Últimas indefectivações

terça-feira, 6 de março de 2018

A brancura imaculada da perfeição...

"Em Fevereiro de 1969, o Benfica foi a Amesterdão fazer uma das grandes exibições da sua história europeia. Bateu o Ajax por 3-1, mas viria a perder a eliminatória. Simões, Eusébio, Jaime Graça, Toni, José Augusto foram Gatos Vermelhos em Campo de Neve.

Foi uma das noites europeias mais brilhantes da história do Benfica! 12 de Fevereiro de 1969. O que aí acima fica escrito é um facto. E os factos não se desmentem. Depois, existem outros factos sobre o facto principal, inicial.
É aqui que eu quero chegar: o Benfica desmanchou por completo o Ajax no seu próprio estádio. Mas seria o Ajax a passar a eliminatória da Taça dos Campeões Europeus após vir vencer à Luz pelo mesmo resultado e ter ganho por 3-0 no desempate que teve lugar em Paris. Nesse tempo era assim.
Mas isso não faz esquecer o encontro da primeira mão.
É um daqueles momentos inesquecíveis, irrepetíveis.
A neve caindo do céu holandês.
Mário Zambujal escreveu: 'Gatos Vermelhos em Campo de Neve'.
Relembrando Érico Veríssimo.
Rinus Michels treinador do Ajax, depois da Holanda mecânica e laranja: 'O Benfica surpreendeu-me. Fui ver alguns jogos a Portugal e hoje jogou infinitamente melhor do que aquilo que tinha observado. E é muito experiente nestes jogos europeus'.
Ajax, 1 - Benfica, 3.
Mário Zambujal: 'O Ajax todo, jogadores, técnico, público, teve a primeira surpresa. Logo aos 3 minutos. Torres esteve quase a marcar e não tardou mais dois para que Toni bombardeasse a barra com um admirável remate'.
Admirável: bom adjectivo para esse Benfica.
'O ataque português penetrava na defesa adversária com segurança mercê da sua superioridade num capítulo que é ainda muito importante: esse de saber jogar bem a bola. Simões, Eusébio, Torres, Graça, Toni, desataram a mostrar logo de entrada que, fosse qual fosse o desfecho do jogo, eram eles que formavam a única grande equipa em campo'.

Um mundo de elogios
Primeiro golo do Benfica: penálti cometido sobre Simões que corria solto para a baliza holandesa.
Marca Eusébio? Não marca?
Não marca: marca Jacinto.
Eusébio: 'Estava nervoso. Confesso que fiquei com medo de falhar e fui à linha lateral dizer isso ao senhor Otto Glória'.
Jacinto: 'O Eusébio disse-me - vai lá tu! Nunca tinha marcado um penálti na neve. Mas estava calmo. Saiu bem'.
Meia hora passada.
Eusébio desferia um dos seus pontapés mágicos num livre directo. Bals, o guarda-redes do Ajax, também foi mágico.
Torres cabeceia à barra. Depois rouba a bola a um adversário e vai de abalada até à baliza adversária, até ao golo.
Simões sai a coxear, entra José Augusto: 'Fui carregado com brutalidade no lance do penálti. Estou com muitas dores. De certeza que não vou conseguir jogar no domingo'.
Mais queixas. Raul: 'Gelei por completo! Queria correr e não podia. Estava paralisado. Não sei o que aconteceria se estivesse mais tempo em campo'.
Veio o intervalo e um Ajax para melhor na segunda parte. O sueco Danielsen fuzilou José Henrique.
José Henrique acabou o jogo com o tronco ligado, cheio de dores: 'Os avançados do Ajax são muitos fortes e não poupam os guarda-redes. Junto à baliza, o chão estava duro como ferro por causa do gelo. Cada vez que me atirava era um sacrifício'.
Danielsen: 'A vitória do Benfica foi justíssima. Enfim, pode ser que ganhemos em Lisboa'.
Ganharam.
O 3-1 derradeiro foi um clássico: canto de Eusébio, Torres lá no alto a amortecer para José Augusto.
Tantos golos marcaram assim!
Mário Zambujal: 'Em muitos países da Europa alguns milhões de telespectadores terão assistido, com surpresa, a uma actuação ao nível das melhores de sempre do Benfica na Taça dos Campeões Europeus!'
Kaiser e Cruyff eram motivos de destaque. Cuidado com eles em Lisboa!
Parece que ninguém ouviu. Cruyff apagou a Luz.
Mas nada nunca apagará essa noite de Fevereiro e a brancura da neve a medir-se com a brancura de uma exibição inolvidável."

Afonso de Melo, in O Benfica

Um Benfica colorido

"Iniciativa pioneira dava a conhecer um outro lado do Clube e dos seus: todos cabiam n'O Benfica Ilustrado.

No primeiro dia de Outubro do ano de 1957, o jornal O Benfica lançava a público uma grande novidade: uma revista ilustrada. Uma vez mais, o Sport Lisboa e Benfica colocava-se 'na vanguarda das grandes iniciativas', sendo o primeiro clube desportivo em Portugal a fazer 'uma tentativa desta natureza'.
Intitulado O Benfica Ilustrado, este suplemento do periódico do Clube chegava às bancas no primeiro dia de cada mês pelo valor de três escudos e cinquenta centavos. Com direcção de Paulino Gomes Júnior e edição de António Adão, era 'composto e impresso na tipografia da Empresa Nacional de Publicidade' com 'capas a cores, em «of-set»; oito páginas de rotogravura; oito páginas de tipografia' e um 'atraente aspecto gráfico', como frisou, à época, o Mundo Desportivo.
A nova publicação revelou-se um êxito desde o primeiro número: 'Em poucas horas quase se tinham esgotado os números postos à venda' e 'os pedidos de assinatura são contínuos'.
No interior das capas coloridas, que fizeram vibrar todos os benfiquistas, encontravam-se quase duas dezenas de páginas povoadas de fotografias, cartoons e ilustrações. Mas não eram só os 'bonecos' que atraíam os leitores. No eu interior eram abordados temas muito diversificados e havia ainda espaço para divulgação cultural, entrevistas e passatempos. Rubricas como 'Pedaços de história', 'A mulher e o desporto', 'Nós e os outros clubes', 'A vitalidade do Benfica através do seu ecletismo' davam a conhecer um outro lado do Clube e dos seus: atletas, dirigentes, funcionários e sócios, todos cabiam n'O Benfica Ilustrado.
Passados nove anos. O Benfica Ilustrado teve a sua última edição em Setembro de 1969. Francisco Valada, o 'grande vencedor da Volta a Portugal', com a sua camisola amarela e uma verdejante coroa de louros a tiracolo, deu cor a essa última capa. Uma segunda série de revista regressaria às bancas entre Janeiro de 1988 e Fevereiro de 1998, desta vez de periodicidade irregular, seguida ainda de uma terceira, de apenas três números, com término em 1999.
A mesatenista Helena Farelo foi capa do primeiro número d'O Benfica Ilustrado. Pode ver um exemplar original dessa edição e saber mais sobre este e outros suplementos do nosso periódico na exposição Jornal O Benfica - 75 anos de Missão, no Museu Benfica - Cosme Damião."

Mafalda Esturrenho, in O Benfica

Uma Liga ao espelho

"É um facto que o Sporting ainda pode acabar bem a época, se, como é possível apesar de difícil, juntar a Taça de Portugal à Taça da Liga, e principalmente se fosse capaz de ganhar a Liga Europa. Com os três troféus na montra estaríamos até em presença de uma das melhores épocas de sempre dos leões, que vencer uma prova europeia é ainda mais raro que ganhar um campeonato e ao Sporting não sucede desde 1964. Acontece que esse cenário radioso não parece fácil de conjugar e esta foi a semana em que o Sporting disse adeus a mais uma hipótese de ganhar a prova em que mais aposta, o campeonato. Ou seja, à terceira época em Alvalade, Jorge Jesus, a despeito do investimento feito, volta a falhar o principal objectivo. Claro que a equipa há-de sentir a convulsão permanente em que o clube vive e sobretudo as lesões de jogadores nucleares (embora, no caso do clássico, o FC Porto também as tivesse), mas nada ilude o facto de ter deixado de ser candidato a dez jornadas do fim. E o discurso do técnico leonino após o jogo no Dragão pareceu surgir de uma realidade alternativa, que não faz muito sentido falar em "alegria pela exibição" (melhor que o esperado, porque não se esperava muito) ou no ganho (subjectivo) de "um jogador" na hora do adeus ao título. E depois do que o Sporting jogou – e pontuou – no primeiro ano de Jesus nem se pode sequer dizer que a evolução esteja a ser positiva.
Sérgio Conceição é a principal figura do campeonato até agora e abriu frente ao Sporting uma via verde para o título, mesmo se a exibição foi a menos conseguida em jogos desta dimensão e se a intenção de segurar a vantagem, após a lesão de Marega, ia saindo cara. No entanto, para quem começou sem reforços e com expectativas baixas, após vários anos de frustração no clube, estar hoje com 8 pontos de avanço sobre o Sporting e 5 sobre o Benfica é obra. O campeonato não está ganho para os portistas - normalmente terá sentença ditada no clássico da Luz, quando se olharem nos olhos os candidatos que restam - mas o FC Porto colocou-se em posição invejável, superando a desconfiança inicial, alguns resultados traumáticos (como a goleada frente ao Liverpool), a sobrecarga de jogos, e por fim as lesões que surgiram tarde mas se multiplicam nos últimos tempos. Nada resiste tão bem a tudo isso como uma ideia de jogo bem definida e bem treinada. Pode discutir-se o estilo e algumas opções individuais, mas já não há dúvidas sobre a qualidade do trabalho e a eficácia, que a nível interno tem sido mesmo exuberante.
O Benfica há-de estar a lamentar os pontos perdidos no Restelo - os únicos que não somou nas últimas nove partidas da Liga e que o deixariam a depender só de si nesta altura -, naquele dia em que Jonas emendou de livre o que comprometeu de penálti. Mesmo assim, Jonas é o último jogador que as águias podem lamentar, que não houve outro avançado como ele no clube em muitas décadas. A qualidade do brasileiro a finalizar é absurda e desmente a cada semana tanto o avanço na idade como a ideia feita durante anos de que não viveria sozinho na grande área. Aliás, quantos benfiquistas se lembram hoje de Mitroglou, visto como explicação óbvia (mas errada) para o menor rendimento em determinada fase da época? O rendimento da equipa melhorou com a alteração de sistema mas sobretudo com a adição de talento, desde o regresso de Grimaldo à inclusão (claramente tardia) de Krovinovic, primeiro, e Zivkovic, depois. Rafa é apenas o último caso de esquecimento estranho, a substituir com ganho - por decidir melhor e ser mais associativo - um até agora "indispensável" Salvio.
Globalmente, a classificação transparece a realidade, com o FC Porto mais forte e regular na frente, o Benfica em crescendo e o Sporting em perda a ver aproximar-se um SC Braga cada vez mais competente. Rio Ave e GD Chaves, como os melhores projectos de jogo abaixo do quarto lugar, estão nos lugares que merecem e que já foram de Marítimo e Vitória de Guimarães, hoje a passar pelas dificuldades que várias exibições frouxas deixavam adivinhar. A maior competitividade surge apenas na fuga à descida, com 3 pontos a separarem o 13.º do último lugar. Para quem quiser perceber, a forma como as equipas jogam explica quase tudo, mas já sabemos que em Portugal é sempre mais fácil ir pelas teorias da conspiração que protegem a incompetência e alimentam a cegueira."

FIFA: o futebol do treinador rico

"A quarta substituição é mais um passo na direcção do jogo de tabuleiro e do açambarcamento de talentos pelos tubarões

Todos os verões, os treinadores vão a Genebra tirar uma fotografia e conversar com a UEFA, não sei se por esta ordem ou ao contrário. Como aconteceria com um massagista ou um fiscal de linha que fossem à UEFA, os treinadores debatem, acima de tudo, coisas que lhes interessem pessoalmente. Paragens de tempo para dar instruções, substituições extra, mais suplentes. Ao longo dos tempos, muitas das opiniões deles foram vencendo, migalha a migalha, sempre no mesmo sentido: o do controlo psicótico do jogo por quem o orienta a partir do banco, aproximando-o cada vez mais (perdão pelo lugar comum) da proverbial Playstation. O último episódio foi a entrada da quarta substituição nas leis do futebol, anteontem, de mãos dadas com o videoárbitro. Para quem se preocupa com o espectáculo, cada substituição ou espaço que se abre à maior intervenção do treinador devia ser um problema, porque são ataques à espontaneidade e à surpresa. Permitem a quem marca um golo tomar medidas imediatas para o defender, por exemplo. Mas também formata a acção dos treinadores e o próprio conceito do jogo. Não precisam de montar equipas ofensivas, nem defensivas, nem capazes de se gerirem autonomamente. É sempre possível dar-lhes uma volta completa a qualquer instante. O pior desta quarta substituição, só permitida nos prolongamentos, nem será tanto o facto de ser mais um contributo para transformar o futebol em xadrez. O pior, num contexto em que se discute o distanciamento dos clubes ricos, é tomar uma medida que favorece, outra vez, quem tem dinheiro para comprar mais e melhores jogadores. E dar-lhes uma boa razão para continuarem a açambarcar talentos. Onde pára o Jorge Valdano?"

Vai chegar o dia em que nos vão faltar Gary Nevilles

"Ninguém quer vir a ser um Gary Neville.
Estávamos um pouco para lá do meio de 2013, e o central Jamie Carragher, dificilmente um brilhante central, disse isto a Gary Neville, um lateral pouco mais do que satisfatório, que fez mais de 400 jogos no seu clube de sempre, o Manchester United.
Um lateral-direito era, para Carragher, um mau extremo ou um mau central, desviados para esse lado do campo. Olho para esta frase um pouco como profecia. Mais de quatro anos depois, o último reduto do futebol mundial está em crise, umas posições mais do que outras.
A crise também depende do treinador. Para Pep Guardiola, que já usou e abusou de tantas versões ao longo da carreira, fosse uma linha de três, de quatro ou de cinco, fossem quatro laterais da direita para a esquerda ou, reflexo invertido, quatro centrais, crise será sempre palavra demasiado forte. Não para os demais.
Façam o exercício.
Digam dez centrais de topo na actualidade sem pensarem muito.
Atenção, não basta serem bons, lembrem-se que precisam ser de topo. Alguém que possa ser ídolo de uma geração de putos ranhosos, de bombazine cheias de terra e coçadas nos joelhos, e os inspire a ser desmancha-prazeres dos avançados.
Vá, força, eu ajudo!
1? Hummels, de caras. 2? Bonucci, apesar de um Milan tão instável. 3? Piqué? OK, Piqué ainda vale. 4? Varane, apesar das lesões e a ter de recuperar terreno perdido. 5? Godín. 6? 6? Thiago Silva...
Ao rapaz que gritou Sergio Ramos lembro que a um defesa ajuda saber defender.
A partir daí, o nevoeiro adensa-se entre promessas por concretizar e jogadores que ficaram curto. Não chegam a tanto, embora um ou outro ainda possa chegar.
O velho Pepe foi dos mais fortes no seu auge, Ricardo Carvalho o melhor que Portugal produziu nas últimas décadas.
O mesmo exercício agora para laterais-esquerdos, mesmo que o tempo dos Roberto Carlos já lá vá. Talvez seja mais fácil.
Alex Sandro, Jordi Alba, Marcelo, Alaba, Filipe Luís, Marcos Alonso... Lembrem-se: de topo! Com alguma estagnação, também por culpa das lesões, Raphäel Guerreiro.
Do outro lado? Kimmich, Dani Alves, Bellerín, Carvajal, Valencia... Curiosamente, aqui Portugal até tem muitos de grande qualidade, desde Cédric a Nélson Semedo, passando por Cancelo e Ricardo Pereira, com Dalot a espreitar o futuro.
O problema pode estar mesmo aí. Hoje, tal como há cinco anos, ninguém quer ser um Gary Neville. Ou um Fonte, um Pepe, um Nélson Semedo ou um Raphäel Guerreiro, ou qualquer um dos outros. Mesmo os Hummels, os Dani Alves e os Marcelos, referências de um presente que se aproxima do fim, não parecem inspirar assim tantos sucessores.
Todos querem ser Ronaldos, Messis, Neymares, Dybalas ou Coutinhos.
Apesar da evolução, de um futebol em contínua transformação, se não houver quem valha a pena imitar dificilmente haverá quem imite. A crise é um ciclo, cheio de cada vez mais avançados e menos Gary Nevilles.
Quem diria que iríamos sentir a sua falta?"

Tribuna... Coincidências!!!

Total disponibilidade em colaborar com a Justiça

"A Sport Lisboa e Benfica SAD confirma a realização de buscas às suas instalações no âmbito de um processo de investigação sobre eventual violação do segredo de justiça e reitera a sua total disponibilidade em colaborar com as autoridades no integral apuramento da verdade.
A Sport Lisboa e Benfica SAD manifesta a sua confiança e convicção de que o Dr. Paulo Gonçalves terá oportunidade, no âmbito do processo judicial, de provar a legalidade dos seus procedimentos.
A Sport Lisboa e Benfica SAD informa que irá pedir com carácter de urgência uma audiência à Senhora Procuradora-Geral da República, pelas reiteradas e constantes violações do segredo de justiça, sobre os processos que envolvem o clube, numa estratégia intencional e com procedimentos fáceis de serem investigados, como hoje foi claramente comprovado."


PS: - Como é que a comunicação social portuguesa dá esta notícia sem se rir?!!!
- Parece que PGR descobriu que para passar a mensagem que está activa, basta fazer buscas na Luz!!!
- Como é que uma eventual quebra do segredo de justiça, tem mais relevo comunicacional do que compra de um jogo?!!!
- Deve ser coincidência, as últimas buscas feitas na Luz, são sempre poucos dias depois, de rebentar algum 'escândalo' com os Corruptos ou os Lagartos!!!

Benfiquismo (DCCLXVIII)

Sem dúvida...

Chama Imensa... As desculpas de mau pagador!!!