"1. António Silva. O que ele fez à beirinha do fim do último Benfica - Boavista vai perdurar na memória de todos. Mais do que um atrevimento, foi um descaramento sem precedentes. Uma coisa linda.
2. O Benfica vencia tangencialmente o emblema mais antigo da cidade do Porto, e, no culminar de um jogo eletrizante, um jogador do Boavista aproximou-se veloz e perigosamente da área de Odysseas Vlachodimos. Aproximou-se, sim, mas não entrou porque o jovem defesa-central do Benfica não deixou. Muito bem, António Silva, na arte de não deixar aproximar-se quem pode causar dano ao Benfica. Em campo e fora de campo, que sejamos todos assim.
3. O desarme aplicado por António Silva ao jogador do Boavista fez levantar as bancadas da Luz em aplausos. Mais do que merecidos, porque o lance apresentava-se com grande carga de fatalidade e o tempo de jogo restante dificultaria, por certo, a reação da equipa. Mas António Silva não consentiu uma coisa dessas. Com o ímpeto próprio da sua abençoada através de uma ação técnica perfeita e cristalina. Depois ergueu-se num ápice, conduziu a bola até à lateral e ganhou uma falta a favor do Benfica.
4. António Silva festejou 'como se fosse um golo', escreveram os jornais no dia seguinte. Nas bancadas festejou-se também vibrantemente a solução que António Silva encontrou para preservar aquela ameaça à baliza de Odysseas Vlachodimos, e o jogo prosseguiu até ao fim sem sobressaltos de maior.
5. Foi um bom momento de futebol na noite de segunda-feira na Luz a somar a outros excelentes momentos como, por exemplo, o belíssimo golo de Gonçalo Ramos com uma execução não menos perfeita que o define como um goleador de topo. Era a oportunidade que o Benfica tinha para dar a volta ao resultado colocando-se em posição de vantagem, e Gonçalo Ramos não a desperdiçou. Que festa houve no campo e na bancada.
6. António Silva e Gonçalo Ramos, dois jogadores formados no Benfica e que hoje são donos dos seus lugares na equipa principal. Na segunda-feira deram-nos altos exemplos de como defender os interesses do Benfica em campo. Com veemência, sem contemplações, com arte, sem medo e com uma vontade inquebrantável de vencer. Defender o Benfica fora de campo exige exactamente os mesmos atributos.
7. O campeonato vai entrar naquela fase em que tudo conta - os golos sofridos, os golos marcados e as campanhas hostis -, e o Benfica vai ter de saber proteger os seus objetivos em campo e fora de campo. Para a frente é o caminho."
Leonor Pinhão, in O Benfica
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