"Acabou-se o exílio: Mario Balotelli foi convocado por Roberto Mancini, jogou, marcou um golo à Arábia Saudita e foi aplaudido de pé em St.Gallen quando foi substituído por Andrea Belotti. Para quebrar o gelo, não há como o Supermario.
‘Balo’ não punha os pés na Seleção italiana há quatro anos, pelo que, antes deste encontro de preparação realizado na Suíça, a ocasião anterior em que o atacante vestira a ‘maglia azzurra’ havia sido no descalabro contra o Uruguai, no Estádio das Dunas, em Natal, na terceira jornada da fase de grupos do Mundial do Brasil.
A chegada de 'Mancio' mudou o panorama. Obrigados a reestruturar o projecto da Itália depois de terem levado um chuto da Suécia e de não terem suportado uma série de meses de futebol desesperante, os dirigentes afastaram Giampiero Ventura mediante toda a insustentabilidade da situação. Mancini deixou o Zenit (5.º lugar na liga russa) e foi convidado para tratar as feridas da ‘Azzurra’, nesta fase de pós-Buffon e De Rossi.
A medida de maior impacto para abrir o horizonte foi ter promovido o regresso de Balotelli, com quem já tinha sido campeão no Inter e em Manchester. Os 43 golos marcados nos 66 jogos pelo Nice reforçaram a boa condição de ‘Balo’, cujo retorno à Selecção até ficou bastante mais fortalecido pelo facto de Mancini lhe ter atribuído o rótulo de vice-capitão, a par de De Sciglio, imediatamente atrás do novo dono da braçadeira: Leo Bonucci, com quem, por acaso, Balotelli já tinha jogado nos juniores do Inter, era Mancini treinador da equipa principal dos 'nerazzurri'.
Balotelli não deixou completamente o lado Peter Pan. Isso é impossível. Mas atrevo-me a dizer que está na fase mais consolidada da carreira. E as palavras de uma autoridade como ‘Billy’ Costacurta até são sugestivas, referindo as vantagens de o ter na Casa Italia, em Coverciano: «Faz grupo (…) É uma figura positiva».
Nice fez-lhe bem depois da desilusão em Anfield e do regresso a Milanello. E Lucien Favre sabe que o trabalhou na perfeição, tanto que o quer levar para Dortmund para dar continuidade àquilo que o avançado foi exibindo nas últimas duas épocas. De acordo com as notícias mais recentes, ‘Balo’ quer deixar a Côte d’Azur e voltar para Itália, mesmo que Rudi Garcia esteja a acenar-lhe um óptimo contrato em Marselha. O ordenado anual de €4M limpos que aufere no Nice não é fácil de ultrapassar e talvez seja esse o empecilho para o recém-promovido Parma, que jogaria com o trunfo de estar baseado perto de Brescia, onde Balotelli tem a família mais próxima.
Ainda assim, convenhamos que o nível do ponta de lança exige um clube mais adequado. Di Francesco já o queria no Sassuolo em 2016, depois do regresso falhado a Milão, mas Balotelli escolheu o Nice. Quem sabe se não vai mesmo treiná-lo na Roma? Estará completamente excluída a opção de uma terceira etapa no Milan, o clube por quem tem mais afinidade e onde jogou muito bem na vigência de Max Allegri? Para já, De Laurentiis não mostrou publicamente o propósito de o levar para Nápoles, ao mesmo tempo que o Arsenal e a Puma podem ter interesse em fazê-lo viajar para Londres.
Mino Raiola, o agente, quer movimentar dinheiro. E o Nice pode libertá-lo por €10M, atendendo ao facto de só ter mais um ano de contrato com o clube do sul de França. Recordo-me de Raiola na altura em que Balotelli estava preso nas areias movediças de Liverpool. Chegou como um craque mediático para os Reds esquecerem Luis Suárez, então transferido para o Barça. Mas nem sequer houve possibilidade de comparar seriamente um e outro. O “charrúa” era, provavelmente, o melhor 9 do mundo e ‘Balo’ parecia ter desaprendido de jogar.
Balotelli tinha os seus problemas pessoais, que nunca foram o enfoque dos tabloides. E Raiola insistia que o jogador tinha de se empenhar para os resolver, que mais ninguém podia fazer isso por ele. Para além disso, o agente elencou outros pormenores, como o facto de, no Liverpool, ser um entre muitos. No Milan, com Allegri, ele era o máximo e todos jogavam para ele. E essa sensação tornou-se relativamente prejudicial porque ele não tinha natureza de líder, mas sentia-se intocável e isso desencadeou alguns comportamentos desviantes, muitos deles empolados a torto e a direito nos ‘media’ mais sensacionalistas. Este percurso permite entender por que razão Raiola admitiu, mais tarde, que devia ter insistido para ele ter permanecido no Manchester City, para ir à luta quando teve os primeiros obstáculos, evitando-se que ganhasse uma soberba residual quando se tornou “rei” nos ‘rossoneri’.
Hoje, o atacante que outrora também teve algum relevo no Inter, com Mourinho, agarrou a mão estendida por Mancini, quatro anos depois da debacle com o Uruguai. Perdeu muitas vezes o comboio, mas não este. As últimas duas épocas com Favre limparam-lhe a cabeça e este é o resultado: marcou, contra os sauditas, o seu 14.º golo na contabilidade pela ‘Azzurra’, igualando o registo de Rivera e ficando a dois de Vialli e Toni.
Balotelli é diferente dos outros. Age diferente e imagina diferente. Tem um talento fabuloso e uma força muito caraterística. Num ápice, inventa um movimento e resolve com um remate que pode ser subtil ou fulminante, como aquele que esmagou a baliza de Neuer, na semi-final de Varsóvia, no Euro 2012, na altura de Prandelli.
Esse Europeu de há seis anos foi a prova mais bem conseguida na carreira. Fez um torneio estupendo na dupla com Cassano e agora é Insigne que se candidata a fazer uma óptima sociedade no ataque desenhado por Mancini. Contra a Arábia Saudita, em St.Gallen, nas primeiras notas que se escreveram da nova etapa com 'Mancio', viu-se Insigne e Politano a atuar como extremos a aparecer em diagonal em direção à grande área, aproveitando as deslocações de Balotelli para zonas exteriores, também lidas pelos centrocampistas Florenzi e Pellegrini, que aproveitavam para desferir roturas.
Hoje, contra a França, há um teste mais exigente. Será o segundo desafio de Mancini no comando ‘azzurro’. E será também bastante especial para Balotelli, por se realizar em Nice, evento onde ele vai ligar o modo Supermario no ataque. Provavelmente, não terá Insigne no alinhamento titular porque Mancini pode querer experimentar Chiesa e Bonaventura como os extremos do 4-3-3, mantendo-se Jorginho a pivô do meio-campo para libertar os outros dois centrocampistas incursores: um deles deve ser Cristante, bem transformado por Gasperini em Bérgamo.
'Balo' está de volta. E ainda bem."
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