"O jejum foi quebrado. Após três temporadas a seco (maior seca de campeonatos do futsal encarnado), o Benfica matou o borrego e conquistou o oitavo campeonato na modalidade. Foi a terceira reconquista da temporada.
Após uma época em que se assistiu a uma das finais mais renhidas de sempre, a felicidade acabaria por sorrir aos leões nas grandes penalidades. Apesar disso, houve vários sinais positivos a retirar dessa temporada que serviram como base no planeamento desta época. A equipa segurou a sua espinha dorsal e reforçou apenas as posições onde estavam mais carenciados: com a chegada de Fits, a equipa ganhou um pivot que fosse uma referência fixa no ataque que faltou na época anterior; e com Marc Tolrá, a equipa ganharia mais um fixo para fazer frente aos pivots do rival da Segunda Circular.
As impressões dadas na pré-temporada foram muito positivas, com a equipa a conseguir derrotar o Inter Movistar e o Magnus Futsal na Futsal Masters Cup, para além de ter ganho 4 torneios particulares. No arranque oficial da época, a equipa deu continuidade à sequência de vitórias.
No início de Outubro, a equipa disputou a Main Round da UEFA Futsal Champions League, onde a equipa conseguiu terminar na liderança do Grupo, em igualdade pontual com o FC Barcelona mas com maior diferença de golos, conseguindo assim tornar-se cabeça de série no sorteio da Ronda de Elite.
No campeonato, a equipa continuou com a sequência vitoriosa, com destaque para a vitória por 4-1 sobre o Sporting CP no Pavilhão Fidelidade, que colocaria os encarnados a cinco pontos de vantagem sobre os verde e brancos (fruto de um empate dos leões contra o Quinta dos Lombos).
Em Novembro disputou-se a Ronda de Elite da UEFA Futsal Cup, onde os rivais de Lisboa voltariam a encontrar-se. Apesar do Benfica ter sido cabeça de série do sorteio, não organizou a Ronda de Elite, que então ficaria a cargo do Sporting CP, que ficaria sorteado no mesmo grupo do Benfica. Com o Sporting a jogar sempre depois do Benfica em cada jornada, saberia assim qual o resultado que lhe convinha, conseguindo chegar assim ao derby da decisão com maior diferença de golos.
No derby, o Benfica entrou melhor e fez o 0-1 por intermédio de Robinho. Mas já à beira do intervalo, um livre de 10 metros mal assinalado daria o empate à equipa da casa. Na segunda parte, assistiu-se a um Sporting a segurar o empate a todo o custo, empate esse que esteve quase a ser desfeito quando André Coelho atirou uma bola à barra já no último minuto, mas o resultado não se alterou mais e o Sporting carimbou o acesso à Final Four.
Podem dizer o que quiserem, mas a mim ninguém me tira este pensamento da cabeça: embora tenha havido outra nuances que tiveram influência no apuramento do Sporting, se o Benfica tivesse organizado a Ronda de Elite, podia muito bem ter erguido o troféu de campeão europeu no lugar dos leões.
Entretanto, o Benfica continuou a arrepiar caminho no campeonato e em Janeiro teria a primeira conquista da época. No Pavilhão Multiusos de Sines, os encarnados revalidaram a conquista da Taça da Liga, eliminando o Futsal Azeméis nos quartos-de-final, o Módicus nas meias-finais e derrotando o SC Braga/AAUM na final por 3-0. Restavam mais duas competições pela frente.
Cerca de um mês depois, o Benfica teria o primeiro e único desaire na Fase Regular do campeonato, quando perdeu por 6-1 contra o Sporting no Pavilhão João Rocha, um resultado completamente enganador face àquilo que se viu dentro da quadra. Apesar da goleada, a equipa orientada por Joel Rocha mostrou nos jogos restantes da Fase Regular que esta não passou de um percalço, vencendo os jogos que restaram, assegurando a liderança da Fase Regular com o melhor ataque e a melhor defesa e consequentemente, o factor-casa no play-off.
Na última semana de Março, disputou-se a Final 8 da Taça de Portugal em Gondomar. Depois do Benfica ter eliminado o Quinta dos Lombos nos quartos-de-final e o AD Fundão nas meias-finais, estava agendado um novo derby para a final. Com um empate a cinco golos após prolongamento, o Benfica voltou a sucumbir perante a "maldição" das grandes penalidades e o Sporting revalidou a conquista da Taça.
Chegado o play-off, o Benfica eliminou na primeira ronda a equipa-sensação do campeonato: o Eléctrico de Ponde de Sôr. Seguiu-se o AD Fundão nas meias-finais, onde depois de uma vitória por 1-7 na primeira mão, a equipa beirã ainda deu um ar da sua graça ao ganhar o segundo jogo na Luz por 3-5. O Benfica acabaria por impor a lei do mais forte na negra ao ganhar por 7-3. Na outra meia-final, o Sporting também teria de recorrer à negra para eliminar o Módicus.
Chegada a final, com o primeiro jogo a ser disputado na Luz, o Benfica acabaria por desiludir ao perder por 5-4 após prolongamento. Apesar do jogo ter sido disputado até ao fim, a equipa encarnada cometeu uma série de erros clamorosos e pouco habituais que deitariam o factor-casa pelo cano abaixo. Apesar de tudo, a equipa aprendeu com os erros e no segundo jogo reestabeleceu a igualdade na final com uma segunda parte de grande nível. A equipa deu continuidade às boas exibições no terceiro jogo novamente no pavilhão da Luz, onde a equipa daria a volta na eliminatória vencendo por 4-3, resultado curto para a superioridade da equipa de Joel Rocha, sobretudo na primeira parte. Faltava uma vitória para o título, mas o "fantasma" da época passada ainda pairava na minha cabeça.
No quarto jogo no João Rocha, a equipa encarnada voltou a rubricar uma exibição muito pobre na primeira parte estando a perder por 2-1 ao intervalo, mas a equipa reagiu bem na segunda parte, conseguindo dar a cambalhota do marcador a pouco mais de um minuto e meio do fim. O Sporting avançou para o 5x4 e Rocha consegue empatar o jogo a cerca de 30 segundos do final. O Sporting acabou por se colocar em vantagem já no prolongamento na recarga de um livre de 10 metros mal assinalado, carimbando o 5-3 final logo a seguir por intermédio de Pany Varela.
Após um polémico quarto jogo, o título voltaria a decidir-se na "negra". No dia 16 de Junho assistiu-se a uma final onde houve emoção até ao fim, com uma primeira parte de loucos e uma segunda parte menos bem jogada, mas com incerteza no marcador até ao final. O empate esteve nos pés de Cavinato a sete segundos do fim, mas o ala internacional italiano rematou ao poste após livre cobrado por Alex Merlim.
E assim ficavam fechadas as contas do título. Apenas pela segunda vez na história do campeonato, a equipa que venceu o primeiro jogo da final do play-off não foi campeã nacional. Desde a pré-temporada que o Benfica mostrou que a sua equipa não era nada inferior à do Sporting e conseguiu mostrar isso na quadra. Na Fase Regular, onde salvo algumas excepções, a equipa jogou um futsal dominante com grande acutilância ofensiva, batendo o record de golos marcados na Fase Regular. Segue agora uma análise individual a alguns elementos da equipa:
Bruno Coelho - quando ele foi promovido a capitão principal em 2017, fui o primeiro a dizer que a braçadeira não podia estar mais bem entregue. Bruno Coelho é Benfica dos pés à cabeça. Foi candidato a melhor jogador do mundo no ano passado e é dono de uma entrega inesgotável. A sua liderança é fundamental na equipa e vê-lo a erguer um troféu de é o Benfica no seu estado mais puro.
Robinho e Fernandinho - são os dois jogadores mais velhos do plantel, mas também são os melhores. Robinho é o principal desequilibrador da equipa, aquele jogador capaz de criar uma ocasião do nada, sendo dono de um pé esquerdo de excelência. Já Fernandinho é sinónimo de golos, terminando a Liga Sport Zone como melhor marcador da competição com 39 golos apontados. Apesar de ambos já não irem para novos, enquanto mantiverem este nível, espero que sejam para manter.
André Coelho - o fixo do Benfica e da selecção nacional foi dos pilares da equipa nesta época. Jogador de grande estampa física, é um dos homens que marca os pivots adversários. Para além disso, também é uma arma importante no ataque com o seu potente remate, marcando em quatro dos cinco jogos da final, terminando a época com 29 golos marcados em todas as competições. Na minha opinião, foi o melhor jogador da equipa a seguir ao Robinho e ao Fernandinho.
Chaguinha - Não é fácil recuperar de uma lesão gravíssima. Quando um jogador fica apto para jogar, está recuperado fisicamente, mas a recuperação psicológica ainda pode demorar. Esta época serviu para isso mesmo, para recuperar os seus índices físicos e a sua confiança. Para além do mais, o ala brasileiro, é um exemplo de profissionalismo e dedicação ao clube, sendo um de nós dentro da quadra. De forma algo surpreendente, foi aposta nos cinco jogos da final e deu uma excelente resposta, mostrando grande intensidade e entrega ao jogo quando era chamado a intervir. Veremos como será o seu futuro, mas estas finais mostraram que ele ainda pode ter muito para dar.
Fits - em 16/17 jogava na segunda divisão italiana, agora é campeão nacional num dos melhores clubes do mundo e internacional pela canarinha. Fits foi uma das contratações cirúrgicas para esta temporada e tem aquilo que um pivot deve ter. É uma referência fixa na área capaz de segurar a bola e dar profundidade à sua equipa. É também um bom finalizador e também sabe servir os colegas. Na final do play-off esteve abaixo do seu nível, fruto de alguns problemas físicos que o levaram a falhar o terceiro e o quinto jogo, mas tem condições para ser um dos melhores pivots da história do futsal encarnado. É uma das maiores descobertas do futsal do Benfica.
Diego Roncaglio - esteve para sair no ano passado devido aos constantes actos irreflectidos que acabavam em expulsão. Tal acabou por não acontecer e ainda bem. Roncalgio acabou a época com 8 golos marcados e é também uma garantia entre os postes. Apesar disso, cometeu algumas falhas nas finais que levantaram algumas críticas. Quanto a isso é assim: não existem guarda-redes consistentes no futsal. Podem defender tudo e mais alguma coisa e ficarem mal na fotografia num golo sofrido. Roncalgio ficou mal na fotografia nalguns sofridos, da mesma mesma que Guitta também ficou. Para mim, Roncaglio é o segundo melhor guarda-redes da história do futsal do Benfica, só mesmo atrás do gigante Juanjo.
Raúl Campos e Marc Tolrá - os dois internacionais espanhóis estão de regresso ao seu país, mas não sem terem deixado a sua marca nesta temporada. O fixo contratado ao Barcelona foi mais uma arma recrutada para fazer frente aos pivots adversários e cumpriu esse papel com distinção. Acabou por falhar três jogos da final devido a lesão. Com ele apto, quem sabe se tivéssemos assegurado o título mais cedo... Já Raúl Campos, depois de ter sido o melhor marcador da equipa na época passada, perdeu bastante espaço nesta época devido ao limite de jogadores não-formados localmente, ficando muitos jogos de fora. Ainda assim, quando foi opção, mostrou que podem contar com ele, como ficou bem visível na negra, no único jogo da final em que foi convocado onde assumiu o papel de herói ao apontar um hat-trick. São dois jogadores que irão deixar saudades.
Gonçalo Alves - a sua passagem para o cargo de Team Manager em 2017 ditou uma mudança de paradigma no futsal encarnado. A partir dessa altura, o Benfica passou a fazer fortes investimentos na modalidade, com todas as contratações a passarem pelas suas mãos. Outro pormenor importante é que apesar deste não ser benfiquista de nascença, defende o Benfica como poucos. Ao todo, já são 12 anos de casa e seis campeonatos conquistados, o primeiro como Team Manager.
Para além das saídas dos atletas internacionais espanhóis que já foram oficializadas pelo clube, há-de ainda haver mais mexidas no plantel. Para ser sincero, este plantel não tem muito onde se possa mexer. A meu ver, aquilo de que a equipa de futsal do Benfica precisa neste momento é de um fixo de classe mundial, um guarda-redes suplente e de ou um dois alas estrangeiros que possam rodar com o Robinho e o Fernandinho de modo a resguardá-los fisicamente.
Veremos o que este defeso nos reserva..."