Últimas indefectivações

quinta-feira, 7 de novembro de 2019

Um Novembro longe da Luz

"Após a derrota em Lyon, o Benfica continua um nebuloso mês de Novembro e o seu ciclo de quatro jogos fora de portas: pisou a Luz no fim-de-semana passado, com o Rio Ave, e só lá voltará no dia 30, contra o Marítimo de Nuno Manta Santos. Pelo meio, Santa Clara, Leipzig e Vizela terão de arrumar a casa e preparar a recepção aos comandados de Bruno Lage, que andarão com as malas às costas em atarefadas deslocações.
Os açorianos recebem o Benfica na oitava posição, a três pontos da zona europeia, e querem continuar a sua ascensão classificativa. Depois de uma época transacta tranquila, João Henriques enfrenta agora o desafio da consolidação insular na Liga NOS e a chegada à porta do Top 5, num saudável processo evolutivo de uma equipa bem orientada e com boas individualidades, como Osama Rashid, o farol do meio-campo e indiscutível da equipa.
Tem sido recorrente a aposta do 3-5-2 no campeonato e é possível que o técnico de 47 anos volte a apostar em três centrais, o que oferecerá novos desafios a Bruno Lage, que terá necessariamente de repensar a sua abordagem na manobra ofensiva da equipa. Apesar da má fase em termos de eficácia na finalização, as qualidades de Zé Manuel ou Thiago Santana poderão ser aproveitadas no espaço deixado pelo bloco alto benfiquista.
Depois da insana regularidade de competição, com partidas de três em três dias, o Benfica finalmente terá uma semana de preparação para o encontro seguinte. A viagem até Vizela, para a Taça, servirá como oportunidade para os menos utilizados ganharem ritmo de jogo, ainda que o adversário requeira certas atenções: é o primeiro classificado da Série A do Campeonato de Portugal, conta oito vitórias em nove jogos e tem-se sentido relativamente confortável na prova rainha até agora, na qual se destaca a vitória fora frente ao Casa Pia, por 3-1. Que a famosa festa da Taça se faça apenas fora de campo…
E as viagens terminam em solo germânico, no estádio do terceiro classificado alemão: os homens de Nagelsmann já se impuseram na Luz e é previsível que façam o mesmo na Red Bull Arena, apesar de a partida ser essencial para a continuidade do Benfica na prova, na qual só a vitória interessa para a tão desejada chegada aos oitavos-de-final. Depois de atropelarem o Mainz por 8-0, os alemães foram a São Petersburgo controlar o Zenit num 0-2 relaxado, dada a disparidade em qualidade táctica e individual. Sem Rafa, muito terá de mudar Bruno Lage relativamente aos encontros europeus recentes, se a discussão do resultado for um objectivo.
No último lugar do grupo com três pontos, a única opção do Benfica é trazer a vitória da Alemanha e triunfar na última jornada, quando receber os russos na Luz: mas nem essa optimista previsão será suficiente, caso não haja a conjugação correcta nos restantes jogos do grupo. Leipzig e Lyon contam nove e sete pontos, respectivamente, e dependem apenas de si próprios para avançarem à próxima fase.
O mês antevê-se difícil e fulcral para as aspirações benfiquistas a toda a linha: um descuido em Vizela deita por terra um dos objectivos principais da época e a manutenção do status quo em Leipzig será sinónimo de pesadelo, muito mais traumatizante que as derrotas na Rússia e em França. Tem a palavra a equipa encarnada."

Quando o adversário é mais forte, as dificuldades do Benfica são mais fáceis de assinalar

"Bruno Lage disse-nos, no final da Supertaça, e dos primeiros jogos da Liga, que ainda não era capaz de avaliar a equipa do Benfica. Acrescentou que deveríamos esperar por dez ou onze jogos oficias para que se pudesse fazer uma análise mais fidedigna da performance colectiva e individual do campeão nacional.
Terminada a 4ª jornada da Liga dos Campeões, ao 16º jogo oficial, o balanço para o Benfica continua positivo, excepto nos jogos onde o valor do adversário se equipara ao dos seus jogadores.
Os jogos no campeonato português, pela diferença evidente de qualidade entre as equipas, foram dando para vencer mesmo que com menor qualidade de jogo. Ao fim ao cabo, os melhores jogadores, juntos, mesmo sem treinador, tal é a diferença para os outros, devem tendencialmente ganhar mais vezes.
Como é natural, o Benfica não foi inferior na maior parte dos jogos da Liga; mas foi-o em mais jogos do que o que seria expectável. E aí, mesmo vencendo, tal como na época passada, percebe-se a pouca qualidade da equipa na sua organização ofensiva. É uma equipa pobre em ataque posicional, sem capacidade para romper com os constrangimentos defensivos que lhe são colocados por adversários que defendem com muitas pernas.
Os sinais que ecoavam na época passada, antes do Benfica estar em vantagem nos jogos, tornaram-se gritantes nesta época porque não tem acontecido, regularmente, marcar primeiro do que o adversário, e, sobretudo, marcar cedo. O desconforto passa a durar mais tempo, os jogadores ficam mais impacientes, os adeptos também, e o jogo perde ainda mais qualidade - é uma bola de neve.
(...)
O problema não vem de hoje! Mas começa a ser mais notório, mesmo no nosso campeonato, porque as equipas também já perceberam que o Benfica não se dá muito bem contra equipas que trocam muitos passes no seguimento de uma recuperação de bola. Quem se preocupa em não perder a bola assim que recupera, em não atacar de qualquer forma, em não contra atacar a cada recuperação, tem feito a equipa de Bruno Lage ficar exposta a coisas que não nos passavam pela cabeça antes: a equipa defende muitos lances, durante muito tempo, com apenas seis jogadores (os quatro defesas e os dois médios centro), e tem dificuldade em defender de forma organizada quando o adversário faz variações curtas de corredor com a bola pelo chão.
Na época passada, vimos poucas vezes o Benfica em momentos de organização defensiva por mérito da grande reacção à perda que o seu treinador pedia, mas também por alguma falta de coragem das outras equipas para tentarem sair da pressão com qualidade; hoje, o Benfica joga mais vezes perto da sua baliza, e mesmo com a equipa organizada sente-se muito desconfortável no momento de defender as suas redes. Do ponto de vista colectivo, mesmo nos momentos defensivos, não é uma equipa tão pujante como num passado recente.
Como é claro, o momento de forma de alguns jogadores não ajuda a resolver alguns problemas como dantes; mas isso é consequência de um modelo muito virado para as individualidades, e cuja maior arma ofensiva não é a forma como os jogadores se ligam uns aos outros e as dinâmicas que todos conhecem, mas sim a inspiração individual de cada um dos seus elementos.
De forma demasiado simplista, Bruno Lage atira os seus jogadores para os posicionamentos que ele entende como correctos, e como não quer matar a tomada de decisão dos seus jogadores (como já disse várias vezes), deixa que eles se safem. Isto funcionará sempre que os jogadores escolhidos tiverem qualidade para interpretar o jogo da forma mais correta, sempre que se juntarem jogadores que se conheçam muito bem, e que tenham a capacidade para executar tudo o que imaginam. E como se percebe pela descrição, não há tantos jogadores assim no Benfica, e os que há nunca jogaram todos juntos nesta época.
Por isso, pede-se mais do treinador encarnado. Mais do que vitórias (que são fundamentais), é importante que a sua organização se consiga impor a dos adversários de forma inequívoca - quer por juntar os melhores jogadores no mesmo onze (como na época anterior), ou então por tentar criar caminhos (não apenas posicionamentos, mas também relações colectivas) que façam aparecer o talento de alguns jogadores que hoje parecem ter sumido.
Mais do que a estratégia, a equipa deve encontrar uma coerência nos seus comportamentos que não é colocada em causa pela falta do jogador A ou B.
Claro que os treinadores não são deuses, e que são os jogadores que jogam; mas então, convém colocar os melhores jogadores nas posições que mais os beneficiam dentro da ideia que se quer, e tentar enquadrar os outros para que possam esconder as suas fragilidades.
Caso contrário, e sem que se equacione a mais valia dos jogadores em todos os momentos do jogo e se hipervalorize apenas um aspecto, o risco é de tudo correr bem naquele ponto, a equipa cumprir com a proposta posicional pedida, mas depois não conseguir tirar proveito daquilo que o treinador imaginou para aqueles posicionamentos.
(...)
E não, não é uma questão de diferença de qualidade entre as equipas, porque se assim fosse não estaríamos a ver o Ajax a fazer as carreiras que faz na Liga dos Campeões ao nível de pontos, mas sobretudo ao nível de exibições em casa e fora de adversários melhor apetrechados do ponto de vista individual.
E sim, o Ajax também joga numa liga de pouco ranking em comparação com a espanhola, alemã, italiana ou inglesa. O problema está na diferença entre a forma de jogar de uma equipa e de outra."

O sucesso, segundo JJ

"Quando Ruy Castro, genial biógrafo brasileiro, escreve no DN “Jorge Jesus é nosso”, dos dele, do Flamengo, algo está a acontecer com a chegada do “mister” à pátria em chuteiras. E não, Jesus não passou a ser um treinador perfeito, nem sequer está diferente no essencial dos conceitos tácticos. É certo que melhorou na comunicação, respondendo a provocações tontas com resultados e não com frases de efeito boomerang, mas permanece convencido de que as equipas que treina são sempre as melhores e nem sequer deixou de exagerar nas reprimendas públicas que dá aos jogadores. Na prática, o JJ que os brasileiros descobrem hoje é exactamente o mesmo que os portugueses ficaram a conhecer bem na última década. E é por isso que ganha. Por isso e, já agora, pelo contraste absoluto com um futebol brasileiro que parece acordar de uma letargia táctica de décadas, sacudido com estrondo pelo efeito do tal “mister” de 65 anos e que – coisa pouca, diziam tantos - “só tinha títulos em Portugal”.
O sucesso de Jesus faz-se, sobretudo, de convicções firmes e qualidade de treino. E não é pouco. No universo dos que vacilam quando se altera o vento dos resultados, Jesus é o navegador firme – teimoso até – que acredita sempre na rota que o há-de levar ao destino. No mundo dos que relacionam o êxito com os talentos individuais à disposição, ele é o crente fiel nos méritos do colectivo, que faz de patinhos feios competidores eficazes e dos maiores talentos craques absolutos. No reino dos estrategas, dos que abusam hoje da análise aos rivais para seguirem em cada jogo por um caminho diferente, Jesus é o fiável construtor de um modelo que ao fim de poucas semanas revela a sua impressão digital.
Quando o oiço elogiar o campeonato brasileiro percebo a simpatia do hóspede e a inteligência de valorizar a obra feita. Quando outros vislumbram grande qualidade nas equipas brasileiras, pergunto-me de que falam. É que qualidade de jogadores sempre houve por lá, mas colectivamente, e com licença de algumas intenções elogiáveis de Santos ou Atlético Paranaense, o que mais se vê é mesmo fraco. Seja no Atlético Mineiro, clube histórico com bons jogadores, mas que apresenta um futebol arcaico, num Corinthians que quase só defende e mesmo isso faz mal ou no Fluminense que não exibe ponta por onde se pegue. E ao Grêmio, de sucesso cantado na Libertadores, o Fla deu a lição reclamada pela fanfarronice, sem que o treinador Renato Gaúcho demonstrasse perceber o atropelo táctico de que foi alvo.
E o que mudou foi essencialmente tático, uma vez mais, na forma de defender e de atacar, sempre a partir dos posicionamentos, conceito-chave na forma de trabalhar do treinador português. É perceber onde está agora a linha defensiva do Flamengo e onde se alinhava antes (muito mais recuada, como quase todas no Brasileirão), e numa articulação rigorosa com o precioso contributo do guarda-redes Diego Alves. É atentar às distâncias, tão mais curtas, entre todas as linhas na hora de defender. É ver como Rodrigo Caio (há muito um craque para exportação) mas também Pablo Marí assumem a construção de jogo, atraindo e passando com risco. E que dizer de Arão, sapo feito cisne, que sabe agora os terrenos que pisa, levando a equipa a recuperações de bola sucessivas em terreno contrário. E mais os alas, criativos de talento, a alternarem entre a ocupação de toda a largura do campo e a protecção do corredor central, ou os avançados que dialogam entre recuos de apoio e dilacerantes acelerações. Estes Bruno Henrique e Gabigol parecem hoje capazes de brilhar em qualquer equipa do mundo.
E sim, o Jesus que ganha no Flamengo é o mesmo que perdeu três campeonatos seguidos na Luz, do mesmo modo que não logrou o título maior noutra tripla oportunidade em Alvalade (e só na primeira esteve perto). E ainda não venceu nada no Brasil, apesar de o campeonato local parecer virtualmente ganho. O que já ninguém lhe tira, no entanto, é a certeza de que acrescentou saber e competência ao futebol onde nascem mais talentos por metro quadrado. E se alguns ainda desdenham, com algo de incredulidade e muito de ciúme, Ronaldinho Gaúcho – e de talento sabe ele – diz que o Flamengo tem “um grandíssimo treinador” e o seleccionador Tite reconhece como “é difícil vir de outro país e ter este desempenho”. Ah, e Ruy Castro - volto a ele - até sugere que se JJ “quisesse candidatar-se hoje a presidente do Brasil seria capaz de eleger-se”. E não há como não sentir um pouco de orgulho pátrio em tudo isto.

Nota colectiva: O Vitória de Guimarães apresenta não apenas a mais sedutora como a melhor proposta de jogo da Liga portuguesa. Os homens de Ivo Vieira são os únicos que baseiam o jogo em ataque posicional e os que mais merecem que gastemos duas horas a vê-los crescer. E mesmo as derrotas internacionais foram com futebol de equipa grande, o que só pode ser valorizado por quem veja mais que resultados imediatos.

Nota individual: Sem contar com Cristiano Ronaldo, o avançado universal que também visita as grandes áreas, Gonçalo Paciência é o mais talentoso ponta de lança do futebol português. Não tem a explosão de Rafael Leão nem a combatividade de André Silva, mas toma, por regra, melhores decisões e demonstra recursos - qualidade a segurar a bola, garantia de apoios a quem vem detrás, futebol associativo em permanência – que o recomendam claramente à selecção, principalmente se pensarmos nos tantos talentos que podem gravitar em seu redor."

Vamos falar de trauma? A “lesão“ emocional de André Gomes

"As imagens da lesão de André Gomes no passado fim de semana consternaram o mundo do futebol e, muito em particular, os atletas que com ele co-protagonizaram o incidente – um rápido olhar para a sua expressão facial e postura corporal, facilmente fazem adivinhar o estado de terror e pânico internos que, muito provavelmente, estariam a ser vivenciados.
A necessidade de uma intervenção cirúrgica (quase) imediata e a antecipação de um longo período de reabilitação para recuperar a mobilidade e a funcionalidade tecidular e muscular não deixou, por certo, ninguém surpreendido. A necessidade de uma intervenção (quase) “cirúrgica” para diminuir drasticamente a instalação de trauma emocional e a antecipação de um (desejável) período de treino de competências emocionais, como facilitadores de níveis superiores de eficiência no próprio processo de reabilitação e, até, do retorno à prática – pouco ou nada foi falada.

A Importância de Validar e Intervir em Situações de Potencial Trauma
A razão deste tipo de “negligência” a que assistimos (nas diferentes áreas da nossa sociedade) a tudo o que diga respeito a um possível “trauma emocional” prende-se, infelizmente, com uma razão muito óbvia: para o “senso-comum” (e para qualquer técnico não especializado na área) o trauma emocional não se “vê”, não se “quantifica”... não aparece como uma imagem disruptiva de uma fractura exposta...
Mas, em boa verdade, pode ser essa mesma a vivência interna de quem o vivencia: a de uma fractura exposta. Imagine, agora, alguém com uma fractura exposta, rodeado de uma multidão que, como se de um “filme” se tratasse, não “vê”... não se interessa e não reconhece a dor.
Quase bizarro, certo? – infelizmente, real.
Acidentes semelhantes ao que o André vivenciou, caracterizados por extrema gravidade e onde se experencia uma marcada ameaça à integridade física (que se enquadram no que poderíamos designar por “incidentes críticos de Vida”), revestem-se por uma alteração emocional profunda, com marcada sensação de choque, medo e ansiedade e são, muito frequentemente, os percursores da possível instalação de quadros de stress pós-traumático no futuro.
Problema que frequentemente nos esquecemos: para quem protagoniza o “incidente”, mas também para quem assiste. Por esta razão, no ano em que o atleta Féher faleceu em campo, as imagens mediatizadas da sua morte (projectadas milhares de vezes) tiveram como consequência – e custo para o erário publico – um aumento exponencial de pedidos de exames cardiológicos da população em geral, quintiplicando as suas prescrições.
Neste enquadramento, a ausência de intervenção atempada pode, por isso, levar à manifestação de episódios de raiva, irritabilidade e revolta (ou seja, labilidade emocional), que podem ser amplificados por insónia recorrente e "flashback" (sensação de se estar a reviver tudo de novo), entre outros sintomas, acabando por, pontualmente, comprometer a qualidade de vida, a capacidade em estar bem consigo próprio, com os outros e com o mundo (logo, também com as tarefas associadas à sua profissão).

Resultado
No caso dos Atletas, pode-se observar acentuado decréscimo em termos de performance, resultante não só do receio instalado de uma recorrência em termos de lesão, mas também da perda de motivação e da capacidade em se envolver com o meio, consequência da deterioração da qualidade de descanso, das suas relações pessoais/profissionais e Vida em geral.

Resolução
Recentemente, e no que ao desporto diz respeito, a NBA resolveu tomar medidas “sérias”... ou, por outra, a NBA resolveu passar uma forte mensagem de que todo e qualquer tema relacionado com a Saúde Mental no Desporto deve ser levado seriamente.
Com esse intuito, definiu a obrigatoriedade de contratação de especialistas em Saúde Mental, por parte de Todos os clubes envolvidos na competição. E esta é uma Mensagem Clara.
De resto, a única forma possível de, por exemplo, voltando ao caso específico do André, não só poder ser accionada a intervenção imediata de especialistas em EMDR (uma técnica especializada para o reprocessamento de trauma, diminuindo dramaticamente a sintomatologia emocional disfórica, associada a incidentes críticos de vida) com o André e os outros profissionais que assistiram às dramáticas imagens da sua lesão, mas também poder ser desencadeado um plano de optimização de competências emocionais para o longo período de recuperação que o aguarda.
Assim se trabalha onde o Desporto é, de facto, Profissional."

A juventude é o nosso ouro e o desporto um dos instrumentos vitais da sua valorização

"Investir no desporto é investir no ouro da população portuguesa. As iniciativas do Presidente têm os pés de barro do actual Modelo do Desporto Português. Por analogia com o petróleo verde do eucalipto em que Portugal investe e chega a empobrecer-se, a juventude é o ouro desperdiçado pelas políticas públicas do desporto.
O Presidente da República tem iniciativas em prol da juventude e do desporto. É um hábito antigo do político que se posiciona no desporto com substância, sobressaindo da opinião corrente. As federações terão, na actual Presidência, a personalidade capaz de acompanhar as ambições legítimas do desporto.
A iniciativa presidencial carece de cão (os feitos nas competições de primeira grandeza, a presença efectiva do desporto na sociedade e uma Visão do Século XXI desportivo) e, por isso, caça com gato (os campeões actuais e os maiores do passado). A iniciativa recente que promove encontros entre a juventude e os campeões complementa as medalhas honoríficas que agraciam personalidades do desporto nacional. Subsiste o problema de usar todos os campeões agora no 1.º mandato e, no 2.º mandato, usá-los de novo, porque o Modelo de Desporto Português é incapaz de os renovar e de se afirmar socialmente.
Na busca do melhor negócio, Portugal empurra as responsabilidades públicas com a barriga até ao desaire. Aconteceu nas florestas, bancos, rios, hospitais, comboios e acontece no desporto com impactos negativos na saúde, produtividade, competitividade e bem-estar da população. Quanto desporto e cultura faltarão na vida e na morte das mulheres pelos seus companheiros? Quanto desporto falta ao combate às doenças que se curariam com estilos de vida activos através do desporto? Quantas vidas o país perde por essas mortes e doenças evitáveis? Quantos milhões de euros têm as Finanças de dar à saúde e à segurança social para manter o bem-estar de vida dos carenciados devido às insuficiências da prática desportiva? Quantos milhões de euros a Economia perde pela carência de produtividade e de competitividade dos estudantes e da população activa, devido aos seus baixos níveis de prática desportiva? Etc...
A liderança da política desportiva é um erro, tem disparates e erros e há medo em falar!
O desporto português necessita de um mercado democrático e competente de princípios, conceitos, ideias, contradições, rasgo e risco que funcione efectivamente para além dos governos e das organizações desportivas. Geralmente começam-se as conversas elogiando e dizendo que se é amigo do líder e, pouco a pouco, caem os pecados. A crítica democrática e frontal usando estatísticas e factos está banida do desporto, tal como da sociedade, levando-se de onde menos se esperaria.
O mercado do desporto faliu. Há desafios simples e outros complexos. Vejam-se cinco exemplos.
1. Com Mirandela da Costa, que liderou a administração pública desportiva, e com Luís Santos e José Castel-Branco, que lideraram a criação da Confederação do Desporto nos anos 90, o desporto como um todo fazia-se ouvir e era ouvido pela sociedade portuguesa. Depois perdeu-se essa capacidade desportiva de presença nacional.
2. Lisboa tem um think-tank de ética com um trabalho relevante no debate de projectos desportivos valiosos e deveria debater as opções de futuro do desporto nacional. Atentem-se três dimensões: para a presente legislatura, o PS propôs colocar a prática desportiva dos portugueses entre os 15 primeiros países da Europa, o PCP sugeriu alterar as orgânicas públicas e privadas do desporto e o PSD indicou a criação do plano e de um programa de desenvolvimento e o incremento do financiamento; antes, em 2018, o Papa Francisco publicou a posição da Igreja Católica sobre o desporto, chamada Dar o melhor de si; e, em 2017, um conjunto de federações desportivas concebeu a Plataforma do Desporto Federado. Esta iniciativa associativa terá sido rejeitada por uma das direcções eleita pelas mesmas federações. Será que estas iniciativas de política desportiva pública serão discutidas publicamente?
3. Em 2013 foram nomeadas por uma organização desportiva dezenas de pessoas que, segundo se afirmou, se consideravam ser as melhores. Hoje parece que nenhuma dessas pessoas se distinguiu pela nomeação. Desconhecem-se textos ou factos que associem esses melhores a realizações notáveis no desporto português. Esses melhores são desconhecidos, ou foram esquecidos por terem sido levados na água do banho da organização que os alardeou? Para além desta realidade, e com excepções pontuais, verifica-se que os resultados desportivos se mantêm pouco distintos dos do passado, não se percebendo o contributo dos melhores. Melhores para quê? Melhores em quê? Competência, erudição, amizade, ideologia, partidarismo, capacidade (a)crítica, moda, fait-divers, sound bytes…? Em lugares próprios cada uma terá a sua legitimidade, bastando e devendo afirmar-se com clareza a responsabilidade procurada.
4. Numa licenciatura em desporto na Universidade Lusíada de Lisboa foi perguntado a um aluno que joga em selecções nacionais de râguebi quem foi Raul Martins. “Não sei!” Foi a resposta pronta. Acrescentaram-se outros elementos: foi jogador e capitão das equipas do Técnico, fez parte de selecções nacionais de que foi capitão, foi presidente da Federação de Rugby é líder da cadeia de hotéis Altis. O aluno manteve o desconhecimento, acrescentando que não tinha de saber, o que se concorda, lacto senso. “Então e o pai Fernando Martins, que foi presidente do Sport Lisboa e Benfica de 1981 a 1987, já conheces?” “Sim, conheço!”, disse o aluno. Acrescente-se que na geração de praticantes de râguebi de Raul Martins se encontram Pedro Lynce, Vasco Lynce, José Gaspar Ramos, António Vieira de Almeida, Manuel Castro Pereira, Pedro Ribeiro, Vasco Pinto de Magalhães, com currículos igualmente de excepção.
A matéria relevante da pergunta é que a prática desportiva gera benefícios adicionais, diferenciados e cumulativos para o praticante e para terceiros, não só no curto mas, também, no médio e no longo prazo. A relevância da prática de qualidade é por vezes imperceptível à política desportiva nacional. De um grupo de jovens que ganha o campeonato do seu escalão etário, o que interessará ao empresário Jorge Mendes será o talento precoce de um dos atletas com os quais ganhará euros em contratos entre os clubes onde jogará o talento. Ao decisor público e ao associativo interessará o facto de o grupo constituir um todo com um potencial desportivo, escolar e social acima da média. Eventualmente, como acontece nos bons Modelos de Desporto, alguns anos depois, desse grupo poderão sair vários campeões, que serão cidadãos notáveis, e o valor económico e social associado ao grupo será superior ao do talento, por extraordinário que seja. Encontram-se exemplos no râguebi português.
5. Uma das particularidades inaceitáveis da administração pública no desporto é que desde o topo da pirâmide até ao seu sopé se prefere o simplismo das selfies segundo uma decisão, a que se chama pública e desportiva. Alguém tem de trabalhar e responsabilizar-se por políticas que resultarão a prazo e não no resultado da legislatura salvífica através de actos políticos instantâneos de si próprios. 
Ou seja, os encontros entre campeões e jovens, proporcionados pela Presidência da República, exigem políticas públicas que são complexas e devem ser promovidas a montante pelo Estado, ao longo dos ciclos olímpicos e dos ciclos legislativos a nível nacional e contando com consensos entre os parceiros políticos e desportivos. Esse é o sentido das propostas de Pactos de Regime e que as federações desportivas recearão exigir aos partidos nesta legislatura. Investir no desporto é investir no ouro da população portuguesa.
As iniciativas do Presidente têm os pés de barro do actual Modelo do Desporto Português."

Força André...

O maior espectáculo

"Alguém que pensa muito sobre o futebol actual dizia-me que, da mesma forma que a NBA se assume como a melhor competição de basquetebol do Mundo, a UEFA deve assumir o mesmo com a sua Liga dos Campeões em relação ao futebol, sem pruridos ou medo de ofender. É a prova que todos querem jogar, é a prova que todos sonham vencer.
Melhor do que isto não há. E apesar de a fase de grupos se ter tornado mais previsível, devido ao domínio dos grandes tubarões, o espectáculo continua. Só nesta jornada marcaram-se 56 golos em 16 jogos, com apenas um nulo, contribuindo para uma média de golos por jogo que vai em 3,23 desde o arranque (em Liga portuguesa, este ano, fica-se pelos 2,38). Mas não é só de golos que se trata: a Champions tem uma imagem de elite, tem transmissões televisivas uniformes, tem estádios cheios. Tudo faz parte de um enorme espectáculo, o melhor de futebol.
Os calendários e horários não se sobrepõem e ainda é possível assistir a jornadas europeias e jogos nacionais. Mas perante espectáculos como o Chelsea-Ajax, o Dortmund-Inter ou até o D. Zagreb-Shakhtar, quantos anseiam agora pela sexta-feira à noite para ver o Aves-Gil Vicente? Este é o desafio para ligas como a portuguesa: manter a chama dos adeptos, em especial dos mais jovens, acesa. Sem eles, não há futebol profissional."

Benfica na Web Summit

"O Benfica voltou a marcar presença na Web Summit (participou em todas as edições desde que passou a ser organizada em Portugal), naquela que é considerada a maior e mais relevante conferência sobre tecnologia realizada na Europa.
O convite para a participação benfiquista em dois painéis advém do reconhecimento do espírito inovador e empreendedor, neste caso no âmbito tecnológico, aplicado à gestão do clube em diversas áreas.
O administrador executivo da SAD, Domingos Soares de Oliveira, participou num painel subordinado à liderança num ambiente disruptivo, com enfoque no aperfeiçoamento da experiência dos adeptos num contexto de mudança e incertezas. Para Domingos Soares de Oliveira, a relação com os adeptos é a parte mais desafiadora na liderança de um clube.
Neste sentido, na linha do que tem sido feito ao longo da última década (por exemplo, com a BTV, a reformulação do site oficial ou o lançamento da Benfica App), foi anunciado o lançamento, em dezembro, do Benfica Play, um serviço que permitirá, aos benfiquistas, o acesso a conteúdos exclusivos e de acordo com as suas preferências.
Mais uma vez, trata-se de uma aposta num serviço inovador como forma de antecipar o futuro. Esta é a mentalidade que permitiu ao Benfica o assinalável crescimento das receitas e a consolidação do seu projecto desportivo, que se materializa no período com mais títulos a nível nacional, que se tem vindo a acentuar.
Num outro painel, este dedicado exclusivamente à formação do Benfica, enquanto clube que está na vanguarda do desenvolvimento do talento a nível mundial, o antigo jogador Luisão e o director técnico do Benfica Campus, Pedro Marques, abordaram o trabalho que tem sido desenvolvido nesta área e as práticas inovadoras que permitem ao Benfica obter o reconhecimento global da sua competência neste domínio. Da rede de scouting ao Benfica LAB, passando pelo uso da tecnologia de suporte a metodologias modernas, ficou bem patente por que o Benfica tem obtido tão bons resultados também nesta vertente.
Antecipar o futuro e preparar as respostas aos desafios vindouros tem sido a receita que permite ao Benfica ser cada vez mais estável e sólido financeiramente e apto a diferenciar-se, pela positiva, dos seus adversários com os consequentes bons resultados desportivos. O sucesso, no futuro, constrói-se hoje. #PeloBenfica

P.S.: Absolutamente impressionante a fila de benfiquistas, hoje em Ponta Delgada, para a compra de bilhetes para o Santa Clara–Benfica que se realizará no próximo sábado. A dedicação e o apoio dos benfiquistas são formidáveis!"

Benfica Podcast #342 – New improvements, and continued struggles.

Os suplentes de luxo do Benfica europeu

"Uma das consequências da insólita opção de Bruno Lage de não alinhar a melhor equipa do Benfica na Liga dos Campeões é a necessidade de esperar pelos suplentes de luxo para ver a equipa marcar um golo.
Quatro dos cinco golos do Benfica na Champions, em em cada jogo, foram apontados por suplentes e em alguns casos, até, a passe de jogadores igualmente saídos do banco. Suplentes que deviam ter sido titulares, portanto.
Frente ao Leipzig, Rafa e Seferovic entraram aos 76’ minutos: o português fez o passe, o suíço marcou.
Em São Petersburgo, De Tomás saltou do banco aos 80’ e marcou com um remate de longe.
Na recepção ao Lyon, Pizzi substituiu Rafa aos 20 minutos, por lesão, e apontou o tento do triunfo, aproveitando um erro do guarda-redes.
Ontem em Lyon, Seferovic e Pizzi entraram só na segunda parte: o português fez o lançamento e o suíço voltou a marcar.
Normalmente, os suplentes são responsáveis por menos de 20 por cento dos golos de uma equipa de futebol. Aliás, no campeonato, apenas dois dos 23 golos apontados até agora, ambos por Carlos Vinicius, resultaram de substituições.
Neste caso do Benfica “europeu” de Bruno Lage, a percentagem está invertida: 20 por cento dos titulares, 80 por cento dos substitutos.
Dá para concluir que, se os titulares fossem do mesmo nível dos suplentes, talvez a campanha fosse melhor…"

Duas finais

"Perante a derrota ontem com o Lyon, tornam-se decisivos, no âmbito das competições europeias, os dois últimos jogos da fase de grupos da Liga dos Campeões que o Benfica tem por disputar. O primeiro será na deslocação a Leipzig, onde encontrará o líder do grupo. Depois será a vez da recepção ao Zenit.
O jogo de ontem não poderia ter começado de pior maneira, com um golo sofrido logo aos quatro minutos e, passado pouco tempo, a lesão de Ferro que obrigou a uma substituição. Na segunda parte pôde-se assistir a uma reacção da nossa equipa, conseguindo reduzir a desvantagem, mas que viria a sofrer mais um golo perto do final da partida enquanto procurava o empate.
Terá de ser um Benfica ao seu melhor nível para que possamos vencer as duas “finais” muito importantes para a continuidade das nossas aspirações em termos de competições europeias.
Horas antes, a nossa equipa de Sub-19 fez uma excelente exibição, também em Lyon. O triunfo, por 2-3, pecou por escasso face às muitas oportunidades de golo criadas. Tratou-se de uma vitória importante que nos coloca na liderança do grupo em igualdade pontual com o Lyon, mas em vantagem devido aos resultados dos jogos disputados com os franceses.
Cumpre-nos ainda uma palavra de apreço para a nossa equipa de voleibol, que obteve ontem uma excelente vitória, por 3-0, na primeira mão da 2.ª eliminatória de acesso à fase de grupos da Liga dos Campeões da modalidade, colocando-se numa excelente posição para a qualificação para a terceira e última eliminatória. E ainda relembrar que hoje à noite será a vez de as nossas equipas de andebol (20h00) e basquetebol (21h30) entrarem em acção, ambas na Luz, no Campeonato Nacional e na FIBA Europe Cup, respectivamente.
Agora o foco está já direccionado para a visita ao reduto do Santa Clara (sábado, 18 horas), à qual se seguirá uma paragem para os compromissos das selecções. Após esta paragem, seguir-se-ão as deslocações a Vizela, para a Taça de Portugal (23/11), e a Leipzig, para a Liga dos Campeões (27/11)."


PS: Esta foi a newsletter de ontem, que me 'passou' completamente ao lado! Deve ter sido por causa da ressaca!!!

Benfiquismo (MCCCXLVI)

No feminino...

Lanças... Ferreira, Antunes & Vicente

Estado e Estádio da Luz

"Por vezes, perguntou-me se tenho mais nostalgia do anterior e velhinho Estádio da Luz ou se, tendo de escolher, daria o voto ao actual palco

1. Dizia Vergílio Ferreira que «o tempo que passa não passa depressa. O que passa depressa é o tempo que passou». Foi desta notável síntese da noção dentro de nós da corrida do tempo que me lembrei na passada quinta-feira no jantar comemorativo do 16.ª aniversário do Estádio do Sport Lisboa e Benfica, mais popularmente conhecido e reconhecido como o Estádio da Luz, ou, em versão laica, como a Catedral. De facto, o tempo voa e o jogo inaugural em 2003 contra o Nacional de Montevideu, a que pude assistir, parece que foi ontem. E, no entanto, tantas sensações e exaltações por lá já vivi e testemunhei. Por vezes, perguntou-me se tenho mais nostalgia do anterior e velhinho Estádio da Luz e do seu temido e empolgante terceiro anel ou se, tendo de escolher, daria o meu voto ao actual palco. Vim em 1965 para Lisboa e para a universidade. Tinha 17 anos e a então Luz foi para mim um êxtase, eu que até aí apenas conhecia o campo da Académica, no Calhabé, e o Mário Duarte, em Aveiro. Por lá, vi o meu Benfica ser campeão muitas vezes. Por lá, vi jogos europeus inesquecíveis. Lá, suportei tardes de sol impenitente, quando os jogos eram quase todos às 15 ou 16 horas, e chuvadas que me molharam até ao tutano dos ossos. Lá, tive o privilégio insubstituível de ver jogar atletas notáveis que, para não ser injusto com nenhum, sintetizo aqui no esplendor do rei Eusébio. Lá, vivi noites europeias que moldaram o meu benfiquismo irredutível e inalienável. Lá, vi jogos decisivos contra os rivais, onde o desassossego da incerteza do desfecho era salutarmente partilhado com a rivalidade entre amigos que acabava sadiamente ao mesmo tempo do apito do árbitro, sem o azedume e o mal-estar que hoje é dominante. Ontem, como hoje, ir ao Estádio da Luz é um bom paradoxo: uma ansiedade gostoso, que me liberta. Um privilégio e um aconchego. Uma cumplicidade e uma pertença. Um espaço sem limites nos limites de um tempo. A imanência de, mais impressivamente, o Benfica estar dentro de mim e eu dentro do Benfica. Sempre como se fosse a primeira vez, abraço a Luz e sou por ela abraçado.
Dezasseis anos decorridos sobre a inauguração do novo e belo estádio. quais foram os momentos mais marcantes para mim? Elejo três. O jogo decisivo contra o Sporting, em 14 de Maio de 2005, quando Luisão marcou o golo da vitória e nos levou ao título que acabou com o mais longo jejum da história do clube. O segundo, a vitória sobre o Porto (2-0) na caminhada para o título de 2013/14, três dias depois da morte de Eusébio, numa tarde invernosa, num ambiente de luto, de saudade e de gratidão infinita que ali convergiram para lhe oferecer o mais lindo ramo florido do seu féretro. E, evidentemente, os sete títulos que lá festejei entre amigos, conhecidos, consócios de todas as idades e de todas as proveniências próprias do universalismo benfiquista. E dentre estes, os mais saborosos: o do tetra e o da reconquista.
Aqui expresso, como benfiquista, o grato reconhecimento devido ao principal obreiro do novo estádio: Mário Dias. Sei que houve muitas pessoas que para ele contribuíram. Mas realçar o trabalho, a competência, a perseverança de Mário Dias é da mais pura justiça. Um homem simples, de carácter, que serviu o Benfica até aos limites de impensável, nunca se servindo dele, justo, conhecedor, delicado, leal, o que é tão mais de salientar quanto, nos dias de hoje, na sociedade portuguesa, de vêem medrar personagens impreparadas, oportunistas que confundem as suas actividades com beneficio próprio, sem provas de vida, sem sentido deontológico do dever e da responsabilidade. A decisão do presidente do SLB de homenagear Mário Dias foi uma justíssima e eloquente decisão. E hoje bem podemos dizer que o Estádio da Luz tem sido, entre muitos outros avanços patrimoniais e de boa gestão, um elemento decisivo para a notável inversão do ciclo menos vitorioso e cinzento em que o clube se encontrava nos anos que o precederam.

2. Foi tornado público o Relatório e Contas da Benfica SAD do exercício concluído em 30-06-19. Um exaustivo e claro documento, que nos fornece todos os elementos para uma análise da situação da Sociedade. Espero que a fanfarronice com que certa gente discorre sobre a situação económica e financeira do clube dê lugar a juízos baseados no documento oficial entregue na CMVM.
Neste limitado espaço, cinjo-me a um breve roteiro de síntese do que, na minha leitura, considero mais relevante:
- O capital próprio (116,2 milhões (M) de euros) ultrapassou o montante do capital social, situação inédita no panorama nacional. Aliás, o valor acumulado do aumento do capital próprio foi nos últimos 6 exercícios superior a 140 M;
- Nos últimos 6 anos, a convergência do êxito desportivo e financeiro: 5 vezes campeão e um total de resultados acumulados de 136,2M:
- Os gastos com pessoal e honorários face às receitas (descontadas as relativas às transacções de direitos de atletas) continuam claramente abaixo do limite imposto pelas regras de fair play financeiro da UEFA. De facto, sendo este de 70%, nunca nesta década na SAD benfiquista se ultrapassaram os 60%.
- Já o resultado com transacções de direitos de atletas atingiu, desde 2010/2011, o valor acumulado de 544,9M (média anual de 60,5M). De realçar que estes valores não são o valor bruto das alienações, mas o produto líquido, ou seja depois de serem deduzidos o valor líquido contabilístico (isto é, o valor da aquisição deduzido das amortizações já realizadas), bem como as comissões (8,9$ das vendas brutas) e outros encargos. Estes valores ainda não consideram a transferência de João Félix, que teve lugar já no exercício que está a decorrer;
- O activo atingiu o valor icónico dos 500M e o passivo tem vindo a descer sendo agora de 384,6M (menos 70,9M do que há 3 anos, ou seja uma melhoria de 15,5%);
- Quanto ao passivo, tem havido uma significativa alteração da sua estrutura, designadamente com redução da dívida de curto prazo e da dívida bancária. Esta, aliás, é quase residual representando apenas 9% da dívida financeira, quando ainda há 3 anos era de 70%. A dívida bancária e obrigacionista líquida passou para 124,6M, ou seja apenas 40% do valor de há 4 anos;
- Verifica-se, pela primeira vez, uma dívida líquida inferior aos rendimentos operacionais, excluindo transacções de direitos de atletas (75,2%). Se considerarmos a totalidade dos proveitos, representa 47,3%, quando há apenas 2 anos, ultrapassava os 100% e há 4 anos era de 167%;
- Os rendimentos operacionais chegaram aos 165M, sem considerar a alienação de jogadores. Como se lê no relatório, esta evolução muito positiva é principalmente «justificada pela entrada em vigor do novo critério de distribuição de prémios nas competições europeias da UEFA, para o ciclo 2018/2021». Eis, pois, um ponto crucial na sustentação futura do nível alcançado. Por isso, como já aqui referi em outra crónica, estamos perante uma das equações fundamentais da gestão da SAD: ter um plantel não só à altura de vencer as provas nacionais, como também por forma a apresentar resultados europeus retributivos. Por outras palavras, estamos perante uma interdependência entre cá e lá. É que ganhar por cá é decisivo para manter a receita da Champions, e fazer boa carreira nesta é meio-caminho andado para ganhar nas provas nacionais.

3. Segundo os resultados de uma sondagem efectuada no mês passado, o Benfica continua a ser o clube com mais adeptos e simpatizantes. Com larga e absoluta maioria de 46%, quase tanto como os seus directos rivais têm em conjunto (Porto com 24,7% e Sporting com 23,8%). Aquela percentagem equivale a 4,7 milhões de residentes em Portugal, a que, evidentemente, se tem de adicionar os benfiquistas na diáspora. Daí que os 6 milhões de benfiquistas sejam uma realidade, ainda que tal situação seja mal digerida por alguns negacionistas militantes.

Contraluz
- Registo: Bruno Lage soma e segue, apesar das críticas dos doutos analistas, que, sabe-se lá porquê, tentam, quase em jeito combinado, desmerecer o seu trabalho. Os números falam por si: em 29 jogos para a Liga, 27 vitórias, sendo que, fora da Luz, tem 100% de sucesso em 13 partidas.
. Critério (falta de): às vezes, apetece perguntar para que serve o VAR. Como foi possível validar o golo do FCP no Funchal onde houve duas infracções notórias antes de a bola ter entrado? Como foi possível assobiar para o lado num penálti categórico sobre André Almeida, na partida contra o Rio Ave?
- Soberbo: Liverpool 5, Arsenal 5, com 10-9 depois das penalidades. Só mesmo na mátria do futebol!
- Livro: «A vida aos pontapés», de José Manuel Delgado é um livro saborosamente concebido, com uma vivacidade contagiante e uma ficção (será?) algures entre o pretérito-mais-que-perfeito do indicativo e o pretérito imperfeito do conjuntivo (ou subjuntivo, como agora se ensina). A bem ler."

Bagão Félix, in A Bola

Três jogos, três vitórias !!!

Benfica 77 - 68 Inter Brastilava
10-16, 24-11, 25-13, 18-28

Sem o Dows e o Hollis, com o Barroso a lesionar-se cedo (vamos ver qual a gravidade), com o McGhhe muito condicionado, com o Coleman a não acertar no cesto, acabámos por vencer com alguma facilidade, a equipa mais fraca do Grupo... com o melhor jogo do Betinho desta época!
Mesmo assim era escusado termos entrado no jogo de forma horrível... e no 4.º período, voltámos a ter uma fase para 'esquecer'!!!

Muito mau...

Benfica 23 - 33 Corruptos
(11-18)

O fosso para os Corruptos é conhecido, eles 'acertaram' no treinador o ano passado, e estão mais fortes... mesmo com um orçamento inferior aos Lagartos. Nós com o Sporting, temos conseguido vencer alguns jogos e equilibrar outros, mas com os Corruptos, parece que a 'branca' é geral!!!
Hoje, foi demasiado mau... as lesões, ou para ser mais exacto os ex-lesionados, que acabaram por jogar hoje, claramente sem ritmo, não justificam a má exibição, a atitude nestes jogos tem que ser outra... Se noutras épocas a diferença dos plantéis justificavam, este ano, temos a obrigação de dar mais luta...
O facto dos Corruptos e os Lagartos estarem rotinados neste momento a jogar na Champions, dá-lhes um ritmo de jogo, que nós não temos... estar a jogar a época quase toda com equipas bastante inferiores, e depois ter 4 jogos por época, contra adversários de maior valia, 'emperra' as nossas ambições... mas a única solução para 'contornar' esta situação, é fazer boa figura na Europa, nem que seja na Taça EHF, onde eles inicialmente também fizeram...

A única boa notícia da noite, foi mesmo o regresso do Belone...

Submarinos

"1. A nossa Liga é a 2.ª da Europa com mais estrangeiros (63,6%) e a 3.ª que menos aproveita os jovens da formação (9,1%). Claro: os estrangeiros dão (boas) comissões, os miúdos não.
2. Tenho três conselhos para Sérgio Conceição quando não ganha: Kompensan, Rennie e Gaviscon.
3. João Henriques: «Os grandes ficam meio divididos entre ganharem sempre ou termos um campeonato mais competitivo». Porque, como diria George Orwell, somos todos iguais mas há uns mais iguais do que outros.
4. Más notícias para Fábio Verdíssimo: a falta de jeito não amadurece.
5. Um mês depois, Silas apostou... no losango de Leonel Pontes. E o Sporting está quase tão perto do 1.º lugar (10 pontos) como acima da linha de água (12).
6. É que ter bola e não criar muito é como estar doente, ir ao médico e não passar da sala de espera. A cura perto e longe. O futebol de equipa é um impaciente jogo de paciência. Já vi corridas de submarinos mais animadas.
7. O show de Jesé (ou Jey M, nome artístico) no balneário após o jogo com o V. Guimarães é o reflexo da sua carreira: festa a mais e futebol a menos.
8. A época do Sporting é o looping da cena de Platoon em que Williem Dafoe morre cravado de balas em slow motion e ao som de Adagio for strings.
9. A Juve Leo está aberta ao diálogo com a Direcção. Isto é mais estranho do que a sala do assessor do Livre.
10. Os leões falharam o apuramento para a fase final do campeonato de juvenis. A prospecção da formação é a mesma da equipa principal?
11. O Benfica pagou €13,73 M a consultores e advogados no exercício 2018/2019. Não é melhor começar a formá-los no Seixal?
12. Caio Lucas: €4 M por 75% do passe. Um custo zero bem caro.
13. Carlos Carvalhal: «Jogar às 17h de uma 4.ª-feira não lembra ao diabo». É o inferno da calendarização.
14. Lyon, 3 - Benfica, 1: alguém viu por aí umas chaves?"

Gonçalo Guimarães, in A Bola