"Não faltarão agora aqueles que, de costume, após uma derrota realmente difícil de engolir, sobretudo quando sentimos de certa forma nascida de estranhos erros próprios, vêm exigir cabeças para o cadafalso.
Nada de mais injusto. Nada de mais disparatado.
Se é certo que é nos próprios desaires - e às vezes, nos mais dilatados e mais inconvenientes - que devemos procurar as alavancas dos maiores triunfos futuros, 'a quente' jamais sabemos usar do discernimento suficiente para avaliar as razões e causas, e ainda menos, as terríveis consequências de uma derrota pesada.
Diria, aliás, como recomendava o prudente Wellington - grande general britânico de todas as guerras da primeira metade do séc- XIX - que o mais adequado é que a serena avaliação acerca do real estado das nossas capacidades perante um adversário, seja oportunamente feita, com prudência, sensatez e frieza, antes do confronto se realizar. E não depois. Ou durante.
Mas o que não é aceitável, muito menos no que se refere directamente aos verdadeiros generais em expedição, é que, por causa de uma batalha perdida no terreno (mesmo que por muitos...), logo o povo ponha em causa a capacidade de raciocínio ou o próprio espírito competitivo dos cabos de guerra. Sobretudo quando não há terceiros a influir nas decisões.
Os historiadores que se referem às estrondosas vitórias de Arthur Wellesley, o 1º. Duque de Wellington (ou às suas sucessivas derrotas políticas como tory, nos gabinetes de Londres), não tiveram que recensear ao tempo, quaisquer árbitros ou juízes, desses que, em Portugal e no futebol dos nossos dias, vivendo às custas dos seus artistas, tantas vezes ditam inapelavelmente as leis das vitórias e das derrotas, segundo as ordens de patrões inatingíveis e impunes...
E a verdade é que quando, no contexto da luta (em que ainda somos nós os Campeões) chegámos a esta última batalha que viemos a perder com estupor, já estes 'rapazes de preto' tinham cumprido há muito os serviços sujos que o nosso adversário lhes encomendara: apesar dos números inusitados do domingo passado, a lama negra manchará indelevelmente, para sempre, o azul deste campeonato de 2010/11.
Não o podemos perder de vista. E não seja o melindre por que passamos momentaneamente, que degenere em qualquer desespero, tipo 'noites de cristal'. Em vez de fragilizarmos os nossos, saibamos não esquecer que a maior vergonha, afinal, é a da cabazada que surdamente já se desenhara com a deferência da justiça e da política, muito antes dos jogos e fora de qualquer campo de torneio."
José Nuno Martins, in O Benfica