Últimas indefectivações

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Critérios

"Entre as muitas frases que fazem parte do futebolês, há uma que me irrita solenemente. Perante um indisfarçável erro da arbitragem é comum ouvirmos a eloquência da análise equivocamente benevolente: «É um critério que se aceita.»
Ora aí está a frase ideal para tomar posição sem tomar posição. Quer dizer, o erro existe mas não é. Ou é, mas aceita-se que não seja. Afigura-se útil e oportuno expressar o princípio in dubio pro árbitro. Claro que «o critério se aceita» em função do coração clubista de quem fala ou escreve. Por vezes por favor, outras vezes por temor. Uma frase que vem mesmo a calhar como o espaço por onde passa a falta de coragem ou o instinto de sobrevivência.
Corresponde no futebol ao compulsivo «mais ou menos» com que convivemos a toda a hora. Ou ao «talvez» que... talvez seja necessário para estar bem com Deus e o diabo.
Por isso, se aceita o critério da mão ou a mão do critério, o fora-de-jogo milimétrico ou o infinitéssimo dentro-de-jogo, o toque ligeiro no adversa´rio ou a carga sem dó nem piedade, o cartão alanrajado que tanto dá para aceitar o critério do amarelo como do vermelho. E tudo dependendo do árbitro em concreto: para uns nada se aceita, para outros tudo é aceitável.
Também nos treinadores está instalada esta frase-regra. «O critério aceita-se» se o erro for a favor da sua equipa (numa versão mais apurada, o técnico dirá que «não comento a arbitragem»).
Sugiro, apesar de tudo, alguma variedade nas palavras. Usando outros «advérbios de dúvida». Além do já referido talvez, porque não porventura, quiça, se calhar, possivelmente. Enfim, critérios há muitos..."

Bagão Félix, in A Bola

Resta esperar com tranquilidade

"Oblak vai ficar dono da baliza do Benfica e André Villas Boas vai ser o próximo treinador do FC Porto. Na arte das profecias rápidas os adeptos dos dois clubes têm muito em comum.

ENZO PÉREZ, jogador com quem mais me vejo a simpatizar cada dia que passa, foi suspenso um jogo pela Liga na sequência de um processo sumaríssimo aberto pelo departamento disciplinar da citada entidade.
Nada a obstar. O polivalente médio argentino do Benfica... Ou será trinco?... Ou será ala?... E o que importa?... Adiante: dizia eu que o polivalente argentino rodopiou com a mão bem perto da cara do árbitro do inesquecível Benfica-Arouca sugerindo, pelo menos foi essa a ideia com que todo ficámos, que Rui Costa, o árbitro do Porto, estava a gamar descaradamente a equipa da casa.
Questionável? Sem qualquer espécie de dúvida. Há quem tenha concordado logo com Enzo Pérez e outros há, entre os quais me incluo, para quem a desculpa com o árbitro é quase insultuosa tendo em conta a indigência de uma exibição colectiva de fazer corar de vergonha as pedras da calçada, se é que ainda há pedras da calçada.
O gesto rodopiante de Enzo Pérez aconteceu já nos descontos e, aparentemente, sempre aparentemente, pretenderia ser um protesto contra a decisão do pobre árbitro que, instado a decidir pelos extras de um jogo com mil paragens, não mais deu do que 4 minutos de tempo suplementar.
Esteve mal o árbitro? Provavelmente, sim. Mas quereria Enzo Pérez dizer aos adeptos do Benfica que, se não fosse o árbitro forreta, em mais dois ou três minutinhos certamente que os jogadores acabariam finalmente por resolver o jogo e o resultado a favor das nossas cores? Tenham vergonha, pá!
Esta coisa de protestar pelo tempo de descontos deu tanto que falar durante a semana que, inevitavelmente, o Benfica acabaria por provar, logo na jornada seguinte, o sabor do seu próprio veneno.
Em Olhão, sem Enzo Pérez, como determinou o castigo, depois de uma exibição aflitinha e com um tangencial 3-2 a sorrir-nos debilmente, outro árbitro do Porto - e eles são muito unidos - olhou para o relógio e comunicou à organização do jogo que seriam 10 os minutos extra do referido encontro.
Registou-se logo uma grande indignação.
Julgo, no entanto, que a maioria das pessoas de bom sendo reagiu como eu:
Nada  a obstar.
Foram oito minutos a mais pelas interrupções do jogo do Algarve e mais os outros 2 minutos que nos ficaram a dever pelas interrupções do jogo da jornada anterior, o tal jogo inesquecível com o Arouca. No fim de contas, faz-se justiça.
No entanto, aqueles 10 minutos suplementares à beira da Via do Infante foram duros de suportar. Mas acabámos por ser felizes porque nos instantes finais ainda o Benfica sofreria praticamente dois penalties - um canto e um livre à maneira de canto curto - e saiu ileso do perigo que sempre representam esse tipo de lances de bola parada.
O importante, no entanto, foi a vitória sobre o Olhanense que permite ao Benfica manter-se na discussão pela título, isto se houver interesse em tal discussão, o que, francamente, vendo-os jogar, às vezes não parece.
Na próxima jornada o Benfica vai a Setúbal e já leva o Enzo Pérez. Menos rodopios com as mãos e mais rodopios com os pés, é o que te desejamos, querido amigo argentino, mouro de trabalho que não mereces, tu especialmente, algum azedume das linhas anteriores.
Para terminar, uma boa notícia para todos e, sobretudo, para todos os amantes da verdade desportiva que, no início da temporada, manifestaram a maior preocupação pelo facto de ser a Benfica TV a assegurar a transmissão dos jogos do Benfica na Luz a contar para o campeonato.
Um dos graves óbices à verdade desportiva era, então, a eventualidade de servir à Benfica TV como cortina em lances e em situações de jogo que pudessem virar-se disciplinarmente contra os interesses do clube operador.
O caso Enzo Pérez veio provar o contrário. Não há censura na nossa televisão mesmo quando tal pecado nos daria imenso jeito.
O câmara da BTV apanhou Enzo Pérez a insinuar que o árbitro tinha gamado, o realizador colocou a imagem no ar e a Liga suspendeu o jogador. Maior transparência não se pode exigir.
E nada a obstar.

OS adeptos têm todos a mania de que o seu clube é especial, o seu clube é muito diferente dos outros clubes que, desprezivelmente, são todos iguais.
Nada mais errado. Os clubes são todos diferentes uns dos outros. Os adeptos é que são todos iguais. Mas isto, compreende-se, custa muito a aceitar.
Acontecimentos do último fim de semana desportiva em Portugal e no estrangeiro atiraram-me para esta conclusão. Os adeptos são todos iguais. E quando a coisa diz respeito a profecias rápidas, ainda mais iguais são. Sobretudo quando grassa um sentimento de insatisfação, chamemos-lhe assim.
No capítulo das ditas profecias, ouvi precisamente o mesmo género de atrevimento pitoniso a adeptos do Benfica e do FC Porto - e logo estes, tão rivais que são - a propósito de situações que, mais ou menos, lhes dizem respeito.
No momento - longuíssimo - em que Artur Moraes se lesionou dando o lugar na baliza do Benfica ao jovem esloveno Oblak, ouvi logo a um benfiquista perentório:
- Este tipo nunca mais sai da nossa baliza!
E não foi o Manuel Cajuda quem disse isto.
No dia seguinte, naquele momento - brevíssimo - em que o Tottenham despediu André Villas Boas, ouvi logo um portista, daqueles portistas que nem admitem discussões:
- Este tipo daqui a uma semana é treinador do Porto.
E agora? Agora resta esperar com toda a tranquilidade. A ver o que acontece.

VOLTANDO ao jogo de Olhão me que a culpa não foi do árbitro mas da relva . Havia o fantasma do jogo com o Arouca, pois havia. Será que aquilo se ia repetir? A verdade é que se repetiu. Mas em rápido, em rapidinho.
Com pouco mais de meia hora de jogo o Benfica já tinha conseguido imitar-se a si próprio no confronto com os arouquenses: sofreu um golo e conseguiu empatar (graças a um golo à Montero de Lima); depois sofreu o segundo e voltou a conseguir empatar.
Em Olhão bastaram 37 minutos para chegar ao 2-2 que foi o resultado obtido na jornada anterior.
Em Setúbal, ninguém sabe como vai ser. É esse o encanto do futebol.

ESTRANHO panorama europeu no que ao futebol português diz respeito. Do arranque das duas competições de clubes até à semana passada. Portugal perdeu tudo o que tinha para perder.
De uma assentada, ou melhor de duas assentadas, o nosso país perdeu todos os seus clubes que participaram na fase de grupos da Liga Europa e perdeu todos os seus clubes que concorreram na fase de grupos da Liga dos Campeões.
Seria escandaloso se não fossemos quem somos, pobretes mas alegretes.
A culpa do desaire nacional na Liga Europa é do Sporting.
Se o Sporting tivesse feito um campeonato minimamente normal em 2012/2013 seria, certamente, um dos representantes de Portugal na segunda competição europeia de clubes e, a jogar como hoje está a jogar, não é exagerado considerar que teria seguido em frente na competição.
Por falar em culpa, diz-se que a culpa do Sporting ser actualmente líder isolado do campeonato de 2013/2014 também é do Sporting, mas do Sporting de 2012/2013, o tal que ficou isento da aventura europeia tendo, por isso mesmo, mais dias para treinar e para descansar na temporada em curso.
Quanto à Liga dos Campeões, o Sporting não teve culpa nenhuma dos insucessos do Benfica e do FC Porto nos seus respectivos grupos.
Os dois grandes rivais só podem queixar-se de si próprios porque perderam o tino nesta Champions deixando-se engolir, respectivamente, pelo Olympiakos e pelo Zenit, equipas medianas que, valha-nos isso, não vão reencontrar na actual edição da Liga Europa para onde foram justamente relegados.
O Zenit e o Olympiakos jogam poucochinho mas, tendo em conta os figurinos actuais da Luz e do Dragão, mais vale não terem de os defrontar outra vezes nesta temporada, ainda que mais lá para a frente, sejamos optimistas.
Na Liga dos Campeões estamos a zero. A final será na Luz e não haverá rega automática, essa  é uma certeza muito reconfortante. Na Liga Europa, já houve sorteio. O Benfica e o FC Porto estão cientes do nome dos seus próximos adversários. Melhor será que não embandeirem em arco."

Leonor Pinhão, in A Bola

Mensagem de Natal

"Natal é tempo de família, é tempo de reunião e solidariedade. É também um tempo de reflexão e de memória.
Espero que todos possam celebrar esta data em família.
Vivemos tempos difíceis, tempos em que muitos portugueses enfrentam situações que nunca viveram, em que o desemprego não pára de crescer e as limitações financeiras são cada vez maiores.
Para eles - benfiquistas ou não - vai uma palavra de esperança e de coragem num novo ano que necessariamente tem de ser melhor.
2013 acaba para todos nós com um sabor amargo que não deve ser esquecido, o final de época representa uma lição de futuro que não podemos voltar a repetir. É tempo de olhar em frente e de renovar forças para os novos desafios.
Estamos fora da Liga dos Campeões e isso é, evidentemente, uma desilusão para quem, como eu, aspirava chegar mais longe. Muitos acusam-me de ser demasiado optimista, mas liderar é transportar optimismo para dentro de qualquer organização. É isso que sempre tenho feito, com a perfeita consciência de que coloco muitas vezes a fasquia demasiado elevada, mas a verdade é que a exigência tem de fazer parte da cultura do Benfica. Foi por essa exigência que chegamos até aqui.
Fui sempre assim ao longo da minha vida e assim vou continuar a ser!
Quando se ganha não significa que tudo esteja bem. Também quando se perde não significa que tudo esteja mal. Temos de melhorar no que fizemos mal, temos de persistir no que fizemos bem, mas acima de tudo não podemos deitar fora todo o trabalho que até aqui realizámos.
Temos o Campeonato, a Liga Europa, a Taça de Portugal e a Taça da Liga – quatro objectivos em que temos de nos empenhar para ganhar, mas para isso o vosso apoio é fundamental.
Desde o futebol às modalidades, todos nesta casa, sabem a responsabilidade que têm, mas é evidente que o apoio que recebem das bancadas é fundamental. Esse é o meu desejo para 2014. Apoiem os jogadores e façam-nos sentir a responsabilidade que tem de vestir esta camisola.
A história é aquilo que nos conseguirmos fazer no presente, e essa história só pode ser desenhada com a vossa participação.
Feliz Natal e um excelente ano de 2014!"