Últimas indefectivações

quarta-feira, 6 de março de 2019

João Félix e os 120M

"Segundo consta a Juventus ofereceu 120M por João Félix. A primeira notícia surgiu num timing que sugeria uma velha tentativa de destabilização do Porto. Entretanto já se passaram uns dias e as notícias continuam. Talvez o interesse seja verdadeiro. Mas…

1. A maior transferência do mundo foi Neymar do Barcelona para o PSG por 222M. A segunda foi Mbappé do Monaco para o PSG por 180M. A terceira foi Philippe Coutinho do Liverpool para o Barcelona por 120M. João Félix iria automaticamente entrar para o pódio das maiores transferências mundiais de sempre.

2. Jogadores comparáveis.
- Mbappé tinha 18 anos e 58 jogos pelo Monaco quando custou 180M ao PSG.
- Ousmane Dembélé tinha 20 anos e 50 jogos pelo Dortmund quando custou 105M ao Barcelona.
- Frenkie de Jong tem 21 anos e mais de 70 jogos pelo Ajax. O Barcelona vai pagar 75M por ele.
- Thomas Lemar tinha 23 anos e mais de 120 jogos pelo Monaco quando custou 70M ao Atlético.
- Christian Pulisic tem 20 anos e quase 120 jogos pelo Dortmund. O Chelsea vai pagar 64M por ele
- Naby Keita tinha 23 anos e mais de 140 jogos pelo RedBull Salzburg e RB Leipzig quanto custou 60M ao Liverpool.
Estas são as maiores transferências mundiais pós-Neymar-no-PSG de jovens que tenham nascido em 1995 ou em diante. João Félix tem 19 anos e 28 jogos pelo Benfica. No final da época, se não se lesionar, vai andar nos 35-50 jogos

3. A questão do fair-play financeiro não se coloca. A Juventus pode. Conhecem aquele modelo de comprar barato, emprestar e vender caro que Luís Filipe Vieira vem andado a tentar implementar? A Juventus domina esse modelo. Há três anos vendeu Pogba e Morata por 105M e 30M, e ainda fez mais 40M noutros jogadores. Há dois anos vendeu Bonucci por 42M, Coman por 21M, Lemina por 17M e Zaza por 16M. Tendo feito mais 50M com outros jogadores. O ano passado voltou a superar os 100M em vendas com destaque para as vendas de 35M de Mattia Caldara e de 20M de Rolando Mandragora. No meio disto tudo ainda tem Gonzalo Higuaín por vender. Logo, sim, é possível a Juventus oferecer esse dinheiro todo por João Félix enquanto respeita o fair-play financeiro.

Em suma, tudo depende da avaliação que se faz do jogador. Se alguém pagar 120M por João Félix é porque acredita mesmo que ele tem potencial para vir a ser um dos melhores jogadores do mundo. Eu não sei se ele tem potencial para tal - acho que ninguém sabe na verdade, foram poucos jogos. Mas sei que vai ser um grande jogador.
Se vale os 120M nesta altura? O preço de algo é aquilo que alguém está disponível a pagar por ela. Mas eu olho para os jogadores comparáveis e não creio. Frankie de Jong ajudou a sua equipa apurar o Ajax ontem à noite para os quartos-de-final da Champions. Mbappé chegou às meias-finais pelo Monaco. João Félix ainda não provou nada na Europa e já ultrapassou a avaliação do Barcelona por de Jong. E digo isto com a certeza que João Félix mais tarde ou mais cedo vai provar algo na Europa. Mas já mostrou que vale 120M? Não, ainda não.
A verdade é que o Benfica não precisa de vender e o jogador também não deve ter pressa para sair depois de ver o que aconteceu com Renato Sanches, Gonçalo Guedes, André Silva e João Mário. O preço da cláusula dele é aquele. Há equipas desesperadas por talento. E se o clube não precisa de vender e o jogador não tem pressa de sair, a cláusula será o preço.
Para já, o ideal para as três partes (jogador, Benfica e comprador) é deixá-lo estar mais um ano na Luz. O negócio até se pode fazer já. Mas com mais um ano de empréstimo no Benfica. O João Félix ainda não tem o físico desenvolvido para jogar na Liga Inglesa ou na Liga Italiana. Se sair cedo demais, corre o risco de ser mais um Gonçalo Guedes. Isto tudo assumindo que alguém paga 120M por João Félix, o que para mim é surpreendente nesta fase. Se o Benfica chegar longe na Liga Europa, até acredito. De outra maneira, acho difícil que haja propostas nesse montante."


PS: O Benfica só tem que oferecer um novo contrato ao Félix, e subir a cláusula... Com a Selecção, o Europeu no próximo ano... e se tudo correr bem a Champions, os 120M são trocos!!!
A minha maior 'esperança' neste momento, são mesmo os jogadores!!! Creio que todos estes 'putos' querem jogar 'juntos' pelo menos mais uma época... Espero que exista clarividência!!!

Depressa e bem: um grande Benfica

"Fantástico o espírito de conquista e a contundência do Benfica de Lage (creio que já lhe podemos chamar assim) no Dragão. Vitoria memorável, merecida e com laivos de épica, tão grande o carácter demonstrado naquele estádio onde os benfiquistas costumam sofrer horrores; esteve a perder, deu a volta à situação com muita pinta e aguentou o aperto final com estoicismo, determinação e espírito marcial - um por todos... O que mais me impressiona no novo Benfica, além da melhoria evidente na organização (jogadores sempre muito juntos, em bloco, recuando e avançado como um harmónio), é a simplicidade mortífera das combinações ofensivas, a velocidade a que são efectuadas e a mobilidade dos seus intérpretes. O meio campo do Benfica não perde tempo a mastigar a bola nem se enreda naquelas trocas soporíferas para trás e para os lados (o Porto usou e abusou disso). A bola anda depressa nos pés dos médios benfiquistas, que a fazem girar ao primeiro toque - tac, tac, tac, tac, de um lado para o outro -, quase sempre em progressão de modo a fazerem-na chegar o mais depressa possível aos jogadores mais adiantados que, por sua vez, sabem muito bem o que fazer com ela. A qualidade técnica encarrega-se do resto. Este Benfica é uma equipa de futebol urgente, permanentemente ameaçadora. O Porto sentiu isso desde o início e nunca soube lidar com essa inquietação. A simplicidade, velocidade e perigosidade do jogo benfiquista lembra o futebol electrizante da primeira época de Jorge Jesus e, muito mais atrás, o rolo compressor do sueco Eriksson. Muito bem devem estar a trabalhar - já se percebeu que Lage é um obcecado do treino - para terem crescido tanto e tão vincadamente num tão curto espaço de tempo. Basta lembrar a meia-final da Taça da Liga (3-1 para o FCO a 22 de Janeiro passado) para perceber qual dos dois deu o grande salto em frente...
Quando era um jovem jornalista em início de carreira vi muitos jogos ao lado do Aurélio Márcio, um dos jornalistas históricos desta casa, com quem gostava de conversar. Ele já tinha visto ziliões de jogos e tinha uma percepção muito aguda das qualidades e defeitos das nossas equipas. O Aurélio insistia muito (sublinhava-o nas crónicas) na importância da velocidade - de meter velocidade naquele futebol tão tecnicista, tão adornado e muitas vezes tão falho de perigosidade/contundência como o nosso. Creio que algures lá em cima estará a sorrir com o futebol que o Benfica anda a jogar: depressa e bem. Não sei que onze irá a jogo amanhã em Zagreb para a Liga Europa, mas sinto que os meus amigos benfiquistas, de há dois meses para cá, esperam ansiosamente pelo próximo jogo, seja qual for o adversário. Há lá melhor sinal que esse."

André Pipa, in A Bola

A Justiça tem tempo e modo...

"Com a decisão da justiça húngara de extraditar para Portugal o hacker Rui Pinto, inicia-se novo capítulo numa saga que está muito longe do fim. Para já, o caminho que está a ser seguido é o que corresponde a qualquer sociedade civilizada, onde os prevaricadores são chamados a acertar contas com a justiça nos lugares próprios. Em todo este processo, o tempo dos julgamentos na praça pública acabou, e os responsáveis pela montagem de cinco em torno de assuntos que deviam ser tratados de forma séria vão, mais cedo ou mais tarde, prestar contas a quem de direito. No mais, será a Justiça, que está na posse de vasta matéria, a definir o que é e não é possível de processamento criminal.
Dentro das quatro linhas, hoje é um dia importante na vida do FC Porto que decide, com o quinto classificado da Série A italiana, o acesso aos quartos de final da Champions. É uma missão perfeitamente ao alcance dos dragões, que deverão, contudo, ter força interior para superar o desaire caseiro frente ao Benfica. O jogo com a Roma surge assim como um pau de dois bicos para os portistas, por um lado pode projectá-los na Europa e dar-lhes novo alento para a Liga caseira, por outro pode afundá-los numa crise profunda.
A merecer toda a atenção e escrutínio surge-nos a via dolorosa do Sporting, que procura financiamento junto de fundos de risco. Talvez, depois de todas as malfeitorias de que o clube foi vítima, esta seja a melhor forma de seguir em frente. Mas a opinião pública em geral e os sócios do Sporting em particular têm direito de conhecer em pormenor os contornos do negócio e saber, de forma detalhada, quem são os parceiros americanos da operação."

José Manuel Delgado, in A Bola

Neve Vermelha !!!

Vermelho vivo!

"O próximo sábado será mais um dia especial para muitos sócios do Benfica. A partir das 10h00, no Pavilhão nº 2 da Luz, o Presidente Luís Filipe Vieira entrega os emblemas de dedicação (ouro e prata) aos associados que cumprem 50 e 25 anos de filiação e ainda os anéis de platina a quem completa 75 anos de ligação efetiva ao Sport Lisboa e Benfica.
A ocasião solene coincide com este período de grande dinamismo e pujança que o clube atravessa. Há, de facto, razões suficientes para que sócios, adeptos e simpatizantes estejam a viver dias de felicidade – a começar desde logo pelo percurso da equipa de futebol, que soma 9 vitórias consecutivas no campeonato nacional e que acaba de chegar à liderança da prova, após uma brilhante vitória no Estádio do Dragão.
A última semana – em que se celebrou o 115.º aniversário – já tinha sido fértil em boas notícias, com especial destaque para a apresentação das contas da SAD relativas ao primeiro semestre da temporada 2018/19: 14 milhões de lucro e redução do passivo em mais de 30 milhões!
A confirmação de novos indicadores financeiros de excelência já tinha começado a chegar uns dias antes, quando foi anunciado um novo máximo de vendas de Red Pass: mais de 40 mil! Número que, somando aos quase 8 mil lugares Corporate, eleva para 75% a taxa de ocupação garantida em todos os desafios na Luz.
O recente ‘jogo das casas’ (coincidiu com o histórico 10-0, que não acontecia há 55 anos) levou ao nosso estádio 54.810 espectadores e, nesse contexto familiar, teve lugar a apresentação de outro programa que atesta o período de grande dinamismo que o nosso clube está a viver: o projecto ‘Casas do Benfica 2.0 – o Futuro’. Mais um importante sinal de inovação e inconformismo numa área que, conforme o Presidente tem lembrado, é considerada “o bastião e o verdadeiro braço armado do Benfica”.
Nos próximos dias, e para além da referida cerimónia de sábado para entrega dos emblemas de dedicação e anéis de platina, há outros importantes momentos a destacar. Está confirmada ainda para este mês a apresentação das mais recentes obras de melhoramento e ampliação do Caixa Futebol Campus e igualmente confirmada – para o dia 21, no Campo Pequeno – a Gala de Aniversário, onde serão entregues os Galardões Cosme Damião 2019. Vermelho vivo!

PS: O Presidente Luís Filipe Vieira, Rui Costa e João Félix e os segredos do Seixal em destaque no Magazine da Liga Europa, na UEFA. Domingos Soares de Oliveira, CEO do Grupo Benfica, em entrevista à Soccerex. O prestígio internacional do Benfica presente por estes dias em espaços de referência do futebol europeu."

Bruno Lage: um treinador que é como o código postal

"Antigamente, havia um anúncio dos CTT com um lema tão eficaz que ficou na memória: «Código Postal… É meio caminho andado.»
No futebol, acertar no treinador tem praticamente o mesmo efeito.
Quando confrontado com complexas teorias sobre hegemonias e infabilidade das estruturas, tendo a simplificar a discussão: um bom técnico pode fazer toda a diferença entre fazer chegar ou não «a carta a Garcia».
Não é preciso ir muito longe para encontrar o exemplo de Ivo Vieira, que transformou a sua equipa em sensação da Liga, apesar das limitações do Moreirense enquanto clube, ou de Silas, que já nem sequer tem um clube por trás, mas mesmo assim comanda um conjunto que apresenta bom futebol e resultados.
Noutro patamar, Sérgio Conceição na época passada pegou num FC Porto debaixo das contingências do fair-play financeiro e, com a prata da casa, resgatando emprestados e proscritos, formou um grupo capaz de ser campeão.
Tudo evidências.
Apesar de diferentes, não foram menores as condicionantes que marcaram a afirmação de Bruno Lage no Benfica.
Não vai há tanto tempo assim, mas recorde-se que a aposta no técnico foi tudo menos inequívoca. As hesitações foram, aliás, manifestas.
Luís Filipe Vieira estava convencido – disse-o publicamente – de que mudar de treinador a meio da época dava sempre mau resultado. Pelo que, quando mudou, deixou uma espécie de alerta: «Ainda vão ter muitas saudades de Rui Vitória.»
O afastamento de Vitória, a dois tempos, demorou mais de um mês.
Aí chegados, foram precisas duas jornadas para perceber que Lage, então ausente das conferências de imprensa, seria o treinador encarnado até ao final da época, enquanto a comunicação social ventilava hipóteses como Jorge Jesus e José Mourinho.
Já depois da mudança de treinador, no mercado de inverno, o Benfica perdeu Castillo e Ferreyra, dois reforços sonantes para o ataque chegados no início da temporada, sem contratar substitutos – apesar da tentativa por Dyego Sousa.
Pelo que, perante a assunção de que os reforços viriam da equipa B, não faltou quem visse nessa opção um indício de que o campeonato estava dado como perdido.
Em suma: foi nesta adversidade que Bruno Lage se afirmou de forma estrondosa.
Desde então, venceu nove jornadas seguidas na Liga, «ganhou» nove pontos ao FC Porto, deixando para trás o campeão nacional, que era líder desde a 8.ª jornada.
Pelo meio, o técnico viu o seu contrato melhorado.
Contudo, mais do que os resultados, o que impressiona neste novo Benfica de Lage é a personalidade que incutiu numa equipa que tem como base talentos da formação e alguns jogadores tidos quase como dispensáveis.
No clássico do último sábado, Lage apresentou no Dragão o Benfica mais destemido dos últimos tempos. Uma equipa com confiança nas ideias do treinador e estabilidade emocional, que acabou por ser premiada por isso – apesar do domínio estatístico dos dragões.
O Benfica está a consolidar o seu processo sobre vitórias e é possível que o tempo permita aos adversários encontrar o melhor antídoto para as soluções apresentadas pelo técnico.
No entanto, o momento é de dar mérito a Bruno Lage – e aos jogadores que ele transformou – pela forma como fez o Benfica reentrar na corrida pelo título, a ponto de o tornar em favorito.
Em futebol, dois meses são uma eternidade. E é possível que dentro de algum tempo alguns pontas de lança da comunicação voltem a pregar a teoria da infalibilidade, em que nenhuma decisão estrutural é tomada ao acaso.
Na verdade, sabemos que nem sempre é assim.
No futebol, acertar no treinador é meio caminho andado. Mesmo assim, tudo pode depender de feelings. É tão simples quanto isso."

Benfica Podcast - Sliding into First

Benfiquismo (MCXIII)

O primeiro...!!!

Gobern... e o clássico

5 minutos à Benfica... no clássico

Lage...

Limpinho

"Lage não entrou na tão habitual 'caixinha de surpresas' na constituição do onze, ao contrário de Conceição, que dela não prescindiu

1. Desportivamente falando, o sábado passado começou bem para mim. Tendo passado o fim-de-semana na quietude alentejana, comecei por ver o jogo de basquetebol transmitido pela RTP2 (bem-vindo regresso da televisão pública a este desporto!) disputado na minha terra natal, Ílhavo. O Illiabum impôs-se categoricamente ao FC Porto e venceu por 90-76. Bom augúrio para o clássico que, passadas algumas horas, iria jogar-se no estádio do Dragão.
Entretanto, nos últimos dias, havia sido bombardeado por essa agora endémica moda de tudo transformar em estatísticas, de modo a nos 'obrigarem' a guiar previsões e a tirar conclusões. Senti-me 'esmagado', com algumas delas, a principal das quais era a 'natural' conclusão por razão estatística que o Benfica não conseguiria vencer ou até empatar no Porto.
Foi, pois, com uma sensação mista que comecei a ver o clássico. Por um lado, embalado pelo meu clube da minha terra que, contra todas as estatísticas, havia derrotado o FC Porto sem espinhas; por outro lado, diante de um hipotético 'software estatístico', a que tinha de me conformar quanto ao jogo do campeonato de futebol.
Num encontro que, pela enésima vez, foi arbitrado por um juiz da Associação do Porto (que parece deter o monopólio dos árbitros elegíveis para estes jogos, sendo tudo o resto um deserto...), eis que o Benfica venceu, para espanto dos estatísticos e contrariedade das estatísticas. Ao que creio e que me lembro, houve até uma quase inovação (estatística) na vitória encarnada. Foi não só a de ter vencido, mas a de ter virado um resultado que começou por lhe ser desfavorável, o que já não acontecia há quase meio século. Nesta altura, lembro-me de uma citação humorística que define «a estatística como um biquíni: mostra alguma coisa, mas esconde o essencial». Pois bem, o essencial é cada jogo jogado. E assim Bruno Lage e a sua equipa marimbaram-se no espectro estatístico e foram ao essencial: jogar para ganhar.
Mas para quem gosta mesmo de estatísticas, sempre moldáveis pelo período de análise que escolhemos, aí vai então a minha: neste último quinquénio, no Dragão, supremacia encarnada: 5 jogos, 2 vitórias, 2 empates e apenas uma derrota, 5 golos marcados e 3 sofridos.

2. Foi um clássico bem jogado, longe de cinzentismo dos mais frequentes jogos entre os grandes. Foi um clássico antecedido pela ausência de parvoíces e provocações de ambos os clubes e a todos os níveis de comunicação, pese embora os energúmenos que atiraram pedras para o autocarro encarnado. Foi um clássico em que a equipa vencida não se pode agarrar a nenhuma situação para alimentar mal-estar e demérito da equipa vencedora, para tristeza de comentadores-vampiros ávidos de tal 'matéria-prima'. Foi um clássico em que, em geral, os apoiantes de uma e outra equipa souberam conviver com o desfecho da partida, uns sabendo vencer e outros sabendo perder.
Finalmente, numa longa série de anos, vi um Benfica que, no Dragão, jogou claramente para vencer o jogo, o que não aconteceu com esta clareza, mesmo quando venceu os empatou, seja com Rui Vitória, seja com Jorge Jesus. Um Benfica personalizado, confiante, respirando saúde psíquica e física, estável, solidário, competente. Ultrapassou, com classe, o contratempo do golo madrugador do Porto e nunca se deixou abater. Soube suportar bem o natural assédio portista após a expulsão de Gabriel, único período em que o Porto dominou, mais com o coração do que com a cabeça.
Bruno Lage não entrou na tão habitual 'caixinha de surpresas' na constituição da equipa, ao contrário de Sérgio Conceição, que dela não prescindiu. As substituições que Lage fez foram inteligentes e a explicação que deu (uma bem-vinda inovação de um treinador que, ao contrário da maioria, não faz do futebol uma ciência oculta) da entrada de Corchia é bem interessante e de quem sabe o que está a fazer. O modo como está durante o jogo, sem deslumbramentos estéreis, sem espalhafatos para exibir ao mundo e sem histrionismos para impressionar quem acha que um treinador é tanto melhor quanto mais se mexe, grita, gesticula, salta ou zanga. O modo como responde nas declarações depois dos jogos, falando do que importa, sem pseudo ironias tontas, directo, curto, não alimentando o que subliminarmente está contido em muitas perguntas, e ignorando as questões da arbitragem é de louvar. De mestre foi a sua frase depois do jogo agradecendo aos jogadores «que estão a fazer de mim treinador». Assim se une, se responsabiliza, se é solidário, se ensina, se colocam todos do mesmo lado. E isso sente-se no campo. Nos que jogam, nos que entram, nos que não entram. Respira-se genuinidade, sinceridade, autenticidade entre todos. Não é condição suficiente para se ser ganhador, mas é uma óbvia condição necessária tal tal.
Quem diria há dois meses que, com a alteração de treinador, tanta coisa mudasse. Quem apostaria antes que o Benfica iria ganhar em Guimarães, Alvalade, Dragão e outros estádios? Quem sonharia que se ganhassem estes 9 jogos consecutivos sem Jonas, Jardel, Fejsa e Salvio? Quem suporia que Ferro e Florentino estivessem a jogar como se tal já fosse, na carreira deles, uma absoluta normalidade? Onde estava este Gabriel quando comparado com as suas fugazes e insuficientes aparições até Dezembro? E Samaris perdido antes como suplente de suplentes? E Grimaldo, Seferovic, Pizzi (o jogador com mais assistências na Europa!), André Almeida, Rafa numa forma e estabilidade como antes não se vira? E, por fim, João Félix, um miúdo que joga e faz jogar como ninguém, e que, antes, andava a entrar nuns míseros minutos finais? Como aqui já havia escrito, o Benfica concretizou um 'mercado de inverno' (interno) como nunca o fizera antes! E, como Lage disse, todos têm uma função para o todo: o primeiro atacante é o guarda-redes e o primeiro defesa é o ponta-de-lança.

3. É já quase uma sina o Benfica acabar os jogos contra o Porto (sobretudo jogando fora) com menos do que onze jogadores. Desta feita, aconteceu nas duas voltas. Lema, na primeira volta, num indescritível erro do árbitro e Gabriel (grande jogo!) na segunda volta. Aliás, pressentia-se que alguém iria para o balneário antes do fim, tal a precisão dos amarelos sobre jogadores encarnados (justa, é certo). Todavia, o mesmo não se passou do lado do FC Porto. Pepe, no seu costumeiro modo de jogar e provocar (a que alguns chamam, eufemisticamente, experiência...), tentou - debalde - anular João Félix, abalroando-o ou simulando tontamente uma falta dele nas 'barbas' do árbitro assistente. E se Gabriel foi bem expulso, não se entende como Jorge Sousa tão perto e a ver o que se passava perdoou uma expulsão a Brahimi que esbofeteou às claras Rúben Dias (e o VAR não deve também intervir em situações passíveis de expulsão?). O mesmo Brahimi que parece estar imune a qualquer castigo, aqui me recordando de um jogo em que, no fim de uma primeira parte, fez ao árbitro e sinalética de que este era doido e nada aconteceu...

4. Curiosa simetria que está a acontecer nesta Liga em comparação com a época passada. Nessa temporada, o Benfica recebeu o Porto com um ponto de avanço e o penta à vista, perdeu o jogo e ficou arredado do título. Agora, o inverso, com o resultado a beneficiar o Benfica, e espero que com o título em Maio.
O certo é que era imprevisível a recuperação notável do SLB. Sete pontos de atraso há 9 jornadas e agora dois pontos de avanço. Neste aspecto, o resultado de pontos ganhos/perdidos é grandiloquente: Bruno Lage - 9; Sérgio Conceição - 0.
Faltam 10 jornadas. Muito ainda, nesta luta entre os dois rivais, que se prevê dura e difícil. Não há jogos fáceis e toda a concentração é necessária. Seis jogos na Luz e quatro fora. Em tese, três mais difíceis: Moreirense, Sp. Braga e Rio Ave. Pelo meio, a Liga Europa. Mas a prioridade é a reconquista do campeonato, pelo menos para mim. Como bem disse Bruno Lage «temos de nos inventar todos os dias. Manter equilíbrio, foco no treino, determinação em evoluir, que ainda há muito para evoluir, e jogo e jogo lá vamos nós». Sonhando, mas não delirando. Trabalhando com humildade, sem vertigens dos fugazes fascínios de cada momento.

Contraluz
-Competitividade: Que falta nos principais campeonatos europeus. Nalguns mesmo, é uma pasmaceira; em França, com o PSG e na Itália, com a Juventus; Em Espanha um quase passeio para o Barcelona. Na Alemanha, o Bayern vai acabar por impor-se. Em Inglaterra tudo se resume ao duelo Man City/Liverpool. E, por cá, o habitual: Benfica e Porto.
- Exemplar: O fair-play nas meias-finais da Taça do Rei. No Real Madrid-Barcelona, apesar da goleada catalã, e no Valência-Bétis pude assistir a jogos de grande lealdade desportiva, de assinalável correcção dos adeptos e a uma saudável convivência entre vencedores e derrotados no final dos jogos. Preciso destes momentos para continuar a gostar de futebol.
- Frase: «O Brasil tem samba, carnaval e futebol. E que mais tem? Corrupção»
(disse um brasileiro)"

Bagão Félix, in A Bola

A vitória dos humildes

"Pinto da Costa queria a capitulação, já, de Luís Filipe Vieira e, em vez disso, viu-o sair do Estádio do Dragão vitorioso. E líder.

Na sétima jornada da Liga disputada na primeira semana de Outubro do ano passado, o FC Porto jogou na Luz e perdeu, mas sem convencer Sérgio Conceição o qual, depois de ter baqueado diante do Vitória de Guimarães, na jornada 3, considerou que eram fracassos demasiados e, logo ali, em jeito de aviso sério, afirmou, até para levantar o moral das suas tropas, que «talvez esta seja a nossa última derrota no campeonato».
Não foi. Quando Conceição emitiu aquele sinal de pujança não teve em conta o pormenor de as visitas serem retribuídas na volta seguinte da prova e foi isso o que o Benfica fez, no último sábado, à jornada 24, triunfando outra vez e recuperando a liderança, com dois pontos de avanço.
No jogo da Luz, Conceição não contava perder pela razão simples de, nos seis jogos anteriores para a Liga, no consulado de Rui Vitória, isso nunca ter acontecido. Mas há sempre uma primeira vez, que o irritou na altura, embora sem lhe abalar a confiança por acreditar piamente que na resposta, entre os seus, aplicaria exemplar castigo à águia pelo ousado atrevimento. Entretanto, o Benfica mudou de treinador e isso fez toda a diferença porque se Rui Vitória precisou de sete tentativas para derrotar o FC Porto, Bruno Lage conseguiu-o à primeira e ainda por cima na casa do dragão, feito apenas registado neste século nas épocas de (2005/2006 e 2014/2015. Uma raridade, que mais valoriza Lage e mais compromete Conceição: as coisas são como são.
Desta vez, porém, houve a particularidade de o Porto não retirar qualquer benefício por ter sido o primeiro a marcar. Não só não se aproveitou dessa preciosa vantagem para tomar conta do jogo, como não soube desenvencilhar-se da poderosa reacção encarnada. Foi encostado às cordas, como nunca se sentira, e até à expulsão de Gabriel jamais revelou arte e engenho para neutralizar a organização benfiquista. O argumentário a que Conceição se agarrou, mais o lamento pelo rol de oportunidades não aproveitadas, no essencial, contam o filme dos treze minutos finais, quando, a jogar com menos um, o Benfica, naturalmente, cedeu o domínio ao oponente e mostrou um espírito solidário e uma capacidade de sofrimento que mal se lhe conheciam e que formaram uma barreira que o Porto não foi capaz de derrubar.
Além de notável desempenho colectivo, assente num futebol atrevido, belo e matreiro, as armas da águia residiram na humildade e na surpreendente estabilidade emocional de uma equipa jovem, embora preparadíssima para suportar o ambiente infernal no Dragão.

Foi a vitória dos humildes frente a um rival que aproveitou os dias que antecederam o clássico para projectar a conquista do campeonato. Nas opiniões avulsas no seio da família portista, dos mais velhos aos mais novos, dos notáveis aos anónimos, a dúvida era adivinhar por quantos iriam ganhar. Como donos da festa, fizeram barulho até cansar. Deitaram os foguetes e apanharam as canas sem atribuírem a importância devida ao jogo que estava por realizar. Ou seja, tanto sopraram no balão da pesporrência que o fizeram rebentar ainda o árbitro não tinha apitado para o espectáculo começar.

Grande foi o folguedo e não deixou de provocar admiração a ideia de lhe emprestar certa solenidade através de uma cerimónia surpresa para anunciar a prorrogação contratual entre o clube e o treinador. Foi estranho, pelo menos para mim, mas eu não sou tido nem achado no processo, por isso aceito a coincidência, quando seria suposto terem sido decretados alerta máximo e concentração absoluta a pouco mais de 24 horas de compromisso que, em caso de sucesso, entreabriria a porta do título ao emblema do dragão.
Enriquecer o programa com uma emergência protocolar perfeitamente adiável, sublinho, parece-me estranho. No entanto, o presidente portista é hábil e de sólida experiência. Se ele quis que fosse assim alguma intenção teria em mente. Provavelmente juntar a sua manifestação pública de reforço de confiança em Sérgio Conceição a uma vitória anunciada sobre o Benfica.
Plano quase perfeito, sendo certo que se correu mal a culpa foi do treinador. Vem nos manuais.
Pinto da Costa, jogos e resultados à parte, não vai esquecer porque queria a capitulação, já, de Luís Filipe Vieira - o único que lhe faz frente nos relvados e o suplanta no trabalho, na obra, na inovação, no sentido de futuro - e, em vez disso, viu-o sair do Dragão vitorioso. E líder."

Fernando Guerra, in A Bola

Mudanças à vista

"Se toda a gente conhecer bem as regras do jogo haverá mais pessoas habilitadas a opinar

Tal como acontece todos os anos, também a próxima época desportiva trará novidades no que diz respeito às leis do jogo. O International Board (IFAB) reuniu-se no passado dia 2 de Março e aprovou um conjunto de alterações que têm o objectivo do costume: tornar o futebol num espectáculo mais justo e bem mais atractivo para todos. De entre as várias mudanças propostas, o destaque maior vai para as infracções de mão na bola (aquela que é, como bem sabem, a maior dor de cabeça das equipas de arbitragem dentro do campo). A mais estruturante alteração nessa matéria passará a ser a punição de todo e qualquer braço/mão - ainda que não deliberada -, que resulte directamente em golo ou clara oportunidade de golo. Ou seja, sempre que uma bola entre/possa claramente entrar na baliza adversária, depois de tocar/bater na mão de um atacante (mesmo que de forma acidental ou fortuita), o lance/golo será anulado e esse contacto sancionado como infracção. Na prática, a mensagem  que o IFAB pretende passar é que não podem valer jogadas de golo/golos cujo último toque tenha sido feito com  a mão/braço de quem marca. Pode ser injusto e levantar até algumas interrogações sobre o que são actos deliberados/não deliberados, mas é garantidamente uma medida factual o objectiva, num lance tipicamente cinzento e subjectivo. Isso permitirá uniformizar critérios e decidir sempre da mesma forma.
Mas há mais mudanças que vale a pena aqui sublinhar e às quais o caro leitor pode começar a familiarizar-se desde já. Por exemplo, a partir da época de 2019/2020, todos os jogadores substituídos serão obrigados a abandonar o terreno de jogo pela linha mais próxima do local onde se encontrem, aquando do processo de substituição. A ideia é desincentivar perdas de tempo desnecessário por parte de quem sai e impedir que isso enerve/irrite o adversário em desvantagem no marcador. Medida sensata, que pode evitar a exibição de cartões por eventuais reacções de frustração de alguns jogadores.
Nos pontapés de pénalti, os guarda-redes deixarão de ter a obrigação de manter os dois pés sobre a sua linha de baliza aquando da execução da penalidade. A partir da próxima época, passará a ser obrigatório que tenham apenas um. Os penáltis são momentos de enorme tensão e é (quase) impossível exigir a um GR que mantenha essa posição firme, num contexto tão determinante como aquele. Já os elementos técnicos que estarão sentados nos bancos (treinadores, delegados, etc.) passarão a ser sancionados com cartões amarelos e/ou vermelhos, caso tenham comportamentos inadequados ou irresponsáveis. Isso tornará mais público e direccionado (logo transparente) eventual castigo imposto pelo árbitro durante a partida.
Noutro âmbito, haverá certos momentos (a especificar noutra altura) em que uma bola, ao bater/tocar no árbitro da partida, possa levar à interrupção do jogo e ao seu recomeço com lançamento de bola ao solo. O juiz de campo deixará, nessas circunstâncias, de ser o elemento neutral de jogo que sempre foi até aqui (a verdade é que foram várias as situações infelizes, que resultaram em golos ou em acções disciplinares, após toque involuntário da bola no árbitro, que inverteu o rumo de uma jogada).
Mas há mais: nos pontapés de baliza ou nos pontapés livre dentro das áreas (os favorecem a equipa defensora) deixará de ser necessário que a bola saia dessa zona: ela entrará em jogo mal se mova claramente, ainda que no interior da área.
A 133.ª Reunião Geral do IFAB também concluiu, sem surpresa, que a implementação de videotecnologia está a ser um sucesso e que, não obstante os passos serem ainda pequenos e paulatinos, trará - como tem trazido - mais verdade desportiva e mais benefícios ao jogo. Para assegurar que esse caminho continua a ser desenvolvido com qualidade, concluíram que é fundamental manter a formação e educação contínua dos árbitros.
Se toda a gente conhecer bem as regras do jogo que pratica e admira, haverá mais pessoas habilitadas a criticar, mais pessoas legitimadas e opinar. È win, win."

Duarte Gomes, in A Bola

Cadomblé do Vata (Saudade!!!)


"Apesar de ter declarado em tribunal que teme pela sua vida nas prisões portuguesas, uma vez que não tendo nada a ver com o caso dos emails do SL Benfica e não sendo este processo mencionado no pedido de extradição, o Benfica controla a justiça portuguesa, São Rui dos Clérigos foi mesmo condenado a regressar a Portugal sob custódia judicial. Desde pequeno que me dizem que a palavra "saudade" só existe na língua portuguesa, mas hoje fiquei a saber que "a culpa é do Benfica" também é um conceito apenas perceptível no idioma de Camões.
Por muito que o Santo Padroeiro da Gritaria Futebolística vá tentando espalhar a mensagem de ser totalmente alheio à divulgação da correspondência electrónica, os factos dirigem-se sempre na sua direcção, incluindo o súbito silêncio do blogue Mercado de Benfica desde que o ouriço portista foi detido. As provas neste caso, apontam tanto para ele, como o Marega para si no festejo do golo do FC Porto contra o SL Benfica e certamente com os olhos postos na cortina de fumo que se abateu sobre o golo irregular do Maliano, Rui Pinto lança para o ar o nome do rei do nevoeiro, como sendo ele a chave da divulgação do indecoroso roubo das bolachas da Magda, claramente na esperança de ver a sua cara esfumar-se deste processo. E à laia de uma fuga portista às responsabilidades, já vai avisando que "sabe coisas do FCPorto que o entristecem". Com sorte, a eurodeputada vai-lhe levar tabaco à choldra e convence-o a soprar no apito... isto se lá dentro, os colegas de cela não o convencerem antes."