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sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Adeus ao Jamor

Marítimo 2 - 1 Benfica



Alguma descompressão, mesmo assim muito desperdício (muito), demasiadas poupanças (Javi), guarda-redes demasiado adiantado (principalmente no 2º golo), um guarda-redes adversário inspirado (como é normal!!!), e o Benfica fora da Taça... preferia ganhar os dois jogos, mas entre este da Taça, e o próximo do Campeonato, obviamente prefiro ganhar o próximo (sendo que temos todos, muitas saudades do Jamor), que este tenha sido um 'abre olhos'!!!

Pelo menos agora vai-se deixar falar da invencibilidade (o que para mim era negativo), e voltamos a falar daquilo que mais importa: o próximo jogo, e só, o próximo jogo!!! Cada jogo será uma final até ao fim da época... em todas as competições.

Benfica é melhor que o Sporting

"Um dos meus melhores amigos, sportinguista ferrenho, desabafava-me com indubitável sentido de humor, que lhe custava muito ver os dirigentes do seu Sporting sentados no mesmo sítio do Dr. Vale e Azevedo e da D. Carolina Salgado, ou seja, sentados no meio da claque.

Ora aqui está uma perspectiva sportinguista que nivela por cima, o que vindo daquelas paragens já foi mais habitual. Percebo bem que para um largo sector de sportinguistas elitistas e educados seja difícil entender o comportamento de parte dos seus dirigentes.

A minha visão do derby foi a de um Benfica mais cansado, porque jogou um jogo intenso a meio da semana, sem o seu capitão Luisão e a jogar mais de meia hora 10 jogadores. Por isso apenas ganhou por 1-0. Os quatro melhores jogaram entre si. O Benfica ganhou ao Sporting porque é e foi melhor que os de Alvalade e o Porto ganhou ao SC Braga porque é e foi melhor que o SC Braga.

O Benfica mesmo num jogo equilibrado teve uma bola na barra e outra no poste além do golo, o Sporting está mais perto mas ainda não está ao nível de Benfica e Porto. Muito tem feito Domingos numa casa onde a gestão e a confusão andam de braço dado. Por vezes parece haver um karaoke de disparates entre os seus dirigentes, o que para quem conhece e tem apreço por alguns deles, como é o meu caso, custa.

Magnifico um Benfica que joga bem sabe lutar e sofrer. Numas alturas com inspiração, mas sempre com dedicação e transpiração. Hoje na Madeira contra o maior sensação deste campeonato, podemos ganhar o direito de visitar Alvalade XXI, dia 21. Contra sorteios difíceis temos que colocar uma alma ilimitada em campo.

Que joguem os melhores e da melhor maneira caso contrário o resultado, pode não ser o... melhor. Este Benfica criou habituação de excelência, que Marítimo e Otelul sejam dois capítulos."


Sílvio Cervan, in A Bola

Chama Imensa

"Ao longo da corrente época, jogando melhor ou pior, evidenciando maior ou menor beleza plástica de jogo, mostrando maior ou menor segurança de processos, mais ou menos fulgor atlético, há algo que ninguém poderá apontar ao Benfica. Falo do empenho e da capacidade de sofrimento dos jogadores, do seu profissionalismo, da sua entrega, e do rigor com que defendem a camisola que vestem, aspectos que não são obviamente indissociáveis da capacidade de liderança do treinador, e da estrutura que o suporta. Pois foi precisamente aí, nesse conjunto de características, nessa raça e nessa mística tão nossa, que residiu o âmago da vitória do dérbi de sábado passado, a sexta consecutiva sobre o velho rival lisboeta.

Sabia-se que o Sporting vinha moralizado, e trazia mais argumentos do que noutras ocasiões do seu passado recente. Isso notou-se desde o primeiro instante, o que fez deste, um dérbi com muito mais disputa e muito maior incerteza do que outros. Tal reequilíbrio originou um jogo de enorme intensidade competitiva, disputado em poucos espaços, e apelando a factores que iam muito além da capacidade técnica ou táctica dos dois conjuntos. Exigia-se, à partida, um Benfica de luta, de grande coração, e de entrega total. Após a (exagerada) expulsão de Cardozo, essa necessidade foi levada aos limites.


De facto macaco e mangas arregaçadas

Num desafio à sua coragem, o Benfica saiu-se com distinção. Foi feliz por ter procurado, com uma alma inesgotável, essa mesma felicidade. Triunfou merecidamente, porque soube ser eficaz, mas também humilde e sofredor. Percebendo que não tinha a faca do jogo, soube enrijecer o queijo, tornando-o impenetrável, e alcançando um sucesso que pode ter importância vital no desenrolar do Campeonato.

Até ao momento da expulsão, a partida foi quase sempre pautada pelo equilíbrio, com o golo de Javi Garcia a determinar uma diferença tangencial que se aceitava. O Sporting podia ter marcado, o Benfica também dispusera de oportunidades flagrantes (uma das quais nos pés do próprio Cardozo), e tudo se encaminhava para, daí em diante, assistirmos a um natural ascendente territorial leonino em busca do empate, e a uma tentativa do Benfica em explorar os espaços que o adversário iria necessariamente libertar nas suas costas, à imagem e semelhança daquilo que acontece em tantos e tantos jogos de futebol.

Em razão da inferioridade numérica em que se viu colocado, o Benfica foi forçado a quase desistir de atacar. Com meia hora de jogo pela frente, e uma preciosa vantagem no marcador, os 'encarnados' vestiram o fato de macaco, deram as mãos, e fecharam as portas da baliza de Artur. As substituições foram extraordinariamente criteriosas, dotando a equipa de uma capacidade táctica que lhes permitiria resistir até final. A raça dos jogadores fez o resto. Apenas esses últimos trinta minutos, com menos um elemento em campo, podem ter deixado a ideia ilusória de um ascendente sportinguista que, até então, em bom rigor, nunca e verificou. Em momento algum o Sporting jogou mal, mas só dominou verdadeiramente o jogo quando se viu com mais um homem, e mesmo aí, sem criar particular perigo junto da baliza benfiquista (as melhores ocasiões, paradoxalmente, até haviam sido desperdiçadas antes).


Palmas para os nossos adeptos

É a segunda vez consecutiva (a outra foi aquando da última meia-final da Taça da Liga) que vemos o universo sportinguista sair da Luz feliz (aliviado?) por perder por poucos, e por conseguir discutir em dérbi até ao fim. Esse estado de espírito é a melhor homenagem que prestam ao nosso Clube, ilustrando afinal que o melhor Sporting (e este foi, devo dizer, o melhor dos sportingues que vi nos últimos anos), ainda não chega para um Benfica limitado nas suas unidades e nas suas forças.

Não é possível terminar um texto sobre o dérbi sem uma palavra para o público da Luz, que soube interpretar na perfeição o seu papel de décimo segundo (depois décimo primeiro) jogador, dispensando, em momentos cruciais, o apoio de que a equipa necessitava. O sofrimento que se vivia nas bancadas não dava para ondas mexicanas ou entusiasmos festivos,mas o factor da equipa sentir que os adeptos estavam com ela terá sido crucial para superar as dificuldades da fase final do jogo, quando os ponteiros relógio pareciam andar para trás.

E assim continuamos invictos.



O FOGO QUE OS QUEIMA

As responsabilidades do incêndio causado pelas claques sportinguistas nas bancadas do Estádio da Luz não podem deixar de ser endereçadas a quem, com atitudes mesquinhas, com declarações inoportunas, e com insinuações ligeiras, lançou a confusão e polémica sobre medidas de segurança absolutamente normais, cuja necessidade, diga-se, estes mesmos comportamentos agora evidenciaram.

A presença ostensiva de dirigentes do Sporting no local apenas contribuiu para sancionar tais atitudes criminosas, não sendo os comunicados posteriores mais do que uma mera fuga para a frente, num assunto onde sabem ter perdido, uma por uma, todas as razões. Este foi, aliás, um exemplo perfeito de como podem polémicas inúteis induzir actos de violência extremamente graves.



Javi Garcia (positivo)

Foi dele a noite do dérbi e, quando um dia mais tarde recordarmos este jogo, o mesmo terá nome próprio, e será 'o do golo do Javi Garcia'. Para além desse momento, que valeu os três pontos, o médio espanhol realizou uma extraordinária exibição, tornando-se numa das principais muralhas da resistência benfiquista até ao final. Creio que a selecção espanhola já não será grande demais para o nosso Javi, que, jogo após jogo, mostra talento, pujança e inteligência táctica como poucos na sua posição.


Dirigentes do Sporting (negativo)

Criaram o mito da 'jaula' (ou 'galinheiro', conforme as preferências), mas saíram dela chamuscados pelo fogo ateado no local, perante o seu próprio testemunho. Lançaram a polémica dos bilhetes, mas só nos seus sectores havia cadeiras vazias. Depois, em desespero, queixaram-se das condições, como se muitos de nós não conhecêssemos Alvalade. Bem pode dizer-se que, também fora do campo, o Sporting perdeu o dérbi, desperdiçando muito do respeito que os seus novos órgãos sociais pareciam merecer."


Luís Fialho, in O Benfica

Vencer para crer

"Frente ao Sporting e depois do excelente resultado obtido em Inglaterra, o Benfica mostrou que tem o seu destino nas mãos, ou seja, que depende muito mais de si próprio do que dos outros para conseguir chegar onde todos desejamos. Mesmo reduzido a dez jogadores, por se ter combinado a emotividade exuberante de Cardozo com o excesso de rigor do árbitro, o Benfica reajustou de forma exemplar o seu dispositivo táctico e não permitiu que a inferioridade numérica o traísse. A equipa está coesa, segura, bem preparada e tem alternativas para todas as posições e para todos os imponderáveis, como sempre deve acontecer com quem se prepara para ser campeão.

E merece um destaque especial o modo como o público benfiquista, a grande massa SLB, se transforma, numa dinâmica imparável e comovente, no 12.º jogador de cada partida, ou mesmo no 11.º como aconteceu no passado sábado, com a inconveniente 'baixa' de Cardozo.

Quando as bancadas vibram com o que a equipa faz no terreno, há um suplemento de energia, de esperança e de convicção que nunca se esgota. E, com o País em fase depressiva, há quem vá ao estádio, faça chuva ou faça sol, para poder acreditar que há mais vida para além da dívida pública, mais alegria para além da tristeza dos cortes salariais e do agravamento substancial de carga fiscal. As pessoas precisam de acreditar naquilo que as afaste das nuvens negras da incerteza e da angústia colectiva. As pessoas precisam de libertar emoções e de mobilizar afectos. As pessoas precisam de fazer da solidariedade uma ponte a ligar corações e vontades, como acontecem, de forma tocante, com a doação de medula óssea para o filho de Carlos Martins. Porque, é bom não esquecer, as pessoas são pessoas antes de serem meros números para suportar previsões e cálculos quase sempre falíveis. As pessoas são pessoas e deverão estar sempre antes das conveniências e da frieza das estratégias do poder, seja ele qual for.

É por isso que a vitória sabe tão bem, porque antecipa as que ainda estão para vir e que hão-de ser sobre a adversidade e a descrença."


José Jorge Letria, in O Benfica

Luz ao palco

"Números oficiais: eram 74873 espectadores em Old Trafford, na noite de 22 de Novembro, para assistir ao Manchester United - Benfica, para a Liga dos Campeões. Benfiquistas seriam pouco mais de 3000. Mas quem tenha assistido pela televisão ao tremendo desafio de Futebol, só ouviu cânticos, hinos e palavras de ordem de apoio ao Benfica. Assim: SLB! SLB! SLB! SLB! SLB! Glorioso SLB!!! Mas também, e simplesmente, Benfica! Benfica! Benfica! Foi assim, estes e outros cânticos e gritos de incitamento, persistente e ininterruptamente entoados nos 90 minutos.

Quem ouvisse o som, sem a ilustração das imagens, acreditaria que o jogo se passava no Inferno da Luz. Mas ali era o 'Teatro dos Sonhos'. Porém, como 'o sonho comanda a vida', os benfiquistas sonharam, vestiram a camisola do 12.º jogador, silenciaram os adeptos do Manchester United, fizeram-se ouvir e ajudaram a equipa a seguir em frente na Champions e a subir ao 1.º lugar na Fase do seu Grupo. Três mil benfiquistas conseguindo sobrepor os seus cânticos e gritos acima de mais de 70 mil bifes, como diz por graça um amigo meu, é uma desproporção superior à da Batalha de Aljubarrota. Foi a Luz que encheu o palco do 'Teatro dos Sonhos'.

Na Luz, frente ao Sporting, não terá sido tão exuberante como em Manchester, apenas porque, em casa, não foi tão surpreendente. Mas foi decisivo no momento crucial, quando o Benfica ficou reduzido a dez. Apoiar a equipa quando ganha e domina é justo. Apoiar nos momentos difíceis é necessário, generoso e decisivo.

Nota: alguns adeptos do Sporting, dos quais ninguém fala de tanto falar na rede, mostraram o que se prestam a ser: enviados do cacique que queria ver Lisboa a arder."


João Paulo Guerra, in O Benfica