"No próximo Verão quando Proença foi outra vez recebido pelo Benfica para novas lições ao plantel, não se esqueçam de lhe dizer que a culpa foi do Bertino. Para desanuviar o ambiente.
ADIVINHAVA-SE fatal o jogo com o Belenenses no culminar de uma semana em que, aparentemente, o único tema da agenda encarnada foi o caso Jesus, o parecer dos especialistas sobre o caso Jesus, o termo de identidade e de residência de Jesus, a solidariedade do presidente com Jesus.
O Benfica embarcou alegremente nisto ao ponto de o jogo com o Belenenses ser transformado num não-acontecimento.
Visto da semana passada, o jogo com o Belenenses destinava-se, modestamente, a assinalar a singular efeméride: uma semana já se tinha passado sobre o caso Jesus.
Não terá sido, porventura, por esta razão que o Benfica empatou com um Belenenses muito defensivo, naturalmente, e que jogou os últimos minutos na Luz exactamente como o Benfica deveria ter jogado os últimos minutos no Dragão, na antepenúltima jornada do último campeonato.
Veja-se, por exemplo, como caso Mitchel Van der Gaag, bem mais ponderoso no seu grau de gravidade, em nada afectou o rendimento da equipa do Restelo, antes pelo contrário. Foi um Belenenses trabalhador, muito unido e intensamente focado no jogo que se apresentou em campo e de lá saiu todo sorridente.
Deve-o agradecer ao árbitro? Também, é verdade que sim. Mas tem sido sina dos adversários do Benfica, neste arranque do campeonato, terem qualquer coisinha para agradecer aos árbitros. Marítimo, Sporting e Belenenses que o digam.
O golo com que o Belenenses empatou na Luz é irregular à vista desarmada tal como Pedro Proença, assim noticiaram os jornais, foi explicar aos jogadores do Benfica, reunidos no Seixal, ainda era Verão, para o ouvirem perorar sobre a nova interpretação da lei do fora-de-jogo.
Menos de dois meses depois lá está, outra vez, Pedro Proença nas bocas do mundo graças ao melhor penalty dos últimos 30 anos, penalty que lhe coube assinalar no passado fim-de-semana.
No próximo Verão, quando Pedro Proença for outra vez recebido nas instalações do Benfica para novas lições ao plantel, não se esqueçam de lhe dizer que a culpa foi do Bertino. Para desanuviar o ambiente.
ESTA coisa das redes sociais dá cabo da reputação de muita gente. A do jovem presidente da AF Lisboa, por exemplo, está pelas ruas da amargura. E, a propósito, seguiu já para a UEFA uma queixa do FC Porto porque Nuno Lobo chamou macaco a Hulk na sua página do Facebook no tempo em que Hulk jogava com a camisola do FC Porto.
Configura racismo? Configura, sim senhor.
Será esta a prova de carácter mais do que suficiente para expor como grande mentiroso o presidente da AF Lisboa que veio acusar oficiais do FC Porto de o terem molestado no camarote onde todos assistiam ao jogo no Estoril? Não, não senhor.
Porquê? Porque uma coisa e a outra são, temos pena, coisas diferentes.
No entanto, ainda que não o mereça, Nuno Lobo pode encontrar uma sonora atenuante para o delito de que é acusado nas palavras avisadas do director de comunicação do FC Porto quando, em Fevereiro de 2012, veio a público refutar as acusações de Balotelli. Lembram-se?
O italiano, então ao serviço do Manchester City, queixou-se ter sido tratado como um macaco pelo público do Dragão e recebeu uma resposta que o deixou tonto: os gritos de macaco eram por Hulk porque os cânticos pelo jogador – Hulk! Hulk! Hulk! – «podem ser facilmente confundidos com cânticos racistas».
Perante isto, julgo que Nuno Lobo nada tem a recear. A não ser a si próprio.
AINDA as redes sociais como destruidoras de reputações. Depois de perder um jogo do campeonato de andebol para o FC Porto, veio o Benfica lamentar o fanatismo do árbitro do dito encontro, um adepto assumido do FC Porto que, tal como Nuno Lobo, se espraia no Facebook em considerações altamente desprestigiantes para os rivais.
Também aqui há uma diferença. Nuno Lobo não é árbitro. Não decide jogos com o seu julgamento. E mesmo que à paisana, sentadinho, sem fazer nada, lhe caia em cima um Adelino Caldeira, ou mesmo meio Adelino Caldeira, nunca terá por perto um Proença para o punir admiravelmente com um penalty.
É este o mundo em que vivemos, o das redes sociais. O que, fracamente, espanta neste episódio é o facto de o Benfica, conhecendo, como se presume, o perfil do árbitro e as suas pérolas, tenha-se permitido entrar em campo para disputar um jogo de andebol cujo resultado, à partida, se adivinhava fatal.
MAS também há gente com graça nas redes sociais. A propósito da recente cerimónia oficial de inauguração do museu do FC Porto que, apesar de inaugurado, só abre portas ao público a 26 de Outubro, leio num blogue benfiquista, Benfiliado, o seguinte comentário: «Podem abrir as portas ao público e aproveitam logo para comemorar o 13.º aniversário do museu.» Tem a sua graça, que não ofende.
O Atlético de Madrid é a equipa do momento do futebol europeu. Conseguiu nos últimos dias resultados fantásticos contra dois gigantes do futebol europeu, o Real Madrid e o FC Porto, indo-lhes ganhar nas suas próprias casas. É obra. Pode-se discutir se o Real Madrid, bem vistas as coisas, não será mais gigante do que o FC Porto mas isso, para o caso, pouco conta.
A verdade é que o Atlético de Madrid, a jogar e a ganhar assim, sem respeito nenhum pelos emblemas superiores, se vem transformando numa bandeira para todos os que gostam de futebol mas a quem ofende as apregoadas obscenidades financeiras dos valores dos contratos de Messi & Neymar, em Nou Camp, e de Ronaldo & Bale, em Chamartín.
Por tudo isto, muito gostariam os românticos do futebol de ver o Atlético de Madrid ganhar o campeonato espanhol. Incluo-me nesse grupo, com um patriótico pedido de desculpa a Cristiano Ronaldo, a Pepe e a Coentrão, os portugueses do Real. Mas há coisas que são mais fortes, tal como o romantismo.
O Atlético de Madrid foi ganhar a casa do Real Madrid por 1-0, no sábado, e foi ganhar a casa do FC Porto, por 2-1, na terça-feira. O Real Madrid, mesmo sendo mais gigante do que o FC Porto, de vez em quando ainda perde uns joguitos em casa. No fundo, trata-se de futebol, não é? Quanto ao FC Porto é raríssimo perder no seu campo. Mesmo empatar é uma raridade. Este Atlético de Madrid é poderoso.
DECO foi agora suspenso por um ano pelo Supremo Tribunal de Justiça Desportiva brasileiro o que pouca ou nenhuma mossa lhe faz porque o mesmo Deco anunciou a sua retirada em Agosto. Ou seja, auto-suspendeu-se para sempre antecipando-se, advertida ou inadvertidamente, à sentença que se adivinhava fatal.
Triste epílogo de uma altíssima carreira. Convém que se diga que Deco foi um jogador extraordinário e que só assim poderá ser recordado. Esta mancha sobre o seu nome, para mais num tópico tão sensível como o do doping, não é de todo a cereja no topo do bolo do grande fantasista luso-brasileiro.
A perfeição não existe, é a grande verdade. Umas belas semanas depois da decisão do Supremo Tribunal da Justiça Desportiva brasileiro, Deco falou para a sua enorme legião de fãs em Portugal e confessou se muito grato ao Benfica por o ter deixado ir jogar para o Porto. Foi o que teve de mais urgente para dizer assim que se lhe ofereceu o ensejo de, desde o país-irmão, comunicar directamente com o também país-irmão.
Duas vezes país-irmão, pois com certeza! É assim com Deco, luso-brasileiro com carimbos e tudo, e, por isso mesmo, tudo para ele são irmãos dos dois lados do oceano Atlântico.
Deco é sagaz. O facto de se ter reformado antes que o reformassem é já prova quase bastante disso. Mas genial, genial mesmo, em Deco é que, mesmo longe do primeiro país-irmão, continua a saber que lhe basta pronunciar a palavra Benfica para que desaparecesse da agenda o tema absurdo da hidrocloratiazida e do tamoxifeno que lhe foram detectados no organismo depois do jogo do campeonato estadual carioca contra o Boavista de Saquarema.
A justiça desportiva brasileira é muito diferente da nossa. Vejam só que o Boavista de Saquarema nem sequer desceu de divisão.
PS – Ontem, à meia hora de jogo no Parque dos Príncipes, com 3-0 a favor do PSG, lembrei-me de Vigo. Felizmente que a coisa ficou por ali. O Benfica nem conseguiria, no entanto, aproximar-se da hipótese do chamado golo de honra. Mas isso, perante o que se viu, era pedir demais. Honra."
Leonor Pinhão, in A Bola