sábado, 12 de agosto de 2017

É tudo uma questão de tamanho

"Três metros! Medem tudo os fautores da inovação. Vão acabar a medir ecrãs de televisão de régua em punho porque o golpe de vista já não chega. Nesta senda, "O Jogo" chamou para título de uma sua recente edição on-line o caso do "tamanho das bandeiras do Benfica" nos estádios de futebol. Depreende-se, pela melancolia da reportagem, que têm tamanho a mais. No entanto, maior força moralizadora teria esta luta se o alerta bandeiral do diário portuense apresentasse as medidas concretas dos panos. Até porque naquele célebre rendez-vous elegante no Hotel Altis entre os chefes-comunicadores do FC Porto e do Sporting ficou logo assente que, no que a bandeiras do Benfica dissesse respeito, pertencia ao pessoal do Porto medir os estandartes propriamente ditos enquanto ao pessoal de Alvalade caberia medir os respectivos paus.
Saúde-se, assim, quem leva a peito as incumbências. Neste caso preciso, saúde-se o diligente Saraiva que, ao contrário dos amigos negligentes que medem tamanhos a olho nu, deu-se ao trabalho – e, aliás, viu-se bem atrapalhado… – de desenrolar 300 centímetros de fita métrica até se poder apresentar em público denunciando a verdade sobre o tamanho dos paus das bandeiras do Benfica. Têm "hastes de três metros" disse conscientemente porque as mediu e, também, elegantemente porque as hastes sempre lhe soam melhor do que os paus como, aliás, soam melhor a toda a gente de bom senso.
Os dois primeiros jogos oficiais confirmaram as suspeitas: para Seferovic não há ângulos difíceis. Todos os ângulos são bons para o suíço atirar à baliza. Eis um facto que não se enquadra em nenhum ilícito penal.
Já para Ricardo Espírito Santo, o realizador da transmissão televisiva do jogo da Supertaça, houve um ângulo difícil. O Ricardo, o extraordinário profissional, o cavalheiro que docemente nos poupou ao abuso necrófilo na hora da morte de Féher, viu-se em fogueiras porque, inadvertidamente, deixou ir para o ar 3 segundos mais cedo do que estava previsto o plano de uma rapariga extraordinariamente bem equipada. E o que estaria destinado a ser o milionésimo plano geral de uma adepta vistosa num estádio de futebol apareceu em casa de toda a gente como um zoom ao peito da rapariga. Pediu desculpa o Ricardo, claro. Mas não chegou para pôr cobro à indignação, o que é de estranhar porque, por exemplo, os três jornais desportivos nacionais, que tanto se orgulham de ter mulheres nos seus quadros como prova absoluta da "igualdade" entre sexos, publicam a toda a hora nas suas edições on-line fotografias de raparigas quase 100% desequipadas e a que correspondem legendas como "É de ver e de chorar por mais" ou "Chame-lhe o que quiser mas depois não se queixe" ou "Esta tailandesa leva qualquer um para a cadeia". E, segundo parece, ninguém se ofende apesar de já estarmos na 2.ª década do século XXI.
Têm "hastes de três metros" disse conscientemente porque as mediu."

A mística no Benfica: amar perdidamente

"É difícil exprimir por palavras o que significa a mística benfiquista. Porque, como dizia Antoine de Saint-Exupéry, o essencial só se vê bem (e diz) com o coração. Mística é uma ligação quase uterina de coração e espírito. Tão inspiradora como gratificante. Tão anímica quanto vitamínica. Tão esplendorosa na vida como misteriosa na origem.
O Sport Lisboa e Benfica é uma trindade laica e ecuménica: Sport Lisboa e Benfica! E pluribus unum. O todo maior do que as partes e cada parte não se dissolvendo no todo. O seu espírito fundacional, a sua história e os seus sucessos conduziram a um Sport mantido em formatado britânico, mas tão português e eclético quanto saboroso, a uma Lisboa que rapidamente criou raízes em todo o Portugal e se espraia pelo mundo fora e a um Benfica que representa um símbolo sem igual na pátria lusa!
A mística do Benfica é a união perfeita entre um futuro contido num majestoso passado e um passado robustecido por um sempre exigente futuro. Um casamento entre esperança infinita e utopia acontecida.
Às vezes me pergunto porque sou do Benfica. Sou e chega. Sou seu amante até ao tutano da minha alma. E, como bom amante clubista, em regime de monogamia absoluta. Cega, mesmo. Porque nenhum outro me interessa para além do Benfica. Por isso, não admito que se diga que os outros clubes jogam com o Benfica. Nada de conúbios. Eles jogam é contra o meu Benfica.
Um desaire do meu Benfica perfura-me o ânimo, sem cuidar da anestesia. Uma vitória do meu Benfica alimenta-se mais do que o mais calórico dos alimentos e anima-me mais do que uma mão-cheia de antidesportivos. Na vitória, o amor ao clube é partilhado, mas na derrota a solidão dá-lhe uma expressão infinita e incondicional. Como acontece com a pessoa amada, o verdadeiro teste do afecto concretiza-se nos momentos difíceis.
O Benfica é, ao mesmo tempo, afecto e privilégio, coração e razão, vitamina e analgésico, fermento e adocicante, saudade e desafio, cumplicidade e aconhego.
O Benfica acontece em mim. E nesse acontecer funde-se a minha personalidade com o sentimento de pertença. De paixão. Onde tudo o resto do clube se apaga, excepto isso mesmo: a ideia de ser Benfica. Sem personagens, sem fronteiras, sem referências. Apenas a imanência de o Benfica estar dentro de mim e eu dentro do Benfica.
Tudo isto é para mim a mística do Benfica. Com a consciência de que não soube exprimir por palavras a sua totalidade. A outra face da Luz, quer dizer, do Benfica. Com papoilas saltitantes. Mas tudo isso me envaidece..."

Bagão Félix, in Mística

Juntos no sonho da realidade

"Não sei como é o paraíso, mas deve ser uma coisa parecida com isto: 36.º título de campeão nacional, tetracampeão, 26.ª Taça de Portugal, com triplete numa época.
Ganhámos 11 títulos desde que o segundo emblema mais titulado em Portugal ganhou o seu último troféu. Se não é esmagador, anda lá muito perto. Se não é o paraíso, anda lá muito perto. Podia ser melhor? Talvez, mas assim, de repente, não vejo como. Temo até que, na remota e improvável hipótese de um dia merecer chegar ao paraíso, o ache um lugar bem menos atractivo.
Este Benfica é um clube de sonho à dimensão dos nossos sonhos. Um clube onde o sonho e a realidade se confundem a uma velocidade impressionante. Um clube que, na força do seu ecletismo vencedor, na força de uma exigência permanente, na força de uma ambição ilimitada, já há muito deixou de ser apenas um clube. O Benfica vive-se e sente-se, já não se explica. Qualquer semântica perderia alcance e dimensão face à nossa imensa realidade.
Sim, estamos em festa, vamos festejar e merecemos festejar. Festejamos juntos, porque é juntos que tudo acontece no Benfica desde 1904. Obrigado a todos os heróis de um grupo comandado e coordenado por Rui Vitória, mas que tem milhões de heróis espalhados por todo o mundo. Adaptando a deliciosa expressão de um magnífico texto de António Bagão Félix - a não perder, nesta edição -, o futuro continuará a ser vivido nesta 'monogamia absoluta' com esta paixão chamada Benfica. E amanhã?
Amanhã só quero ser do Benfica."

Sílvio Cervan, in Mística

Centro de treino do vídeo-árbitro

"Os primeiros beneficiados do vídeo-árbitro são os árbitros de campo propriamente ditos

Realizou-se a 1ª jornada do campeonato de 2017/2018. Começou, assim, a era moderna do futebol português com a introdução de tecnologia no intuito, louvável, de reduzir ao mínimo os erros de avaliação dos juízes de campo. O vídeo-árbitro será a solução para o futuro mas, face aos eventos registados na primeira jornada da nossa Liga, pode considerar-se, com muita pena, que o vídeo-árbitro não é de todo a solução para o presente da indústria.
Apesar de haver "vídeo", uma maquinaria impessoal que debita imagens reais, continua a haver "árbitro" e esse factor humano – demasiadamente humano – parece que só lá está para atrapalhar. Sucedem-se, por exemplo, situações, inauditas, em que os jogadores têm de esperar até poderem festejar os golos que apontaram depois do visionamento e revisionamento do lance e da concomitante aprovação das autoridades sentadas.
Casos destes são péssimos para o natural fluir do espectáculo e só são óptimos para os espectadores e para os adeptos quando se dá o caso de a decisão final ser do seu agrado. E como o agrado de uns é o desagrado de outros, prevê-se igual número de dissabores da multidão entre esperas pouco naturais em função do historial do jogo.
O cidadão comum, que acha perfeitamente natural esperar dois ou três minutos pela chegada do metropolitano, já não achará aceitável esperar essa eternidade para poder festejar um golo dos seus ou para lançar as mãos à cabeça perante o desespero de um golo que teve de ser sancionado com "delay" pela equipa de vídeo-árbitros.
No entanto, mesmo com estes soluços práticos dos primeiros tempos, a chegada do vídeo-árbitro ao campeonato português encerra grandes, enormes vantagens para uns quantos agentes da indústria. Os primeiros beneficiados são os árbitros de campo propriamente ditos.
Se o vídeo-árbitro não é ainda a melhor coisa que aconteceu ao futebol, já é, certamente, a melhor coisa que aconteceu aos árbitros, que, de apito na boca, dirigem jogos na vida real. Pelos montantes de ódio que recaíram sobre os vídeo-árbitros na sequência de decisões tomadas nos jogos FC Porto-Estoril e Benfica-Sp. Braga não é difícil concluir que a tarefa e a vida dos árbitros-a-sério fica bem mais facilitada com a introdução desta era de modernidade.
Que ninguém se admire se lá mais para o Natal, quando a tabela ferver, uma qualquer claque – legalizada, obviamente – invadir furiosamente o centro de treinos dos vídeo-árbitros pedindo satisfações aos árbitros-sentados e deixando em paz o centro de treinos dos árbitros-em-pé. Mas que futuro extraordinário se adivinha para os nossos futebóis.

A receita: custo zero + custo zero + 22 milhões de euros
Faz hoje uma semana que o Benfica arrecadou o primeiro título oficial da temporada vencendo o Vitória de Guimarães por 3-1 na discussão da Supertaça com golos de Jonas, Seferovic e Jiménez.
A única novidade deste episódio, por comparação com os protagonistas dos êxitos nas últimas épocas, é o tal tento de Seferovic, um suíço recém-chegado a "custo zero" depois de esgotado o contrato que o prendia ao Eintracht de Frankfurt. Também Jonas chegou ao Benfica a "custo zero" em 2014 com amplos proveitos para todas as partes.
Com Seferovic à disposição parece ter-se reduzido o campo de Mitroglou, que, nas artes de se chegar às balizas, é dono de um reportório mais curto do que o do suíço. São estas as primeiras impressões deixadas em campo por Seferovic, que voltou a marcar ao Braga.
Mas quem resolveu mesmo a questão da Supertaça foi o mexicano Jiménez, o tradicional solucionador, que custou 22 milhões de euros e que, normalmente, se senta no banco. E qual é o problema?"

Menos prestigiado, mas mais um título

"Não pode, no entanto, a vitória clara e justa do Benfica esconder a necessidade de retocar lacunas ainda não preenchidas.

O Benfica venceu em Aveiro o primeiro título da temporada. Pode até ser o menos prestigiado de todos, mas é sempre mais um titulo, numa contabilidade que há poucos anos fazia capa de alguns jornais e agora quase desapareceu da calculadora desses mesmos quase jornalistas. Óptimo, o Benfica venceu, num estádio que foi palco repetido de conquistas, contra um Vitória que valorizou esta Supertaça.
Há a consciência nos responsáveis do Vitória de que quem disputa mais vezes os títulos também pode vencer mais vezes, e por isso em Guimarães estão a ser criadas boas raízes de êxito próximo. Não pode, no entanto, a vitória clara e justa do Benfica esconder a necessidade de retocar lacunas ainda não preenchidas. São poucas, mas visíveis aos olhos de todos quantos querem ver o Benfica a seguir este trilho de triunfos. De Fejsa para a frente temos um dos plantéis com mais talento e soluções de que me lembro. Seferovic foi excelente compra e há ainda lesões que não deixam ver toda a matéria prima. Rui Vitória e benfiquistas merecem.
No arranque da Liga, contra o SC Braga, vimos um Benfica ainda mais determinado, com inegável vontade e qualidade. Os quatro primeiros jogos são tremendos, o sorteio obriga-nos a não poder ter outra atitude que não a da última quarta-feira. Não podemos esperar que nada aconteça, teremos de fazer acontecer, para não se ficar à mercê dos alçapões que sabemos existirem.
Gostei do jogo frente ao Braga. Cervi e Salvio a defender com gigante generosidade, Jonas longe do fulgor físico espalhava magia sempre que tocava na bola, e Fejsa equivale a dois jogadores, com disponibilidade física é um dos melhores do mundo naquela posição. A necessidade de um lateral-direito não pode apagar o elogio ao jogador do Benfica que não deve merecer uma crítica. A André Almeida pode-se tudo, pede-se de tudo, e ele faz sempre tudo o que se lhe pede. Na direita ou na esquerda, a trinco ou extremo, a defender ou atacar, nunca se lhe pede a mesma coisa, mas ele faz-nos sempre a vontade. Um exemplo de um dos mais fantásticos profissionais do Benfica, um tetra campeão e um tetra profissional.
Ganhámos 1/34 avos do problema, temos segunda-feira nova porção de dificuldade. Chaves será mais difícil do que Vitória e Braga porque joga em casa e tem equipa mais entrosada e muito bem orientada."

Sílvio Cervan, in A Bola

Almeidinhos

Renovação merecida e extremamente útil para o Benfica, do André Almeida.
Grande atitude em campo, um dos 'dinamizadores' do balneário... Actualmente, já não é opção para o meio-campo, mas faz as duas Laterais com eficácia... E este ano, 'arrisca-se' a ser o nosso titular na Direita!!!
Falou-se em interesse de Clubes Alemães e Ingleses, não acredito que os valores que apareceram nos jornais fossem verdadeiros, mas provavelmente o André tinha propostas de ordenado superiores... mas optou por jogar num Clube que luta por títulos... em vez de lutar pela 'permanência'!!!

Benfica

"São comuns, entre nós, os panegíricos à língua portuguesa por ser a única que contém uma palavra que descreve um sentimento de perda ou ausência de algo ou alguém. Refiro-me à saudade, como qualquer lusófono saberá.
Até há uns anos, achei sempre que 'saudade' tornava o nosso idioma singular, porém a minha namorada, que é holandesa, apesar de apreciar a 'saudade', contrariava-me porque a sua língua materna contém também uma palavra materna sem tradução literal em qualquer outra ('gezellig', um determinado estado de conforto físico e psicológico). Por um acaso feliz, num qualquer aeroporto, encontrámos um livro dedicado a palavras que existem somente numa língua.
Pois bem, o cenário é aterrador para os laudatórios do português. Percorrer aquele livro dá a sensação de que todas as línguas têm palavras que só nelas existem - há uma que descreve o tempo que se demora a comer uma banana - e, por isso, dou por mim, de vez em quando, à procura de outras para além da saudade.
'Benfica' é uma boa candidata. É o nome do nosso clube e de uma freguesia, mas, se aplicada na adjectivação, consoante o sujeito, poderá adquirir significados múltiplos. Por exemplo, um benfiquista, ao afirmar que tem passado uma manhã Benfica, só poderá estar a referir-se a feitos a sensações extraordinárias. Pelo contrário, a mesma frase dita por um anti-benfiquista significará que está a ser acometido por desgraças que lhe provocam simultaneamente tristeza, frustração, autocomiseração e inveja.
E proponho também outra que defina antigos árbitros de futebol que, impedidos pela idade de destilarem ódio ao Benfica num relvado, o façam agora em páginas de jornais e na televisão: os videoparvos."

João Tomaz, in O Benfica