Últimas indefectivações

terça-feira, 13 de setembro de 2016

Mister...

O que se passa com o Benfica?

"Havia unanimidade nacional: o Benfica precisava de ir à bruxa. Caramba, quatro pontas de lança e todos eles lesionados, sem condições para jogar? Que grande azar!
Rui Vitória, que não tinha cão, caçou com gato. E venceu o jogo, em Arouca, conseguindo, até, uma primeira parte digna dos maiores elogios.
De repente, no Benfica, o cão não apresentou melhorias e lesionou-se também o gato. Agora, para a Champions, com o Besiktas, o Benfica vai ter de caçar com... rato.
Seis possíveis titulares na enfermaria: Jiménez, Jonas, Mitrolgou, Rafa, Danilo e Jardel. A situação gera incredulidade. Há casos de simples traumatismos, que ainda não estão curados? Sim, mas não só. E os casos mais inquietantes serão aqueles que foram dados como curados e que pelos vistos não estavam, como aconteceu com Jonas (um recorde de recuperação que, agora, levanta dúvidas) e o caso de Jardel que apareceu, surpreendentemente, numa novidade e que volta a sair dos convocados por não estar em boas condições físicas.
Não queremos nem devemos entrar em especulações, e também não duvidaremos de competências, mas é legítimo, dizermos que nada disto é normal e que a pergunta óbvia será: o que se passa, então, no Benfica?
Um conjunto de azares, que nem os Távoras? Um conjunto de acidentes inoportunos? Uma praga de lesões que entrou no Seixal como mosquitos africanos? Que se passa, afinal?
Estamos no início da época e o treinador, não pode contar com mais de metade dos jogadores de uma equipa de futebol? Não é normal num clube de elite. Alguém explica?"

Vítor Serpa, in A Bola

Mudar a arbitragem, sim, mas a sério

"Com o mesmo árbitro a decidir, Fábio Veríssimo, em lances fotocopiados, com o FC Porto já 'penalty' (Rio Ave), com o Benfica não (Arouca).

Apesar das acções de formação feitas durante a interregno das competições nos clubes e até nas recordações de jornais, no sentido de explicar o básico das dezenas de alterações nas regras do jogo de futebol e que entraram em vigor na presente temporada, continuam dúvidas no ar, principalmente no que se refere à interpretação de lances com evidentes, semelhanças, sem se observar, porém, a necessária coerência ao nível dos julgamentos e das medidas aplicadas.
Devagar, talvez, mas queremos acreditar que as coisas estão a mudar, para melhor, notando-se algaraviada mais contida na discussão de situações, na maioria delas sem nada para discutir. Se transportássemos o último encontra entre o United e o City para aquilo que são os hábitos e os costumes práticos teríamos gritaria para três meses, tal a intensidade e sucessão de casos geradores de turbulência analítica.
Começo precisamente por aqui, trazendo à colação o jogo do FC Porto em Roma em que, a duas entradas brutais de jogadores italianos, De Rossi e Emerson, uma delas a provocar lesão grave em Maxi Pereira, correspondeu a mostragem de dois cartões vermelhos, ficando a ideia de que a partir de agora a integridade física do praticante é tida como ponto de honra, na valorização do espectáculo e na protecção do artista face ao destempero caceteiro. Estou de acordo, estaremos todos de acordo, mas idêntico critério não foi seguido, por exemplo, em Old Trafford, quando o guarda-redes do City, como recurso desesperado para corrigir uma asneira que fizera voou com as pernas à frente e os pés como duas setas apontadas na direcção de Rooney. Se há lances para partir osso este foi um deles e, no entanto, nada aconteceu: não houve penalty, nem expulsão. Não houve nada, o quem entra em contradição com o que se assistiu em Roma e também com o que se tem observado por cá, em que os árbitros se equilibram no meio termo, nem tão bondosos como o inglês Clattemburg, nem tão rigorosos quando o polaco Marciniak.

O que me traz hoje ao tema arbitragem tem a ver, no entanto, com o recente Arouca-Benfica e com o despique entre o benfiquista Rafa e o arouquense Hugo Basto em que, é a minha opinião, o árbitro devia ter assinalado penalty por empurrão ao defesa do emblema visitado.
Já estaremos a passar o tempo em que um sopro bastava para fazer cair o avançado e sacrificar o defesa e a douta decisão de assinalar ou não penalty ficava ao livre arbítrio do juiz de campo, o qual julgava a favor da direcção do vento, por conveniência e por ser o único com poder de avaliação sobre a intensidade do toque ou, em linguagem mais simples, validar a trapaça de quem usava o expediente da queda. Mas isto era antes, ou não?
Voltando ao referido lance de Arouca, o árbitro em questão, Fábio Veríssimo, um dos internacionais fabricados em laboratório, entendeu que tudo se desenvolveu sem ferir os limites da legalidade. Como não estou de acordo, embota me falte a sabedoria para contrapor, recorri a quem sabe, aos textos em A BOLA de Duarte Gomes, dos quais me tenho servido para me orientar nesta difícil fase de transição.
Elogios a Fábio Veríssimo à parte, Duarte Gomes destacou a dificuldade de análise em «incidente que ocorreu em grande velocidade» e «com um contacto quase imperceptível a olho nu». Até aqui, tudo bem, mas não alcancei o sentido da explicação adicional, ao sublinhar que os árbitros têm directrizes claras do Conselho de Arbitragem para «não punirem contactos menores» e para serem «menos interventivos tecnicamente». Como? Tanto assim, que, na jornada de abertura, no Rio Ave - FC Porto, em lance que classifico como retrato do que se viu em Arouca, entre Marcelo (empurrador) e Otávio (empurrado) e análise especializada chegou a diferente conclusão, transformando-se o toque menor em «empurrão de Marcelo a um adversário», que conduziu a «muito boa leitura, excelente decisão» ao assinalar penalty.
Na opinião de Duarte Gomes foi penalty, nos dois casos, mas na prática, com o mesmo árbitro, em lances que considero fotocopiados, com o FC Porto foi sim, com o Benfica foi não. Objectivamente, está a mudar o quê?"

Fernando Guerra, in A Bola

Benfica! Benfica! Benfica! Eles fazem muito barulho!!!

"Os Benfica-Sporting fazem parte da memória e do romance. Multiplicam-se inevitavelmente época após época. Devem ser relembrados volta e meia. Por todas as razões que fazem do futebol qualquer coisa de único.

Houve a véspera daquele Benfica-Sporting, nas Amoreiras, de 3 de Março de 1940, que Peyroteo conta no seu livro de memórias. Manuel Marques gostava de irritar o treinador Szabo, que falava um português atrapalhado. E interrompia-lhe a prelecção, dizendo: «Isso está tudo muito bem, mas o senhor não está a contar com os adeptos deles, que fazem muito barulho e influem no resultado.»
Szabo zangava-se: «Sinhor! Carágo! Dar uma cabêçada para si. Não brincar e não rir, que não ter graça nênhum!»
E Manuel Marques insistia: «Eles fazem muito barulho, a gente não vê a bola, não vê nada. Só ouve gritar Benfica, Benfica, Benfica. É horrível!»
E Szabo, então, dava a táctica definitiva: «Passar bola bons condições e Fernando fazer calar tudos, gajos não piar mais...»
E Fernando Peyroteo faz calar todos. Com golos: um, dois e três. «Caréga, Maria!»
Houve aquele outro jogo de 17 de Outubro de 1965, no Estádio da Luz, com Lourenço, que viera da Académica e a quem, por pirraça, chamavam a «Vaca», a fazer quatro golos, dois deles de chapéu a Melo.
«Não foi uma questão de o guarda-redes ser pequeno, foi uma questão de ângulo para marcar os golos assim», diria Lourenço, mais tarde, defendendo-se da troçados que diziam que tinha marcado quatro golos a uma guarda-redes anão. E Melo sofrendo o «síndroma de Persónico» e nunca mais jogando outro derby.
O imarcescível Nelson Rodrigues costumava escrever: «Tudo é Fla-Flu e o resto é paisagem.»
Pois era mesmo isso que me apetecia escrever.
100 anos de nomes. A dimensão dos grandes nomes.
As imensas madrugadoras das vitórias; as longas noites das derrotas.
«Cidade triste e alegre, outra vez sonho aqui...»
Poemas de noventa minutos.
Domingos transformados em catástrofes.
Alfama e Madragoa; a ponte e o Cristo-Rei; o leão do Marquês.
O Chiado e o Rossio. A Estrela e Campolide.
As noites inquietas do Bairro Alto.
As ruínas do Carmo e o sino da igreja da Trindade.
Da Travessa do Guarda-Jóias ao elevador da Bica.
Da Penha de França à Pampulha.
Do Largo do Conde Barão à Rua de Sol ao Rato.
Tudo isto é também Benfica e Sporting.
Equipas inteiras lidas ao ritmo dos poemas:
Azevedo, Cardoso e Marques; Barrosa, Canário e Veríssimo; Jesus Correira, Vasques, Peyroteo, Travaços e Albano.
Costa Pereira, Mário João e Ângelo; Cavém, Germano e Cruz; José Augusto, Eusébio, Torres, Coluna e Simões.
Carvalho, Pedro Gomes e Hilário; Fernando Mendes, Alexandre Baptista e José Carlos; Figueiredo, Osvaldo Silva, Mascarenhas, Geo e Morais.
José Henrique; Artur, Humberto Coelho, Messias e Adolfo; Toni e Jaime Graça; Eusébio, Artur Jorge, Nené e Jordão.
«Tirem-me daqui a matafísica!»
Fados canalhas; homens bêbados; montras de leitarias; lençóis dependurados nas janelas.
O rio ao fundo.
«Macio Tejo, ancestral e mudo».
O transistor pousado sobre o balcão de mármore da taberna: «GOOOOLOOOOOOOOO!»
O grito fugindo ao longo das ruelas estreitas.
Fitas coloridas de plástico nas portas dos talhos.
Miúdos dependurados nas boleias dos eléctricos.
Prazeres e Gomes Freire.
«Houve uma vez»; poderia continuar assim e nunca mais acabar.
O romance dos Benficas-Sportings é um poema interminável.
Com Lisboa e Tejo e tudo."

Afonso de Melo, in O Benfica

"Uma nota de beleza e elegância"

"Entre foguetes, morteiros e muitos 'Viva o Benfica!', um toque feminino fez toda a diferença.

No dia 31 de Março de 1957, ao vencer em casa a Académica por 2-0, a equipa de futebol do Sport Lisboa e Benfica conquistou mais um titulo nacional. Duas semanas depois, a 14 de Abril, o Clube abriu as suas portas para que, juntos, todos os benfiquistas pudessem celebrar e conviver com os campeões nacionais.
Era uma 'maravilhosa tarde de primavera', o público estava animado e o programa adivinhava uma grande festa. O Estádio 'cedo começou a emoldurar-se de encarnado. As bandeiras, os lenços, os trajes, tudo era encarnado - tudo era «à Benfica»'.
Pouco passava das 14 horas quando os primeiros 'balões tomaram o caminho do céu', guiados pelo som de foguetes e morteiros. Nas bancadas, milhares de vozes, em uníssino, gritavam '«Ben-fi-ca! Ben-fi-ca!,,,»'. 'Centenas de camisolas escarlates e rebrilharem ao sol e a gritarem a honra de pertencer a um grande clube'. A festa durou até tarde 'e, se mais se prolongassem, a animação e o entusiasmo continuariam (...) Dure o tempo que durar. É festa... é festa!'
A banda da Polícia de Segurança Pública deu início à comemoração com a marcha da vitória. Daí para a frente, o programa decorreu numa 'atmosfera de apoteose'. Águas recebeu a Bola de Prata pela segunda vez consecutiva, por ter sido o melhor marcador do campeonato; o tenor Orlando Settimelli interpretou o hino do Clube; e 'os briosos rapazes', perfilados, receberam das mãos do presidente Joaquim Ferreira Bogalho as faixas de campeões. Só faltaram Coluna, Palmeiro Antunes e Serra, que 'por necessidade da equipa militar de futebol (estavam) a exibir-se a essa hora em Évora'.
Mas, de todos os que naquele tarde de Abril pisaram o relvado da Luz, a imprensa foi unânime ao destacar as 'sessenta gentilíssimas ginastas' do Benfica que não só 'executaram correctos e vistosos exercícios, que deliciaram a assistência', como 'deixaram sobre o relvado uma nota de beleza e elegância'. Na fotografia, que foi capa do terceiro número d'O Benfica Ilustrado, Roland Oliveira captou o momento em que, 'empunhando balões como quem desfolha papoilas', a classe feminina de ginástica entrou no Estádio. 'Pena foi que não fossem encarnados os balões', lamentou o Diário de Lisboa.
Esta e outras fotografias podem ser vistas na exposição Roland Oliveira, até 15 de Outubro na Rua do Jardim do Regedor, em Lisboa."

Mafalda Esturrenho, in O Benfica

Benfiquismo (CCXVIII)

Não tenho o hábito de procurar autógrafos
ou recordações dos nossos jogadores...
Dito isto, tenho somente dois autógrafos na minha posse:
O primeiro foi do grande Fernando Caiado,
e recentemente recebi este postal,
autografado e com dedicatória pessoal do grande Mário João!!!
Curiosamente, dois Bi-campeões Europeus
(um como treinador, o outro como jogador),
dois guerreiros ao serviço do Benfica,
dois grandes exemplos de Mística...