"A pré-época do Benfica aproxima-se do final e começa a haver matéria suficiente para algumas observações iniciais sobre o plantel para a época 2024/25.
Trubin
Indiscutivelmente titular. Tenho as melhores expectativas para a sua segunda época no clube. Estará mais confortável na pele não apenas de titular, mas de referência da defesa. Apesar de já ter mostrado muita qualidade, também comprometeu em alguns momentos. Tenho para mim que é um dos jogadores com maior margem de progressão no plantel.
Samuel Soares / André Gomes
Não é evidente que esteja aqui a solução para uma eventual lesão ou suspensão de Trubin. A margem para erros num clube como o Benfica é demasiado curta.
Bah
O melhor Bah é titular de caras. Resta saber quem será o seu suplente, o que é especialmente relevante quando se observa no dinamarquês alguma propensão para lesões (isso ou algum azar). Protagonizou alguns erros comprometedores, mas a capacidade de envolvimento no ataque, a cruzar ou até a aparecer dentro da área em condições de rematar, torna-o uma opção mais do que válida neste plantel. A versão mais pressionante e eficaz em transições passará sempre por jogadores como Bah.
António Silva
A última época revelou alguns sinais preocupantes e uma evolução diferente da que esperávamos num segunda ano no plantel principal. Não é evidente que continue no clube, mas continua a ter todas as condições para ser determinante e reafirmar o seu valor.
Morato
Sempre que vejo Morato em campo, lembro-me de quanto custou, da promessa que trouxe, do tempo que já leva no clube e da expectativa que terá em agarrar a titularidade de uma vez por todas. Olhando para as opções da defesa, não me parece que essa gestão vá ser fácil. Morato seria titular em muitas equipas de bom nível, mas não é nada linear que isso venha a acontecer no Benfica esta época.
Tomás Araújo
Continua a mostrar sinais muito promissores, em particular pela capacidade de conciliar uma boa leitura de jogo com a qualidade do passe. É um defesa que conjuga como poucos no futebol português a elegância e a agressividade que a sua posição exige. Está por demonstrar a consistência numa época longa e sinuosa, mas é dos jogadores em que mais apetece apostar neste plantel.
Otamendi
Tenho dificuldade em aceitar as duas competições de seleções no espaço de 2 meses. Compreendo que os jogadores tenham as suas aspirações pessoais, mas acho que não podem ser impostas ou excessivamente acarinhadas. Otamendi continua a ser uma referência dentro e fora de campo, mas os índices físicos tenderão a ceder à passagem do tempo. Talvez este possa ser o ano em que o vemos mais vezes fora do relvado. Sei que muitos fantasiam com centrais que jogam até aos 50 anos e antecipam os atacantes com o poder da mente, mas parece-me uma renovação necessária quando se pensa na exigência da época que aí vem.
Beste
Parece um jogador à medida do melhor futebol das equipas de Roger Schmidt. É cedo para tirar grandes conclusões, mas a mentalidade que traz de uma liga super competitiva poderá ser muito útil e tornar os desafios da liga portuguesa mais simples de ultrapassar. Tenho especial predilecção por atletas pouco sorridentes que parecem apostados fundamentalmente em realizar o seu trabalho com a máxima competência e intensidade. Espero que as primeiras impressões se confirmem. Seria a solução para um dos maiores problemas da última época.
Carreras
Os sinais dados esta época parecem mostrar um jogador em progressão física e tática. Se isso se confirmar, pode ser útil num onze com alguma rotação, se tal vier finamente a acontecer. Não me parece uma opção tão fiável em termos defensivos, mas é legítimo afirmar que o Benfica tem finamente dois laterais de raiz em condições de competir pela posição. É um salto quântico face à época passada, mas falta perceber que gestão será feita.
João Neves
É um dos símbolos do clube. Podia dizer que isso não tem preço, mas tudo indica que estarei enganado. Não é compreensível que um clube como o Benfica seja gerido ao ponto de tornar a venda de João Neves a única opção financeira válida para garantir o equilíbrio das contas do clube. A gestão desportiva e financeira do Benfica, mesmo assumindo um modelo tendencialmente vendedor, deveria privilegiar sempre a manutenção de jogadores como João Neves por mais tempo. A confirmar-se a saída, fica a sensação clara de que se poderia ter feito mais para combater a inevitabilidade dos milhões de outras ligas. Adiar esse momento tem um preço que o clube devia pelo menos estar disposto a pagar quando falamos de alguém como João Neves. Um clube que contrata em volume e valor como o Benfica tem contratado devia acautelar a manutenção da qualidade de quem já cá está. Pode chegar um camião de dinheiro, mas ficaremos mais pobres no dia em que sair.
Florentino
O futebol mais desenvolto dos novos colegas no meio-campo torna Florentino um jogador mais lento e com menos progressão, mas a sua melhor versão é também a que esteve na origem do Benfica com melhor reação à perda durante as últimas épocas. Será naturalmente titular neste início da época, muito provavelmente para dividir responsabilidades com Barreiro, mas resta saber que outras opções terá o plantel se João Neves sair. Ao contrário de outros jogadores jovens neste plantel, Florentino parece ter atingido o seu pico de desempenho. Não é uma crítica negativa. É um jogador feito. O Florentino que vemos jogar hoje é muito provavelmente o jogador que veremos daqui em diante, e não vejo motivos para que não continue a ser útil ao Benfica.
Fredrik Aursnes
Espero que o altruísmo da época passada, que quase o colocava a jogar na baliza, possa ser recompensado com o regresso à posição natural dentro de campo, mas a sua titularidade indiscutível parece menos certa perante as opções do plantel.
Leandro Barreiro
Poucos toques na bola, quase todos para a frente e a libertar colegas para correrem com a bola, muita agressividade da boa, e talvez a melhor interpretação - frente ao Feyenoord - da pressão alta que permitiu a Schmidt conquistar os adeptos na sua primeira época. Muito curioso por ver se estes sinais se confirmam.
João Mário
Parece ter tudo para continuar a ser uma referência no onze de Roger Schmidt. João Mário teve sempre a seu favor uma ideia de critério e equilíbrio que parece garantida quando a bola passa por ele, mas também passou por ele a crise de soluções coletivas na época passada. Veremos quem se cansa primeiro, se ele ou eu.
Kokçu
Tenho sinceras dúvidas que seja uma opção para o Benfica 2024/25. Não sou muitos de rancores, mas a verdade é que não gostei nada da entrevista que deu há uns meses e ainda não a esqueci. Tudo me leva a crer que não será titular neste plantel, e tudo me leva a crer que isso voltará a ser um problema.
Schjelderup
Seria injusto avaliá-lo pelo pouco que fez antes de se lesionar, mas parece ter chegado com a genica necessária para tentar ser uma opção de banco regulamente utilizada para refrescar a equipa e lhe dar maior profundidade, em particular à medida que a época for exigindo maior gestão do plantel.
Neres
É sempre difícil avaliar um jogador que não quer ser suplente e que apresenta muitas vezes futebol para ser titular. É um desafio para Schmidt. A sua provável saída deixará uma lacuna importante no plantel, das que não convém protelar.
Prestianni
Não me quero entusiasmar demasiado, para não ter que me desiludir, mas o facto é que Prestianni mostrou uma combinação rara de qualidades durante esta pré-época. É, talvez, o jogador deste plantel que mais condições tem para fazer esquecer a saída de Rafa, um mal amado que decidiu muitos jogos. Se esta impressão se confirmar, pode tornar-se um dos desbloqueadores que tanta falta fazem nos dias mais difíceis da liga portuguesa.
Rollheiser
Talvez o jogador mais azarado desta pré-época e um dos que mais me impressionou pela positiva. Só mais algum tempo permitirá tirar as medidas a Rollheiser. Veremos que papel Schmidt tem para ele, mas vai começar no pior lugar possível deste plantel, com um regresso de lesão diretamente para o banco de suplentes e um onze titular que parece estar em acelerada consolidação.
Tiago Gouveia
Ainda parece acusar alguma pressão típica do miúdo que tem de levantar uma bancada da qual faz parte (no coração). A razão diz-me que não é evidente que seja uma segunda opção consistente para a lateral. É nestas decisões de construção de plantel e adaptação de jogadores disponíveis que se poderá jogar o sucesso da equipa. Esse risco deveria ser reduzido ao mínimo possível e não me parece que Tiago Gouveia seja a solução mais estável para esta lacuna do plantel.
Marcos Leonardo
Os momentos de carrossel em que participou na pré-época e a eficácia que demonstrou na primeira época fazem dele a solução mais que óbvia para alternar com Pavlidis ou complementá-lo nas áreas próximas da baliza. Permite desenhar diferentes configurações de ataque e é bom finalizador. Tem uma mobilidade e uma genica que fazem dele, na minha opinião, um jogador ainda mal apresentado aos Benfiquistas. Espero muito mais dele. Veremos se esta época confirma os bons sinais que já foi mostrando.
Di Maria
Um dos maiores desafios da próxima época, em especial para Roger Schmidt. Será que consegue gerir a presença de Di Maria no plantel sem fazer dele um fator de bloqueio à manobra da equipa? Parece um contra-senso dizer isto acerca de um jogador tão talentoso, portanto conto com o argentino para mostrar que mantém a condição física adequada a mais uma longa época, capaz de inventar soluções em ataque posicional e mas transições rápidas que tantas vezes valem 3 pontos no futebol de Schmidt. Se assim não for, que o treinador mostre a capacidade de decidir e liderar que nem sempre tem demonstrado.
Arthur Cabral
Não chegou para ser suplente e acima de tudo não é um investimento que faça sentido manter sentado no banco, mas tudo indica que é isso que vai acontecer se continuar no clube.
Tengstedt
Não me parece que valha a pena continuar a tentar. Se os sinais positivos do plantel se confirmarem, Tengstedt ficará naturalmente para trás. A sua saída e a de Cabral, se negociatas atempadamente, poderiam abrir espaço para uma opção alternativa a Pavlidis e Marcos Leonardo que garanta soluções e lide melhor com o estatuto de suplente.
Pavlidis
Não acontece muitas vezes, mas há jogadores que pisam um relvado pela primeira vez e parecem ter passado uma vida inteira à espera daquele momento, daquele local e daquele clube. Ver Pavlidis marcar na sua primeira titularidade na Luz parece ilustrar um desses casos raros. Ou muito me engano ou tem tudo para ser feliz no Benfica. O futuro desta época vai ser muito definido pela capacidade de servir Pavlidis de forma adequada e recorrente. Esse é mesmo o sinal mais positivo da equipa até agora, que rapidamente esse caminho pareça ter sido encontrado. Mérito da equipa e de um jogador com excelente sentido posicional e um grande faro para a baliza.
Roger Schmidt
É mesmo a maior incógnita para esta época. Rui Costa deu a Roger Schmidt uma nova oportunidade que poucos costumam ter num clube como o Benfica. A responsabilidade será partilhada por ambos, na saúde e na doença. Para já, a expectativa é só uma: regressar imediatamente aos títulos e ao futebol avistado nos já míticos 6 meses da primeira época. Mas não é só isso que se pede a Roger Schmidt. Esta nova época pede-lhe que aprenda com os erros e demonstre que a sua ideia de jogo, uma vez estabelecida, não depende de uma mão cheia de jogadores quando há mais 2 mãos cheias no plantel. De pouco valerá se voltar a demonstrar, por força de omissões ou de opções estranhas como jogar uma época inteira sem laterais de raíz, que o plantel disponível não satisfaz as suas necessidades. Este parece ser o plantel que o treinador pediu. A Roger Schmidt, exige-se por isso o mais difícil, que é precisamente a missão para a qual se alistou quando chegou a Portugal, e uma que raramente cumpriu ao longo da sua carreira enquanto treinador: que vença sem apelo nem agravo, e que saiba gerir o grupo por forma a garantir que chega ao fim com a mesma força e consistência do arranque. Se é verdade que o gegenpressing do treinador do Benfica já deslumbrou todos os adeptos, também é verdade que não soube manter esse registo. Os primeiros sinais da pré-época parecem indicar que se está a chegar a uma versão aproximada dessa ideia de jogo. Falta o teste do algodão. Agora que a sua ideia de jogo é bastante mais familiar para os treinadores da liga portuguesa, veremos como se portam os rapazes e o seu respetivo condutor. Que seja uma época de regresso aos pergaminhos do clube, é o que todos desejamos."