"Já várias vezes contei esta história, mas o momento parece-me propício para contá-la novamente.
Certa manhã, andava eu ainda na 3.ª classe, o meu pai deixou-me na escola e avisou-me de que me iria buscar à hora de almoço. Estranhei, pois costumava almoçar na escola ou em casa dos meus avós. Passadas umas horas lá apareceu o meu pai, informando-me de que não iria às aulas durante a tarde. Almoçamos e fomos para o Estádio da Luz: quartos-de-final da Taça de Portugal, Benfica 5 - 0 Sporting (estádio, aquele estádio gigantesco, quase cheio num jogo às 15 horas de um dia de trabalho). Lembrei-me desde episódio nos segundos imediatos ao quarto golo da nossa equipa na Supertaça. Tinha sido precisamente em 1986 que o Benfica bateu o Sporting por 5-0 pela última vez. Graças ao meu pai, contrariando dezenas de advertências sobre a importância primordial da escola, vi o Rui Águas, o Wando (a bisar), o Álvaro (!) e o Manniche a marcarem ao Sporting, o clube que me fora ensinado - e constatei na escola - ser o maior rival do meu Benfica. Senti, ao longo dos muitos anos passados desde essa goleada, que o Benfica desperdiçou várias oportunidades de repetir a proeza (a última aconteceu na época passada, no jogo do campeonato em Alvalade). Honra seja feita ao 3-6, também no reduto leonino, em 1994. A diferença de 'escassos' três golos, por se tratar do 'jogo do título', não deslustra o feito...
Recuando a 1986, tinha eu 8 anos, aprendi, em poucas horas, três lições importantes: há prioridades na vida; há prioridades mais prioritárias que outras; e que o Benfica é mais prioritário que as teoricamente mais prioritárias das prioridades."
João Tomaz, in O Benfica
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