"A ausência de Cristiano Ronaldo nunca é uma boa notícia. Não é para a Selecção Nacional, como também não é para o Real Madrid, que achou que poderia abdicar sem danos estrepitosos do melhor jogador da história do clube. No caso da equipa nacional portuguesa, a ausência é (felizmente) temporária, mas tem sido brilhantemente minimizada por uma força colectiva fortíssima, ancorada em novos e solidificados talentos. Não apareceu mais nenhum “Ronaldo”, mas surgiu um conjunto de jogadores que permite a Fernando Santos abraçar um plano mais atractivo, com mais posse de bola e um futebol enleante. Agora só falta incorporar Ronaldo neste novo plano de voo da Selecção Nacional.
Antes disso, Portugal ainda tem pela frente mais dois jogos, dois “match-points” para confirmar o apuramento para a ”final four” da Liga das Nações e consolidar um elenco que parece cada vez mais definido.
No centro da defesa, Rúben Dias está em fase de crescimento acelerado, potenciado pela dupla com Pepe. A experiência e a classe do central do Besiktas têm ajudado a ancorar o defesa do Benfica no “onze” da Selecção Nacional. Apesar do processo de crescimento estar ainda longe da conclusão, está já encontrado o sucessor de uma linhagem de centrais de altíssimo nível.
O lado direito da equipa de Fernando Santos junta João Cancelo, Pizzi e Bernardo Silva, três talentos harmonizados e complementares. O lateral e o médio não falham no apoio ao jogador do Manchester City, enquanto Bernardo Silva procura zonas interiores, libertando o corredor para as incursões de Cancelo. O jogador da Juventus pode ainda vir a ser uma opção a considerar para o lado esquerdo da defesa (apesar da boa resposta de Mário Rui), por causa dos repetidos problemas físicos de Raphaël Guerreiro e do superavit de opções para o corredor contrário (Cédric Soares, Nélson Semedo, Ricardo Pereira e Diogo Dalot, para além do próprio Cancelo).
No meio-campo, o posicionamento de Rúben Neves como pivô defensivo nos últimos registos permite a libertação de João Cancelo, Mário Rui, Pizzi e até de William Carvalho para tarefas mais ofensivas, deixando o médio do Wolverhampton com a tarefa de iniciar a construção de jogo. É verdade que esta opção deixa Rúben Neves mais longe de poder utilizar o muito eficaz remate de meia distância, mas nem assim o afasta do coração do jogo, como se viu no superlativo passe para o segundo golo de Portugal.
Num ataque sem Cristiano Ronaldo voltou o brilho dos golos de André Silva, numa espécie de renascimento do “matador”, que começou a ser construído num início de temporada exuberante no Sevilha (sete golos em 12 jogos). Na Selecção Nacional soma dois golos nos dois primeiros encontros na Liga das Nações.
A ausência de Gonçalo Guedes permitiu a Fernando Santos promover um regresso emocional, que confirmou uma versão 2.0 de uma opção com história na equipa portuguesa. Éder será sempre nome de herói, mas demonstrou frente à Escócia que poderá voltar a ser uma boa solução, em caso de indisponibilidade de André Silva.
A chegada ao ataque leva-nos novamente à questão Cristiano Ronaldo. Quando o capitão está em campo, os olhares apontam quase todos para a camisola número 7. E isto é válido tanto para as bancadas como para o relvado. O jogo ofensivo de Portugal passou a ser por isso mais diversificado, com os talentos (com Bernardo Silva à cabeça) a libertarem-se e a procurarem um jogo mais combinativo e não tanto o farol ofensivo da equipa.
Com este novo “jogar” português, há duas hipóteses mais fortes no que toca à obrigatória (porque essencial) reincorporação de Cristiano Ronaldo na equipa. Por um lado, o jogador da Juventus poderá partir da esquerda para o meio, juntando-se a Bernardo Silva e André Silva no 4x3x3. No entanto, a melhor das opções poderia ser acomodar Ronaldo na posição 9, com Bernardo Silva na direita e Bruma ou Rafa (se atendermos aos últimos registos) na esquerda. Mas neste caso, sem André Silva como escolha inicial. O regresso de Cristiano Ronaldo poderá ser uma dor de cabeça para Fernando Santos? Sim, mas será seguramente uma das melhores de sempre."
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