"São muitos anos, muitos jogos como capitão. E sentido, como poucos, a salto bem qualitativo que o Benfica deu desde 2003 até hoje.
1. Podia falar das arbitragens e dos seus erros clamorosos. Poder podia mas não falo. Podia falar das simulações perturbantes que levam a decisões injustas e sem que haja as devidas sanções disciplinares em face do fair play sempre anunciado e bem registado em múltiplas camisolas. Poder podia mas não falo. Podia falar de um clima de medo que perturba e muito condiciona, em múltiplos aspectos da nossa sociedade, a liberdade conquistada. Poder podia mas não falo. Por ora. Mas o que quero sublinhar, hoje é aqui, é o jogo 501 de Luisão com a camisola do Benfica. E esse jogo acontece hoje no arranque na noite desde domingo em Braga. Num bonito e singular estádio. Jogo importante que não decisivo. O que sei é que assisti ao primeiro jogo oficial de Luisão com a camisola do Benfica e, na terça-feira passada, também presenciei o seu jogo 500. Num jogo marcante contra o Borussia Dortmund e no qual Luisão fez a assistência para o único golo do jogo e foi um dos baluartes na importante tutela da baliza imaculada do Benfica. O seu primeiro jogo foi a 14 de Setembro de 2003 no Estádio Nacional e marcou um dos golos frente ao Belenenses, num jogo que terminou com um empate a três. Belenenses onde jogava Eliseu que, desta forma, também presenciou o jogo 1 e partilhou, e bem, o electrizante jogo 500! São muitos anos, muitos golos (45) para um defesa, muitos jogos envergando, com orgulho e fé, a braçadeira de capitão do Benfica. E sentido, como poucos, o salto bem qualitativo que o Benfica, este Benfica, deu de 2003 até hoje. Com o novo estádio, a academia do Seixal, uma estrutura profissional de excelência, uma voz de comando, uma capacidade agregadora e mobilizadora. Esta capacidade que, hoje, em Braga, mostrará a sua força e levantará as suas vozes bem fortes. Como o Senhor Luisão, o nosso capitão, bem conhece e bem sente.
2. Mas hoje em Braga e face ao castigo de Ederson - que exibição de outro mundo proporcionou a muitos milhões na passada terça-feira! - teremos Júlio César a defender a baliza do Benfica. Com os seus trinta e sete anos é um dos exemplos desta unidade no e do plantel benfiquista. A forma como comemorou, na passada terça-feira, a grande penalidade defendida por Ederson mostra a grandeza da sua personagem e o espírito de grupo que domina o balneário do Benfica. Hoje, como na época passada, defenderá em Braga a baliza do Benfica e ajudará, acredito firmemente, o seu amigo e capitão Luisão a sorrir no final do seu jogo 501. E ele sabe que, na linha do que afirmou o seu ex-colega Cláudio Taffarel, o seu companheiro Ederson «vai a tempo de ir ao Mundial da Rússia». Ele que foi verdadeiro imperador em tantos e tantos jogos da selecção brasileira. Ele que é e será um exemplo de dedicação e entrega, de competência e de profissionalismo, de experiência e de grandeza. Ele que, na linha da grande e ímpar história dos titulares da baliza do Benfica, nos faz acreditar, sempre, que aquela bola ou aquele lance não ultrapassarão a linha de baliza. Ele que é um jogador querido, um marido encantador e um Pai presente e exigente. Ele que sabe combinar fidelidade com felicidade. Personalidade com qualidade. Maturidade com honestidade.
3. Importa referenciar, aqui, um facto bem singular. No encontro que opôs, há bem poucos dias, o Benfica B ao Desportivo das Aves, a jovem equipa do Benfica apresentou-se na ficha do jogo com dezassete jogadores portugueses. Heriberto foi a excepção. Este facto merece, assim, uma saudação bem especial. Desde logo pela média de idade desses jogadores ser apenas de 18,77 anos. Depois por evidenciar a fórmula de sucesso que é a academia do Seixal. E, ainda, por mostrar que há imensa qualidade nas formações jovens do Benfica. Há jogadores que importa acompanhar com toda a atenção. José Gomes e Diogo Gonçalves, João Filipe e Aurélio Buta, Yuri Ribeiro e Rúben Dias, Florentino Luís e Romário Baldé, João Félix e Gedson Fernandes, Francisco Ferreira e Pedro Rodrigues, André Ferreira e Pedro Amaral, entre outros são nomes a conhecer, a reter e a acompanhar. Com carinho e estímulo. Com paciência e consciência. Também com permanente curiosidade. O salto qualitativo de 2003, ano da chegada de Luisão, e este ano de 2017 é, no Benfica, um salto imenso. Impressionante. Um salto na quantidade da infraestruturas construídas e um salto de qualidade dos recursos humanos. Onde há quantidade há qualidade. Como se constata e se vê. Com Renato Sanches e Gonçalo Guedes como os mais recentes e bem proveitosos.
4. Ontem, em Granada, aconteceu história no futebol espanhol. Numa lógica bem contrária à evidenciada no ponto anterior. O onze titular da equipa de numa das cidades espanholas património da humanidade evidenciava onze nacionalidades. Na baliza, Ochoa, mexicano. Depois um francês, um islandês, um uruguaio, um nigeriano, um brasileiro (mas também belga), um marroquino - igualmente belga (o ex-benfiquista Carcela), um ganês (Wakaso), um colombiano, um jogador dos Camarões, campeões de África, e, também, vá lá um espanhol! E o plantel do Granada acolhe no seu conjunto dezassete nacionalidades diferentes! É assumidamente a verdadeira globalização em que a distinção entre jogadores comunitários e não comunitários é cada vez mais ténue em razão das duplas e triplas nacionalidades. Conquistadas e - ou - adquiridas. Como se a utopia da abolição das fronteiras já estivesse concretizada nestes instantes e momentos em que se sente a presente um regresso às fronteiras e aos seus significados... Com barreiras previstas e muros anunciados... Mas Granada é mesmo uma cidade bem cosmopolita. Como os árabes há séculos - bem mais de quinhentos... - bem reconheciam e bem evidenciavam!"
Fernando Seara, in A Bola