Últimas indefectivações

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Manuel Vilarinho em entrevista (resumo)...

"Há dez anos Manuel Vilarinho enfrentava o maior desafio de vida. Derrotar Vale e Azevedo era a sua missão mas também o seu maior sonho: «Ser presidente do Benfica». Paradoxalmente, diz que nunca o teria sido se não fosse o «azevedismo». Em 2010, Vilarinho olha para o passado com glória, orgulho e dor. Emoções cruzadas na viagem no tempo que fez com A BOLA.

- Ganhou a presidência do Benfica há 10 anos, naquela que foi considerada uma das eleições mais importantes da história do clube. Recuando no tempo, que palavra lhe vem à mente para definir esse momento?
- Um grande orgulho e satisfação. Porque tirar de lá o Azevedo não era fácil.

- Lembra-se como começou a sua candidatura?
- Eu sempre tive o sonho de ser presidente do Benfica. Sou oriundo de uma família de benfiquistas, sempre nos habituámos a ver o Benfica como algo de muito importante nas nossas vidas, principalmente graças ao meu pai. Mas acredito que se não tivesse sido a época azevedista eu nunca tivesse sido presidente.

O debate televisivo que foi decisivo

- Ganhou as eleições no frente-a-frente na televisão?
- Não tenha dúvidas. Isso foi fundamental. Tenho-o gravado e de vez em quando vejo-o. Antes do debate eu tinha 30 por cento das intenções de voto, depois ganhei por 62 por cento, Vale e Azevedo com 38.

- Teve quanto tempo de treino?
- Cinco dias. E nos últimos dois fechei-me em casa a estudar como se fosse para um exame. Estava preparado para tudo o que ele ia falar, menos da história dos terrenos [Euroárea], que só ele sabia e que por isso esteve preso e assim continuará, se não fugir.

Como falhou Jardel

- Anunciou a contratação de Jardel, mostrando inclusive um cheque de 100 mil contos [500 mil euros], prometendo entregar o dinheiro ao clube se ele não viesse...
- Passava o cheque se não fosse verdade o que dizia sobre o Jardel! Fizemos um contrato, mas combinei com ele e com o seu representante, Paulo Barbosa: deveria mostrar-se desconte no Galatasaray mas só viria para o Benfica no final da época. Chegaria mais barato. Foi um contrato promessa mas tinha lá uma cláusula que permitia desistirmos do contrato em determinadas circunstâncias. Só que ele e a mulher na altura começaram a apertar: em vez de pressionarem o Galatasaray pressionaram o Benfica. Queriam vir mais cedo para Portugal. A mulher é que foi a estratega, ele não é mau rapaz, só que era influenciado.

- Van Hooijdonk foi-se embora e Jardel acabou por não vir. Ficou a perder...
- Porque o Jardel começou a pôr acções jurídicas contra nós, estragando o plano. Podia ter vindo.

- Lembra-se do primeiro choque depois de chegar a presidente?
- Havia dívidas e mais dívidas e a maior parte não estava contabilizada nas contas do clube. Não havia papel higiénico, água e estava tudo estragado.

- Não conseguiu ter sucesso desportivo no seu mandato. Teve pena?
- O problema era financeiro. Não se pode ter uma boa equipa de futebol sem dinheiro.

«Episódio Mourinho foi mau acto de gestão»

- Arrepende-se de não ter renovado com José Mourinho?
- Ele próprio contou no livro dele e pediu desculpa pela forma como decorreram as coisas. Se fosse hoje eu também não tinha agido da mesma maneira. Teria feito de outra forma: fazia-lhe a vontade, só que [pausa]... ele ganha 3-0 ao Sporting ao domingo e na segunda-feira aparece numa reunião de direcção, às 10 horas da noite, dizendo: «Ou renovam o meu contrato ou amanhã já não dou o treino».

- Não aguentou?
- Eu deveria ter engolido aqueles sapos. É claro que naquela altura nunca pensei que ele atingiria este patamar, mas gostava dele. Pensei: «Toni já não vem.»

- Você e Roman Abramovich têm algo em comum: foram os únicos a despedir José Mourinho.
- Não o despedi, apenas consenti o seu despedimento. Ele estava convencido de que eu não gostava dele, o que não era verdade. Eu queria renovar com ele não por uma época, como ele pedia, mas por duas épocas! Porque ficando naquele lugar dar-me-ia sossego, eu não teria de me preocupar com o futebol. Só que aquele ultimato foi chato. Falei logo para o Toni e disse-lhe: «Vem para Lisboa». Devia ter-me posto no verdadeiro lugar de gestor: engolia o sapo, renovava com Mourinho e o Benfica ficava a ganhar com isso. Foi um mau acto de gestão que tomei.

- Consegue projectar o papel que o seu nome irá ter na história do clube?
- Estou com certeza entre os cinco melhores presidentes da história do Benfica, juntamente com nomes como Joaquim Ferreira Bogalho, Fernando Martins, Ferreira Queimado. A partir de Fernando Martins, melhor só eu."

in A Bola (resumo)

Foi há 10 anos!

"Completa-se-ão na 4ª.-feira dez anos sobre um dos momentos mais importantes da história do Benfica: a vitória de Manuel Vilarinho sobre Vale e Azevedo nas urnas. Eleito presidente três anos antes por margem mínima (51,5% dos votos, contra 46,9% de Luís Tadeu e 1,6% de Abílio Rodrigues) - e não, como muita gente continua convencida, por números esmagadores -, Vale e Azevedo viria a revelar-se uma tragédia para o Benfica, que passou pelas maiores humilhações da sua história. Ainda hoje estou convencido que, se o antigo presidente tem voltado a ganhar as eleições, a SAD do futebol teria sido vendida ao desbarato (com a receita a ir para algum 'paraíso fiscal') e aos Benfiquistas não teria restado outra alternativa que não fundar um novo Benfica, o qual, logo que possível, iria absorver o que restasse do anterior, recuperando a história.
Infelizmente, e a par de muitos Benfiquistas enganados, que apoiaram o antigo presidente, houve alguns outros, conscientes da situação, que o seguiram até ao fim (ou quase...) e tiveram bastantes culpas no cartório. Mas isso são águas passadas...
A 27 de Outubro de 2000, Manuel Vilarinho, que teve a coragem de dar a cara num momento complicado, ganhou umas históricas eleições, com mais de 60 por cento dos votos (62,2 contra 37,8%). O Benfica estava (quase) salvo. As direcções de Vilarinho e, depois, de Luís Filipe Vieira, fizeram o resto, até ao Clube que temos hoje.
A campanha de Manuel Vilarinho foi inesquecível. E a mobilização conseguida foi determinante. Os apoiantes do antigo presidente (a começar por ele próprio) estavam certos da vitória, para mais com o apoio descarado de alguns órgãos de comunicação social (SIC e 'Record', nomeadamente) e de vários golpes baixos, o último dos quais, na antevéspera da eleição, até meteu uns falsos directores de uma multinacional (IBM) a garantirem grandes apoios ao Benfica!
Dez anos passaram. O Benfica foi reconstruído. O antigo presidente continua escandalosamente à solta, a passear-se por Inglaterra. A sua passagem pelo Benfica só teve uma virtude. Serviu como eficaz 'vacina' contra novas tentativas de tomar o Clube de assalto. Como se viu nas últimas eleições, há um ano...
PS: Volta e meia, o Benfica é acusado de ter tido um presidente que foi condenado e preso. É verdade, mas, tal como o elegemos, também com ele corremos, em eleições democráticas. Há outros que têm presidentes comprovadamente corruptos e os mantêm, anos após anos..."

Arons de Carvalho, in O Benfica

Números

"Escrevo no momento em que tomámos conhecimento, que não consciênca, que a dívida pública portuguesa é na ordem dos 150 milhões €.
No dia 6 de Março de 2000, o Southampton propôs ao Benfica a compra do jogador Tahar por 200 mil libras.
Por fax de 8 de Março, Vale e Azevedo indicou ao clube Inglês para depositar o dinheiro numa conta do BCP, em nome da Sojifa Investments Ltd, sediada no offshore da Madeira. Esta conta era, e ainda é, movimentada por si.
Em 10 de Março de 2000, o clube Inglês transferiu as 200 mil libras. Da conta offshore da Madeira, vale fez os seguintes movimentos: em 15/3/2000, 46 mil libras para a Sojifa Investimentos Lda, esta sociedade portuguesa. Em 17/3/2000, 350 libras mil libras para um banco Italiano. No mesmo dia, 30 mil libras para um banco em Palma de Maiorca, numa conta pertencente à JFI, sociedade dona do barco Lucky Me. E nesse mesmo dia, cerca de 66 mil libras para os advogados Taylor Vinters, os mesmos Ingleses que mais tarde defenderam Vale no caso da extradição para Portugal.
Lê-se no comunicado do Porto SAD de 15 de Outubro de 2010, que foram alienados direitos desportivos de jogadores da seguinte forma: 37,5% dos direitos de João Moutinho, à Mamers BV, por 4,125 milhões €; 35% de James Rodriguez, por 2,550 milhões € à Gol Football Luxembourg; 25% de Walter por 2,125 milhões €, à Pearl Design Holdong Ltd. Mamers, sugere 'mama', Gol 'Grande Oriente Lusitano', e Pearl 'jóia'.
Pessoal, do que é que estão à espera?!!

There's danger on every corner but I'm okay
Walking down the street trying to forget yesterday
Well, I just want to walk right out of this world
Cause everybody has poison heart

RAMONES"

Pragal Colaço, in O Benfica

Os Bobos e a Corte

"Os “Bobos da Corte” foram pitorescas figuras da História, que nasceram na época do Império Bizantino, e terão subsistido até perto do Iluminismo. De aspecto normalmente excêntrico, a sua missão era divertir os reis e os seus próximos. Para além dessa, não tinham qualquer outra utilidade.
Em pleno século XXI, no Portugal contemporâneo, deles subsistem ainda algumas amostras, muito embora tenham já perdido toda a sua graça e todo o seu encanto. Arrastando-se penosamente pelos salões da actualidade, já não fazem rir ninguém. São caricaturas decadentes e cinzentas, sem alma própria, e penduradas nas saias da inveja e do ciúme.
Vem isto a propósito do Sporting, clube com um passado respeitável, mas com um presente bastante menos vigoroso, não só dentro dos relvados (coisa que pouco nos aflige), como, sobretudo, na estratégia política e institucional que, de há uns anos para cá, tem vindo a seguir – a qual o tem posto frequentemente no papel de “Bobo” de uma corte pouco recomendável.
Quando, em 2005, Dias da Cunha e Luís Filipe Vieira assinaram um manifesto com vista à regeneração do futebol português, abriu-se uma janela de esperança num novo tempo, num tempo a partir do qual os jogos pudessem passar a ser decididos no relvado, exclusivamente pelo talento dos jogadores e pela argúcia dos técnicos. Mais do que o texto em causa, o entendimento entre os dois grandes clubes do arco da respeitabilidade era, por si só, um passo de gigante no derrube de uma ordem já na altura decrépita. O então presidente do clube de Alvalade – talvez o melhor da sua história recente, atendendo até às prestações desportivas de uma equipa que chegou à final da Taça UEFA, e não foi campeã por um triz – denunciara corajosamente os rostos do “sistema”, atribuindo a menção a Valentim Loureiro e Pinto da Costa, antes mesmo do processo “Apito Dourado” ter vindo a público. Sabia bem do que falava, como mais tarde se veio a verificar, e ouvir.
Com o presidente portista detido para interrogatórios (depois de uma mal explicada fuga para Espanha), com os rivais lisboetas sentados á mesa, o chamado “sistema” vivia os seus piores dias. O futebol português esperava, enfim, poder respirar o ar puro da verdade, da justiça e do desportivismo. Os seus mais malignos cancros pareciam estar prestes a ser extraídos. Era a oportunidade histórica para uma enérgica e radical limpeza, para uma varridela que afastasse para longe a corrupção, o tráfico de influências e os resultados adulterados.
Como sabemos, nada disto viria a acontecer. Em larga medida por culpa de um sistema de justiça assustadoramente incapaz, mas também devido aos caminhos que o Sporting (potencial aliado nessa importante batalha) escolheu encetar daí em diante.
Envolvido por um denso manto de contestação, Dias da Cunha viu-se obrigado a desistir. Mais do que nos resultados desportivos, não duvido que a origem da animosidade dos sócios tenha residido no tal manifesto. A maioria deles não se revia numa política que pusesse o Sporting de braço dado com o seu histórico rival. Interessava-lhes no fundo, acima de tudo, ver o Benfica perder, e desse ponto de vista afundar do barco de Pinto da Costa não parecia uma boa ideia. Se as escutas do “Apito Dourado” envolvessem o Benfica, a atitude de mundo sportinguista teria sido seguramente bem diferente. Mas era o FC Porto e Pinto da Costa que estavam em tribunal. Eram aqueles que – não interessava como – tinham impedido o Benfica de festejar vários campeonatos. Era o seguro de vida do anti-benfiquismo que estava em equação.
Quatro títulos do FC Porto, dois títulos do Benfica, e zero títulos do Sporting depois, percebem-se, com clareza, os resultados concretos dessa postura tão pouco leonina.
Quando vemos ilustres sportinguistas fazer coro com a estratégia de silenciamento das escutas e de tudo o que elas nos mostram, percebemos que jamais será possível contar com aquela gente para qualquer combate sério. Nem as boas intenções de alguns dos seus responsáveis (como foi o caso de Dias da Cunha) chegam para derrubar uma ideia por lá cristalizada, segundo a qual o Benfica foi, é, e sempre será, o único alvo a abater – transformando, por consequência, o FC Porto, mais num privilegiado parceiro do que num antagonista ou rival.
Quando, depois de tudo o que se passou, e de tudo o que se ouviu, vemos José Eduardo Bettencourt receber, de braços abertos, Pinto da Costa na tribuna de honra de Alvalade, perdemos de vez o respeito por um clube que, em bicos de pés, tantas vezes se afirma como baluarte da honorabilidade.
Quando assistimos à transferência de Moutinho para o Dragão, e sobretudo observamos a complacência com que a mesma foi acolhida entre os adeptos, entendemos por fim o grau de subserviência de um Sporting decadente face a um FC Porto revitalizado nas águas da impunidade e da mistificação.
Este Sporting até pode ser divertido para muita gente. A nós não nos serve para nada, e esperar dali algum apoio para a suprema luta pela verdade no desporto português será como esperar que cresçam dentes a uma galinha.
Muitos séculos depois, os Bobos da Corte continuam aqui a cumprir o seu papel: divertir o sistema, sem qualquer outra utilidade."