"Um dia, quando se contar o que foi este tempo, será feita justiça em Espanha a Cristiano Ronaldo. Não a justiça das muitas capas de jornais ou (enfim) do aplauso geral da exigente bancada do Bernabéu, mas o reconhecimento que lhe é devido por ser o jogador que mudou o curso da história do Real Madrid e devolveu um gigante adormecido aos títulos e à glória.
Sendo o futebol um jogo coletivo, com certeza que não o fez sozinho, mas será bom regressarmos ao ano em que Cristiano chegou à capital espanhola e pensar há quanto tempo o clube estava fora da fase decisiva da Liga dos Campeões, de que como era dominador na época "o melhor Barcelona da história", liderado por Pep Guardiola, e como brilhava a estrela de Leo Messi, então com 22 anos.
O que Ronaldo fez nesta década em que teve Messi do outro lado (nunca nos podemos esquecer desse extraordinário acontecimento) foi liderar pelo exemplo, marcar 450 golos em 438 jogos, ser decisivo quando teimavam em dizer que era banal, renascer sempre que o davam como morto. Ganhar, ganhar, ganhar tudo. E nunca se cansar. Quando se escrever a história do Real Madrid há um antes e um depois de CR7.
O Madrid de 'leyenda' - a equipa para a história que hoje temos - é a invencível armada dos grandes momentos, mesmo que vacile nas provas domésticas, onde Cristiano Ronaldo foi invariavelmente a figura maior. Com certeza que a sua questão com o clube é também uma questão financeira porque, perante tantas aparentes promessas e num mercado em tão galopante transformação, o que Florentino Pérez fez foi ter o seu astro sempre à prova, permitindo que ele ganhe hoje quase metade do que ganha Messi, quando a dimensão planetária de um e outro (o futebol é outra coisa) não tem comparação.
Mas, muito pior, desconsiderou-o. No tratamento, na falta de apoio, na forma como permitiu que a imprensa hostil o atacasse sem defesa, na maneira como fomentou o aparecimento de sucessores - Bale, esqueçamos por momentos Neymar, foi contratado há cinco anos para ser o novo Ronaldo; afinal, o português estava a caminho dos 30. É comparar o que fez um e o que fez o outro, queda para os idiomas à parte. Por isso Cristiano falou. E não, não falou por acaso nem egoísmo. Todos sabiam o que ele pensava. Falou e teve intencionalmente eco. E, no entanto, ficar em Espanha, desde que haja um entendimento, que é possível, parece ainda um caminho. Ronaldo gosta do clube, adora a cidade.
As saídas só podem ser duas: à cabeça a Premier League e Manchester. Mais do que Bale, Cristiano Ronaldo seria o detonador de que José Mourinho precisa para devolver o United à primeira linha. Com cedências, com certeza, mas por vezes é precioso ceder para ganhar. Paris também pode ser um desafio. Uma época sem grandes correrias na Liga francesa e, enfim, todas as fichas na Champions, mas parece - mesmo que o dinheiro seja muito - um desafio mais morno. O verão tem de aquecer.
A selecção como prioridade
Sem Ronaldo, mas também sem Gelson e Bruno Fernandes, que podem ser importantes no desdobramento das acções ofensivas, Portugal claudicou onde todos tememos que tal possa acontecer : na defesa. Ora, é dos livros que defender é um processo colectivo e os erros do jogo de Braga são também o resultado de uma equipa que pressionou pouco, jogou muitas vezes devagar, mesmo tendo (lá está) movimentos de ataque muito bem conseguidos e com aquele toque de classe que faz a diferença.
No final, Fernando Santos dramatizou mais do que é hábito e, mesmo que tenha sido só para criar impacto, julgo que o terá conseguido junto dos jogadores.
O seleccionador, um mestre na gestão do grupo, não ignora que muita gente chegou com a cabeça cercada de preocupações e, não sendo possível eliminar esse facto porque o Mundo é só um, é imperioso que a prioridade seja Portugal.
Diogo Dalot
A anunciada mudança de Diogo Dalot para o Manchester United é um negócio que surge cedo de mais. O FC Porto quereria renovar com o jogador, utilizá-lo com frequência, porque tem potencial para isso, porque iria precisar, e vendê-lo mais tarde. Dito isto, 20 milhões de euros, ou mais, por um jogador que fez meia dúzia de jogos na primeira equipa é um bom encaixe. Em Manchester o desafio de Dalot não é o seu futebol e sim a sua mentalidade. Todos dizem que é forte. Suficientemente forte?
Renato Sanches
Entre muitos fracassos de jogadores portugueses fora de portas, o mais retumbante é o de Renato Sanches. Será para a vida? Ora, sendo ele tão novo e tão talentoso, merece mais do que o benefício da dúvida, mas - mais do que o seu futebol - foi a sua cabeça que não esteve à altura da exigente mudança. Ainda que o Bayern lhe queira dar uma segunda oportunidade neste verão, voltar ao Benfica seria o melhor no imediato. Ao menos isso ele percebeu."
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