"Já aqui escrevi que Pedro Manuel Torres, Mantorras, merecia mais da vida e do Futebol. Mas de facto, alguns adversários e algumas arbitragens não deixaram jogar o Mantorras. O fenomenal angolano, de 'águia ao peito', pegava na bola e antes que fizesse gato-sapato dos adversários, como fez do Sporting num jogo ainda com a camisola do Alverca, era vítima das mais brutais, traiçoeiras e impunes agressões. E foi assim que Mantorras sofreu uma dramática lesão num joelho, quatro intervenções cirúrgicas e três anos de afastamento dos relvados. Apesar de tudo, Mantorras ainda foi um jogador talismã numa época do Benfica campeão, em 2004/2005, quando saltava do banco e resolvia. De maneira que, para além de embaixador do Benfica, Mantorras talvez também pudesse dar alguns conselhos particulares a novos atletas do Clube sobre a colocação na área, a oportunidade de meter o pé à bola e o instinto pela baliza adversária.
Mantorras despediu-se do relvado da Luz, com a camisola que tem a cor e o emblema do seu coração, num início de época em que o Benfica procura identidade de um novo plantel. O Benfica está a preparar a época com um plantel que, porventura, não será rigorosamente aquele que vai disputar as competições em que O Glorioso vai estar envolvido. É estranho ver evoluir em campo jogadores que eventualmente não ficam e não conhecer ainda outros que estarão possivelmente para chegar. Seja como for, o Benfica já confirmou nos primeiros jogos a sua vocação de equipa de ataque, capaz de criar numerosas ocasiões de golo.
Mantorras não era apenas um matador. Ele próprio fintava e por vezes sentava os adversários, conduzia a bola e finalizava. Mas é por ventura pelo instinto do finalizador que ele deixa mais saudades. E também pela alegria com que jogava."
João Paulo Guerra, in O Benfica