"Enorme mérito de Vieira. Tirar o Benfica da ruína. Construir forte estrutura. Escolher Jesus e Vitória, os treinadores certos em diferentes estratégicas. E coragem em duas decisões de altíssimo risco!
Preto no branco: no Benfica tetracampeão (e com muitos mais troféus nacionais no mesmo período, impondo claríssima hegemonia), vinca-se soma de múltiplos méritos. E tentar negar esta evidência é absurdamente caricato.
Enorme mérito de Luís Filipe Vieira. Na passada do híper corajoso Manuel Vilarinho - também muito lúcido ao passar o comando -, Vieira pegou num Benfica arrasado pelo desvario no mandato de Vale e Azevedo (o mal vinha de trás, mas, aí, bateu no fundo, foi mesmo a total falência!) e, passo a passo, sabendo aprender com os próprios erros, reergueu-o de forma admirável! Novo estádio (visão do futuro, pois pôr remendos no anterior seria inútil panaceia...), academia do Seixal (importantíssima), forte regresso às modalidades ditas amadoras, construção de equipa de futebol capaz de ganhar.
Grande mérito de sólida/eficaz estrutura no futebol, parecendo sempre a crescer em qualidade. O que também é obra do presidente: saber escolher as pessoas certas (alguma até de origem não benfiquista), saber liderá-las e, nalguns momentos, afastando quem, creio, tinha de afastar. Anti-vaidades derrapantes, profissionalismo como fundamental base de estratégia de fundo.
Grande mérito de Jorge Jesus e Rui Vitória, treinadores bicampeões. (Trappatoni foi fogacho... vitoriosos; nunca considerei Camacho e Flores bons treinadores, mas Camacho terá sido importante a explicar primeiros passos para a tal estrutura). Jorge Jesus e Rui Vitória, sim, foram escolhas certas para diferentes momentos, com diferentes estratégias.
Em decisões sobre líder técnico no futebol, Luís Filipe Vieira teve dois momentos dificílimos, de impressionante coragem, arriscando ir ele para o cadafalso.
1 - Jorge Jesus, campeão mal chegara (e cumprindo o que tinha garantido: «comigo, a equipa jogará o dobro» - de facto, jogou mais do dobro...), caiu, de seguida, em 3 épocas sem título - e a última foi devastadora nas duas semanas de quase, quase...: campeonatos perdido aos 90+2 no Dragão (inesperadíssimo e irrepetível golaço do menino Kelvin, substituição feita já em desespero - quase nunca jogara e não voltaria a fazê-lo no FC Porto...); conquista europeia esfumada perante o Chelsea, de novo aos 90+2...; adeus Taça de Portugal, face ao V. Guimarães, na reviravolta dos derradeiros 8 minutos no Jamor! Jorge Jesus tinha a porta de saída escancarada e para ela era empurrado por muitíssimos adeptos e quase todos os directores. O presidente com estrondo a fechou... mantendo o treinador dentro de casa. Seguiu-se Benfica bicampeão e conquistador de quase tudo.
2 - Jorge Jesus nos píncaros. E, espantosamente, Luís Filipe Vieira decide colocar ponto final naquela intensa ligação de 6 anos cujo balanço era bem mais do que positivo (vindo o Benfica de onde viera). Loucura presidencial não renovar contrato com bicampeão! Estupefacção, e revolta, em enorme maioria de adeptos (porém, outra novidade; desta vez, decisão de Vieira apoiada pela direcção/administração). Gigantesco risco! (ainda por cima, Jesus foi galvanizar o Sporting) Depressa se percebeu: o comando benfiquista queria implementar forte mudança de política no futebol e nas finanças (dar muito mais saída à fábrica da formação, considerando não ser Jorge Jesus para isso adequado.
Entrou Rui Vitória. Muito bom trabalho no Fátima, no P. Ferreira, no V. Guimarães, mas... desconfiança generalizada: isso chegaria para não esbanjar a herança de troféus por Jesus deixada? Recorde-se os primeiros meses: dificílimos, na corda bomba, e sob sistemáticos ataques do seu antecessor, vide não ter mãos para aquele Ferrari...
Rui Vitória venceu em toda a linha. E, ao lançar Nélson Semedo, Renato Sanches, Lindelof, Ederson, Gonçalo Guedes (quase meia equipa vinda dos B...), deu a Luís Filipe Vieira a maior vitória!"
Santos Neves, in A Bola