Últimas indefectivações

quarta-feira, 13 de junho de 2018

A diáspora dourada

"Este campeonato de 2018 tem uma saborosa característica: a de entrarmos como campeões europeus

De quatro em quatro anos, ai temos a liturgia do Campeonato planetário. Desta vez na Rússia. Durante mais de um mês vai ser um fartar, futebolagem entre jogos a toda a hora, reportagens até dizer basta, conferências de imprensa por tudo e por nada, filmagens de excitantes treinos, entrevistas, retrospectivas e prognósticos omnipresentes, detalhes patetas sobre alimentação, penteados, superstições, tatuagens e outros adereços.
Graças ao milagroso controlo remoto, vou usar sem parcimónia o meu direito de premir um botãozinho com direito ao zapping televisivo. Porque, francamente, o que é que interessam o pequeno-almoço dos jogadores, o passeio pelas imediações do hotel, a escova de dentes usada ou a que horas se deitam os craques? Ou os artistas transformados em ídolos inacessíveis ou heróis a imitar e quase endeusados? Ou a política aproveitar-se do futebol (enquanto ganhamos) com o corrupio de altas entidades entre cá e lá?
Com o Campeonato do Mundo vem também ao de cima a verdadeira hierarquia do mundo do futebol: ricos, remediados, pobres e abaixo de limiar da pobreza. Destes últimos jamais rezará a história destes torneios. Quanto aos ricos, trata-se de uma minoria muito minoritária.
O primeiro Mundial de que me lembro foi o realizado na Suécia, em 1958. Não porque o tenha visto na televisão, que era coisa que ainda não existia, mas porque já lia a jovem A Bola e a revista Sport Ilustrado e me interessava pela geografia. Recordo-me da final ganha pelo Brasil aos anfitriões (primeiro título canarinho) por 5-2 e do despontar de um ainda quase desconhecido Edson Arantes de Nascimento transformado no genial Pelé aos 17 anos de idade. E da circunstância jamais repetida de na fase final (então com 16 equipas) estarem todas as selecções do Reino Unido (Inglaterra, País de Gales, Escócia e Irlanda do Norte).
A nível de transmissões directas só em 1966 e a preto e branco vi um Mundial: o de Inglaterra, onde vibrei com a nossa selecção e Eusébio, e onde chorei desalmadamente naquela meia-final ingrata contra os ingleses que haveriam de vencer a Alemanha com um golo que, ainda hoje, não sabemos se a bola entrou ou não na baliza.
Este campeonato de 2018 tem uma saborosa característica: a de entramos como campeões europeus. Não que isso dê alguma vantagem objectiva, mas porque somos olhados com o respeito que a nossa selecção merece. E se é certo que não somos os favoritos (já não éramos há dois anos no Europeu), sonhar com o título mundial não é de todo descabido porque esta competição é o Europeu + Brasil + Argentina (e pouco mais). Aliás, a fazer fé no ranking, Portugal (4.º lugar), a seguir à Alemanha (1.º), Brasil (2.º) e Bélgica (3.º) está bem posicionado e acima das sempre consideradas favoritas Argentina, França e Espanha.
Aqui manifesto o meu gosto e desejo: se não formos nós a ganhar, pois que ganhe o Brasil. Se não for o Brasil, que seja então a pátria do futebol-espectáculo que é a Inglaterra. Não estando Portugal e o Brasil, torço sempre pela Inglaterra. Seja a selecção, sejam clubes! E se não for a pátria de Shakespeare, então que seja um país africano que é para irritar a UEFA! Não deixo, porém, de ter alguma simpatia pela Argentina e Alemanha (já que a Itália não está). Ao contrário, há selecções que eu não quero que vençam: a França, em primeiro lugar e a Espanha, em segundo.
Tenho pena de não participarem na competição duas selecções que muito aprecio: a laranja Holanda e a squadra azzurra italiana, além do mais porque são os equipamentos mais bonitos (a par do da Inglaterra). Também o antigamente temido conjunto da Europa Central (República Checa, antes Checoslováquia, Hungria, Roménia e Bulgária) não está representado.
Arrisco dizer que vai haver alguns países que surpreenderão positivamente. Quais? Prognóstico quatro: Bélgica, Egipto, México e Sérvia. E, já agora, tenho o palpite de três selecções que serão a desilusão: desde logo a Rússia que joga muito pouco, o Uruguai que é uma equipa a precisar de renovação geracional e a Colômbia que, em geral, falha sempre nas grandes competições.
Quanto às arbitragens, fico aliviado com a ausência (merecida) de lusos apitos, mas desconfio dos latino-americanos.
Com base na elencagem em A Bola de todos os conjuntos de 23 atletas dos 32 países concorrentes, pus-me a fazer algumas contas. Por exemplo
- Há apenas uma selecção que é composta na sua totalidade por jogadores que jogam no país (a Inglaterra) e outra coisa não seria de esperar da mátria deste desporto;
- Depois, há só mais 5 selecções com mais jogadores a jogarem no país do que fora: Rússia (só 2 jogam fora do país), Arábia Saudita (3 expatriados), Espanha (6), Alemanha (8) e Coreia do Sul ela por era 12 que já jogam e 11 que jogam fora).
- Todas as outras 28 selecções vão pescar mais além-fronteiras do que internamente, assim evidenciando a magnitude da globalização planetária deste desporto. Começando pela França e Irão (com 9 em 23 jogadores e jogar no país), México, Egipto e Japão (8 em 23), Costa Rica e Tunísia (6 em 23).
- A seguir, vêm os residuais, nos quais se encontra Portugal com 5 resistentes (até ver...), Peru também com 5, Polónia com 4, Austrália, Dinamarca, Sérvia, Panamá, Colômbia e, imagine-se, Argentina e Brasil (assim se compreende que o Brasileirão nem sequer seja interrompido) com 3, Uruguai, Marrocos e Croácia com 2, Islândia, Nigéria e surpreendentemente a Suíça só com 1. Duas selecções estão nos antípodas da Inglaterra: são constituídas apenas por jogadores que jogam fora do país: o Senegal, e para surpresa minha, a Suécia!
- Em suma, apenas 207 em 736 convocados (ou seja, em 28%) os jogadores seleccionados jogam no seu próprio país! Os outros 529 (72%) são emigrantes, a maior parte dos quais constituindo uma diáspora de luxo.
- Por clubes representados, o campeoníssimo é o Al Hilal da Arábia Saudita, para onde agora vai Jorge Jesus, que quase constitui a selecção saudita com 17 jogadores. Seguem-se os clubes da tabela seguinte, que fala em concentração hegemónica do futebol, fornecendo 15% dos jogadores do Mundial!

Clubes Europeus Mais Representados no Mundial
Barcelona (Espanha) -            13
Real Madrid (Espanha -           12
Manchester City (Inglaterra) - 10
Bayern Munique (Alemanha) - 10
Chelsea (Inglaterra) -              10
Tottenham (Inglaterra) -          9
PSG (França) -                         8
Atlético de Madrid (Espanha) - 8
Juventus (Itália) -                    8
Mónaco (França) -                   7
Nápoles (Itália) -                     7

Certamente a Juventus e Nápoles teriam mais jogadores no Mundial se a Itália lá estivesse. A seguir temos o Sporting (com 6 jogadores, já não contando com Rui Patrício, mais ainda com os 3 jogadores que na segunda-feira rescindiram), bem como o egípcio Al Ahly. Já com 5 vem, entre outros, o Benfica, não contando com o peruano André Carrillo e o recém-contrado nigeriano Ebuehi. O FC Porto tem 4, já descontando Ricardo Pereira, entretanto transferido para Inglaterra. Há ainda um jogador do Vitória de Guimarães (Hurtado, pelo Peru) e do Marítimo (Amir Abedzadeh, pelo Irão). Já agora, se e quando jogarem atletas do Benfica, que o façam com categoria e subam a parada das transferências. Dinheirinho em caixa para o meu clube é sempre bem-vindo!

Contraluz
- Classe: Notáveis desempenhos no Europeu de Canoagem...
... dos benfiquistas Fernando Pimenta (medalha de ouro, prata e bronze, e já vão 16 ao todo!), Teresa Portela e Joana Vasconcelos, também de ouro. Grande expectativa para o Mundial, desta vez a realizar em Montemor-o-Velho. Sem o espalhafato político-mediático das horas e horas em redor do futebol...
- Exemplar: O jogo decisivo entre Benfica e Porto em basquetebol.
Bem disputado, com prolongamento, Benfica a ser apoiado pelos adeptos independentemente do resultado, dois treinadores de grande elegância desportiva, duas equipas que se souberam respeitar, e, simbolicamente o abraço sentido entre dois grandes atletas em fim de carreira, Carlos Andrade e Miguel Miranda. Assim fosse o ambiente e o contexto no futebol...
- Citação: «Ninguém é melhor que ninguém. No final vai todo o mundo para o mesmo lugar!»
... assim disse um anónimo brasileiro em vésperas do Mundial da Rússia."

Bagão Félix, in A Bola

Justa Causa

O parceiro de CR7

"O jogo com a Espanha está à porta e, para esse duelo inicial, Portugal terá de adaptar-se à força e às características do adversário. Face a uma equipa que vai reclamar a bola quase em exclusivo e obrigar a Selecção a cuidados defensivos suplementares; em que a distância entre a equipa e os seus avançados vai ser maior do que costuma ser, é importante saber quem acompanhará Cristiano Ronaldo na frente de ataque. André Silva cumpriu esse papel com eficácia na fase de qualificação mas Gonçalo Guedes, por versatilidade táctica e características globais, parece levar a melhor.
Numa equipa em que a distância entre a retaguarda e a frente será maior que costuma ser, cabe melhor um jogador como GG, de traços largos, que alimenta melhor o jogo longo e dá saída mais acutilante às transições ofensivas. É um jogador mais impreciso e menos criativo do que AS, por exemplo, mas que satisfaz a exigência de deslocamentos mais amplos e constantes. Apesar dos 2 golos à Argélia, o passado diz-nos que tem o instinto goleador danificado, embora as virtudes sejam mais relevantes do que os defeitos. GG é um puro-sangue entusiasmado e fresco, que acredita nas suas qualidades até à insolência; duplicou a largura de ombros e não perdeu nem velocidade nem agilidade; tem a vertigem nas pernas e um conceito próprio de distância. Não inventa, corre; não teatraliza, vai direito ao assunto; não dribla, acelera; não engana, derruba.
Nani era perfeito como parceiro de CR7, porque conjugava, como nenhum outro, daquele e deste tempo, as obrigações do futebol directo com o requinte técnico dos desequilíbrios fomentados em posse. Agora que, no final de uma época em que nada lhe correu bem, ficou fora da lista, é preciso reconhecer-lhe a excelência da contribuição para o título europeu e o talento sublime como delfim de CR7 durante quase uma década.
O Mundial da Rússia surge na vida de GG como a primeira montra da carreira. Aos 21 anos interpretou com perfeição todas as etapas vividas desde os tempos em que cumpria apenas o guião para não se distrair. Só mais tarde se emancipou das ordens do treinador, quando percebeu que a força, a explosão, perigo e a aceleração eram armas que ele próprio teria de manejar. Em Valência, numa equipa em que há muitos quilómetros para fazer do meio campo para a frente, comprou a Ducati com que gere o jogo sempre a alta velocidade. A máquina nunca o deixou ficar mal mas, quem inventou a história, recorda que também já o viu andar na motorizada das pizzas. Esperemos que não precise de fazê-lo na Rússia."

4 notas

No meio do Circo Lagarto, com algumas (poucas) notícias relacionados com o Mundial e a nossa selecção, o Benfica tem passado praticamente despercebido, algo que 'nunca' acontece em Portugal!!!

Foram confirmados os empréstimos do Talisca e do Raúl Jiménez. Estava à espera de vendas, no caso do Talisca parece que é um daqueles empréstimos com cláusula de compra obrigatória, mas com o Raúl não será assim...
Os valores são altos, com as 'contas' mais ou menos equilibradas no actual exercício, 'atrasamos' estas vendas para a próxima época, e no caso de ausência da Champions vamos precisar de dinheiro...!!!
Se o Talisca é um caso perdido de falta de cabeça... o Raúl é o contrário: profissional exemplar, atitude perfeita! Com as contratações do Castillo e do Ferreyra a saída do Raúl era óbvia (e do Seferovic...), faltava saber as condições...
Se do ponto vista pessoal é um dos meus 'imprescindíveis', no jogo jogado, falta qualquer coisa ao Raúl para ser um 'grande' jogador: como arma secreta, saindo do Benfica, foi dos melhores que vi (ao nível de um Nené...) - decisivo nos últimos títulos do Benfica -, mas para ponta-de-lança titular do Benfica, falta 'golo' ao mexicano! E seria muito complicado, psicologicamente, continuar a ser usado exclusivamente como 'arma secreta'... compreendo a ambição de tentar a sorte, no maior palco de todos, no futebol internacional!
Toda a sorte do mundo, nesta aventura Inglesa...

Na segunda-feira, foi aprovado em Assembleia Geral do Sport Lisboa e Benfica (Clube), o orçamento para a próxima época. O ponto mais significativo, será um ligeiro aumento do orçamento das modalidades... algo que se exigia.
Não estive presente, mas as informações que me chegaram, foram do meu agrado: todos falaram, houve várias intervenções críticas, mas tudo dentro do respeito... sem o alvoroço mal-criado de Assembleias anteriores!

Foi confirmada a saída do João Rodrigues para o Barcelona. Não posso mentir, o comportamento do João neste último ano deixou muito a desejar. Não esperava alguns comportamentos, por parte de um jogador símbolo do Benfica...

Foi anunciada a decisão da 1.ª instância no caso do nosso ex-andebolista António Areia. Como se esperava foi dada razão ao Benfica. A rescisão do contrato, foi ilegal... Tal como vários outros atletas de outras modalidades, principalmente no Atletismo!!!
Haverá recurso seguramente, mas não acredito numa alteração da medida...
O Benfica já anunciou que o dinheiro será utilizado na Fundação Benfica...
Estou curioso para saber se o Clube corrupto que patrocinou este 'desvio' (e fez o mesmo a alguns jogadores do ABC), vai pagar a 'conta' ou se será o jogador do seu bolso!!!

Todos querem ganhar

"Imagine-se como poderá ser este Campeonato do Mundo se for ganho pela Arábia Saudita. Imagine-se o que precisará de acontecer para que essa possibilidade se concretize. Esse cenário, apesar de inesperado, é exactamente aquele com que, neste preciso instante, milhares de adeptos sonham na Arábia Saudita. O mesmo acontece na Austrália, no Japão ou no Panamá em relação às suas selecções nacionais. Depois das respectivas fases de apuramento, quem chega à final tem direito a sonhar. Não importa se tiveram mais ou menos dificuldade em apurar-se, tudo isso foi esquecido. Antes do primeiro jogo, todos estão em pé de igualdade. Antes de serem disputados, todos os jogos estão empatados a zero.
Nas conferências de imprensa, os jogadores e treinadores esforçam-se por encontrar novas maneiras de dizer quase nada. É um extraordinário exercício de retórica falar sobre o que não se sabe, o que ninguém sabe realmente. Aproveitam para exprimir desejos que, com ligeiríssimas variações, são sempre o mesmo. Ainda estou por ouvir o jogador que, antes da partida, afirme que vai perder, que nem vale a pena jogar, que a bola não é redonda.
É claro que, na caderneta, há aqueles cromos que custam muito a sair e, também, aqueles que toda a gente tem para a troca, mas, em 32 centros de estágio da Rússia, todos têm direito a sonhar. Os eternos favoritos recebem essa atenção privilegiada devido ao seu passado, mas agora vai começar o presente e, durante 90 minutos mais descontos de tempo, só o presente vai importar. 
Matematicamente, o mais provável é que, nos 48 jogos que compõem a fase de grupos, haja múltiplos resultados improváveis, prognósticos que só podem realmente ser feitos no final do jogo. Por mais contas que se façam, por mais que se comparem estatísticas, as variáveis que compõem cada jogo fogem de cálculos inequívocos. No fim, será sempre fácil explicar o que aconteceu, mas ainda não chegámos aí, estamos muito longe daí, estamos na incerteza.
Este é o momento em que os comentadores falam sobretudo para aliviar a tensão, porque há emissões de TV e colunas de jornal que precisam de ser preenchidas. Mas ninguém sabe realmente o que vai acontecer, ninguém tem a certeza absoluta. O futebol também é esta expectativa, este pontapé que pode acertar em qualquer lado da bola, em jeito ou à bruta. O Campeonato do Mundo também é este silêncio cheio de ruído que antecede o apito do árbitro.
Saibamos desfrutar da beleza deste momento em que todos querem e todos podem ganhar."

A tragédia de um homem ridículo

"Este era o título de um filme de Bernardo Bertolucci que concorreu à Palma de Ouro de Cannes em 1982. Uma drama político que envolvia um empresário (interpretado por Ugo Tognazzi, no melhor papel da carreira) à beira da falência e alvo de chantagem. O título podia aplicar-se à tragédia do Sporting nas mãos de Bruno de Carvalho, um homem que desperdiçou por culpa própria e de forma infantil a possibilidade de ser um dos melhores presidentes da história do clube. Agora está no patamar de Jorge Gonçalves e Godinho Lopes mas a tendência é para bater no fundo, já que nestes  últimos dois meses BdC parece apostado em bater quase diariamente recordes de irresponsabilidade, teimosia e demagogia; além de ter revelado, no relacionamento com o activo mais valioso do clube - a equipa de futebol profissional - uma incompetência patética tanto no papel de líder-condutor-de-homens como no papel de gestor, cujo principal objectivo, recorde-se, é sempre a valorização dos activos. Há dois meses, na sequência do estúpido psicodrama após a derrota em Madrid, escrevi neste espaço que Bruno «tinha perdido o Sporting» (longe de imaginar a barbaridade que estava para acontecer em Alcochete).
Agora já nem sei o que dizer, mas confesso que não esperava dele (ao fim de cinco anos de bom trabalho em muitas áreas) tantos e consecutivos erros - tantos!, tantos!, tantos! - nem a insistência numa espiral suicida suicida que já sangrou brutalmente a tesouraria do Sporting e ameaça atrasar o clube alguns anos. «Gestão danosa» é o único termo que me ocorre quando penso no BdC destes últimos dois meses (por falar nisso - lembram-se que ele disse de Godinho Lopes e de anteriores direcções assim que tomou posse?...). A frase «não estamos preocupados por não ter equipa para a próxima época» ficará no anedotário negro do Sporting. Mas enfim. Não há mal que dure sempre. Os jogadores saem, os treinadores saem, os presidentes caem... e o clube continua. Os sportinguistas estão a sofrer mas serão eles a escolher o caminho.
(...)"

André Pipa, in A Bola

PS: Extraordinário, o Pipa ainda julgou que o Babalu seria o melhor presidente da história do Sporting!!! Os últimos dois meses estragarou tudo!!!
E depois esta gente ainda quer ser respeitada...!!!

Mundial de transição

"Portugal parte para este Mundial com muito optimismo, algo que se repete desde que me lembro de ver a Selecção nestas competições. O recente título europeu obriga-nos a ter ambição, mas uma pequena porção de realidade é um remédio que nunca fez mal a ninguém.
Portugal está longe dos principais favoritos à vitória no Mundial. Aliás, Portugal nem sequer é o favorito à vitória de um grupo bem mais complicado do que parece, até pela ordem dos jogos. 
Fernando Santos tem ao seu dispor jogadores de qualidade, mas sabe que a Selecção está numa fase de transição. Tem grandes craques acima dos 30 anos - Ronaldo, Quaresma e Pepe, por exemplo -, e muitos outros ainda com pouca rodagem internacional - Bernardo Silva, Gelson e Bruno Fernandes. Ao contrário do que acontecia noutras grandes competições, não há uma geração de grande talento entre os 25 e os 30 anos, por norma, o melhor período da carreira de um futebolista.
Por isso, é muito possível que Fernando Santos, cujo contrato vai até 2020 (um pormenor importante), tenha na cabeça um ciclo de quatro anos, entre os dois Europeus. Fazer boa figura no Mundial da Rússia é importante, mas não é decisivo para a permanência de Portugal no topo do Mundo. Dentro de dois anos, com uma geração muito promissora já dentro do zénite das suas carreiras, Portugal será um candidato ao Europeu.
Até lá, é aguardar por este Mundial e torcer para que aconteça o que aconteceu tantas vezes na história do futebol: a lógica levar um pontapé."

Bruno e a bóia que afinal era bigorna

"O dia de ontem continuou marcado pela crise do Sporting, na qual o Benfica fez uma incursão, pela voz de Luís Filipe Vieira, que deixou no ar a possibilidade de vir a contratar um dos jogadores que rescindiram contrato com os leões. Intenção firme do líder encarnado, ou mera acção de guerrilha psicológica? O tempo encarregar-se-á de clarificar tudo.
Acossado em várias frentes e entrincheirado em Alvalade, Bruno de Carvalho achou por bem colocar na praça pública uma série de mensagens que tinha trocado recentemente com jogadores e agentes. Fica por saber que razão terá levado o presidente do Sporting a tal iniciativa, uma vez que nada do que lhe foi respondido defende, nem mesmo remotamente, as teses de Bruno de Carvalho. Entenda-se este episódio como um acto de desespero de quem vê o poder a fugir-lhe, qual areia, por entre os dedos. Mas uma das mensagens de Bruno de Carvalho, endereçada a Gelson Martins é diferente das outras, porque revela um oportunismo despudorado, próprio de uma personalidade que ultrapassa todas as fronteiras da ética para atingir os fins. Nessa missiva, Bruno de Carvalho mostra-se preocupado com Rúben Semedo, detido em Espanha e grande amigo de Gelson Martins, e sugere que o Sporting pode acolher o jogador por empréstimo, na próxima época.
Gelson Martins não responde a Bruno de Carvalho e avançou com a rescisão. Mas este episódio é perfeitamente revelador do estado de náufrago em que o presidente do Sporting se encontra, disposto a agarrar-se a qualquer coisa que se assemelhe com uma bóia. Nem que seja uma bigorna."

José Manuel Delgado, in A Bola

Patrícios na CEE

"O Campeonato da Europa de 1984 marcou a primeira aparição portuguesa na competição do Velho Continente, repetindo a estreia de sonho de 1966: terceiro lugar, após eliminação aos pés dos anfitriões da prova.
Se no início dos anos 80 os portugueses trauteavam os GNR com "Portugal na CEE", a selecção portuguesa também se antecipou em dois anos à efectiva adesão à Comunidade Económica Europeia. Em 1984, entrava na Comunidade Europeia do Esférico, uma outra CEE a que a imprensa aludiu após vitória por 1-0 contra a URSS que garantiu o apuramento para França.
Um jogo em que a transmissão televisiva estava condicionada à venda de todos os bilhetes para o jogo da Luz. Resultado? Num jogo de luz, a TV apagou-se e perdeu-se e não houve directo na TV do jogo histórico que levaria Portugal direto ao Europeu! No final do encontro, Manuel Bento afirmava a Record: "os que acreditaram mantêm a sua opinião e os que não acreditavam mudaram as suas ideias". Felizes os que acreditam sem todas as evidências, diria Fernando Santos.
Em França e no reduto de Astérix, um grupo de ‘Patrícios’ foi ‘despachando’ adversários até às meias-finais, sob o comando de Jordão e de Fernando ‘Chalanix’, jogador que da bola fazia a poção e do futebol fazia magia no alto dos seus esguios… 163 centímetros!
No acesso à final, viu-se futebol em estado puro com direito a prolongamento e na percepção portuguesa… com 60 segundos a mais, pois um tal Platini iria sentenciar o encontro com o golo do 3-2 aos 119 minutos!
Na dor da derrota, Fernando Assis Pacheco referia que "os brasileiros costumam dizer que Deus é seu compatriota. Desconheço as relações existentes entre o Reino dos Céus e a organização do Europeu de Futebol", afirmando que não havia outra explicação para a derrota "privando-nos, infelizes, de uma alegria como nem no tempo em que D. Afonso Henriques despachava cinco exércitos árabes, todos de uma traulitada". Já o treinador Fernando Cabrita explicou a derrota com a falta de… fé! Valha agora um outro Fernando que partilha a fé com a Selecção em doses generosas. Acreditamos?!"

E não é que afinal aquele jogador do Zaire sabe o que é um livre?

"Em 1974, Mwepu Ilunga saiu da sua barreira para chutar uma bola que estava ser preparada para um livre. O momento que então foi visto como amadorismo é agora entendido como exemplo clássico de racismo

O jogo entre Brasil e Zaire (agora República Democrática do Congo), da última jornada da fase de grupos do Mundial 1974 na Alemanha, não parece ter muita história à primeira vista. Foi uma vitória fácil dos campeões em título frente a uma equipa que em duas partidas tinha 11 golos sofridos e zero marcados. Valeu mesmo um certo lance de bola parada para que este jogo não caia no esquecimento. Obra e graça de Mwepu Ilunga.
O defesa direito fazia parte da barreira que os seus colegas estavam a formar para se opôr a um livre a favor do Brasil quando, sem que nada o fizesse prever, decide sair da formação a correr para dar um chuto na bola. Perante a surpresa dos adversários e do próprio árbitro (que lhe deu um amarelo com cara de quem não sabia muito bem o que fazer), o lance visto sem contexto parece algo saído dos apanhados, de alguém que achava que estava a cumprir as regras. Mandar a bola para longe e pronto, livre resolvido. "Um momento bizarro de ignorância africana", como o descreveu então o comentador da BBC, John Motson.



Só que não é bem assim. Primeiro, porque qualquer análise além do estereótipo poderia deduzir que um jogador experiente que fazia parte da equipa vencedora da Taça das Nações Africanas, e com muitos encontros internacionais pelo caminho, saberia as mais elementares regras do jogo. E, segundo, porque se tratou de um ato calculado de protesto, além da caricatura fácil.
O Zaire vivia então sob a liderança de Mobutu Sese Seko, um dos ditadores mais megalómanos e sanguinários que o continente africano viu, o que não será dizer pouco. O seu anti-comunismo valeu-lhe o apoio financeiro dos EUA, que serviu sobretudo para enriquecer os bolsos e pagar projectos de vaidade. Um deles foi a seleção nacional de futebol que beneficiou do seu interesse e foi a primeira equipa da África subsariana a chegar a um Mundial. Os jogadores foram inclusivamente convidados para o palácio do presidente, que ofereceu a cada um Volkswagen e uma casa. Nada mais que um incentivo desinteressado para garantir uma boa performance.
Apesar de não ter seguido com a equipa, Mobutu mandou um gigante séquito para a Alemanha para garantir que tudo corria pelo melhor. No primeiro jogo, a derrota por 2-0 contra a Escócia não reflectiu na totalidade uma boa performance dos africanos, que deu alguma esperança para o jogo seguinte com a Jugoslávia. Só que os gastos sem controlo por parte do regime fizeram com que os jogadores descobrissem que não iam receber pela participação.
Seguiu-se uma ameaça de greve, com rumores de que a própria FIFA terá oferecido dinheiro para que houvesse jogo. Que aconteceu, com os atletas desgastados e desinteressados a saírem vergados a uma humilhante derrota por 9-0.



A equipa terá sido ameaçada por guardas armados para não perder por mais de quatro no jogo seguinte com o Brasil. Caso contrário, não podiam voltar ao seu país. É então que entra em cena Mwepu Ilunga. Ao invés do amadorismo com que o caso foi pintado, o seu sprint foi descrito pelo próprio ao mesmo tempo como um ato de protesto contra a falta de pagamento e como tentativa de desconcentrar os brasileiros. "A maioria dos brasileiros e do público achou que foi algo hilariante, amador. Apeteceu-me amaldiçoá-los a todos, não sabiam a pressão que viviamos."
"Só" perderam por três mas, no regresso, perderam todas as regalias, com a maior parte dos jogadores a viver na miséria o resto das suas vidas. De um estereótipo para a rebelião, a linha é muito fina."

Bruno de Carvalho rescinde com Portugal

"Partilhar localização e estado de espírito: encontro-me neste preciso momento no quarto n.º 9 do Platinvm Residence em Varsóvia a cismar um título para esta crónica: "Bruno de Carvalho rescinde com Portugal". É mais do que um título. É um desejo. Se por bambúrrio aparecer o génio da lâmpada mágica, estou à vossa disposição para gastar um dos meus desejos nesta causa. No entanto, não creio que seja um desejo consensual.
O condado de Alvalade divide-se segundo uma sondagem do ‘chavascal da net’. Esforço-me por entender a lógica daqueles que defendem a continuidade do homem, cujo nome prevejo que será difícil de pronunciar por todos os sportinguistas no futuro. Como Escobar na Colômbia também o é . Entrando na canoa de pensamento daqueles que o proclamam como o melhor presidente para o clube, pergunto-vos directamente: Ainda assim vale a pena ter alguém que cria tão mau ambiente? Dir-me-ão que o Sporting precisa de um homem forte e não de um Ambi Pur. Aceito o vosso humor. Mas deixem-me desabafar e dizer-vos que para mim o ar está irrespirável ( imaginem-me de máscara). Ondas de negatividade partem todos os dias de Alvalade para todos os portugueses do Mundo – com vagalhão na Selecção. Nelas vai Bruno de Carvalho a surfar. Sempre de pé. Até quando? Aguardo pelo canhão da Nazaré."

Falemos de coisas bem melhores

"O Campeonato do Mundo de futebol começa já amanhã, mas é difícil afastar a atenção mediática da crise do Sporting. Bem sei que o que vou escrever a seguir contraria a “tendência da estação”, mas a culpa do protagonismo negativo dado aos leões nos últimos tempos não é da “comunicação social”, uma entidade tão vaga quanto inexistente como um todo.
Podem ser questionadas ou criticadas as práticas de determinados órgãos de comunicação social, mas dificilmente podemos colocar no mesmo compartimento todos os sites de notícias, todos os jornais, todas as estações de rádio, todos os canais de televisão. Porque todos eles, com os vários defeitos e virtudes, são diferentes. Esse exercício, que até já foi feito por altos responsáveis do futebol português, é tão rigoroso como o de englobar, numa crítica conjunta e indiferenciada, todos os jogadores de futebol, todos os dirigentes, todos os treinadores, todos os médicos ou todos os professores.
A atenção mediática dada ao Sporting nos últimos tempos resulta da invulgaridade da situação de crise institucional profunda que abala uma das maiores instituições desportivas do país. Em menos de um mês aconteceu tudo isto: jogadores, equipa técnica e funcionários do futebol profissional do Sporting foram atacados por adeptos, Jorge Jesus foi embora, o clima de guerra estatutária entre o Conselho Directivo e a Mesa da Assembleia-Geral chegou à esfera judicial e uma parte importante do plantel encaminhou-se para a saída.
Bruno de Carvalho faz briefings quase diários e Jaime Marta Soares responde em vários fóruns, enquanto o carteiro vai deixando em Alvalade cartas de rescisão de vários dos principais jogadores do plantel leonino (incluindo os quatro internacionais que estão na Rússia, ao serviço da Selecção Nacional). Sem querer parecer demasiado corporativista, não me parece que isto possa deixar de ser notícia. Questione-se o estilo ou as abordagens, mas não o valor noticioso de uma crise que pode tornar-se numa espécie de “hara-kiri” do Sporting, tal qual o conhecemos.
Mas falemos de coisas bem melhores. De um Campeonato do Mundo que está à porta e que transporta todos os sonhos de milhões de adeptos, um pouco por todo o planeta.
O torneio russo poderá ser o último com Cristiano Ronaldo e Lionel Messi no topo da forma e com supremacia incontestada sobre todos os “terrestres”. Até por isso será também o palco fundamental para perceber quem poderá surgir como o sucessor dos dois melhores futebolistas das últimas décadas.
Neymar poderia ser a resposta lógica a essa dúvida, mas falta perceber em que condição física irá estar ao longo de uma competição desgastante e depois de uma lesão que o afastou dos relvados entre Fevereiro e Junho. Para já, o regresso trouxe dois golos (nos jogos de preparação frente à Croácia e à Áustria) e promessas de devolução de uma desconcertante improvisação à “canarinha”. Tudo isto enquadrado na liderança técnica de Tite, um treinador de qualidade, capaz de dar ao Brasil a organização táctica que tem faltado nas últimas grandes competições.
Outro nome incontornável é o de Mohamed Salah, um jogador que saltou as fronteiras do Egipto para se tornar num dos melhores jogadores da actualidade. Aos 26 anos, Salah tem quase tudo: instinto goleador, velocidade e técnica exuberante. Poderá é não ter tempo para recuperar de forma conveniente da lesão que o afastou da final da Liga dos Campeões, ainda antes do fim da primeira parte. E não tem, seguramente, uma equipa com qualidade de nível médio/alto, que lhe permita sonhar com uma intromissão na luta pelos lugares de destaque no torneio russo.
A estrela “natural” de França é Antoine Griezmann, mas o jogador com melhores condições para poder desafiar o reinado de Ronaldo e Messi nos próximos tempos é Kylian Mbappé, companheiro de equipa de Neymar no Paris Saint-Germain. Aos 19 anos já é uma figura maior da equipa nacional gaulesa e o talento precoce promete colocá-lo rapidamente no primeiro patamar mundial. E isso até pode acontecer já neste Campeonato do Mundo.
Por fim, no grupo dos 23 portugueses está um jogador capaz de subir alguns degraus na hierarquia do futebol. Aos 23 anos, Bernardo Silva consegue provocar desequilíbrios de forma inteligente, é dotado de uma técnica superlativa e de uma capacidade de definição muito acima da média. Nesta altura não estará ainda ao mesmo nível dos restantes "pretendentes ao trono", mas já é o segundo maior talento do futebol português e a Rússia poderá ser mais uma etapa num caminho de afirmação sempre ascendente. Depois de ter falhado o Europeu de França devido a lesão, Bernardo Silva tem qualidade suficiente para ser um dos trunfos fundamentais de Fernando Santos no Mundial."

Selecção dos milagres

"Estamos a dois dias da estreia de Portugal no Campeonato do Mundo na Rússia e é difícil fugir a um tema incontornável: o Sporting. A exemplo do que sucedeu durante quase toda a temporada, o clube leonino dominou o espaço mediático, umas vezes por boas razões, outras por más. Nos últimos tempos, decididamente pelas piores.
Chegámos também a um ponto em que os acontecimentos no Sporting não apenas afectam o clube, os seus dirigentes, treinadores e jogadores, mas têm repercussões nefastas noutros meios. Particularmente agora, na Selecção. A poucas horas de se estrear frente à Espanha, Fernando Santos e o seu staff é obrigado a gerir no seu seio um processo externo que provoca tremendo desgaste psicológico em quatro dos jogadores mais influentes da Selecção – dois indiscutíveis titulares e outros dois com direito a reclamar idêntico estatuto.
Por muito que se diga que os atletas conseguem alhear-se e ficar imunes ao momento tenso e à indefinição profissional que vivem, ninguém crê ser possível que o contexto não tenha impacto. O Sporting pode ter ‘desaparecido’ da Selecção, mas não se apagou da cabeça dos jogadores. Só um grupo unido e solidário – como se sabe que ele é – poderá ajudar a superar este enorme desafio."

O exemplo de liderança da Federação Espanhola

"A história – também a do desporto – está cheia de casos que permanecem nas nossas conversas e recordações durante muito tempo. O caso de Lopetegui, selecção espanhola e porque não, do Real Madrid, será certamente uma delas. Mas como quase todas as histórias, existem sempre vários ângulos de análise. E este é que a federação espanhola soube reagir de imediato, e na minha opinião, tornou uma situação caricata, ‘amadora’ e desconfortável, numa reacção assertiva, organizada e que demonstra muita confiança naquilo que é a sua estrutura.
Parece-me ser um exemplo extraordinário para se analisar aquilo que pode ser uma lição de liderança com base em valores e no exemplo de que a selecção está acima de tudo. Deixo aqui cinco pontos.
1 – O que se destaca é o momento. E a liderança também é muito aproveitar e saber ler o momento. E aqui existem três. Aquele em que é tornado público qual seria o novo treinador do Real Madrid. E naturalmente o clube considerou que os seus interesses estavam acima de qualquer outro clube ou selecção. E o outro, em que a entidade patronal de Lopetegui assume dispensá-lo dado que existem vários casos dentro deste mesmo caso: um treinador que a poucos dias do primeiro jogo do Mundial é apresentado como treinador de um dos clubes mais representados na convocatória; e também a incapacidade do ex-seleccionador em conseguir convencer o seu novo clube de esperar pela apresentação até ao final da participação espanhola no Mundial. E aqui surge o outro momento. Porque poderia demorar 10 a 30 dias.
2 – Estrutura. Vários estudos discutem qual a importância e peso do treinador e da estrutura no sucesso de uma equipa. A tomada de decisão demonstra claramente que a federação confia mais na estrutura da selecção do que centralizar a importância do resultado no seleccionador nacional.
3 – Treinador enquanto líder. Provavelmente falta-nos muita informação. Mas creio que a estrutura da federação colocou claramente em causa a liderança e o carisma do seleccionador, dado que este colocou os seus interesses pós-mundial (ou a não conseguiu que o Real Madrid se mantivesse em silêncio mais tempo) à frente daquilo que deve ser um ambiente altamente focado apenas nos três primeiros jogos da fase inicial do campeonato do mundo.
4 – Liderança pelo exemplo. O que a federação acima de tudo conseguiu foi dar um exemplo a quem está no seu seio que a seleção está de facto acima de tudo, pelo menos, enquanto os jogadores, estrutura e staff estiverem na competição. E numa fase social e de gestão em que somos diariamente confrontados com mentiras, incoerências e anarquias, este exemplo pode ter sido um passo muito mais à frente do que os passos atrás devido à saída de Lopetegui.
5 – Antifragilidade. Tudo isto pode ir de encontro ao fenómeno da antifragilidade, que nos indica que face a um acontecimento que tem tudo para tornar mais frágil a pessoa ou a organização onde isto acontece, esta organização pode conseguir impulsionar os poucos ângulos positivos e tornar este acontecimento numa oportunidade e sair ainda mais forte. Tal como aconteceu nas situações de Ronaldo ou Ricardinho nas finais. A selecção espanhola pode vir a sair deste acontecimento por cima e uma vitória frente a Portugal, em que os espanhóis já estavam como principais favoritos nesse jogo, será festejada como uma vitória da estrutura e não de qualquer treinador. Por outro lado, um resultado negativo será um desafio ainda maior para Espanha. Não porque essa derrota se deve a Lopetegui, mas porque poderá iniciar-se no seu seio uma desconfiança e enorme desorganização."

Voando sobre o ninho de cucos

"Vamos supor que, por absurdo, o presidente da direcção do Sporting conseguia permanecer no seu lugar, bem como na liderança da SAD, apesar das deserções, do descontentamento, das rescisões e da prosápia.
As perspectivas do clube, por via da alucinante sucessão de acontecimentos – não estou seguro que aquilo que hoje escrevo, tenha actualidade amanhã – são, no mínimo, preocupantes.
O Sporting vai encarar a nova época sem atletas, sem dinheiro e sem credibilidade. Tudo isto conjugado, mais um treinador novo que custa compreensivelmente a encontrar, são a receita, para provocar um impacto devastador na performance desportiva.
Não nos iludamos, com rescisões ou sem elas, a competitividade da equipa profissional de futebol está seriamente afectada e não é num par de meses que se recupera. É este, para já, o legado de Bruno de Carvalho.
De igual modo, face ao apertar de cinto que inexoravelmente se avizinha, tenho dúvidas que o avultado investimento, que esteve por detrás dos títulos em muitas modalidades, se possa manter, o que equivale a dizer que o Sporting dificilmente logrará o mesmo nível de vitórias.
Perante este cenário, a pergunta que se impõe, é esta: o que faz correr Bruno de Carvalho? Qual a razão deste cego apego ao poder, ao melhor estilo madurista? Para mais quando, o que se perfila no horizonte, é uma gestão de austeridade, diametralmente oposta à jactância grandiloquente que é marca de água desta direcção. Sem entrar no domínio da análise psíquica, que me não compete, a explicação estará no providencialismo messiânico que inspira toda a retórica brunista. Bruno de Carvalho, na alta ideia que faz de si próprio, confunde a sua pessoa com o clube e não concebe que este exista sem ele.
Mesmo que o Sporting fique a disputar o décimo quinto lugar com o Tondela ou o Moreirense (sem desprimor), tudo está bem se for sob a tutela clarividente de Bruno de Carvalho.
Todos os dias o Sporting encolhe no meio de expedientes de prestigiditação jurídica, profissões de fé no futuro – ganha as rescisões com a mesma certeza que ganhava à Doyen? – e exercícios de puro narcisismo, a que chama conferências de imprensa.
Não tenho dúvidas que um dia ou outro Bruno de Carvalho será compelido a sair do Sporting; resta saber o que, então, sobrará do clube. E, no meio disto tudo, o mais extraordinário, é que o presidente da direção, nunca, mas nunca, se tenha lembrado de pedir desculpa aos sportinguistas."

A tolerância, em democracia!

"A Democracia é um acto inteligência, exige coragem, determinação e espírito de sacrifício, por parte de todos os intervenientes.

Temos para nós que a “Liberdade de Autonomia” que decorre do liberalismo de Locke e Montesquieu, é essencial, a uma democracia, já que o Estado abdica de uma parte da sua “autoridade” e de certa “arbitrariedade”, para que o cidadão “possa respirar”, com alguma “Liberdade de Autonomia”, coisa que não existe nos regimes autoritários e, que associada á “Liberdade de Participação”, que radica no contratualismo de Jean Jaques Rousseau (Contrato Social), são dois pilares indispensáveis em Democracia.
Mas também não podemos ignorar que qualquer Governo, numa verdadeira democracia, tem por base a sua legitimidade na vitória nas “urnas”, em eleições livres e legítimas.
Quando um partido perde eleições, nas urnas, e mesmo assim vai governar, tem, em temos de lógica democrática eleitoral, menor legitimidade que outro governo que ganha eleições.
Mas o que pode acontecer é que fica um pouco “condicionado”, até em termos psicológicos, e também preocupado, pois terá, esforçadamente, que procurar “legitimar-se” através de uma boa governação. Ora, em Portugal, neste momento, falta ao actual “regime”, em nossa opinião, a Tolerância, própria e característica, daqueles que são “poderosos”, pela legitimidade adquirida pelo peso dos votos nas urnas.
Quando tal acontece, torna-se urgente que o poder político, o entenda, e que reflicta sobre a necessidade de se tornar mais Tolerante e compreensivo, com todos aqueles que querem participar na vida activa política, opinando, criticando e sugerindo soluções, por que, partem do princípio que só espíritos magnânimos e com o desejo de contribuir para o bem comum, o podem entender, admitir e realizar.
É que a Democracia é um acto inteligência, exige coragem, determinação e espírito de sacrifício, por parte de todos os intervenientes, mas todos são essenciais e indispensáveis ao projecto, que tem que ser o mesmo, com o mesmo objectivo: Preservar, Aperfeiçoar e Desenvolver a Democracia.
Só que, quando nos “juntamos” com pessoas que querem exactamente o contrário, torna-se difícil entender o “GPS” dessas pessoas , pois, possivelmente, por falta de “células de posicionamento”, ou de “células de grelha”, não sabem muito bem o caminho que estão a trilhar...
Julgamos que falta ao Governo, uma maior e mais profunda meditação sociológica, que poderá ser colmatada com a participação mais alargada de sociólogos, encartados e filiados na respectiva Associação, (com quotas pagas), para que se possa ultrapassar “uma certa arrogância do poder” como anotou William Fulbrigth que, diz-nos a experiência, com 40 anos de docência no Ensino Superior, é típica daqueles que são mais ignorantes. Os melhores, os mais inteligentes, por norma, são mais humildes, e por vezes, espantam-nos com o seu brilho e a sua simplicidade, e, como ensinou Margareth Mead, no “Conflito de Gerações”, com eles aprendemos muito já que estamos na Etapa Co-figurativa...
“A Democracia não pode ser só apregoada, tem que ser praticada”, como disse Max Cunha. Mas, no presente temos um grande e flagrante, “Conflito de Gerações”, com educações e princípios, muito diferentes entre aqueles que têm, hoje, mais de 80 anos, que cumpriram o Serviço Militar, com honra e orgulho, que respeitavam Pais, Professores, Autoridades, e a Lei, além dos sinais dos semáforos ..., têm que conviver com aqueles outros, entre os 50 e 60 anos, alguns que já não cumpriram o Serviço Militar, mas que ainda não batiam nos Pais, nos Professores e até na Polícia, e todos são obrigados a conviver com aqueles outros de 30 anos, acabados de entrar na maturidade, que fazem tudo ao contrário do que as outras gerações fizeram, que não respeitam nada nem ninguém, e nem se respeitam a eles próprios.
A tudo isto, ou por causa disto, temos que juntar uma corrupção, muito alargada a muitos sectores, talvez transversal todo a sociedade, com uma Juventude que não tem Emprego, Casa, Família e que é obrigada a Emigrar. Tudo aduzido, esperamos que se opere em Portugal um grande Milagre, que é a regeneração da Sociedade, através dos Princípios, da Moral (Bons Costumes) e da Austeridade de Carácter, como lhe chamou Fidelino de Figueiredo.
Para isso, não se esqueçam de praticar Desporto, porque a “limpeza” do Corpo ajuda à “limpeza” do Espírito, e, hoje, Portugal precisa muito desse saneamento espiritual, moral e físico.
Então mãos à obra."

Alvorada... do Guerra

Benfiquismo (DCCCLVII)

Sim...

105x68... Canoagem, Mundial, Assembleia & Circo !!!

Circus Lagartus - XXV episódio

A infância entre em campo

"Começo a celebrar na próxima quinta-feira doze anos. Isto porque levo a sério a hipótese aventada pela revista Líbero numa campanha publicitária: nós, os homens, amadurecemos mais devagar, só celebramos o nosso aniversário de quatro em quatro anos, aquando do Mundial.
Nasci em 1974, com um par de semanas não me foi possível acompanhar o que se passou na Alemanha. Na Argentina cumpri o meu primeiro aniversário e se guardo recordações desses dias é porque, mais tarde, vi, vezes sem conta, as imagens de jogos com jogadores de calções e fintas curtos, cabelos desgrenhados em relvados e espaços circundantes caóticos, com demasiada gente a circular por ali. Espanha é, para mim, o mito fundador, uma madalena proustiana, misto de amargura e felicidade incontida, à qual regresso quando tenho dúvidas sobre a minha devoção. Então, as esporádicas televisões a cores tinham tons mais quentes e foi nesse calor que descobri o futebol bossa nova do Telê Santana, destilado, passe arredondado e condenado a falhar, romanticamente. Formei-me com uma derrota. No México já caminhava e as memórias indeléveis de tardes passadas a rever jogos gravados em velhas cassetes Beta levaram-me, muito tempo depois, a regressar a esses dias, reescrevendo a história dos meus heróis de Saltillo, no "Deixem-nos Sonhar". Não falhei nenhum Mundial, mas os primeiros amores são mesmo os que ficam, e quando penso em todos as outras fases finais, é por relação a Espanha e México que as meço.
Se um Mundial é aquilo que nele vemos e o lugar de onde o vemos, alimenta também uma história paralela. Guardo uma memória vívida de muitos dos jogos de todos os Mundiais. Sei onde os vi, quem estava comigo e recordo o som mágico de dias quentes, com a televisão ligada a dar jogos infinitos (por favor, não permitam a fase final prevista para o inverno do Qatar). Verão, futebol, férias. Um tripé sentimental em que me formei, por cima do qual corre uma história paralela e incidental: as derrotas e os perdedores, mas, também, os equipamentos berrantes que nos fazem sonhar; o cabelo do Valderrama; o Maradona a perseguir meia-equipa belga; o cromo do Whiteside em 1982; o Falcão a celebrar de braços abertos; de novo o Maradona, perto do abismo, a gritar junto à câmera; o Baggio a falhar um penalty; pior, o Sócrates a falhar um penalty; melhor, derradeiro momento glorioso, o Zidane a despachar o Materazzi.
Destes doze anos que levo, sei que o Mundial não é sobre futebol. É sobre atitudes, formação de carácter e ideais. É a nossa infância que entra em campo."

Alvorada... do Júlio

O Sporting como briga de machos-alfa

"O Mundial começa depois de amanhã e não há maneira de nos livrarmos desta novela em torno do Sporting. Não, não é obsessão, não é para esconder os mails, ou vouchers, a operação Lex, o Apito Dourado ou a batalha de Alcácer-Quibir. O Sporting continua no topo da actualidade porque insiste em infligir danos a si mesmo, num confronto de machos-alfa que deixará a equipa de futebol bem pior do que estava quando Bruno de Carvalho chegou ao clube. E disso já não há forma de escapar. 
Que as posições estão extremadas percebe-se na constante fuga para a frente que vai sendo ensaiada de parte a parte. Dos jogadores, que se terão cansado de esperar que o clube entre na via da normalidade e fizeram o que todos os jogadores, de todos os clubes, fazem, quando não são preservados – trataram da sua vida e pediram a rescisão de contrato. Mas também do próprio Bruno de Carvalho que, ele sim, devia zelar pelos interesses do clube mas fez tudo ao contrário do que fariam outros presidentes: em vez de reconhecer aquilo que é uma evidência, que já o era mesmo antes de o ser (que os seus constantes ataques em público foram a motivação primeira do ataque selvagem da guarda pretoriana aos jogadores) e recuar um pouco numa tentativa de conciliação, avançou ainda mais para o confronto, desafiando os jogadores a apresentarem as cartas de rescisão. 
Se estivéssemos numa mesa de póquer, Bruno de Carvalho estaria a pagar para ver, o que levou os jogadores a pôr as cartas na mesa. E, como vai levar muito tempo a perceber-se se o que tinham era um straight flush, um póquer de ases ou um simples par de duques, o que me faz mais confusão são as razões pelas quais o presidente segue nesta escalada confrontacional que inibirá bastante a capacidade de formar uma equipa competitiva em 2018/19. Não quero crer que seja por simples egomania, fruto de uma crença profunda de que se tem sempre razão em todas as disputas pontuada pela incapacidade de ver e compreender os argumentos dos outros. Se for este o caso, Bruno de Carvalho acreditará que está a defender o Sporting de múltiplos ataques externos, desde os empresários de jogadores aos seus próprios accionistas e até à banca, todos concertados para o tirar do Sporting, utilizando vários meios (jogadores, jornalistas, todos uns idiotas manipuláveis…) para atingir esse fim.
Assim sendo, resta uma explicação de índole mais estratégica e que tem como motivação maior a autopreservação. A Bruno de Carvalho só interessará extremar posições se a ideia for puxar para o seu lado mais e mais gente, convencida de que do outro lado estão os maus, os que querem tomar conta do clube, os que não veem com bons olhos o trabalho que ele tem estado a fazer. Interessa-lhe puxar da carta do clubismo, ignorando que os jogadores são profissionais e não representam o sentir leonino – nem têm de sentir. Interessa-lhe transportar a discussão para o famigerado “um-clube-dirige-se-de-dentro-para-fora-e-não-de-fora-para-dentro”, como se os jogadores na verdade quisessem dirigir o clube: e tanto não querem que vão embora e foi o presidente que lhes abriu a porta à interferência quando disse que sai do clube se eles se comprometerem a voltar.
De acordo com esta tese, para Bruno de Carvalho, quanto pior, melhor. Isto é: o melhor que lhe poderia acontecer era que todos os desertores de repente assinassem pelo Benfica, chumbando no teste da pureza e dando indirectamente razão ao presidente. Aí, o líder leonino ficaria com um enorme problema em mãos – reconstruir, sem dinheiro, uma equipa a quem fugiram os seus melhores jogadores – mas com uma justificação perfeitamente aceitável para um eventual fracasso e, sobretudo, com uma carta estratégica poderosíssima para jogar em caso de eleições: afinal, ele sempre tinha razão em ser duro com os jogadores, que no meio disto tudo já andavam a pensar no Benfica. É que há quem acredite nisto."

Todo um Mundial num só continente

"As últimas décadas têm produzido significativas alterações nas diferentes áreas de actividade, provocando uma vertiginosa evolução neste nosso mundo. O futebol não lhe escapa! A tentativa de projectar o futuro com base num histórico, estatística ou relação causa-efeito traduz-se num exercício de grande improbabilidade.
Apesar de todas as vicissitudes e acontecimentos passados, o continente europeu soube ajustar-se e fortalecer as suas economias com base num projecto inovador. A massiva injecção financeira que daí adveio, na maioria dos clubes europeus, tornou os seus campeonatos nos mais exigentes e competitivos do Mundo, atraindo, qual ‘buraco negro’, a maioria dos praticantes de gabarito dos vários continentes, transformando as provas nacionais em competições de alta qualidade. No Mundial na Rússia, a Europa faz-se representar com 43% das selecções, 60% dos treinadores e 71% dos jogadores actuam nos seus clubes.
A alternância do sucesso nas fases finais dos Mundiais entre países europeus e sul-americanos, fruto do confronto entre os seus principais representantes, tenderia agora a desequilibrar-se. No entanto, a realidade actual acima invocada levará a que não sejam de menosprezar as razões que atraem ao espaço europeu jogadores das mais diversas regiões do planeta, pois proporcionam condições, ritmos e competitividade só aí possíveis, o que resulta para estes numa significativa evolução. Este facto, no ‘regresso’ às suas representações nacionais, pode vir a constituir-se como elemento equilibrador. Sem reduzir o peso das candidaturas de países como Alemanha, França ou Espanha, o facto de selecções como as do Brasil, Argentina, Nigéria e Senegal terem na sua composição mais de 75% de jogadores que vêm beneficiando desta condição, acentua esta probabilidade.
Portugal, embora ocupando um espaço periférico do território europeu, não escapa a este fenómeno. A nossa selecção vive, seguramente, o seu melhor ciclo. A consecutiva presença nas fases finais de Europeus e Mundiais dos últimos anos, por contraste com um passado de inconstância, tal confirma. 
O nosso país vê a sua competição interna caracterizada pela assimetria e mediocridade, com níveis organizacionais muito questionáveis e lideranças acomodadas ao presente estado das coisas. Os melhores jogadores emigram em direcção aos grandes emblemas europeus, potenciando aí as suas qualidades para níveis que internamente jamais alcançariam. Cristiano teria sido o mesmo jogador caso tivesse permanecido em Portugal?
Aproveitar o trabalho de outros que, inteligentemente, e nas suas mais diversas vertentes, elevam o futebol a patamares que, para nós, são ainda e só uma miragem, contribuiu para que Portugal se sagrasse campeão europeu. Reunimos, pois, condições para uma participação de referência na fase final que se avizinha. A excelência da qualidade individual dos elementos que compõem a actual Selecção, associada à liderança muito qualificada de Fernando Santos, tal deixa adivinhar."

Mundial da verdade e do escudo a Putin

"Se o futebol é a recuperação semanal da infância, um Campeonato do Mundo é como ganhar, de uma só vez, um carrinho de rolamentos, um pião, a colecção completa dos antigos Matchbox e, vá lá, a mais recente consola de jogos e ainda uma estada prolongada na Disneylândia. Depois de amanhã arranca a prazerosa overdose que, de quatro em quatro anos, nos corrompe durante um mês e que poderá ser consumida, de forma selvagem, até três vezes ao dia. Um descomedimento, dirão alguns, como se fosse possível estragar um delicioso sorvete só porque lhe colocamos em cima mais uma cobertura tripla de chocolate. Depois dos 868 jogos da qualificação e dos 2.454 golos em partidas em que participaram mais de 3 mil jogadores, está na hora de as 32 selecções sobreviventes (entre as 209 que iniciaram esta aventura em Março de 2015) nos provarem que o futebol é mesmo, como diria Valdano, uma desculpa para nos fazer felizes. Serão 736 protagonistas de 32 selecções, dos quais 186 estiveram no Brasil (2014), 61 na África do Sul (2010), 21 na Alemanha (2006) e apenas um na Coreia do Sul/Japão (2002). O herói resistente é Rafa Márquez, que, aos 39 anos, se prepara para igualar os cinco Mundiais em que participaram o também mexicano Antonio Carbajal (1050-1962), o alemão Lothar Matthaus (1982-1998) e o italiano Gianluigi Buffon (1998-2014). O capitão mexicano divide com o argentino Javier Mascherano o registo de maior número de jogos (16) entre os que estão na Rússia, à frente de Messi (15) e Ozil (14). Não haverá, desta vez, Miroslav Klose, o avançado alemão que possui o recorde de golos (16) – entre os que jogarão o Mundial, a vantagem pertence ao alemão Muller (10) e ao colombiano James Rodríguez (6), melhor marcador no Brasil.
Se o Mundial de 1934 foi o da bola sem costuras, o de 38 o da rádio em directo, o de 54 da primeira transmissão televisiva, o de 66 do satélite (permitindo que o sinal chegasse a todo o Mundo, avanço decisivo até na rápida propagação das imagens mais icónicas de Eusébio), o Mundial de 2018 será o da estreia do vídeo-árbitro, uma excelente oportunidade para confirmarmos se a FIFA está a querer andar demasiado depressa ou se é a UEFA e a sua Liga dos Campeões que andam a passo de caracol. Há, por isso, justificadas expectativas de que se consagre como o Mundial da verdade (ou, melhor dizendo, com maior verdade) e com menos jogo violento, porque o VAR acabará sempre por ter um efeito dissuasor sobre jogadores como Luis Suárez, que volta a jogar um Campeonato do Mundo, o seu primeiro após o triste episódio da mordidela na orelha de Chiellini. O central da Juventus verá a prova no sofá, porque a Itália é a grande ausente (a par da Holanda e de um Chile que venceu as duas últimas Copas América), vítima que foi de uma Suécia que acabou por ser a grande surpresa nos playoffs. O Mundial, já se sabe, é sempre uma excelente oportunidade para provar a democraticidade do futebol. E a prová-lo aí está a ausência de uma China com mais de 1.300 milhões de habitantes, enquanto os pouco mais de 300 mil habitantes islandeses vão colorir as bancadas e festejar o seu primeiro Mundial, feito também garantido pelo Panamá. Por outro lado, o Mundial da Rússia será a penúltima triste herança deixada por uma depravada e corrupta FIFA nos tempos de Blatter e seus muchachos. Enquanto não chega a hora de o Qatar colectar o que também se diz ter pago por debaixo da mesa, o futebol vai servir de escudo a Putin, mais do que a uma Rússia onde convivem mais de 160 etnias (sete delas contam com mais de um milhão de habitantes). Vai ser muito interessante observar a sua interacção com as 14 selecções europeias, cinco asiáticas, africanas e sul-americanas e três norte-americanas.
No papel, e olhando agora apenas para o lado desportivo, os favoritos são os de (quase) sempre: o ‘big four’ formado pelo Brasil (será mais de Tite ou de Neymar?), pela Espanha (com o tiki-taka agora de, imagine-se, Lopetegui), pela Argentina (onde Messi quer calar até Maradona…) e por uma Alemanha que vai tentar conseguir o bicampeonato, algo que não acontece desde o Chile/62, quando os brasileiros esgotaram a cachaça. Mas o seu favoritismo pode ser contrariado por contendores como a França, a Bélgica, a Inglaterra, o Uruguai, a Colômbia e Portugal, um campeão europeu que em Paris viu recompensado o seu lado estratégico e a sua organização e coesão defensiva, mais do que o futebol-champanhe. Mas a história dos Mundiais inventados por Jules Rimet acaba sempre por ser também muito feita pelos africanos, cujos desafiantes mais interessantes parecem ser, nesta edição, a Nigéria e o Senegal, enquanto a Tunísia irá tentar justificar o rótulo de ‘Itália de África’, no sentido mais perverso do ‘catenaccio’.

Os mais desconhecidos
Entre os 736 protagonistas do Mundial há apenas dois que jogam num clube da 3.ª Divisão: o panamiano Ismael Díaz e o nigeriano Uzoho representam o Deportivo Fabril, um clube filial do Deportivo da Corunha.

O mais velho e o mais novo
O guarda-redes El-Hadary, do Egipto, pode tornar-se no jogador mais velho de sempre num Mundial. Tem quase 45 anos e pode bater o recorde do também guarda-redes Mondragós (Colômbia), que no Mundial’2014 tinha 43 anos. O australiano Arzani, com 19 anos, será o mais novo na Rússia.

Os mais representados
O Manchester City é o clube mais representado no Mundial, com 16 jogadores. A Suécia e o Senegal não apresentam nenhum jogador das suas ligas, enquanto todos os inscritos pela Inglaterra jogam na Premier League. A argentina é a nacionalidade mais representada entre os seleccionadores: Cúper (Egito), Gareca (Peru), Pékerman (Colômbia) e, claro, Sampaoli (Argentina).

Os mais ausentes
Um Mundial também é sempre notícia pelos que ficam de fora. Uns porque as suas selecções falharam, como Bale (País de Gales), Robben (Holanda) ou Buffon (Itália); outros porque não foram suficientemente bons, como Götze (Alemanha) ou Morata (Espanha); outros ainda porque têm mau feitio, como Benzema (França); e outros finalmente porque tiveram azar, como o lesionado Dani Alves (Brasil)."

Mário Rui de marca

"Faltaram-me duas cadeiras para acabar uma licenciatura em Marketing & Publicidade. Talvez seja por isso mesmo que não compreenda a ausência do nosso segundo lateral-esquerdo nas grandes campanhas ligadas ao Mundial. O Rui Patrício limpou tudo, para Ronaldo foi mais um dia no escritório, já o Mário Rui, o mais perto que teve de entrar num anúncio foi quando patrocinou um post seu no Facebook . Get to the point. O que me parece é que existe alguma preguiça na associação das marcas aos jogadores, assistimos a uma constante repetição do racional: marca/melhor jogador. Proponho uma outra ideia. Por exemplo, um filme para uma seguradora automóvel em que nos identifiquemos com o mexilhão, que no fundo representa a maior parte de nós. Quer dizer alguns são percebes, mas não falemos agora de pés feios.
Vemos um plano de Mário Rui no carro a fazer marcha atrás. De repente, ouve-se um barulho. Percebemos que deu uma pancada forte. O plano abre e vê-se que está a chegar ao estágio da Selecção no seu chaço e bateu contra um Ferrari de outro jogador. Sentimos que o mexilhão já se meteu em despesas e que nada devemos temer porque a seguradora cuida dos mais frágeis, daqueles que batem nos mais ricos. Packshot: "Tu bates bem? Seguradora Robin dos Bosques - bate connosco. É mais seguro."
Pronto, de facto, é uma pena esta seguradora não existir. É aqui que se nota as duas cadeiras que me faltam. Mas é como dizem nas agências de publicidade quando as ideias são fraquitas "É um primeiro draft". Não têm de quê, TBWA, Partners e O Escritório. Qualquer coisa, estou no WhatsApp do Edson Athayde."

Fado e samba

"Um Campeonato do Mundo que não o era. Em 1972, Portugal participou no Torneio de Independência do Brasil, competição que pretendia celebrar os 150 anos do Grito do Ipiranga ,"Independência ou morte", lançado pelo príncipe D. Pedro nas margens daquele rio, em 1822. Também conhecida por Minicopa, a competição foi jogada em doze estádios e apresentou uma estrutura similar a um Mundial, com a diferença de ter… ainda mais equipas!
Nos primeiros sete jogos, a Selecção alcançou seis vitórias e um empate, chegando ao jogo derradeiro. Pelo caminho, estreou-se na Selecção Nacional o guarda-redes Félix Mourinho, o pai muito Special de um tal de José! Na final, disputada contra os anfitriões, os portugueses seriam derrotados nos últimos segundos, com um golo gritado pelo brasileiro D. Jairzinho.
A normalidade voltava a impor-se perante uma selecção que ganhara três de quatro Mundiais. Afinal, o Brasil não perdia um jogo há seis anos, ‘cortesia’ dos Magriços, alguns presentes na Minicopa como Eusébio, Jaime Graça, Peres e ainda José Augusto, no papel de seleccionador. Aquando da vitória lusitana sobre o Brasil em 1966, a imprensa nacional afirmaria que "desde o Grito do Ipiranga que não havia momento mais emocionante – e mais explosivo – na história das relações luso-brasileiras do que o grito de Liverpool". Agora a alusão política ressurgiria em registo inverso: "Vitória da antiga colónia contra a Metrópole".
No final, após receber o troféu, o capitão Gerson, em gesto de grande simbolismo, entregou-a a Eusébio, proferindo elogiosas palavras: "Portugal também merecia ficar com a Taça", não ficando surpreendido caso, em 1974, Portugal se impusesse "na liderança do futebol europeu". Enganou-se! No apuramento para o Mundial seguinte, Portugal apenas venceria os frágeis cipriotas.
Ficava para trás um torneio pontuado a fado e samba. E na linha das tão usuais vitórias morais afirmava-se: "Taça para lá, glória para cá!". Na Rússia talvez a selecção não se importe com um registo oposto – glória para lá, taça para cá! Por cá ninguém levará a mal!"

A lei de Murphy

"Hoje, não posso deixar de comentar as rescisões dos jogadores do Sporting e a situação que o clube vive. Lamento o que está a acontecer, em ano de mundial e com todo o impacto negativo para a imagem do futebol português e das nossas competições.
Reitero, contudo, o que disse a semana passada a propósito deste assunto, não foram os jogadores que causaram uma crise no Sporting, nem foram os jogadores que agiram de forma irresponsável, ou precipitada ao longo dos últimos meses.
Respeito muito a classe que represento e como tal agirei sempre em função das decisões livres e informadas que forem tomadas pelos atletas. Escolho o lado dos jogadores, desde a primeira hora, e manterei a postura que tive até aqui, de máxima reserva sobre o assunto, responsabilidade que o tema exige e apoio incondicional.
Na defesa dos jogadores, reitero que não estamos reféns das instituições, não temos que pedir licença, nem à Federação, nem à Liga, nem aos clubes. Era o que faltava! Sabemos qual a nossa função.
Se a lei de Murphy dita que "o que pode correr mal acabará por correr mal", espero que todos os agentes desportivos, e em particular os dirigentes, possam tirar ilações do que correu mal nesta época desportiva (foram demasiadas coisas) e do clima que se arrasta época após época.
Felizmente, nem tudo são coisas más! A selecção já está na Rússia e perspectiva-se uma grande campanha, os jogos realizados revelaram talento, muito talento. Acredito na nossa equipa e na capacidade de liderança de Fernando Santos e Cristiano Ronaldo.
O jogo com a Espanha é decisivo, apesar da amizade que me une ao actual presidente da Real Federação Espanhola de Futebol, o meu 'irmão' Luís Rubiales, vamos vencer este duelo ibérico. Por Portugal!"

Daqui eu não saio

"As cartas de rescisão enviadas, a dois dias do fim do prazo legal, por quatro dos jogadores mais importantes do Sporting na última época – William Carvalho, Bruno Fernandes, Gelson Martins e Bas Dost –, confirmaram que a ténue esperança que tinham de que Bruno de Carvalho se poderia demitir se desfez. Definitivamente.
Nos últimos dias, o presidente do Sporting não apenas não deu qualquer sinal de que admitiria a possibilidade de sair pelo próprio pé, como inclusivamente desafiou os jogadores a avançarem com o processo. As rescisões não constituem surpresa, assim como ninguém se espanta com o facto de BdC continuar inflexível na sua posição. Dali ele não sai. Há muito tempo que se percebeu que por sua iniciativa isso jamais acontecerá.
É verdade que ontem Bruno de Carvalho colocou condições para a capitulação, mas convenhamos que elas são inaceitáveis. Aos sócios, desafiou-os a ir a Alvalade para formalizar o pedido de uma AG (que já foi pedida) a uma comissão transitória que apenas o Conselho Directivo reconhece. Aos jogadores, exigiu que recuem na rescisão mas aceitem continuar no Sporting até no caso de ele, BdC, ser reeleito! É óbvio que BdC é uma das razões mais fortes para os jogadores não quererem voltar. Em qualquer circunstância."