do Liverpool esperam dados os valores envolvidos."