Últimas indefectivações

quinta-feira, 18 de maio de 2017

Luís Filipe Vieira, o melhor presidente do Benfica

"Não quero e não mais voltarei a ser vice-presidente do Benfica (como já não quis em 2016)

O tetra é nosso! Contra tudo e contra todos! Os do costume, os vencidos de sempre e... os que já não lembravam que, desde os tempos em que os Vascos eram Santanas (para contrariar Salazar e para usar a expressão de Beatriz Costa, e ombrear com os intelectuais de pacotilha que citam sem saber e julgam saber porque não citam), também costumavam perder como o voltaram, agora, a fazer.
Deixemos os perdedores para depois e falemos de quem, por mim, hoje, merece ser falado!
De quem, sendo o 1.º de todos nós, venceu à Benfica!

O perigo de compararmos desempenhos em tempos diferentes
, em todas as análises e avaliações, distorções próprias de vivência dos factos que vamos relevando para a hierarquização de listas sobre cada uma das realidades que valoramos.
Por isso são, tantas vezes, ingratas e injustas as eleições das melhores equipas, do melhor jogador, do melhor treinador, do século ou da década, ou de qualquer outro período temporal alargado, porque não podemos avalizar (nem comparar), em termos relativos e objectivos, a realidade em que cada uma dessas figuras existiu.
Ao tentar apagar as diferenças de realidade que enfrentaram cada uma dessas personalidades ou desses grupos, estamos a transportar para um tempo ideal, jogadores, treinadores e dirigentes que conviveram com situações, regras, ambientes, equipas, colegas ou adversários tão diferentes que não podem, em absoluto, ser comparados.
Mas - relembrando o que importa relembrar, sem que, com isso, afastemos as injustiças que sempre serão cometidas - e conquistado o, sempre desejado, mas nunca alcançado, tetra, não deixamos de cair na tentação de, ainda assim, classificar e hierarquizar o desempenho do cargo de Presidente do Sport Lisboa e Benfica, pelos 113 anos da nossa História.
Até porque, acabado este campeonato (no que aqui nos interessa, que é a questão do título, tão bem entregue ao Benfica), passamos a considerar como razoavelmente acessível o tetra, ... embora - não nos esqueçamos - nunca o tivéssemos conseguido, mesmo nos tempos de... Eusébio, Coluna e companhia!

Tetra: não vulgarizemos um feito notável
Por isso, não banalizemos um feito extraordinário. Em Portugal como em qualquer parte do mundo do desporto de alta competição.
Que nem sequer pode ser obra de um treinador, mas antes de dois (Jesus e Vitória), nem obra de uma equipa sem alterações (Vieira encarregou-se de nunca deixar de vender, sendo fiel ao seu ADN), nem de uma Direcção... mas, antes e só de um Presidente acompanhado de um conjunto de funcionários escolhidos pela sua competência (mas sem qualquer legitimidade democrática, facto que o Presidente deixa bem claro em cada intervenção sua).
Isto não invalida, antes reforça o respeito que tenho por todos os que trabalharam (e muito) para que isso acontecesse, como não invalida o respeito por quem, ao longo da História, com essa mesma legitimidade democrática, desempenhou as funções de Presidente do Sport Lisboa e Benfica.
Muito especialmente por aqueles que conheci, conheço e respeito (muito, mesmo)!
Desde Fernando Martins (que me honrou com um convite para concorrer o seu Vice-Presidente), até Manuel Vilarinho (nunca lhe pagaremos o que fez pelo clube), passando por Manuel Damásio (o Presidente do título de campeão com... os 6-3 em Alvalade).
Talvez José Rosa Rodrigues (o 1.º Presidente), ou Félix Bermudes (o Presidente do hino oficial, 'Avante pelo Benfica' e símbolo do clube, ao lado de Cosme Damião), ou Joaquim Ferreira Bogalho (o Presidente do Estádio), ou Maurício Vieira de Brito (o Presidente do início do terceiro anel, da primeira Taça dos Campeões e de quase toda a segunda), ou, Duarte Borges Coutinho (o Presidente dos tri e de tudo o que gostamos com que o Benfica possa ser identificado), ou, ainda, Fernando Martins (o Presidente da conclusão do terceiro anel) me levam a mal, mas, como Cosme Damião nunca foi - porque nunca quis ser - Presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira passará, para mim, a ser, de entre todos os que desempenham essas funções, o melhor Presidente do Benfica da nossa já longa História.

O melhor de todos
De entre todos, o facto de ter conquistado o tetra faz dele o melhor. Eu sei que ele poderia, até, considerar-se, pela obra feita, como tal, há sempre muito tempo.
Mas sempre lhe disse - relembrando-lhe os critérios que a História usa, nestes casos, para hierarquizar o que, possivelmente, não tem escala possível tão dispares são as realidades que cada um enfrentou - que a valoração se faz, no fim, num clube como o Benfica, não por obras, mas por títulos.
E Luís Filipe Vieira conquistou o que nenhum, antes, tinha conseguido.
E esses com condições bem mais fáceis - talvez seja bom reconhecê-lo - do que aquelas que Luís Filipe Vieira teve de enfrentar, nos últimos quatro anos.
Como diria Ortega y Gasset, ... nós somos nós e as nossas circunstâncias!
Nunca como aqui o perspectivismo deste filósofo teve tanta aplicação.
Haverá quem não pense como eu?
Por certo!
Num clube com a dimensão e a diversidade como o Benfica haverá sempre opiniões divergentes.
Mas é a minha opinião.
E, embora sem esquecer que, mesmo assim, há muita coisa que faria diferente ou de que discordo da forma como ele as faz, isso não me impede de reconhecer os factos.

'E Pluribus Unum' (de todos... um) ... Luís Filipe Vieira
E digo-o - sosseguem-se os invejosos ou os que avaliam as acções dos outros pela sua bitola ou pelos seus critérios de adulação e de bajulação interesseira - com a certeza de que não quero e não voltarei mais a ser Vice-Presidente do Benfica (como já não quis em 2016), estando, por isso, livre de afirmar o que afirmo porque... não quero regressar a um lugar onde fui feliz.
Repito: com a conquista do tetra, Luís Filipe Vieira passou a ser o melhor presidente do Benfica.
É esse o lugar de Luís Filipe Vieira na História do Benfica.
Com a ambição de poder - daqui a dois ou três anos - dar-lhe um abraço na final da Liga dos Campeões que eu espero que o Benfica possa ganhar... depois do penta, pois então!
E embora nunca possamos confundir algum de nós, por mais importante que seja, com o Benfica, poderemos, sobre Luís Filipe Vieira, dizer...
De todos, ... um!
E Pluribus Unum."

Rui Gomes da Silva, in A Bola

Tetra (II)

"(continuando com o tetra)
1. Só nas últimas duas épocas jornadas, Rui Vitória teve à disposição todo o plantel. Jonas jogou 1/3 da Liga, Grimaldo os jogos finais, Luisão, Lisandro, Jardel e Jiménez com sucessivas lesões, Fejsa ausente em jogos decisivos, etc. Chegámos a jogar sem pontas-de-lança. O que se diria se tal acontecesse nos principais rivais?
2. Certamente por mero acaso, o tetra encarnado coincide com os 4 anos da actual presidência leonina e com o mandato do actual presidente da CM do Porto que, por razões diferentes das do seu predecessor, ainda não teve oportunidade de abrir a Câmara ao seu clube de coração;
3. No actual plantel dos eternos e clássicos rivais do Benfica não há um único jogador que tenha alguma vez sido campeão nacional. Perdão, esqueci-me de Maxi Pereira, campeão pelo Benfica! E havia um do Sporting que agora é campeão no Benfica: Carrillo. Já no SLB, 17 jogadores sabiam o que era já ter sido campeão.
4. É já um clássico: quando o Benfica ganha um campeonato, o sempre unido grupo dos despeitados descobre, com afinco e infinita imaginação e a preciosa ajuda técnica de especialistas de marketing e comunicação, uma razão para desvalorizar a vitória encarnada. Por favor, continuem a inovar e divirtam-se! Este ano até li que a Liga havia mudado de nome. Sem canelas, mas com Salazar. Uns nostálgicos, estes talibãs comunicacionais!
5. Ao invés e com elevação, Nuno Espírito Santo e Jorge Jesus felicitaram os campeões.
6. Em suma e em linguagem anagramática, nós ficamos com o tetra (e a lambreta), esperando que alguém se entretenha com a treta, disfarçando, embora, o ar tétrico..."

José Manuel Delgado, in A Bola

A verdade de ciscuntância

"O campeonato está a terminar e agora é o momento de perceber a diferença entre a verdade per si e as verdades de circunstância. Ao longo da prova, o Sporting e o FC Porto criticaram duramente a arbitragem e a disciplina por favorecerem o Benfica, recém-consagrado tetracampeão. Havendo coerência, esse deveria ser o discurso aos derrotados depois de o Marquês se vestir de vermelho.
Mas não foi por aí que os leões caminharam. Após a derrota em casa frente ao Belenenses, o presidente Bruno de Carvalho soltou um sonoro e representativo «basta!», assumindo que na próxima época «tudo terá de ser diferente». Palavras duras com uma natureza profundamente autocrítica. Perante isto, Jorge Jesus não estaria neste momento muito seguro. Já os dragões têm mantido a mesma linha: que esta foi a Liga Salazar, e das cartilhas, de arbitragens altamente favoráveis às águias e com erros grosseiros contra os azuis e brancos. Posto isto, só poderia deduzir-se que Nuno Espírito Santo teria o lugar mais que garantido. Mas os sinais evidenciam o oposto: Jesus mais estável, NES mais tremido. O que nos leva à ideia inicial: só depois de assente a poeira dos resultados é que a racionalidade molda o pensamento dos dirigentes; a gritaria ao longo da época serve apenas para dar corpo ao ditado: quem não chora não mama. E alimentar a cegueira clubística.
Luís Filipe Vieira percebeu isso mais ou menos no final do seu segundo mandato na presidência do Benfica: em vez da crítica permanente ao FC Porto, virou-se para dentro e fez o que fazem as grandes empresas que querem crescer: aprender com os erros e tomar melhores decisões. Os seus rivais deviam fazer o mesmo, mas já vão com atraso: o Benfica está vários anos à frente da concorrência em áreas visíveis e invisíveis (o investimento em conhecimento, por exemplo). Não reconhecer esta realidade apenas serve para alimentar ódios estéreis."

Fernando Urbano, in A Bola

E depois do tetra?

"Preto no branco sobre FC Porto, Sporting e... Benfica. Surreal! O comunicado SCP-FCP (como é que Pinto da Costa caiu nisto!) e o 'post' do adeus ao Facebook

Depois do quarto título consecutivo conquistado pelo Benfica (sim, hegemonia), anuncia-se competição ainda mais renhida entre os três gigantes - o que é excelente! Mas também ainda maior conflito bélico, tipo vale tudo nos bastidores - o que é péssimo!
Antes do mais: parabéns ao justo campeão. Como Jorge Jesus e Nuno Espírito Santo tiveram a hombridade de reconhecer, ao contrário de dirigentes atafulhados num desvario de passa culpas; tão inútil esforço de fechar pública cortina sobre o que falhou - e os porquês - dentro da sua organização.
Vamos lá pôr preto no branco:
- É fundamentalmente por causa de arbitragens que o FC Porto soma 4 anos a fio desfalecendo no absoluto/incrível jejum de nem sequer uma Taça conquistar?! Culpa de sucessivos treinadores, todos primorosamente escolhidos, mas, afinal, todos maus?! Não era este o clube/SAD que se orgulhava de a sua estrutura fazer de qualquer treinador um campeão?!
- É fundamentalmente por causa de arbitragens que o Sporting continua a não se sagrar campeão (e vão 15 anos; e só 3 títulos em 35)?! Verdade: nas 4 épocas da revolucinária era Bruno de Carvalho, melhor que o FC Porto: Taça de Portugal (Marco Silva logo despedido...), Supertaça (quando Rui Vitória dava os primeiros passos num Benfica aos papéis vindo de desastrosa digressão americana), dois 2.ºs lugares na Liga (o mais difícil, vindo de 7.º!, com Leonardo Jardim, que tão facilmente logo saiu...). Mas, nas duas épocas de grande investimento e enorme galvanização (Jorge Jesus arrebatado ao Benfica), são as arbitragens que fundamentalmente justificam nicles nas Taças de Portugal e da Liga, actual abismo (14 pontos face ao campeão, 9 para o 2.º) e esse pormaior de rotundos e consecutivos fiascos europeus?!
Sim, apesar de tudo, há notória diferença. Tem vindo a crescer o Sporting que o novato Bruno de Carvalho encontrou moribundo num mortífero deserto. E o FC Porto do jubilado Pinto da Costa, brilhante líder de tantas glórias, tem vindo a cair numa rampa muito inclinada. Sendo no FC Porto, durante décadas o grande patrão da arbitragem (lembre-se: absoluto domínio da AF Porto e consequente sucessão de presidentes do CA... - bem como dos CD e CJ...), que mais faz sorrir esta revolta contra ela...

E o Benfica? Ganhou imenso ao sair das trogloditas trocas de palavreado oficial em que também andara. Serenando, criou caixa forte, sem se dispersar. Equipa de futebol menos pujante esta época. Mas resistiu a mais de 30 lesões (Guinness!?), a meia temporada estando o importantíssimo Jonas em baixa clínica (com regresso aos solavancos), ao adeus, em Janeiro, a Gonçalo Guedes, durante meses o substituto de Jonas, ao larguíssimo período sem Grimaldo e Jardel, às lesões do pilar Fejsa, à falta de n.º 8 opcional ao ultrarresistente Pizzi. É esse o maior, enorme!, mérito de Rui Vitória, nunca se lamuriando, concentradíssimo a arranjar soluções. E não - escrevi, há semanas e, noutro dia, com detalhe voltarei ao assunto -, o plantel do Benfica não tem mais qualidade (valores individuais) que o do FC Porto.


Surreal! O comunicado conjunto de FC Porto e Sporting anunciado a sua aliança (obviamente anti-Benfica). Feito à pressa e... confrangedor! Do apelo a videoárbitro e divulgação dos relatórios dos árbitros (após FPF já tal ter decidido...) à caricata reclamação de títulos nos primórdios do futebol, todo um rol de... coisa alguma! Como é que o mestre Pinto da Costa caiu nisto?!!!
Surreal! O texto em que Bruno de Carvalho anuncia a sua saída do Facebook (excelente decisão). Vai tudo a eito... Os meninos (atletas) e treinadores que não podem ser acarinhados quando perdem injustificadamente... (o presidente já se mandara ao ar na derrota em final europeia de futsal; mas aquela equipa foi vice-campeão europeia, certo?!). E até os adeptos levam críticas por deficiente militância... Num clube que, nesta época, bateu recordes de votantes na eleição presidencial e de adeptos nos jogos em Alvalade! Alto nível exigência é bem importante! Mas o presidente parece esquecer-se de não ser com vinagre que se apanham moscas. Muito menos com tamanho excesso!"


Santos Neves, in A Bola

Vitória, Vitória...

"Se o Benfica - V. Guimarães era o jogo para definir o campeão, foi o jogo que mostrou que só o Benfica poderia ser campeão, campeão contra as dúvidas e as desconfianças, as insinuações e os alibis (e as tontices da Liga Salazar...) - o incontestável campeão, (Eu sei que há quem não ache - são aqueles para quem o futebol não se joga com uma bola nos pés que os empolga, joga-se com um coração nos olhos que os cega).
Mostrou mais, mostrou Rui Vitória numa tirada filosófica do Marcelo Bielsa:
- Nós, os treinadores, podemos cometer dois pecados: fazer andar os jogadores que voam ou fazer voar os jogadores que andam. E eu penso: se tiver de ir ara o inferno que seja pelo segundo.
Sim, Rui Vitória conseguiu (sem pecar) que os seus jogadores voassem (mesmo quando não parecia que andavam) - e fez mais ainda. Se, na vida, o melhor do ser humano ou o insucesso o ameaça, no futebol é diferente - no futebol, o melhor do jogador (ou do treinador) tem de aparecer quando o sucesso não pode ser abandonado ou o insucesso não pode ser uma ameaça. Foi o que o Benfica fez bem - graças ao grande treinador que tem.
Porque grande treinador é o que consegue que a sua equipa seja mais do que a soma aritmética de 11 jogadores à liça, 11 jogadores com a cabeça nos pés a levarem mais além as boas ideias do treinador - não para o jogar mais bonito, mas para ganhar mais. Grande treinador é o que consegue tocar os seus jogadores sem grinaldas de palavras hesitantes (ou enganadoras) - dando-lhe a coragem e a fé, o entusiasmo e a galvanização, que não os deixe de pés a desarrumarem-se, desconfiados de si próprios ou do seu destino (como os do FC Porto). Quando isso acontece, a estrela da equipa é a equipa, a sua estrela é o treinador. Razão por que, ao perguntarem-me quem foi o melhor jogador do tetra, a minha resposta se soltou sem um titubeio: o Rui Vitória!"

António Simões, in A Bola

Fintas...

No coração vermelho do Inferno do Marquês

"É a crónica de uma festa anunciada. Um gajo do Vitória de Setúbal, a ver o seu benfiquismo florir em plena febre primaveril do Tetra. Cheiros, outfits, futurologia pintada a encarnado vivo e umas imagens da celebração.
Saí de casa ao intervalo do jogo, o que até podia ser irresponsável face a todas as reviravoltas possíveis num jogo de futebol, só que há resultados que parecem indestrutíveis. Era o caso deste. O Benfica ia ser campeão, estava mais que visto. Não tinha dado grandes hipóteses ao adversário de adiar a festa. Eu vestia à civil, não tenho camisola do Benfica, nem costumo usar vermelho. Ponderava se ia dar muito nas vistas lá no Marquês, se me iam barrar a entrada, ou se me iam confundir com um espião do Bruno de Carvalho.
Assim que saí do meu prédio encontrei o vizinho de baixo, um tipo simpático que veste fato de segunda a sexta, tronco nu ao fim-de-semana e, pelos vistos, camisola do Benfica em dias como este. Disse-me logo: "Vai já para o Marquês? É que já cá canta!". Concordei, até gritei Ben-fi-ca! para entrar no mood, mas quando já descia a rua, chamou-me com um assobio e franziu o nariz ao mesmo tempo que me perguntou: "Olhe lá, mas o meu amigo não é do Vitória de Setúbal?".
Sim, sou. Não estou habituado a celebrar campeonatos nacionais. Também não sou louco pelo glorioso (costumo dizer que gosto de viver em Lisboa, tem é muitos benfiquistas), mas a grande verdade é que adorei os jogos que vi no Estádio da Luz. Ainda assim, acredito que não ser portista ou sportinguista me podia ajudar a conseguir este trabalho de campo. Quando me mentalizei de que iria ao Marquês assistir à festa, tinha planos de fazer um levamento sociológico deste evento – atraía-me o quanto era mediático, a sua má-fama.
No café do bairro havia um clima de felicidade geral, regada a imperiais. Uma carrinha Renault Traffic transmitia o relato para quatro betos já equipados.
Para alguém como eu, que gosta mais de literatura do que de futebol, impressiona a importância do desporto-rei no nosso dia-a-dia, na nossa vida em sociedade. Dou de caras com os comentadores (prefiro o termo paineleiros) em qualquer um dos canais, ouço os dilemas da Liga Record através dos meus colegas de trabalho, acredito que estejamos viciados em apostas desportivas.
Segui pelo Rato, reparando em quem fazia o mesmo caminho que eu. Vestidos a rigor, pontilhavam a cidade de encarnado. Carros passavam a buzinar, cachecóis sacudios à janela. Quem ia a pé respondia à chamada, gritavam Benfica, campeões e glorioso S.L.B. Já devia estar na Brancaamp quando dei por dois turistas que pareciam congelar face a toda aquela actividade. Não resisti a perguntar-lhes se também iam para o Marquês.
"É o Benfica, certo?" – perguntou-me o pensionista, em francês. Respondi-lhe em português que sim. Apontei para o Marquês onde tocava We Are The Champions. Ele continuou com o mesmo ar de enjoado com que estava, a sua senhora suspirou. Perguntou-me qualquer coisa que não percebi de todo e tive de lhe pedir para o repetir em inglês. Queria saber qual seria a duração da festa. Disse-lhe que ia durar toda a noite. Ficou a olhar para mim como se a culpa fosse minha até me ter ido embora. 
Quando virei para a enorme fila de polícias onde fui revistado, não consegui evitar a ideia de que estes não são tempos pós-terroristas, são os tempos do terrorismo. Barricadas interrompiam algumas das principais artérias da cidade, faziam-se revistas demoradas a cada um destes festivaleiros benfiquistas. Para além de evitar atentados, também podiam estar a evitar as oito detenções que aconteceram nas celebrações do título passado.
Ainda mais absurdo que isto, foi a simpatia das forças policiais. Eu sou do tempo dos ACAB's e das cargas policiais à porta da Assembleia. Calhou-me um polícia sorridente, mas não era o único. Alguns deles até tiravam fotografias ao Marquês, cada vez mais cheio. Apercebi-me que deviam ser polícias e benfiquistas, tal como há padeiros benfiquistas, economistas benfiquistas, um país inteiro de adeptos do Benfica.
Quando cheguei à rotunda do Marquês do Pombal, fui confrontado com a conclusão de que este é um evento popularucho. Desculpem, é o que é. Não sei porque é que apresentei isto como uma grande conclusão - quem ainda não tem a certeza, já deve suspeitar.
Estes são alguns dos detalhes do quadro geral:
Vou começar pelas fragrâncias. Há benfiquistas que cheiram a transpiração e há benfiquistas que cheiram a 1 Million do Paco Rabanne. É natural, são muitos, uma nação é feita de pessoas muito diferentes. Um dos primeiros colocou o braço sobre mim para cantarmos We Are The Champions numa das dezenas de vezes que passou. É claro que não o ia deixar mal, eu próprio me sentia algo contagiado por tanto benfiquismo. Ainda assim, tentei despachá-lo o mais rápido possível. O cheiro a pessoas, no entanto, não era o mais intenso no Marquês, predominavam as notas de cerveja entornada, os cigarros e os cigarros de haxixe de qualidade duvidosa.
Também havia uma amplitude estética considerável: vi benfiquistas vestidos à benfica dos pés à cabeça e vi benfiquistas vestidos como se fossem sair à noite. A verdade é que se estiverem à procura de uma alma gémea obrigatoriamente benfiquista, é muito provável que a encontrem aqui.
A música não podia ser mais ecléctica. Ouvi temas que iam da pop mais rádio (Calvin Harris) ao hit de bairro (DJ Télio), passando pelo reggaeton (inevitável "Bailando", incontornável "Despacito"), até ao hip-hop ("All I Do Is Win No Matter What" – os benfiquistas que o digam). O próprio espectáculo de variedades que se sucedeu incluía alguns grandes nomes da música popular portuguesa, ainda melhor se fossem afectos ao Benfica, como Carlão ou os AmorElectro. Houve canções que era obrigatório cantar em uníssono, o que não só foi arrepiante, como também belo.
A verdade é que os benfiquistas costumam ser vocais acerca das suas vitórias, mas no Inferno do Marquês são ensurdecedores. Achei que ia ser aterrador, mas foi um espectáculo digno de se ver.
No meio de tanta gente é impossível não reparar em toda a chungaria que dizem estar sempre presente no Marquês, mas estaria a ser injusto se não dissesse que eram largamente ultrapassados por famílias "normais", famílias felizes. Pais e filhos, mães, avós, cães, uma grande celebração familiar. O próprio Luisão o disse. "O Benfica é família, isso não é cliché". Senti uma profunda alegria quando reparei nisso. Pensei que fosse um local mais propício a assaltos do que a celebrações familiares. 
Afinal de contas, o que somos nós senão portugueses, um povo de amores e desamores, paixões e desilusões, vitórias e derrotas; para muitos de nós há uma certeza épica, chama-se Benfica e é uma águia que sobrevoa as nossas vidas, uma certeza que se mantém sobre nós, enquanto a vida é feita de altos e baixos, de épocas de melancolia – é esta paixão encarnada que aqui se ouvia, se via, se celebrava de braços no ar. Há anos melhores, há anos piores e, pela primeira vez na história, há quatro anos seguidos a vencer o campeonato. Até parece que é condenável criticar um feito destes, uma massa de gente tão radiante.
Pelos comportamentos a que assistia, também parecia ser um bom sítio para beber copos.
Fui interpelado por uma família estrangeira (pai, mãe e três filhos) que queria saber onde se comprava cerveja. Eram britânicos. Perguntei-lhes: "Vieram celebrar o título do Benfica" e a resposta foi "of course" – disse-me logo ele – "estamos de férias em Lisboa, não podemos perder a vitória do grande Benfica!". Fui apanhado de surpresa, nem me estava a lembrar de que, para além da febre nacional, há esta ideia de que o Benfica é um símbolo de Portugal pelo Mundo fora.
Ainda assim, comecei a sentir-me aborrecido, o autocarro ainda estava a caminho e eu algo perdido ali no meio. Uma senhora simpática, que me devia estar a achar tristonho, perguntou-me: "Já sabe do Festival da Canção?". Disse-lhe que não sabia e ela disse-me qualquer coisa como "o Salvador está em primeiro!", tinha a filha, sportinguista, a mandar-lhe os resultados por mensagem. Não demorou muito até que esse fosse o assunto por entre toda a multidão. Sim, entretanto já éramos uma multidão – o espaço reduzia a olhos vistos, cotovelos perdiam espaço de manobra. Adeptos não paravam de chegar.
Depois de algum tempo no meio das famílias "normais" (algumas zarparam antes da equipa chegar) a olhar para os adeptos mais bizarros (que também são os mais divertidos), lá chegaram os jogadores. Subiram ao palco a pé e eu comecei a furar o mais possível até chegar à fila da frente, cruzando espessas nuvens de ganza e do fumo vermelho que se associa a estes dias de Marquês.
Estes adeptos, que em qualquer lugar do Mundo diriam que são do Benfica, aqui mostravam o quanto eram do Benfica. Senti que se a estátua não tivesse sido barricada, correríamos todos a trepá-la também. Ouvi os discursos de vários jogadores, aceitei uma das cervejas que o Cervi distribuía e fiquei fascinado com algo que o Rui Vitória disse a todos: "Queremos prolongar este momento". 
Como? É que eu só tinha visto uma coisa parecida e foi porque ganhámos um Euro. Isto não pode ser algo que acontece todos os dias. É a espera que cria este momento. São quase 40 jogos, 40 períodos de 90 minutos com a águia ao peito. Há paixões e ódios ao longo de uma época. Há grandes surpresas e profundas desilusões. Sim, eu sei que ele estava a falar de um possível penta-campeonato, mas esta foi uma catarse de cor e som, uma das maiores demonstrações de alegria colectiva a que alguma vez assisti.
Até porque julgava que ia assistir a um grande peixeirada, pancadaria geral e acabei mais um benfiquista, cheio de vontade de comprar um daqueles fatos de treino à tropa do bairro.
E foi aí que aconteceu, a música do Salvador Sobral começou a tocar no Marquês. Grande parte do público já a sabia de cor. Sei que já devem estar fartos de piadas com o mantra dos três éffes, mas tive de pensar nisso quando o Papa estava em Fátima, Portugal vencia o Festival Eurovisão da Canção e eu estava a celebrar o campeonato do Benfica.
Quando me vim embora, tive a certeza de que para o ano lá estaríamos todos outra vez. Podia ser futurologia despassarada, ou uma demonstração precoce do meu novo benfiquismo. A verdade é que, se não há duas sem três, também não deve haver quatro sem cinco."

Guerra, pela alvorada...!!!

El Benfica hace historia y deja al Oporto de Casillas sin liga

"El conjunto de Rui Vitoria arrolló al Guimaraes y conquistó su liga número 36, la cuarta consecutiva por primera vez en sus 113 años de historia

Quizás su discreto entrenador Rui Vitória nunca pasará a la historia, quizás tampoco su once titular, pero con ellos el Benfica, después de 113 años de historia ha conseguido ganar cuatro ligas de forma continuada. Benfica ya es tetra, como se canta anoche en la plaza de Pombal, donde sus aficionados han celebrado la gesta tras arrollar al Guimaraes con goles de Franco Cervi, Raúl Jiménez, Pizzi y Jonas (2).
El triunfo del Benfica se ha cimentado en la cohesión del grupo, en la unidad, en el esfuerzo común en pos de una causa cuando todo parecía que estaba en su contra. Con un presupuesto muy inferior al Oporto y con la discreción por bandera, frente a los gritos del rival de enfrente, el Sporting de Lisboa, al Benfica nunca se le fue la fuerza por la boca.
De esta forma, el Oporto de Iker Casillas se queda sin el título de liga. Se queda a ocho puntos de los lisboetas pese a que al conjunto de portero español le quedan dos partidos por jugar mientras que al equipo de Rui Vitoria ya solo le falta la última jornada.
En cinco ocasiones el Benfica había ganado tres ligas seguidas; pero en dos ocasiones el Oporto y en tres el Sporting le impidieron conseguir la cuarta. A la sexta ha sido la vencida, y con casi todo en contra.
Rui Vitória jamás se quejó de que le vendieran a los mejores, ni que se quedara sin delanteros en la primera parte de la temporada. Los que salían tenían toda su fe.
El club había vendido sus tiernas joyas a precios exorbitantes: Renato Sanches (más de 80 millones sentados en el banquillo del Bayern) y Guedes (más de 30 millones sentados en el banquillo del PSG). Había comprado otra tan vistosa como supervalorada (Rafa del Braga) y su garantía de gol, Jonas y Mitroglou, se pasaron los primeros meses de la temporada lesionados. Daba igual, el Benfica sacaba adelante los partidos con unos inmensos Pizzi y Salvio, mientras que en la defensa se recuperaba el gran capitán Luisão, con sus 36 años, y en la portería Julio César dejaba ya el paso definitivo a su compatriota Ederson, de apenas 21 años.
El triunfo del Benfica es el triunfo de la cohesión frente a los vaivenes del Oporto y el griterío continuo del Sporting, desde el palco al banquillo. Rui Vitória ha dotado serenidad y confianza a un plantel menos brillante que el del Oporto, pero con mayor consistencia y cuando las cosas al final de la temporada se ponían feas, pues Mitroglou se había cansado de meter goles, Jonas dejó de tener lesiones y comenzó a marcar de dos en dos prolongando su edad de oro.
Este Benfica que ha conseguido la mayor hazaña de su historia no es, ciertamente, el Benfica de Eusebio pero ha sabido aprovechar las debilidades de los demás, quizás, porque su objetivo era ganar el título, mientras que sus rivales solo querían ganarle al Benfica."

Benfiquismo (CDLXXII)

Beijoqueiro !!!

Lanças... 36

Um entusiasmado bocejo

"Em 1984, o Benfica tinha mais campeonatos sozinho do que os outros clubes todos juntos. Eu tnha 10 anos. Foi assim que o mundo me foi apresentado; era assim que eu esperava que ele se mantivesse. Nos 30 anos seguintes, entre 1984 e 2014, o Porto ganhou 20 campeonatos, mais do que os outros clubes todos juntos. O Benfica ganhou sete. Em 30 anos. Imaginem que vivem 30 anos da vossa vida com um desconforto permanente. Uma pedra no sapato. Todos os dias. Um terçolho que não passa. Uma chuva miudinha que dura três décadas. Uma pessoa quer existir sossegada e a pedra não deixa, o terçolho incomoda, a chuva irrita. O mundo, que era ameno, torna-se hostil. Não é uma hostilidade violenta, é só a sensação constante de que alguma coisa está errada, fora do sítio. A vida não é a mesma coisa.
Em 2004, numa altura em que já não era campeão há 10 anos, o Benfica ganhou a Taça. Fui para o Marquês com uma alegria embaraçada. Não conseguia conter a vontade de festejar - mas (ou por isso mesmo) tinha remorsos. Estávamos tão desesperados que havia gente com camisolas que diziam: 'Benfica, campeão da Taça de Portugal'. Era uma festa do Benfica, e no entanto a simples existência da festa demonstrava que o Benfica não era bem o Benfica. É um raciocínio complicado, acessível apenas a benfiquistas. Pessoas de outros credos, muito provavelmente, não o compreenderão.
Entretanto, o mundo foi-se consertando. Nos últimos oito anos, o Benfica ganhou mais campeoantos do que outros clubes todos juntos. Nos últimos quatro, ganhou todos. Cito a lista dos últimos clubes campeões nacionais: Benfica, Benfica, Benfica, Benfica. Foi monótono, repetitivo, previsível, chato. Foi uma maravilha. A única coisa que eu peço do mundo é que se mantenha aborrecido. Que o facto de o Benfica ganhar o campeonato se transforme outra vez numa ocorrência tão corriqueira que, no Telejornal, passe a ser noticiada mesmo antes do fim: 'Entretanto, pela décima terceira vez consecutiva, o Benfica sagrou-se campeão. Vamos à meteorologia para amanhã'. E que eu esteja cá para festejar tranquilamente, com um entusiasmado e orgulhoso bocejo."

Ricardo Araújo Pereira, in Visão

Visto de cima !!!

A 'outra' rotunda...!!!



A PSP anunciou 20 detenções durante os festejos do 36. Sendo que a grande maioria foi por posse de tochas!!!!! Muito sinceramente não compreendo... Já  afirmei várias vezes: sou totalmente contra os Petardos... mas as tochas, cumprem uma função coreográfica que deve ser respeitada...
Devido a esta absurda 'caça às tochas' muitos Benfiquistas decidiram não ir ao Marquês... e por isso criaram na Rotunda Cosme Damião, o ambiente que devia ter sido criado no Marquês!