"Pinto da Costa reage como sempre faz quando não está na sua zona de conforto: com ataques, insinuações e demagogia
Todos sabíamos que esta época iria ser muito disputada porque o pote dos milhões vai ficar acessível apenas a duas equipas. Dos habituais três lugares na Liga dos Campeões, este ano teremos apenas um com entrada direta e outro nas pré-eliminatórias. Com o aproximar do final da época, a pressão aumenta e torna tudo mais complicado de gerir.
Contexto do FC Porto
O Porto atravessa uma fase decisiva na sua história. Se nos últimos anos, desportivamente, conseguiu continuar a lutar por títulos, financeiramente a história é outra.
As dificuldades têm aumentado e o aumento do financiamento e a antecipação de receitas têm sido uma constante. O descontrolo é visível.
Mesmo para quem não tem noções financeiras, este facto é claro quando se analisa a perda de qualidade que o plantel azul e branco tem sofrido ano após ano.
O presidente do Porto refere muitas vezes que as pessoas não querem saber dos balanços, os adeptos querem é ver os troféus no museu.
Neste ponto concordo com o presidente azul e branco, acrescentando apenas que, cada vez mais, as pessoas percebem a ligação entre a gestão financeira e os resultados desportivos.
Uma boa gestão financeira cria condições para que, desportivamente, o clube e a SAD sejam mais fortes e mais preparados.
A campanha de Pinto da Costa
Pinto da Costa é presidente do FC Porto há 42 anos. Já passou por muitas dificuldades e por muitos momentos de alegria. Até 2024 tem sido inquestionável. Contudo, ao fim de tantos e tantos anos, eis que chega alguém com capacidade para o desafiar e para o colocar em sentido.
Habituado a ser hábil e irónico nas palavras, mas sem necessidade de desenhar programas de campanha, o presidente do Porto ficou desconfortável. André Villas-Boas não só é alguém reconhecido dentro do universo portista, como é metódico, disciplinado, apaixonado pelo seu clube e determinado em dar um rumo de modernidade a um clube que está agarrado a práticas do passado.
Este é, sem dúvida, um contexto que o presidente dos dragões nunca tinha passado. Assim sendo, como é que Pinto da Costa reage? A resposta é simples, reage como sempre faz quando não está na sua zona de conforto: com ataques, insinuações e demagogia.
Exemplo disto mesmo foi a entrevista concedida a meio da semana a um canal de TV, onde repetiu por várias vezes que Villas-Boas ou alguém ligado a si pediu para que os sócios filmassem tudo o que se passava dentro da assembleia onde ocorreram as ameaças e agressões entre sócios portistas.
Ao referir isto, insistentemente, quer passar a mensagem de que André Villas-Boas pode ter responsabilidade nos tristes acontecimentos que todos vimos. Mais ridículas ainda foram as afirmações posteriores, onde referiu que «a partir do momento em que Villas-Boas anunciou a sua candidatura, o FC Porto começou a ser prejudicado pelas arbitragens».
Esta afirmação, de tão ridícula que é, demonstra o descontrolo, a falta de capacidade de enfrentar um adversário bem preparado e passa um atestado de estupidez aos adeptos! Partir para as ofensas ou para as insinuações sem lógica alguma demonstra bem o nervosismo e o desconforto que impera na atual administração portista.
Gestão irresponsável
Em Portugal as regras desportivas são rudimentares. Estou a referir-me aos castigos que são aplicados quando existem infrações ou maus comportamentos. Mesmo quando os jogadores são castigados, existem formas de adiar os castigos, como verificámos no caso Palhinha, entre outros.
Com 42 anos de presidência, é neste contexto que o presidente azul e branco está habituado a movimentar-se, onde os fins justificam todos os meios, ou de uma forma simples, onde as vitórias tudo justificam! Felizmente a sociedade evolui. Se no desporto a falta de respeito e de fair play continuam a ser possíveis, dados os castigos ridículos, nas outras áreas as coisas evoluíram.
Estou naturalmente a referir-me à vertente financeira. Uma empresa cotada em bolsa tem regras.
Em primeiro lugar, não me parece que seja positivo que um presidente de uma SAD refira publicamente que a questão financeira não é com ele, que quem sabe disso é o administrador Fernando Gomes. Percebo que esta não seja a área de Pinto da Costa, mas um presidente deverá fiscalizar, acompanhar e perceber a realidade da sua empresa, não referindo publicamente que não tem muito a ver com isso!
Em segundo lugar, não me parece aceitável a forma leviana como diz que vão entrar 70M€ num negócio que está a ser concluído, ou que o FC Porto está a negociar com um fundo 250M€ para reformulação da sua dívida de médio/longo prazo.
Na parte financeira existem regras. Por este motivo a CMVM suspendeu as ações da FC Porto SAD. Mesmo com poderes muito limitados, a CMVM fez o seu papel. Quem está no futebol está habituado a fazer as suas próprias regras e a gerir tudo a seu bel-prazer. Com a transformação do futebol numa indústria, a transparência e ética irão aumentar. Quem não aceitar esta realidade e se agarrar ao passado irá ficar para trás…
Ética
Tocando neste ponto, há uma ideia que fica no ar. Dado que, em abril, vão existir eleições nesta grande instituição, o que deveríamos esperar por parte de quem está a gerir os destinos do clube? Que tomasse decisões estruturais a poucos meses das eleições? Ou que apresentasse as suas ideias e após o ato eleitoral as colocasse em prática?
Analisando um ponto importante para o futuro do clube, a academia, percebemos que duas das três listas têm visões diferentes. Cada uma apresenta o seu projeto em zonas diferentes e com características diferentes.
Até aqui tudo é lógico e natural. Então, por que motivo a atual administração vai avançar com um compromisso para o seu projeto em vez de esperar mais um mês? Faz sentido tomar uma decisão estrutural desta dimensão e importância a menos de um mês das eleições? Quem está a tomar esta medida está a pensar em si ou no clube? Quem esperou tantos e tantos anos para comprar os terrenos para a academia não poderia esperar mais um mês para tomar esta decisão e não condicionar a futura administração, caso outra lista vença as eleições?
O peso dos resultados desportivos
Numas eleições tão renhidas, o peso dos resultados desportivos é considerável. Tendo em conta que esta é a pior época desportiva nos últimos anos, as coisas ficam mais complicadas ainda para a atual administração.
Assim sendo, qual é a forma de contornar esta questão e de iludir os adeptos? De uma forma simples, Pinto da Costa recorre a uma estratégia que usa desde que é presidente: a culpa é dos árbitros!!
O jogo com o Estoril foi, apenas, mais um exemplo. Num desafio em que houve erros de parte a parte, o presidente do FC Porto decide focar-se num possível erro do árbitro, esquecendo-se que Diogo Costa (que continua a ser um enormíssimo guarda-redes) cometeu o erro que decidiu o encontro. O que acho interessante é que para as equipas grandes os árbitros têm de ser perfeitos, mas os seus jogadores não. Um erro de um árbitro é sempre decisivo, mas um erro de um jogador da sua equipa já é desvalorizado.
Em termos concretos, o que é que um clube controla? Os clubes controlam o seu processo, planeamento, organização, equilíbrio financeiro para potenciarem a vertente desportiva e o treino físico e mental dos jogadores. Então, é aqui que devem resolver os seus problemas e não encontrar nos árbitros a culpa dos seus insucessos.
No limite, por muito que nos queiram vender a mensagem de que os árbitros estão a prejudicar o Porto, quem acompanha e analisa o futebol sabe que o Porto está fora da luta pelo título e ficou fora da Taça da Liga por demérito próprio. Adicionalmente, todos também percebem que o plantel azul e branco tem perdido qualidade por causa da má gestão financeira que tem vindo a ser feita e que se vai deteriorando ano após ano.
O futebol português precisa de pessoas que assumam as suas responsabilidades, nas vitórias e nas derrotas, e não de pessoas que procurem culpados para os seus insucessos!
A VALORIZAR
Geny Catamo: Dois golos, o último com uma execução fantástica no jogo do título.
A DESVALORIZAR
Soares Dias: Um grande árbitro cumpre as regras e não olha a caras, nomes ou clubes nem usa a lei da compensação dentro do jogo."