terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Amália Pró-Estádio

"Benfiquistas ou não, foram vários os artistas que fizeram questão de colaborar com a causa 'encarnada'.

Ao longo do ano de 1953, a Comissão Central do Novo Parque de Jogos realizou diversas acções de angariação de verbas para o Fundo de Construção do Estádio do Sport Lisboa e Benfica. Foi dessa comissão que partiram iniciativas de grande alcance como o Pavilhão da Feira Popular, o Sorteio Monumental ou os Saraus Culturais. Estes últimos foram exemplo ímpar da mobilização de grandes figuras do panorama artístico nacional em prol da causa benfiquista. Nem 'a voz de Portugal' faltou.
Foram vários os artistas da música, do teatro e da rádio que, benfiquistas ou não, fizeram questão de colocar a sua arte à disposição do Benfica, colaborando nas Campanhas Pró-Estádio. Amália Rodrigues (1920-1999) não foi excepção. Numa pausa entre digressões, 'a mais internacional de todas as artistas portuguesas' fez questão de ceder a voz 'que as mais exigentes plateias das principais capitais do mundo têm aplaudido' à causa 'encarnada'. Mas engane-se quem pensa que o coração de Amália era rubro. A fadista era 'belenense desde garota', contou-o a própria ao jornal O Benfica, acrescentando que 'os irmãos eram Carcavelinhos e ela, para os arreliar, fez-se Belenenses, dando alimento à velha rivalidade Alcântara - Belém'.
O espectáculo teve lugar no dia 14 de Agosto de 1953, precisamente dois meses depois de, 'à enxadada', se ter dado início às obras do Estádio. 'O cenário (...) foi o vasto Teatro Politeama, totalmente repleto de um público ávido de aplaudir', onde desfilaram 'cinco «estrelas» do firmamento artístico da nossa terra, acompanhadas por duas grandes atracções internacionais com o talento e o virtuosismo do grande maestro Carlos Dias ao piano'. E a apresentação esteve a cargo 'de Artur Agostinho, um locutor que não é do Benfica mas que ao Benfica sente prazer em dar a sua colaboração'.
Depois das actuações de Nina Monteiro, Gina Esteves, João Azevedo, Juanita Cuenca, Alzirinha Camargo e Milu, foi a vez da 'grande Amália Rodrigues' subir ao palco. 'Recebida pela assistência de pé, foi obrigada a cantar nove números!'. Amália cantou 'com extraordinária vibração, inteiramente «à Benfica»'. O público 'escutou deliciado e aplaudiu com enlevo'.
O Museu Benfica - Cosme Damião é muito mais do que o museu de um clube, por isso nele também está representada Amália, assim como outras figuras incontornáveis da cultura portuguesa."

Mafalda Esturrenho, in O Benfica

Vieira, o 'penta' e Vitória

"Esperam os adeptos do Benfica que todas as energias se concentrem no campeonato, encarando-se a segunda volta com a competência, energia e garra que faltaram na primeira

«Mais do que nunca continuamos a trabalhar para fazer mais história com a conquista do penta» - foi esta a declaração mais galvanizante de Luís Filipe Vieira na cerimónia onde foram revelados os nomeados para os Galardões Cosme Damião.
Num período em que o Benfica tem sido associado por notícias que beliscam o seu bom nome, a uma cadência estranhamente metódica e acintosa, Vieira aproveitou a ocasião para reforçar a confiança, sem alteração de rumo, no sentido de um emblema «cada vez mais forte», ao mesmo tempo que não revelou estranheza pela desprazível situação, dado estar convencido, como sublinhou, de que «quanto mais fortes, mais pedras no caminho» iriam colocar-lhes e todas as distracções seriam criadas para que se perdesse o «foco essencial»: a conquista do penta, o fito por ele definido para a presente época ainda durante os festejos no Marquês do 36.º campeonato.
A ambição presidencial é elogiável. Aplaudida pelos jogadores, que devem ter gostado de que ouviram, mas não se sabe se correspondida pelo treinador, em resultado do que se passou e do que continua a passar-se em termos de gestão de um plantel, o qual, apesar de não ser nenhuma maravilha, reúne valor para se lhe exigir muito mais do que aquilo que ofereceu até ao dia de hoje, mesmo com os azares que batem à porta.
Afastado o Benfica de todas as outras competições, esperem os adeptos que todas as energias se concentrem no campeonato, encarando-se a segunda volta com a competência, energia e garra que faltaram na primeira. No entanto, o empate com o Belenenses, a sombria primeira parte com o Rio Ave e o deixar andar até permitir o empate com o Portimonense são os exemplos mais recentes de uma casa que, manifestamente, continua por arrumar,

A justiça do 'alegadamente' e 'supostamente'
Tudo quanto respeita ao Benfica interessa aos meios de comunicação social, porque interessa às pessoas: vende mais jornais e aumenta audiências nas rádios e televisões. Que me lembre, desde que abracei a profissão de jornalista, sempre foi assim, sinal de grandeza do emblema da águia, não direi maior do que todos os outros, mas, seguramente, maior do que qualquer um dos outros.
É normal o Benfica ser o tema dominante e quase diário em jornais, rádios e televisões. Ou deveria ser norma, não se desse o caso de haver aceitáveis razões para desconfiar de interesses alheios na proliferação noticiosa de alguma forma enganchada na investigação que lhe está associada por suspeita de más práticas na Luz.
Se a justiça não intervém é criticada, mas se resolve intervir deixa de ter sossego por causa do frenesim de canais que se consideram donos da boa informação e que fazem do alegadamente e do supostamente uma espécie de justiça alternativa que condena e absolve no tribunal da opinião pública e, se lhe derem essa liberdade, interfere, até, no curso das diligências judiciais.
O último alvoroço foi espoletado há pouco mais de uma semana, através dos circuitos habituais, e mereceu assinalável repercussão em jornal de referência no sábado seguinte (dia 10): a PJ anda à caça de um espião do Benfica no Campus da Justiça, que terá acedido a peças processuais no caso dos e-mails e as terá transmitido a uma ou mais sociedades de advogados com as quais «o clube em apreço manterá uma relação contratual atinente à prestação de serviços jurídicos».
Muito bem, mas convém destacar que esta descoberta resulta de uma informação de serviço da Polícia Judiciária que aparece escarrapachada na Internet para quem a quiser ler. Tem a data de Setembro do ano passado e refere uma comunicação de um coordenador de investigação criminal para a sua directora, com base em denúncia anónima, via contacto telefónico, em que foram relatados «actos susceptíveis de consubstanciar, em abstracto, os crimes de violação do segredo de justiça, violação de segredo por funcionário e de corrupção passiva para acto ilícito».
Foi, pois, com base nesta denúncia de «factos graves» que a PJ, pelo que se pode ler, andará à caça do dito espião ao serviço do Benfica, sem, antes, presumo, se dar ao cuidado, para salvaguarda da boa imagem de uma instituição que prezamos, de apurar como foi possível que uma comunicação interna sensível fosse desviada e possa ser lida e discutida à mesa de qualquer bar ou restaurante.
O Benfica vende, mas é minha convicção tratar-se de uma história mal contada. Como diz o provérbio, não bate a bota com a perdigota..."

Fernando Guerra, in A Bola

Ninguém merece isto!

"Salvio é um grande jogador. O que mais admiro no Benfica é Jonas, confesso, mas o extremo argentino também é craque e peça importante para Rui Vitória. Pela aceleração que dá ao jogo, pela verticalidade que impõe, pelos golos que marca e as assistências que faz. Mas nem é do rendimento desta época – que tem sido muito bom – que falará o texto. É mesmo da sucessão de lesões e operações que tem sido a carreira de um velocista que de Toto não tem nada a não ser o nome. Onde poderia estar hoje este mesmo Salvio se as exibições que faz não fossem constantemente interrompidas por paragens provocadas pelas malditas mazelas? Ninguém merece isto. Muito menos um jogador profissional.
Em Guimarães um problema radicalmente diferente. Mas que também ninguém merece. Seja jogador ou não, pois é de cariz social e algo que muitos de nós combatemos todos os dias. Tratar mal um jogador porque comete um erro já é algo que a educação não devia permitir. Mas todos sabemos como o futebol, quando visto de forma doentia, revela o pior do ser humano. Mas Konan não tem de ler nem ouvir estas barbaridades. Há atitudes que dão asco. Eis uma delas. Que esta gente sem escrúpulos, educação ou valores se esconda no futebol é uma pena. São trogloditas, não adeptos. Felizmente naquela cidade é a paixão que impera. Não... isto."

A “fase de ataque”

"Os árbitros que na passada época ficaram nos três primeiros lugares da classificação estiveram em três dos jogos dos quatro primeiros classificados da Liga. As arbitragens que fizeram tornaram a jornada 22 a menos feliz da época para o sector da arbitragem e, por conseguinte, para o futebol português.
Poderia dizê-lo de forma mais suave? Poderia. Mas não deixava de ser verdade.
Estes árbitros são fracos? Incompetentes? Mal preparados? Não.
São dos melhores que temos em Portugal, e a arbitragem portuguesa é reconhecida como sendo uma das melhores do mundo. Não sou apenas eu que o digo. O actual presidente do Comité de Arbitragem da FIFA, Pierluigi Collina, já o afirmou no passado. O número dois do mesmo comité, Hani Balan, “diz” isso de cada vez que convida os árbitros portugueses para dirigirem os jogos mais importantes do seu campeonato (Qatar). As nomeações de Artur Soares Dias e Jorge Sousa para a Liga dos Campeões dizem isso. A presença dos nossos jovens árbitros internacionais, e de outros que ainda não são internacionais, em cursos de talentos da UEFA diz isso.
Voltemos ao início: aconteceram nesta jornada erros importantes? Erros graves? Aconteceram. Alguns pontapés de penálti ficaram por sancionar. Talvez um pontapé de penálti tenha sido erradamente assinalado. Jogadores que deviam ter sido expulsos ficaram em campo. Foram mal assinalados fora-de-jogo que cortaram jogadas prometedoras. Ficaram por apitar faltas em zonas perigosas. Os videoárbitros falharam por omissão em alguns lances. Um videoárbitro interpretou mal o protocolo, dando uma indicação errada e despropositada a um árbitro, levando-o a anular um golo que era legal.
Este último é algo novo. É um erro sobre o qual vale a pena escrever e esclarecer.
Foi o que o Conselho de Arbitragem (CA) fez através de um comunicado publicado ontem. Veio admitir o erro da equipa de arbitragem, esclarecendo que houve uma incorrecta interpretação do protocolo naquela tomada de decisão. Fez bem. Não pela simples admissão deste erro em particular (isso nada traz ao futebol), mas pela clarificação que este texto trouxe sobre a definição de “fase de ataque” e qual a forma de a avaliar em situações futuras.
Ficámos a saber que “a fase de ataque consiste numa jogada que vá rapidamente na direcção da baliza adversária”. “Quando a equipa que desenvolve uma fase de ataque decide recuar em direcção ao seu meio-campo ou a defesa adversária joga a bola, passa a ser uma nova jogada, eliminando-se as eventuais infracções técnicas cometidas na anterior fase de ataque.”
O timing desta intervenção do CA foi acertado. O seu conteúdo, nomeadamente no que se refere à descrição de “fase de ataque”, parece-me demasiado simplista relativamente ao que está originalmente escrito no protocolo (versão 8, em inglês).
Fica ainda a faltar, a bem do projecto videoárbitro, a divulgação deste “famoso” protocolo. Não é de conhecimento público qualquer tradução oficial desse documento tão importante no futebol actual. Faz falta. Aguardemos.

Nota: O futsal foi uma variante do futebol que nunca me atraiu muito enquanto árbitro. Nunca me entusiasmou a possibilidade de apitar um jogo de futsal. Muitas vezes brinquei (bullying psicológico será a forma mais justa de caracterizar o meu comportamento) com colegas que, tendo tirado comigo o curso de árbitro de futebol de 11, em 1995, acabaram por optar por uma carreira no futsal (o “futebol macaco”, como tontamente lhe chamávamos na altura). Este é o momento em que, para além de pedir publicamente desculpas, lhes quero dar os parabéns pela conquista do título europeu. Sem eles, sem a sua paixão e sem a sua capacidade de sacrifício pela modalidade, o futsal português não seria o que é hoje. Obrigado por este título e pela alegria que me deu enquanto português."


PS: Talvez por pudor, o cronista, se tenha 'esquecido' da errata que co-assinou, erradamente, interpretando mal, uma das Leis do jogo...!!!

Onde é que os pontos ficam mais caros?

"Tem sido sugerido que, nesta segunda metade de temporada, os pontos serão mais caros para os três grandes. A questão é saber onde. Façamos, a este propósito, um exercício retrospectivo.
O Porto empatou com Benfica e Sporting, depois com Moreirense e Aves e está em desvantagem com o Estoril. Se deixarmos os clássicos de lado, que são sempre jogos de uma natureza especial, o líder perdeu pontos – ou está em risco de perder – com as equipas que ocupam os últimos lugares da classificação.
Façamos o mesmo exercício para Benfica e Sporting e os resultados, sendo menos nítidos, têm aspectos semelhantes.
O Sporting saiu derrotado da Amoreira, por um Estoril que luta para não descer e empatou com o Moreirense e Vitória (o Braga é aqui uma excepção). Ou seja, clássicos à parte, metade dos jogos em que os de Alvalade perderam pontos foram contra equipas que agonizam na classificação. Já o Benfica, se é verdade que perdeu pontos contra equipas que jogam um futebol mais positivo (Rio Ave; Marítimo e até o Boavista), desde 1 de Outubro, só empatou contra um Belenenses que também luta pela manutenção.
Talvez haja aqui um padrão: os grandes têm dificuldades contra equipas teoricamente mais fáceis, ao mesmo tempo que vencem sem grandes dificuldades clubes que ocupam a primeira metade da classificação. Este factor cria maior imprevisibilidade no campeonato, mas diz-nos, também, qualquer coisa sobre a natureza da Liga NOS.
Há uma explicação benévola: contra os grandes, os pequenos agigantam-se, enquanto os grandes têm algum desleixo na forma como encaram estes jogos.
Infelizmente, julgo que a questão não é apenas de atitude competitiva. Por paradoxal que possa parecer, a abordagem de alguns treinadores, que jogam um futebol mais ofensivo contra clubes mais poderosos, acaba por se revelar, no essencial, romântica. É mais fácil para Porto, Benfica e Sporting derrotarem em casa um Braga, Chaves ou Rio Ave que procuram atacar (mas individualmente estão aquém dos grandes) do que um Moreirense ou Feirense remetidos à defesa. É caso para dizer que, em certa medida, jogar mal compensa. E talvez seja essa um dos motivos pelos quais as arbitragens ocupam um espaço tão central no futebol português.
Mais do que erros pontuais – que se distribuem de forma normal por todas as partidas –, o problema das arbitragens continua a ser a tolerância com o antijogo, o número infindável de pequenas faltas e as quebras de ritmo nas partidas.
Eu pago bilhete para ver um espectáculo e estou disponível para aceitar que um árbitro ajuíze mal um penalty ou um fora-de-jogo – que têm graus de subjectividade significativos e que em jogo corrido são difíceis de julgar –, mas não estou disponível para aceitar uma partida cheia de interrupções e com pouco tempo de jogo efectivo. Proteger o futebol implica proteger as equipas que revelam uma abordagem mais positiva ao jogo. E esse é um problema do futebol português."

Benfica deseja sucesso dos rivais

"Se FC Porto ou Sporting chegassem à final da Taça e a uma final europeia teriam de fazer, em apenas três meses (entre meio de Fevereiro e meio de Maio), mais dez jogos que o Benfica e muito dificilmente, a acontecer esse evidente sucesso desportivo, teriam condições para conquistar o título de campeão. É, esse, no fundo, o grande e difícil desafio de treinadores como Sérgio Conceição.
Com o Benfica a lutar ombro a ombro pelo título, depois de ultrapassada uma aparente crise que não o afastou da discussão final, como gerir os efeitos de inevitável desgaste de três competições de elevada competitividade e responsabilidade - o Campeonato Nacional, a Taça de Portugal e as respectivas competições europeias?
A resposta começa a ser dada já esta semana. Amanhã, o FC Porto jogará os oitavos de final da Champions com o Liverpool e não tenho qualquer dúvida de que Sérgio Conceição vai fazer tudo para passar aos quartos de final e conseguir uma jornada europeia histórica; depois de amanhã, o Sporting jogará em Astana, depois de oito horas de avião e num país com condições meteorológicas extremas, mesmo que muito amenizadas por um estádio-pavilhão, com piso sintético.
Talvez o Benfica não tenha a melhor equipa para chegar ao sonhado pentacampeonato, mas é óbvio que tem as melhores condições, desde que os seus directos rivais continuem uma trajectória europeia de sucesso. O que torna a questão mais irónica é, pois, perceber que o Benfica muito deseja que FC Porto e Sporting tenham êxito e, se possível, cheguem à final da Champions e da Liga Europa, irónica, mas realista."

Vítor Serpa, in A Bola

Geniais

"Portugal venceu a derradeira batalha em Liubliana, somos campeões europeus. Uma selecção jovem, brindada com o talento personificado no melhor jogador do mundo de futsal, que desafortunadamente caiu na derradeira final para, imediatamente, ser levantado pelo esplendor de Portugal
Este título europeu dignificou o futsal português e todos os seus apoiantes. Não sendo o único objectivo de quem compete, é o mais evidente sinal de que o trabalho foi bem feito, dentro e fora dos pavilhões.
Parabéns aos jogadores e à equipa técnica nacional, grande atitude e dedicação ao longo do torneio, à Federação Portuguesa de Futebol, cuja visão e planeamento estratégico para a modalidade nos transportaram para outro patamar, aos clubes que sustentam e continuarão a sustentar a base sem a qual competir a este nível não seria possível.
Numa modalidade que não garante os apoios logísticos e financeiros do futebol, é de louvar a dedicação de todos os envolvidos. Não tenhamos rodeios, é absolutamente notável o que a selecção portuguesa de futsal conseguiu fazer neste torneio, considerando o estado de desenvolvimento da modalidade no nosso país, a capacidade de investimento dos clubes e as condições laborais e desportivas oferecidas aos praticantes, em comparação com a realidade dos demais competidores. 
Numa linha nem sempre fácil de traçar entre o amadorismos e o profissionalismo da competição e dos seus participantes, desejo que sobre esta conquista se aposte num modelo de desenvolvimento sustentável, que beneficie todos os que querem fazer da prática do futsal a carreira desportiva profissional, em Portugal.
O Sindicato dos Jogadores e a Associação Portuguesa de Jogadores Amadores congratulam os nossos jogadores por este feito histórico. Bem hajam!"

Crescer para render... Formar para vencer!...

"«Jogar bem não chega quando não se ganha!... Ganhar não chega se não se jogar bem!... Ganhar e jogar bem não chega se não tivermos jogadores de grande nível … e ao grande nível não se chega, jogando apenas bom Futebol!...»
(Jorge Valdano)

O ser humano ao longo da sua evolução é sujeito a diversas influências, que podem contribuir para o processo favorável de desenvolvimento.
Claramente, o ambiente familiar torna-se um excelente meio, para que a criança perceba um código de valores existenciais de segurança, alegria e bem-estar.
No que concerne à prática desportiva, verificamos que, enquanto alguns pais adoptam uma atitude modelar de intervenção, outros porém, exercem sentimentos de frustração, mágoa, ira e raiva perante o contexto participativo dos seus educandos.
Todos sabemos que a influência dos pais e a forma como se adaptam, ligam e acompanham a prática desportiva dos filhos, “acusa” uma extraordinária influência ou suporte para o alcance da persistência na obtenção do êxito, ou pelo contrário, pelo abandono devido ao fracasso obtido.
Esta influência torna-se mais evidente, tendo em conta a forma como avaliam o desporto, as suas experiências desportivas prévias e a importância que atribuem ao desporto enquanto factor promotor de desenvolvimento dos filhos, bem como as expectativas face a estes.
Por vezes gera-se uma controvérsia, pelo facto de alguns profissionais entenderem que os pais podem atrapalhar o desenvolvimento, atendendo a diversos factores, como as expectativas que tiveram ou não enquanto praticantes, obrigando a um desempenho que por vezes se torna irritantemente desadequado nos treinos e pior ainda nas competições realizadas, com lamentáveis comportamentos verbais e exacerbados contra tudo e contra todos.
Contudo, ainda aparecem relatos de manifestações saudáveis de certos pais na promoção do contacto com os seus filhos, assumindo uma postura de permanente apoio perante o rendimento exercido, relativizando as condições do sucesso ou insucesso obtido.
Ainda na área formativa, jamais deveremos esquecer que o treinador tem de assumir uma função positivamente pedagógica, em que o rendimento das competências exercidas está muito para além do resultado alcançado. Isto é, uma competição em que o rendimento foi superior a algumas das componentes do jogo, mas cujo resultado foi negativo … esse resultado negativo pode ser a mãe de muitas vitórias do futuro. Por outro lado, ao existir um rendimento negativo, mas porventura registando-se um resultado positivo (exemplo, golo na própria baliza por parte do adversário), é possível que esse resultado seja a base de futuras derrotas, caso o rendimento não evolua.
No entanto, é frequente os próprios treinadores, dirigentes e pais, preocuparem-se mais com os resultados em detrimento de todo um processo de ensino/aprendizagem, acelerando a preparação dos atletas, queimando etapas de progressão, tudo fazendo para que ainda em idade infantil se atinja uma especialização precoce, fazendo o que antes do tempo se deveria evitar, e …um dia esse jovem adulto naturalmente descompensado, irá ter todos os argumentos para antecipar a própria carreira desportiva, podendo advir de várias hipertrofias que por consequência podem conduzir a traumatismos articulares, ligamentares e músculo tendinosos, culminando frequentemente no esgotamento e até abandono. Também a desenfreada luta que a dinâmica empresarial, cedo, muito cedo, aprisiona de forma totalmente inquietante, para não dizer desonesta, este gradiente de pressão, no sentido de elaborar um requisito contratual de quem muito precocemente caminha nas lides da oferta e procura, vendo quantas vezes o clube, o treinador, o dirigente e os próprios pais comprometer esta fuga para a liberdade, dum crescer rápido para render depressa. Ultrapassam-se etapas, consumidas pelos ecos dum oportunismo económico e social prematuro, tratando as crianças como adultos em miniatura. Felizmente que são muitos clubes que ainda se disponibilizam em capitalizar de forma equilibrada os seus quadros, quer em termos técnicos como pedagógicos.
Treinadores capazes de respeitar o grau de desenvolvimento maturacional dos seus jovens atletas, tornando os treinos motivadores e criativos, evitando instruções de forma hostil ou primitiva, mas sempre encorajadora, corrigindo sem ofender e orientando sem humilhar. Os valores da honestidade e a firmeza das convicções constituem o eixo da sua verdadeira identidade.
Permitam-me confidenciar dois exemplos marcantes da minha vida profissional e social:
Em 1976, estava eu a fazer a transferência do curso de Direito da U. Coimbra para o 1º ano do 1º curso de Educação Física do ISEF da U.Porto, motivadíssimo por influência dos meus primeiros alunos, que me aplaudiam quando chegava à Escola Preparatória Teixeira de Vasconcelos de Paredes e depois à Secundária de Paços de Ferreira, e me questionavam com tristeza quando por algum motivo tinha faltado (como posso esquecer estes meus primeiros heróis e grandes responsáveis pela minha felicidade profissional) … dizia eu, em 1976, inserido num grupo de bons amigos do F.C.Paços de Ferreira, criamos o I Torneio de Futebol Infantil Primavera/76. Conseguimos reunir 24 equipas, distribuídas por 4 séries (Porto, Penafiel, Maia e Paços de Ferreira). Recordo que inscrevi 3 equipas da minha Escola, dando a oportunidade à máxima participação desportiva, tendo uma destas obtido o 4º lugar no Torneio. A alegria participativa colectiva imperou e a selecção dos melhores valores ficou para outras “núpcias”. Um Torneio em que os jogos eram arbitrados com auxílio de jovens das Escolas de Arbitragem. Recordo os primeiros apitos do saudoso Paulo Paraty, Paulo Costa e José Leirós. Também era distribuída fruta, leite, sumos e sandes no final de cada jogo. Havia ainda uma comissão técnica e disciplinar associada, enfim, com as melhores intenções de formar para render.
Dou a conhecer um facto que vale a pena refletir: na fase final do Torneio, havia um jogo entre o Cete e o Penafiel no campo do visitado e eu e um colega fomos nomeados para representar a organização, na qualidade de delegados. Claramente, o Penafiel era uma equipa dotada de mais valias técnicas e competitivas, e próximo do intervalo já ganhava por 4-0. Por cada golo sofrido o treinador da equipa derrotada, vociferava com atoardas de fazer corar qualquer espectador mais distraído e … eis que surge um jogador do Cete, muito pequenino, com a camisola a cair até aos joelhos, franzino, mas com uma habilidade a sobressair dos demais. Até que na posição do meio campo, a bola chega-lhe aos pés. Dá a correr com toda a velocidade para a baliza do adversário, finta, dribla e volta a fintar e após a entrada da área e, tendo um colega desmarcado e com a baliza escancarada, ouvia-se o treinador a gritar: passa a bola f.d.p. passa a bola f.d.p., mas o menino que tanto trabalho tinha tido até ali, resolveu ensaiar um remate à baliza, na tentativa de fazer golo. Contudo, dado a fadiga do esforço obtido, aquilo foi mais um passe ao g.redes do que um remate. Ó treinador dos diabos …corre para fora da zona técnica aos saltos, vocifera uma série de palavrões e ameaças, deixando a assistência verdadeiramente horrorizada. O menino, cabisbaixo, dirigiu-se para o seu posto e, não é que a bola volta ao seu encontro?! ... Então ele corre em direcção da sua baliza, finta um adversário, passa por 2 ou 3 colegas, deixando-os num espanto, entra na sua área e desfere um forte remate fazendo golo na sua própria baliza. Quando o treinador ensaiava o seu reportório de forma animalesca, o menino retira a camisola, deixa-a cair no campo, correu ao balneário para buscar a roupa e fugiu para casa. Que grande lição!... É claro que fui ao seu encontro … limpei-lhe as lágrimas e dei-lhe um forte e prolongado abraço. Jamais o perdi. Seu nome? Mário João… hoje Engº electrónico e um exemplar pai de família!...
O outro exemplo nasceu-me também do coração. Permitam-me que destaque como modelo um clube muito especial, criado há seis (6) anos e que muito me honrou com o convite para a função de seu padrinho de afectos – Clube de Futsal “Os Afonsinhos”, radicado em S. Martinho de Mouros – Resende. Ali, na tranquilidade duma terra serena e com as cores da vida, habita um clube exemplo, onde se encontram bem definidos os critérios, onde impera a vontade de crescer numa patilha de carinho, razão e amor de quem lidera o protejo. De seu nome … Marcos Antunes!...
São já seis (6) os escalões em competição. Os índices de assiduidade, os níveis de disciplina e ética desportiva e o rendimento escolar, formam as três matrizes para a permissão em participar no treino e a possibilidade de ser convocado para o jogo a realizar. Resultados? … fez há dois (2) dias (11 de Fevereiro),1 ano que se sagraram Campeões Distritais na categoria Juniores B. Parabéns vivamente vos saúdo."

Se todos caminhassem sobre a água seria por não saberem nadar

"O mal das críticas é que nunca se fazem acompanhar por contexto. Logo, falta-lhes construção, falham ainda ao não serem construtivas.
Os 72 números que separam o 8 do 80 são escassos, muitas vezes, para quem acompanha de perto o futebol, e até o português. Além de sermos básicos a analisar, ainda temos contra nós querermos ir à festa sem ter dinheiro para alugar o smoking. Só intensifica a questão, precipita-a.
O futebol, e também aquele que por cá se joga, é então sempre interpretado de forma demasiado simplista. O que não quer dizer que não sejamos rápidos a decidir.
Há sempre um culpado. One and only. O treinador.
Depois, no lugar dos réus lá se senta um ou outro patinho-feio, entre um terço e metade da equipa quando chega a tal, se a crise é de caixão à cova.
Há ainda sempre um autoproclamado inocente. É sempre apenas um. O presidente. Sustentado pelos adeptos, e pelas promessas verbais ou subliminares que faz, mas sim, o presidente.
Uma ou outra vez, o técnico é mesmo o mau da fita, e aí temos
A Argentina foi campeão do mundo apesar do Bilardo, pá!
Se Maradona, capaz de ver Burru e Valdano do outro lado da área pelo canto do olho no Golo do Século, garante que sim, eu acredito.
O problema é que tudo parece demasiado definitivo. Ou serve ou não se serve de todo, nem hoje nem nunca, e malditos todos os que acharam que sim.
Der Terrier Berti Vogts, o baixote canino com coleira de espinhos que não largou as pernas de Cruijff na final de 74, treinou uma vez a Escócia, as coisas não corriam bem e lamentou-se
Se eu caminhasse sobre a água diriam que é porque não sei nadar
Perturbam-me, admito, as conclusões fáceis. Se tivesse um amigo como La Palice, este concordaria comigo, enquanto despejamos uma imperial e mastigamos freneticamente dois pires de tremoços.
O que é verdade hoje pode não sê-lo amanhã, ou até sê-lo noutro lugar, com outras pessoas, num outro tempo...
Hoje, chega-se facilmente à sentença: não é treinador. Não é jogador. Não vale nada! Um treinador não se consegue destacar pelo picotado da conjuntura que o envolve.
A sua equipa, e as oscilações de forma de cada um dos 30 jogadores. Aquele momento entre tantos outros, ao longo de uma época. Um mês em dez. Os adversários também com os seus próprios momentos. As necessidades, mediante cada uma das peças do puzzle. E as que não encaixam, das quais se recortam as pontas para encaixar.
Uma equipa é construída por muitos treinadores, ou partes do mesmo. Pelas relações intrínsecas entre os jogadores. Pelos rivais, por todas as escolhas feitas que poderiam derivar numa outra realidade alternativa qualquer. A fronteira entre ganhar ou perder não depende só do talento. Não pode.
Vejam Bilardo!
Um jogador faz-se de momentos também. De decisões, mal e bem tomadas. De problemas bem ou mal resolvidos. De noites passadas acordado. Por vezes, de uma luta cega e surda com a depressão. Da gestão do sucesso e do insucesso. Do azar da bola no poste, e na fé de acertar do meio-campo. E, claro, da recepção orientada, dos ziguezagues com a bola nos pés, do remate com ambos os pés. Do golo de letra, em encontro decisivo.
Falta-nos dar mais segundas oportunidades. Ter mais paciência. Acreditar em Manuel Fernandes aos 32 anos, ou lançar Éder para uma final de um Campeonato da Europa. Abraçar Renato Sanches para nova tentativa, entender um incompreendido André Gomes, continuar a esperar muito das pernas de Coentrão. Estar no sítio onde vão cair as triveladas de Quaresma.
Seríamos espertos se fôssemos um pouco mais como Terry Venables
Tive sentimentos estranhos, misturados, como se observasse a minha sogra a cair num precipício ao volante do meu carro.
Há sempre um lado positivo. É uma oportunidade que, antes de darmos aos outros, oferecemos a nós mesmos."

Benfiquismo (DCCXLVII)

O mais jovem Campeão Europeu de sempre...