"Foi numa noite fria de Fevereiro de 2011 que se deu aquele que ainda hoje é conhecido como “O Grande Incidente do Dragão” em solo conjugal. Num canto da sala, eu assistia atento e em silêncio ao FC Porto – SL Benfica, enquanto a minha donzela tentava nervosamente abstrair-se do jogo vendo televisão. A dada altura, Javi Garcia teve a brilhante ideia de mandar aquilo que o Sr. João, treinador de escolinhas e infantis em Almancil nos anos 90, chamava por “balrroaço” para dentro da baliza de Helton.
O poder avassalador da conquista tomou posse da minha alma e atirou cá para fora um gutural grito de “goolooo”, enquanto me lançava em deslize de joelhos pelo pavimento cerâmico em frente à esposa. Tomando novamente consciência e propriedade do meu corpo, olhei para o sofá, onde com a cara mais desiludida da História, a minha mais-que-tudo parecia dizer “eram 40 e tal rapazes naquela turma e eu escolhi este”. A medo disparei um trémulo “doizero” e lá consegui sacar um sorriso da face por que me apaixonei uns anos antes. Da sentença não me livrei: Benfica em casa, não.
Volvidos 8 anos, circunstâncias da vida, tais como o aumento da prole, ditaram que o visionamento caseiro se tornasse frequente, mas sem incidentes de maior. À base de monótonas goleadas, Bruno Lage parecia querer amansar o demónio do golo que habita a minha pessoa, uma espécie de alter-ego que custou a vida a inúmeros pares de calças, estropiou incontáveis cordas vocais, enervou uma imensidão de multidões de adeptos rivais e abriu o sobrolho de um colega de festejo (não vou explicar como os meus dentes encontraram a sobrancelha dele, porque nenhum de nós sabe). Não me querendo aqui armar em esquisito picuinhas e ressalvando uma enorme paixão pelo tédio dos “muda aos 5 acaba aos 10”, temos que ser realistas e assumir que chega-se a um momento em que a única reacção que o chuá da bola na rede obtém, é um resignado “olha mais um, quantos já são?”.
Acontece que o demónio do golo é animal feroz e mesmo engordado à base de resultados avultadamente desequilibrados, continua ágil, atento e voraz, não sendo necessários mais do que 80 e picos minutos de absoluto sofrimento, culminados com um certeiro cabeceamento suíço, para que ele se solte em toda a sua magnitude de Etna a rebentar de lava pelas costuras e dê azo ao “Grande Incidente do Haris”. Não teria ainda Cláudio Ramos cedido completamente à perfeição técnica do remate saído do topo dos Alpes e já uma força imensa me transportava involuntariamente aos gritos pela sala fora, correndo e saltando para gáudio do meu pacato e Benfiquista sogro, que ultimamente vai assistindo aos jogos a meu lado, com um misto de interesse pela partida e curiosidade humorística pelas minhas reacções aos acontecimentos.
A Gloriosa sensação de alívio só foi quebrada pelo estridentemente feminino “olha, obrigado” vindo do quarto. Irrompendo pela sala adentro, com o mais fofo e desperto príncipe de 1 ano ao colo e semblante carregado, aquela que me atura não perdeu tempo em discursos redondos “se o conseguiste acordar, também o consegues adormecer”… e consegui… depois do jogo acabar, porque no fundo, o que ele queria mesmo era ver o Glorioso."
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